PSICOLOGIA ANALÍTICA

POSIÇÕES QUE OSCILAM

O conceito de violência sempre envolve um emissor e um receptor e é percebido apenas por um dos dois polos: a vítima assim a denomina, mas o emissor pode nem se dar conta dessa relação.

Posições que oscilam

Estamos diante de um tema que não é agradável – muito pelo contrário, seria preferível não falarmos de violência ou, melhor, negá-la. Mas ela chega a nós sorrateiramente no trânsito, no caos das metrópoles, na TV, nas relações sociais, nos jornais, nas nossas casas. Como lidar com a violência?

Uma primeira tarefa pode ser defini-la, afinal, o que é violência? Podemos admitir que tudo o que excede nossa capacidade de absorção de estímulos (sensoriais, perceptivos, psíquicos) pode ser considerado um ato de violência. Violência é: acordar muito cedo para trabalhar, quando se mora distante, passar fome por falta de recursos; enfrentar o trânsito neurótico, numa cidade que cresceu desordenadamente; ser desrespeitado por outra pessoa (estranho ou amigo) etc. Mas não é bem essa qualidade de violência que mais nos impacta, não é?

Vamos adiante: é curioso que o conceito de violência sempre envolva um emissor e um receptor e seja percebido apenas por um dos dois polos: a vítima da violência assim a denomina, mas o emissor pode não se dar conta desse modo de relação. Muitas vezes, as posições oscilam: hoje, vítima, amanhã, agente.

A violência também não é um fenômeno da Modernidade. A humanidade sempre viveu guerras que resultaram em vencedores e vencidos, e apena, para os vencidos (ou derrotados) houve registro da violência, no caso dos que sobreviveram a ela.

Um primeiro exercício pode ser a identificação de violências cotidianas sutis, e a tarefa mais difícil: nossa posição não só de vítimas, mas também de pequenos agentes de violência, pela própria    alienação que muitas vezes toma conta de nós. A expressão violência psicológica nos leva diretamente a outra violência: a física, que tem o corpo como alvo e deixa marcas. Primeira conclusão: violência física contém algo de violência psicológica, mas o inverso não é verdadeiro. Como se a violência psicológica ocorresse num plano sutil, que deixa marcas psíquicas, que podem ou não ser digeridas.

Somos interrogados todo o tempo por essa percepção de violência, e cabe uma reflexão: o que há de inquietante na violência? Para onde ela nos remete? Qual o critério objetivo de definição de violência?

Um dos grandes problemas, ao tratarmos da violência, é diluir seu impacto e minimizar o horror, que ela carrega. Nesse exercício de pensamento, corremos o risco de sacralizá-la – por exemplo, utilizando conceitos psicanalíticos como Id, pulsão de morte, trauma, tratando-a como parte inerente à natureza selvagem e animal dos humanos, portanto, inexorável; ou de banaliza-la, quando a reconhecemos em todas as camadas de relações humanas: na família, nas escolas, na igreja, no Estado, no mundo corporativo, na política, nas grandes metrópoles, nos regimes autoritários etc.

Como se trata de um fenômeno complexo, resultante de múltiplas causas, corremos o risco de banalizar qualquer análise. Contextualizar os episódios de violência e escutar narrativas advindas de diversos ângulos podem ser um bom começo.

CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE

A psicanálise, aqui definida como um campo de conhecimento profundo sobre o mundo psíquico, pode fornecer algumas ferramentas. Cabe lembrar que a Psicanálise surge propondo um desenho do mundo psíquico, levando em conta nossa pulsionalidade, ancorada no corpo, na condição animal, em conversa com o mundo civilizado e a cultura, que nos insere no grupo social.  Uma das questões que a Psicanálise ilumina é a usina inconsciente, fonte e matriz de nossas produções, que às duras penas procuramos domesticar para garantir a vida em grupo.

Freud propõe um modelo psíquico caracterizado pelo conflito: como humanos, estamos negociando, sempre, entre nossos ideais e nossos desejos mais secretos entre nossa vontade a vontade do grupo; entre a civilização e a barbárie. Nem sempre essa negociação é equilibrada aceita; tampouco é consciente. Há perdas, renúncias, frustrações, restos.

Estamos mergulhados no território dos afetos, manifestações genuínas de nosso estar no mundo. O Par de afetos primordial é amor-ódio, expresso em todas nossas produções. Como símbolo desse afeto, está o Eros grego, muitas vezes traduzido por amor, o que deixa de lado as inclinações menos nobres e aceitas desse deus. Se Eros é paixão, é ligado, traz também em si o ódio, aqui tomado não como oposto do amor, mas como seu polo carregado de agressividade.

O afeto que caracteriza violência é o ódio, que nos desestabiliza e dá muito trabalho. Muitas vezes, o ódio fica como resto de relações amorosas frustrantes, abusivas, invasivas que nos marcaram. Cabem aqui os casos de separações, litígios, brigas por herança em grupos de irmãos, decisões por guarda de filhos após divórcios complicados, lutas históricas entre povos e tribos etc.

O ódio e o sentimento basal da violência. Se cavoucarmos fundo situações violentas, chegaremos a um núcleo de ódio. Também é comum que o ódio tenha uma história longa, transgeracional, passando de pai para filho e pautando relações sociais tensas.

