A PSICOLOGIA DAS FAKE NEWS
Nos tornamos uma sociedade tecnológica atrás da velocidade alucinante de informações, muitas vezes questionáveis, mas que são aceitas sem filtro e ganham repercussão.
Fake news significa, de forma literal, “notícias falsas”. Indubitavelmente, somos inundados nessa sociedade tecnológica, em ritmo constante, por reportagens correntes e informações no mínimo questionáveis. Não importa a área, seja política, religião, clima, saúde, dentre tantas outras, a internet tornou-se cenários propício à proliferação das fake news. Waldrop (2017) menciona em seu artigo que o ano de 2005 foi o momento em que explodiram os spams (lixo informativo) na internet. Porém, além das inúmeras publicidades que aparecem em nossas telas sem aviso prévio, outro movimento ganhou força ao longo dos anos, segundo o pesquisador; a expansão de mentiras pela internet. Segundo o autor, em 2014 diversos casos preocuparam vários países: imigrantes carregando o vírus do ebola, Hillary Clinton (antiga candidata à Presidência dos Estados Unidos) vendendo armas para o Estado Islâmico ou o papa apoiando a candidatura de Donald Trump são alguns exemplos. E o mais interessante: muitos aceitam essas informações sem discernir se são verdadeiras. Então, quais os aspectos psicológicos das fake news? Existem motivos para que estas mentiras sejam aceitas sem filtro?
A problemática está em diversos níveis: individual, institucional e societal.
Os interesses políticos, por exemplo, estão presentes desde o começo da civilização, porém, atualmente, é uma tríade de dificuldades. Primeiramente a tecnologia, ou seja, qualquer um pode acessar a internet e ser um proliferador de informações falsas e, para obter a atenção de outros, basta saber alcançar um ponto de interesse da população: isso já é suficiente para viralizar (diga-se de passagem, não é uma ação tão difícil enganar o próximo). Segundo, estamos inundados de informações, e a grande questão é que não temos tempo para separar fatos de falsas notícias (é praticamente impossível filtrar uma informação mentirosa em um primeiro momento). Terceiro, as pessoas buscam informações que estejam relacionadas a suas crenças, e esse é um grande desafio: a variedade de mídias sociais em nossa cultura significa que aquilo que é lido está vinculado com o que queremos ler, Então, é possível pensar que as fake news são, na realidade, ilustrações de pensamentos que não são socialmente aceitos e possuem o perfeito álibi por meio delas?
Diversas questões podem ser geradas neste momento: quais tipos de personalidades são mais suscetíveis às notícias falsas? Repetir notícias falsas as tornam verdadeiras? Pior, será que as fake news também podem contaminar os periódicos científicos e as conferências académicas? (Darbyshire, 2017). Esse último ponto está se tornando cada vez mais comum na ciência, que é a disseminação de notícias falsas e, após um curto período de tempo, um pronunciamento baseado na verdade. Esse tipo de mecanismo torna uma das áreas mais importantes do conhecimento humano pouco transparente. Esse fenômeno, diga-se de passagem, vem preocupando a comunidade científica. Basta pensarmos em dados que são publicados incorretamente em periódicos científicos por análises estatísticas incorretas. Pensemos: é possível calcular o maleficio que notícias falsas podem gerar?
De acordo com Oliveira e figueira (2017), a grande dificuldade para a prevenção da criação de fake news é que bloquear a origem da informação colide diretamente com a liberdade de expressão. Porém, os pesquisadores mencionam, já existem algoritmos que podem lidar com grandes dados da internet e verificar a origem de algumas informações. Porém, em paralelo, é necessário também compreender a consciência pública. Como dito anteriormente, a interpretação dos sujeitos sobre as temáticas, tendo como base seu sistema de crenças, é um grande dificultador na filtragem dessas notícias. Muitos aguardam apenas uma brecha para atacar terceiros ou reforçar suas distorções cognitivas, não importando se a priori, são fake News ou não. Portanto, quando se fala no comportamento da sociedade tecnológica, a questão está mais relacionada aos aspectos emocionais e psíquicos do que à busca pelo conhecimento verdadeiro.
IGOR LINS LEMOS – é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com
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