A civilização criou códigos para nos defender desse afeto tão desestabilizador. As leis, o direito e as religiões estabeleceram um protocolo de delitos e penalidades que se transformam ao longo do tempo, mas sempre alertam: Cuidado! Homens à vista! Os códigos de conduta e as penalidades nos protegem, mas até certo ponto. Crimes, abusos, uso de poder, ameaças, humilhações, estão por nos rondando, constituindo as notícias escabrosas da mídia: abandono de crianças, teste do sofá de grandes executivos com candidatos/as a celebridade: corrupção; uso da máquina pública para enriquecimento pessoal; hostilidade a migrantes, minorias, classes desfavorecidas.  A lista é infinita e nos causa espanto.

LÁ NO INÍCIO

Nossa condição de desamparo e despreparo, quando nascemos, nos coloca em situação de vulnerabilidade. O homem, mais do que qualquer outro mamífero, nasce precário, dependente de um outro que o acolherá para satisfazer suas necessidades básicas e inserção no mundo simbólico de dependência do outro poderá deixar marcas de difícil digestão.

Autores como Ferenczi e Laplanche; com base na natureza traumática da sexualidade, pilar da teoria freudiana, apresentam reflexões profundas sobre as relações de poder e assimetria desde o grupo familiar, que podem desembocar em condutas violentas.

A primeira vulnerabilidade, portanto, é nossa condição infantil: nascemos num mundo construído e desemborcamos numa ordem simbólica que demanda tempo para ser digerida, internalizada, adquirida. Essa vulnerabilidade poderá ser ressignificada toda vez que o desamparo, o abandono, a hostilidade do meio circundante se apresentar.

Para enfrentarmos o mundo, interno e externo, somos dotados de arsenal de defesas, como acontece com nosso sistema imunológico: algumas defesas mais precárias, outras mais eficazes. Algumas defesas para enfrentar ameaças que se apresentam podem ser aqui enumeradas: negação, isolamento, esfriamento dos afetos, agressividade/ ataque. Cada situação convoca reações diversas, algumas mais sintônicas, outras mais patológicas. Os sintomas são criativos, produções próprias de cada sujeito, mas carregam uma história que nem sempre vem à luz.

Vamos tomar algumas reações que aqui nos interessam: a negação da realidade é um mecanismo básico e econômico que visa suprimir um conflito carregado de dor diante do mundo. Por exemplo, uma criança que sofre ameaças verbais em casa pode apresentar como reação apatia e desencanto, evitando estabelecer contatos. Nesse exemplo hipotético, mas bastante comum nos consultórios, instituições e nas escolas a apatia e a alienação podem estar na raiz de queixas escolares, meros sintomas, que escondem uma criança assustada, impotente, que não se contrapõe ao adulto violento, temendo a perda de seu amor. Um outro sintoma, oposto a este, seria uma reação agressiva e hostil diante de todos os que se apresentam na vida da criança: professores, escola, amigos e o próprio brincar.

Nos dois casos, estamos diante da violência e do ódio, produzindo efeitos nefastos, que constituirão um indivíduo que provavelmente terá dificuldades de negociar e criar saídas interessantes para sua vida. O custo é alto: a dessubjetivação, no caso da apatia; ou a propagação de uma rede de violência ininterrupta que sempre se reatualiza, independentemente do contexto, no caso de reações agressivas.

Um campo de violência, dual, familiar, grupal, não importa, parece requerer a presença de uma escuta, de um terceiro, que propiciará que uma narrativa aconteça, permitindo que a história se revele.

Se a violência é um sintoma, precisamos acolhê-la como expressão de um indivíduo e de um grupo. É muito comum que situações de violência representem esquemas repetitivos, automáticos, que impedem que o sujeito saia do circuito empobrecedor e assustador.

Estamos aqui lidando com fenômenos grupais complexos, nos quais a violência surge como emergente de um modo de relação potente, baseado no desejo (nossas pulsões de vida e morte) e na história cultural do grupo em questão. Hannah Arendt aponta que sem poder a violência não se sustenta. Portanto, é necessário um olhar que contemple o terreno do afeto e do desejo (esfera individual), e da história (dos grupos, das culturas, dos momentos), o que coloca a violência como estratégia racional de enfrentamento do mundo. Arendt nos lembra que o homem se comporta como um animal porque, afinal, é um animal.

Um filme recente, O Insulto (L’lnnsulte, França / Líbano, 2017), nos coloca diante da violência em várias camadas. Uma questão banal, cotidiana, (uma calha que vaza da varanda de um cidadão libanês), põe em tensão, em guerra, dois moradores da cidade: um libanês e um palestino.

Parece que a água que vaza é o pretexto, ou o detalhe, ou o resto que movimenta questões de ordem pessoal, familiar, global, racial, turbinadas por ódio e restos que não puderam ser metabolizados.

O ódio se manifesta através do insulto verbal (que dá nome ao filme), acompanhado de agressão física. E estes dois homens criam uma guerra particular, acompanhada por seus grupos étnicos.  Entra um terceiro: o tribunal, o Direito. E, nessa instância, uma das discussões passa pela comparação entre insulto e agressão física. Afinal, o que seria um crime: insultar ou agredir?

O tribunal também apresenta uma situação peculiar: os advogados escolhidos têm um parentesco importante. Trata-se de pai e filha, outra situação de poder e assimetria que tensiona as decisões.

O ódio entre os dois sujeitos transborda para toda a comunidade, levando a discussões de extrema importância, nas quais se contempla o individual e o coletivo, grupal. O filme caminha para a    narrativa das histórias de cada agressor/vítima. Tomamos contato com seu percurso sofrido, com suas perdas, com a destruição das cidades, o desenraizamento: o palestino era um engenheiro, em busca de trabalho, que se contenta com uma função de mestre de obras, uma vez que não é reconhecido pelo Estado. O libanês, a duras penas, rememora sua infância, durante o qual presenciou a destruição de sua cidade e ele também era um estrangeiro em seu próprio pais.

Aos poucos, o ódio vai dando espaço a histórias de perdas, rancores, humilhações e busca de um lugar de dignidade e afeto. Nesse filme podemos reconhecer os aspectos que Freud levanta em seus textos mais culturais, que tratam do mal-estar, do medo das perdas, das memórias que não passam e que muitas vezes retornam em forma de ódio e destrutividade.

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DESTRUIÇÃO

Retomando nosso tema, após algumas considerações, podemos concluir que a violência não é um instinto e que nem sempre é fruto do irracional. Se assim fosse, estaria naturalizada e aceita. A violência é o emprego da agressividade visando a destruição do outro, das redes simbólicas, dos contratos que cada cultura tem para si. Nas guerras, a violência é um método. E certas guerras emergem para denunciar esquemas violentos, como se decretassem: “daqui para frente, não mais”

Porém, como a Psicanálise nos ajuda a refletir, a irracionalidade reside no fato de que muitas vezes os homens desconhecem as raízes de seus atos, suas verdadeiras intenções. O próprio alvo da violência, usando uma linguagem freudiana, pode ser um mero deslocamento de objetos do passado, de traumas do passado impassado, que emergem de forma desviada e distorcida.

A culpa, ou o sentimento inconsciente de culpa que tanta angústia mobiliza, é fruto do conhecimento de uma norma que condena o ato. A partir dessa angústia, que pode ser grande catalizadora de atos violentos, é possível construirmos uma reflexão. Assistimos, em muitos grupos, a ideia utópica de uma última violência, de um novo ato fundante, espécie de sacrifício que interromperia, ao menos temporariamente o circuito de violências.

 FREUD DIZ A EINSTEIN QUE A VIOLÊNCIA TEM VÁRIAS FACES

Por que a guerra? Numa correspondência de 1932 entre Freud e Einstein, que versava sobre as possíveis razões das guerras, Freud reconhece que a história da humanidade é marcada por movimentos dinâmicos em que a violência surge com diversas roupagens. Da violência física, passamos ao Estado de direito, muitas vezes rompido, que não deixa de guardar em si certa violência, uma vez que exige renuncias instintivas de cada indivíduo. Lendo essas considerações, acompanhando o raciocínio complexo de Freud, pensamos que a convivência em grupo nos salva e nos escraviza. O equilíbrio é tênue e facilmente rompido. A passagem da barbárie à civilização não conseguiu evitar a solução violenta de conflitos no interior dos grupos. Parece que os resultados das conquistas não são duradouros, o que nos leva à conclusão de que nunca nos livraremos plenamente das guerras. Embora os vínculos afetivos sustentem nossa vida em grupo, nossa natureza humana cria um campo tenso, no qual a destrutividade e o ódio comparecem. Parece que não é possível abolirmos as tendências agressivas que habitam os homens, o que nos inclui.

SIMPLIFICAÇÃO

Edgar Morin no livro Introdução ao Pensamento Complexo aponta para o risco da simplificação, que habita, inclusive as ciências. A realidade sempre nos convoca a repensarmos os fenômenos que se apresentam e o tema da violência e do ódio mostra que a realidade humana não é uma máquina perfeita, que evolui como a tecnologia. A hiper simplificação dos fenômenos, as ideologias, a rapidez dos novos tempos representa grandes riscos que podem dar lugar a fenômenos do campo da violência. É importante considerar o conhecimento como limitado, insuficiente e colocá-lo também como objeto de investigação.

EGO E ID

No texto de Freud “O ego e o Id”, que retoma algumas ideias expressas em Além do Princípio e do Prazer, o ego não é senhor de si: escravo da natureza pulsional, sexual, do mundo externo e do superego, representante inconsciente de imperativos categóricos. O ego passa a ser considerado uma superfície tênue ancorada no id inconsciente irredutível, quase um estrangeiro dentro de nós. Se o ódio que a violência atualiza é sintoma, resta percorrer o caminho regressivo e as trilhas internas inconscientes para que o sujeito não fique alienado nem frente a seu mundo pulsional, nem nas demandas externas alheias à sua constituição.

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DORA TOGNOLLI – é psicanalista, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. É psicóloga e mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo e publica artigos em revistas e livros especializados.

OUTROS OLHARES

COMO LIDAR COM A EXIGÊNCIA DAS ESCOLHAS?

No mundo moderno é cada vez mais intensa a cobrança de uma atitude, ou seja, todos precisam optar por um lado: o partido político, a ideologia, a cor preferida, a orientação sexual e por aí vai.

Como lidar com a exigência das escolhas

Os últimos acontecimentos do país têm gerado uma cobrança de uma atitude cidadã em que todos precisam definir um lado da moeda, o partido político, uma ideologia, a cor preferida, a orientação sexual definida etc. Como isso influencia na perda do equilíbrio emocional?

Para começar, uma pergunta: “Existe equilíbrio emocional?” Já vimos algum bebe nascer sorrindo? A entrada no mundo para nós, seres humanos já é a porta de entrada para a angústia. Um afeto ou o único que não engana não se explica, não se nomeia, não tem um objeto. É o caos. Em sua etimologia, angústia tem sua origem do latim, angustus, estreiteza, limite de espaço ou de tempo. Ansiedade ou aflição intensa; ânsia, agonia. Daí a expressão: “aperto no peito”.

Em seu livro O Conceito de Angústia, Kierkegaard defende que a diferença entre o medo e a angustia é que no medo existe um objeto definido, concreto, e ao identificarmos tal objeto é possível evitá-lo e controlar o medo. Ao contrário da angústia, que não temos clareza, certeza do objeto que a provoca, faz com que o estado de angústia permaneça em nós.

DOIS LADOS DA ANGÚSTIA

Daí, podemos afirmar que a angustia é e sempre será consequência da nossa existência humana. Mas também o motor de nossos desejos de eterna busca da felicidade. Para sempre incompleta. A angústia não é nossa condenação, é nossa condição de existir.

Imagina se existisse somente uma única cor, um único sabor, uma única forma de prazer, um único trabalho, uma única mulher, um único homem, que o fizesse se apaixonar por toda sua vida. Ou, mesmo existindo várias cores, vários sabores, várias formas de prazer, tudo que há no mundo, você seria predeterminado, direcionado a somente uma entre todas as possibilidades. E nada mais chamaria sua atenção. O que você perderia? E o que você ganharia?

Talvez você esteja pensando: seria enfadonho, monótono, previsível demais. Mas, convenhamos, por outro lado, muito reconfortante. Seria quietude. Seria a ausência da angústia que nos marca como humanos. Mas por que a angústia nos caracteriza como seres humanos? Porque, o homem sabe que sabe, por isso se angustia, e o animal, por não saber que sabe, apenas cumpre o que é da sua natureza.

Luc Ferry aponta que o que difere o homem dos animais é a liberdade.

O animal age por seu instinto natural, inato a toda espécie, “uma espécie de software do qual nunca pode desviar­ se”. E, por isso, está fadado à repetição, privado da liberdade de escolha. É o que é, por natureza. “‘O homem, ao contrário, vai se definir ao mesmo tempo por sua liberdade, não obedece a programas definidos, não é predeterminado. Ferry cita o texto abaixo de Rousseau como exemplificação magnífica dessa ideia:

Em cada animal não vejo senão uma máquina engenhosa, à qual a natureza ofereceu sentidos para recompor-se por si mesma, e para defender-se, até certo ponto, de tudo o que tende a destruí-la ou estragá-la. Percebo exatamente as mesmas coisas na máquina humana, com a diferença de que a natureza faz tudo nas ações do animal, enquanto o homem concorre para as suas, na qualidade de agente livre. Um escolhe ou rejeita por instinto, e o outro por um ato de liberdade: o que faz com que o animal não se afaste da regra que lhe é prescrita, mesmo quando lhe fosse vantajoso fazê-lo, e que o homem se afaste frequentemente dela em seu prejuízo. Assim é que o pombo morreria de fome perto de uma vasilha repleta das melhores carnes, e um gato, diante de uma porção de frutos ou de grãos, embora tanto um quanto o outro pudesse perfeitamente se nutrir com o alimento que desdenha, se ousasse experimentá-lo. É assim que os homens dissolutos se entregam a excessos que lhes provocam febre e morte porque o espírito deprava os sentidos, e a vontade fala, ainda quando a natureza se cala. Mas, mesmo que as dificuldades que cercam todas essas questões permitissem a discussão sobre essa diferença entre o homem e o animal, há outra qualidade muito específica que os distingue, e sobre o qual não pode haver contestação:  é a faculdade de se aperfeiçoar, faculdade que, com a ajuda de circunstâncias, desenvolve sucessivamente todas as outras e reside em nós, tanto na espécie quanto no indivíduo. Enquanto um animal é, ao fim de alguns meses, o que será durante toda a sua vida, e sua espécie, ao fim de mil anos, o que era no primeiro desses mil anos.  Por que o homem está sujeito a ser imbecil? Não é absolutamente porque retorna assim a seu estado primitivo, e o animal, que nada adquiriu e nada tem a perder, permanece sempre com seu instinto, e o homem, perdendo com a velhice e outros acidentes tudo o que a perfectibilidade lhe havia feito adquirir, torna a cair mais baixo do que o próprio animal?

 BICHO É BICHO

Amparo Caridade diz:  Na passagem do animal ao homem é a linguagem que faz a mediação e elucida a característica humana do desejo de ser desejado. É a linguagem que possibilita o anúncio e o reconhecimento desse desejo pelo outro. Dizer desse desejo ao outro e saber se dele desejado é o próprio gozo. Isso é tarefa da linguagem. É porque somos animais falantes, pensantes, imaginativos, que transformamos a linearidade do estabelecido”.

Podemos então caracterizar o homem como o único animal:

Que cria, que constrói história, que modifica a própria história, que tem liberdade, que escolhe, que tem angustia que se arrepende, que, por não poder voltar o tempo para refazer suas escolhas, rumina seu passado, para na vida. Que tem medo do futuro, ansiedade por não poder controlá-lo. Que arrisca prever seu futuro, que concretiza ou ultrapassa suas previsões. Que tem linguagem, que não entende o que o outro faz, mesmo escutando e falando a mesma língua. Que é perfectível, que se aperfeiçoa, que inventa, que constrói casas, que reforma casas, que guarda as suas primeiras invenções em museus. Tem censura, esconde o corpo, cria moda, compra vários sapatos para somente dois pés. Condena o sexo e faz sexo escondido, mas vende sexo explícito. Somente o homem fala dos outros pelas costas, inventa, conta mentira, sabe o que lhe faz bem e escolhe o que lhe faz mal. Sabe amar e também odiar, o único animal que planeja meticulosamente uma tortura, cria objetos para sua execução e escolhe quem torturar. É falante, nasce na França, fala francês, mas pode aprender mandarim. Nasce rico e pode se tornar pobre. Nasce pobre e pode se tornar rico. Cria leis e é julgado por seus atos. É constituído por extremos: coragem e medo, fraqueza e força, prazer e dor. Nomeia as virtudes e os vícios. Nasce dependente e precisa ser cuidadoso para sobreviver. Torna-se humano a partir das relações com o outro, através da educação, da linguagem, da cultura e do afeto. Pelas relações, torna-se um ser social, aparado pelo afeto. Pelas relações, legitima a importância do outro na vida. Pelas relações, conhece os prazeres e as dores. Entre o sofrimento e a alegria, elege a felicidade como significado para sua existência. Ilusoriamente, acredita e procura a felicidade permanente.

Buscamos a felicidade, principalmente no amor, a realização do desejo de amar e sermos amados como a alternativa de negarmos a nossa condição de ser só.

COMPLETUDE

O diálogo de Platão O Banquete retrata a explicação da eterna busca pela completude ainda tão almejada por todos nós. Aristófanes relata que, no início, os seres eram duplos e esféricos, tinham duas cabeças, quatro pernas e quatro braços, os órgãos genitais eram três: um possuía duas metades masculinas; o segundo, duas metades femininas e o terceiro, andrógeno, metade masculina e feminina. Tinham como características bravura e força excepcionais, que os levaram a escalar o céu com a intenção de desafiar os deuses, mas Zeus cortou-os ao meio como punição e enfraquecimento de suas forças. Acabava a completude, a unidade, a felicidade. Esse mito explica o anseio do homem por uma totalidade do ser a partir da busca incessante de sua outra metade. O mito de Aristófanes nos salvaria da solidão, nos resgatando ao estado de inteireza, de totalidade através da união perfeita. A vitória de sermos felizes para sempre.

Sponville, comentando esse mito: “A partir de então cada um é obrigado a buscar a sua outra metade, como se diz, e é uma expressão que devemos tomar ao pé da letra: outrora,” formávamos um todo, completo ( ..) , outrora éramos um”; mas eis-nos “separados de nós mesmos” não parando de buscar aquele todo que éramos. Essa busca, esse desejo e o que chamamos de amor, e, quando satisfeito, é a condição da felicidade. De fato, somente o amor recompõe a antiga natureza, ao se esforçar por fundir dois seres num só e curar a natureza humana. (p. 248).

Ainda em O Banquete, de Platão, Sócrates, em contrapartida como mito de Aristófanes através de Diotima, diz, em relação ao amor! que o amor não é completude, mas incompletude, não é fusão, mas busca. O amor é desejo e desejo é falta. O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor (p. 253).

E se sempre nos falta alguma coisa é porque somos incompletos. A partir dessa constatação de sermos só, podemos considerar que a angústia faz parte da existência humana.

É angustiante nascer e mais angustiante a constatação da morte. Somos seres afetivos e mortais. E a morte não tem uma lógica, uma sequência, uma “fila” com ordem certa.

A finitude é a única garantia da vida. Como conciliar o desejo de vida, por nós e por todos que amamos, diante da soberania da morte? Ao conhecermos o amor, o afeto, o desejo, automaticamente nos deparamos com o medo e com a angústia. Quanto mais amor, mais medo de perder. Somente por isso a felicidade perde a possibilidade de ser garantida. Mas também por isso a vida se revela como mistério. Uma aventura. A morte, que é tão temida, dá ainda mais sentido à vida. A incerteza que nos angustia é a mesma que nos impulsiona a viver. Uma provocação à nossa liberdade para driblarmos e irmos mais além do que somos.

Fantasticamente, vamos atrás daquilo que sabemos que nunca vamos encontrar movidos pela liberdade de ser.

Negar a angústia é negar nossa condição de seres temporais. Negar o tempo é querer parar seu impulso destruidor, parando também seu impulso criador. Isso é desejar a eternidade, mas a eternidade do presente. Um presente em que desaparece à perspectiva do ‘porvir’ e à memória do que ‘somos’ no passado de nossa história. Afinal, existir é coexistir com o passar do tempo, mesmo que isso signifique correr um risco constante. Ou coexistir com uma angústia que nunca cessa (Araújo, 2000, p. 171). Diante da compreensão da angústia não como uma patologia, mas inerente à nossa existência, é mera ilusão buscar a felicidade negando essa verdade do existir humano.

O exercício da liberdade é individual, escolher fazer da vida não um por acaso, mas um por querer. Escolhas movidas pelo desejo de sairmos do banco de passageiro e assumirmos o de motorista, tendo a angústia assentada ao lado, com companhia constante dessa viagem.

Mas o que nos impede de vivenciarmos a nossa liberdade! Somos seres livres, isso é fato. Mesmo com alguns determinismos: um corpo que ocupa um espaço e está sujeito à deterioração, um tempo que o limita, uma cultura que impõe leis e costumes, somos livres para ultrapassarmos, superarmos e criarmos novas formas de viver. Escolher entre o sim ou o não é sempre uma escolha. O não escolher, o ceder, o desistir, o delegar ao outro a nossa vida também são escolhas. Segundo Sartre: “O homem é escravo de sua liberdade.”

E como definir, simplistamente, a liberdade: liberdade não é poder fazer o que deseja? Então, o nosso ponto de partida não é a liberdade em si, mas o nosso desejo. Porque uma escolha exige um desejo. E o desejo, esse sim, exige um saber que é individual. O que eu desejo? Como reconhecer o meu desejo? Como assumir o meu desejo? Como identificar o meu desejo diante de tantas possibilidades?

Uma coisa puxa outra. O que está intrínseco na nossa angústia diante das nossas escolhas são as perdas. Porque o desejo é escolha, mas as perdas são consequências. E isso nos remete à total falta de garantia. Abandonar alternativas que poderiam ser talvez, melhores chances de felicidade. Escolher o que perder, no escuro, na incerteza, sem ter feito test. drive, sem ter conhecido, experimentado, sempre com a dúvida se as melhores possibilidades ficaram para trás.

EQUILÍBRIO EMOCIONAL

A ditadura do prazer impõe frustrações ou alternativas irreais para satisfazê-la. Não podemos eleger a felicidade permanente como sinônimo de saúde emocional, mas a diluição das inúmeras dimensões que formam os dois lados da moeda do viver. A alegria não seria tão encantadora se fosse a experiência de tristeza, a vitória não seria tão saborosa se não existissem os inúmeros momentos de esforços, a escolha não seria tão sofrida se não tivéssemos perdas. A vida como falta

de garantia, viver é sempre a tentativa de se viver intranquilamente bem.

E qual o nosso grande desafio, hoje, diante de um mundo de possibilidades? Como escolher, quando o muito é possível?

Se antes a escolha de uma profissão se restringia entre ciências biológicas, exatas ou humanas, hoje temos especialidade da especialidade da especialidade. Se ontem conhecíamos somente os meninos e as meninas da nossa rua, e as meninas, na sua maioria, “recatadas”, preservando seus “tesouros” para depois do casamento, deixavam de ser acessíveis, hoje todos e todas ou quase todos e todas são possibilidades reais.

Hoje, diante de tantas opções, é como se tivéssemos um saquinho de pipoca, que vamos comendo, comendo…sempre procurando pela mais doce. Porque a possibilidade de um prazer maior ainda está por vir.

Como conciliar a ditadura desse prazer permanente com a angústia de perder por ter que escolher? E diante de tantas possiblidades nos deparamos com uma liberdade mais real do que nunca. Porque, agora as possibilidades não estão mais restritas, tudo está de bandeja nas nossas casas. Como um álbum de fotos, que não tivemos tempo de vivera história. Fazemos parte da vida de todo mundo e todo mundo faz parte da nossa vida. Será que temos mais possibilidades do que desejamos? O que os olhos não veem o coração não sente. O que os ouvidos não ouvem o coração não sente. O que os dedos não teclam o coração não sente. O que a mente não sabe, o coração não sente. Quais as consequências desse excesso de informação em nossas vidas? Se antes estávamos blindados pela limitação dos recursos e lentidão de como chegavam as informações, nos protegendo da consciência sobre nossa ignorância, hoje é “esfregado em nossa cara” que estamos atrasados no tempo e no espaço. Cada minuto “desconectado” é um mundo que passou e que não fez parte da minha vida. Agora, fica constatada a minha ignorância. Agora, estou consciente de que não sei com a cobrança de que eu deveria saber o que “todo mundo” já está sabendo.

Essa nova realidade mudou radicalmente nossa forma de viver e estar no mundo: os nossos comportamentos, comunicação, relacionamento, fidelidade, educação, lazer, compras, trabalho, profissão, linguagem… Um outro mundo, mudanças tão rápidas que a maioria de nós não teve tempo para se preparar. Um sentimento de estranhamento, inadequação, peixe “fora d’água.  Mais do que nunca, quando as opções aumentam, a angústia se multiplica. Perder pouco é mais fácil do que perder muito. A poesia de Cecília Meireles, Ou Isto ou Aquilo, mais do que nunca; está atualizada:

‘”Ou se tem chuva e não se tem sol,

ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

Ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,

quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo”.

Mas perder é sempre perder. Antes a agonia era como conseguir andar em dois carrinhos ao mesmo tempo, hoje nem se fôssemos centopeias teríamos pés para tantos carrinhos.

Receitas mágicas, novidades, invenções, referências, manuais de certo e de errado, tudo instantâneo, provisório, transitório, o que fazia mal, volta fazendo bem, o que era vilão volta como herói, o que era desconhecido, surge como essencial, o que era consagrado some como condenado e nós nem havíamos experimentado ainda. O sentimento de dívida, de atraso faz parte do nosso dia a dia. Sempre teremos um lugar que deveríamos já ter visitado, uma comida que deveria ter sido saboreada, uma boca que deveria ter sido beijada, uma opinião que deveria ter sido compartilhada.

COBRANÇAS

Frente a esse universo de possibilidades nos é cobrado e nos cobramos posicionar com conhecimento e segurança. Liberdade de escolha não vem só. Intima a responsabilidade do que será escolhido e a angústia de abandonar o que foi perdido.

Quanto mais liberdade, mais escolhas. Quanto mais escolhas, mais responsabilidade. Quanto mais responsabilidade, mais medo, mais angústia

Finalizando esse trabalho, entrei em uma cafeteria pau dar a última lida no texto. Pedi um café. A atendente prontamente me serviu:

– Você deseja adoça-lo?

Cai na besteira de dizer que sim.

– O que você escolhe, Açúcar tradicional;

Refinado;

Mascavo;

Orgânico;

Adoçante liquido;

Em pó;

Diet;

Sucralose;

Sacarina;

Frutose;

Aspartame;

Sorbital;

Estévia.

E eu que queria tomar somente um cafezinho!

 Como lidar com a exigência das escolhas.2

CIDA LOPES – é psicóloga clínica, terapeuta cognitiva, educadora sexual, autora dos livros Gente é Gente, Bicho é Bicho e Rosazul: Nem tão Rosa, nem tão Azul. É professora do curso de pós-graduação em Sexologia Clínica (Fumec-BH), professora do curso de especialização Casc – Curso Avançado de Sexologia Clínica – BH, professora de Sexologia Clínica e Sexualidade na Infância e na Adolescência – Ciclo Ceap-BH/instituto Veda de Terapia Cognitiva – SP/Cetc-BH, coordenadora de projetos de Educação Sexual, consultora e palestrante em Sexologia, Sexualidade na Infância e na Adolescência e Relações Humanas.

GESTÃO E CARREIRA

MEU CHEFE NÃO DORME

Como lidar com gestores que telefonam, enviam e- mail e mandam mensagens de WhatsApp em plena madrugada?

Meu chefe não dorme

Carla Sarni, presidente do grupo Sorridents, em 2015 reuniu os diretores da empresa e foi direto ao ponto. Quem estivesse num momento pessoal atribulado, sem tempo para se dedicar ao dia a dia da companhia, poderia pedir demissão. Os que optassem por isso, receberiam um salário a mais de bônus. Naquele ano, o Brasil enfrentava os primeiros sinais da recessão econômica e a Sorridents lidava com um agravante: o endividamento bancário, que precisava de atenção. “Eu disse que a crise teria de ficar da porta para fora. Permaneceria na empresa quem acreditasse no propósito”, diz a executiva.

Passados três anos, a jornada diária de Carla continua intensa e chega a cerca de 15 horas. Toda vez que contrata um profissional para o alto escalão, avisa da rotina com antecedência. “Não espero que os diretores peguem a bolsa e larguem o problema para trás”, afirma. “Só trabalha comigo quem tem perfil e postura de dono.”

A rotina da executiva e de sua equipe ficou ainda mais atribulada quando ela se mudou com o marido e os dois filhos para os Estados Unidos em 2016. Agora, Carla administra o grupo (que tem 240 clínicas odontológicas em 16 estados brasileiros) viajando de um país para o outro. Às vezes, por causa do fuso, ela acorda às 2 horas da manhã para participar de reuniões virtuais com executivos no Brasil – que precisam responder ao chamado da chefe. “Eu acredito na liderança pelo exemplo. Não exijo das pessoas aquilo que não faço. Quando estou no Brasil, sou a primeira a chegar ao escritório e a última a sair’, diz Carla. Atitudes como a de Carla são recorrentes nas empresas. Seja por ter muito a fazer, seja por escolha própria, seja por dormir pouco por natureza, cada vez mais líderes acham que os subordinados devem estar sempre alerta. O problema é quando esse roteiro extrapola os limites profissionais e o funcionário tem a vida pessoal invadida. Essa tênue fronteira se rompe com mensagens de e-mail ou WhatsApp e até telefonemas fora do expediente.

Esse tipo de atitude se agravou nas últimas duas décadas, quando as tecnologias digitais possibilitaram a conexão dos trabalhadores com seu emprego. Mesmo longe do escritório, eles acessam os e-mails pelo celular, participam de grupos de discussão com colegas e são “amigos” do patrão em redes sociais.

A demanda constante é tão grave que levou a França a estipular limites. Em janeiro de 2017, o governo colocou em vigor uma norma que dá direito ao funcionário de ignorar e­-mails ou mensagens de celular em horários de folga. A iniciativa, batizada de “direito de se desconectar”, baseia se em estudos que provam que o trabalhador pode sofrer de estresse, síndrome de burnout, doenças do sono e até mesmo problemas de relacionamento quando submetido a esse tipo de situação.

Se as consequências são ruins, por que os gestores agem assim? Especialistas em cultura organizacional elencam os principais motivos: o chefe é o dono da empresa e está no modo “tudo ou nada”; ele está no momento de alavancar a carreira, portanto, tem de mostrar resultados; a companhia vive um período de crise ou reconfiguração, o que exige uma dedicação adicional de quem está no comando. “O modo como se age depende do momento da carreira e do estilo pessoal”, diz Leni Hidalgo, professora de liderança no Insper. “Só a experiência vai ajudar a perceber se o líder está passando do ponto.”

Edson, nome fictício de um administrador de 36 anos, usa a experiência de 12 companhias por onde passou para aguentar a atual chefe, executiva numa empresa do setor alimentício que envia frequentemente e-mails de madrugada. “Já tive tantos superiores com o mesmo perfil que aprendi a lidar com a situação. Hoje, foco aquilo que é urgente”, afirma. “Se é algo possível de ser adiado, escrevo que resolverei no dia seguinte, durante o expediente. Foi a forma que encontrei para ter um meio-termo.”

 GLAMOUR E RESULTADO

Do CEO da Apple, Tim Cook, que acorda às 3h45 da manhã para responder aos e mails, à apresentadora americana Oprah Winfrey, que afirma se sentir bem com apenas 5 horas de sono, ser um chefe insone virou sinônimo de sucesso. O fenômeno levou o Wall Street Journal a cunhar o termo sleepless elite (“elite insone”, numa tradução livre) para se referir a esse pessoal (somente 3% da população, segundo estudos) que precisa de poucas horas de sono. O próprio Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, diz repousar apenas 4 horas e já insinuou publicamente que alguém que durma 12 horas jamais será tão bem-sucedido quanto ele. No Brasil, quem mais encampa essa ideia é o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), hoje pré-candidato ao governo do estado. Em 2016, durante sua campanha para a prefeitura, ele fez questão de reforçar que imprimiria seu ritmo de 16 horas de trabalho na iniciativa privada à gestão pública. ”Minha rotina é intensa. Na área pública, passei a trabalhar inclusive aos sábados e domingos o dia todo”, diz Doria em entrevista, ao reconhecer que dorme no máximo 4 horas por noite.

Embora o ex-prefeito negue exigir as mesmas 16 horas de seu secretariado, parte dele chegou a reclamar do hábito. A vereadora Soninha Francine (PPS), que ocupou o cargo de secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do município por cerca de quatro meses, relata que sua jornada começava às 7h30 e terminava depois das 21 horas. Apesar do expediente puxado, ela diz que as horas a mais não eram o problema. O que a incomodava era a ansiedade de Doria. “A impaciência dele é louvável em alguns aspectos, mas, no caso da assistência social, não se muda a vida das pessoas de uma hora para a outra.”

SEM CONTRAPARTIDA

Para o pesquisador e gerente de Núcleo de Desenvolvimento de Liderança da Fundação Dom Cabral, Anderson Sant’Ana, há dois estilos de chefia. O tipo A, que assume mais tarefas do que dá conta, costuma ser perfeccionista, exige um grau de comprometimento da equipe semelhante ao seu e busca cumprir o serviço num curto espaço de tempo – custe o que custar. E o tipo B, mais tranquilo, que procura um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional – e que, aliás, pode ter a mesma produtividade de um vigilante por saber gerenciar melhor o time e distribuir as tarefas. “A imagem do líder que gera resultados e produz impacto se associou ao tipo A, e as empresas começaram a contratar gente com essas características, que coloca o trabalho no centro de sua existência”, diz Anderson.

À medida que a carreira avança rumo a cargos mais altos, mais difusa fica a fronteira entre o emprego e vida pessoal; mais horas se passam na companhia – e menos se dorme. Na alta gestão, executivos se comprometem com resultados agressivos e entregam boa parte de seu dia à organização. Em troca, recebem remuneração e bônus polpudos. O próprio Tim Cook, presidente da Apple, ganhou 13 milhões de dólares em 2017 – 3 milhões em salários e o restante em bonificação, segundo o site Business Insider. O problema é que profissionais de médio e baixo escalão não veem engordar suas contas bancárias na mesma proporção. E, quando precisam realizar alguma tarefa em plena madrugada, sentem-se lesados. “O pagamento não compensa a dedicação integral à companhia”, afirma Adriana Prates, CEO da consultoria de recrutamento Dasein e conselheira da Association of Executive Search and Leadership Consultants (Aesc), associação internacional de consultores de liderança, com sede em Nova York.

Ou seja, espalhar esse tipo de modus operandi à outras camadas da organização é um erro. E não só pelo fator dinheiro. Quando não conseguem dar atenção à vida pessoal, trabalhadores perdem a motivação. Rendem menos. No livro Rost; Why You Get More Done When You Work Less (sem tradução no Brasil), AIex Pang, pesquisador e famoso conselheiro de negócios no Vale do Silício, defende a ideia de que a jornada de trabalho não deveria exceder 4 horas diárias. Para comprovar sua tese, ele reúne décadas de estudos científicos que provam que o cérebro humano não funciona plenamente por horas a fio e traz exemplos de personalidades bem-sucedidas. Segundo o autor, Charles Darwin, responsável pela teoria da evolução e autor de 19 livros, atuava apenas 3 horas pela manhã e mais 1 hora no final da tarde. No restante do tempo, Darwin lia, caminhava e convivia com a família.

COMO LIDAR?

Apesar dos argumentos científicos sobre a necessidade do repouso e sobre a ineficácia de trabalhar demais, o fato é que chefes insones e workaholics inveterados continuam ocupando espaço nas empresas. Então, o que fazer quando o celular apita no meio da noite?

Especialistas em carreira sugerem uma conversa logo de cara, demarcando limites e cortando o mal pela raiz. Numa primeira situação, o ideal é que o funcionário ignore a mensagem que chegou fora do expediente. Se for questionado pelo chefe, a recomendação é justificar de maneira sincera e com exemplos concretos de por que deixou de atendê-lo – “nesse horário eu estou colocando meu filho para dormir” ou, então. “você ligou no meio da sessão de cinema e não pude atender”. No bate-papo com o gestor, o profissional deve dizer que estava num compromisso pessoal e que, ao ficar de vigília fora do horário sente-se desgastado, o que o torna menos produtivo.

Se não funcionar, o passo seguinte é procurar o departamento de recursos humanos. “Muitas vezes, esse tipo de líder não enxerga a situação. É um traço do comportamento desse perfil não se autoconhecer”, afirma Anderson Sant’Anna, da Fundação Dom Cabral. Se o problema for recorrente com um único patrão, vale pedir transferência de área.

Agora, se nada surtir efeito, a orientação, sobretudo em tempos de crise, como atualmente, é seguir o ritmo do líder enquanto arranja outro emprego. “Um funcionário raramente muda o chefe. Então, minha sugestão é que ele entre no jogo, fazendo o que é pedido, enquanto busca uma alternativa de carreira melhor,” afirma Adriana, da Dasein.

É o que tem feito Renata, também nome fictício de uma advogada de 33 anos. Hoje, ela faz de 2 a 4 horas extras diariamente, sem contar os inúmeros e-mails que recebe do superior à noite.”  Ele demanda muito porque, sozinho, não consegue responder a tudo o que é pedido”, diz Renata, que trabalha numa companhia de tecnologia. Como depende do emprego, criou uma estratégia:  passou a se desconectar completamente quando tem um tempo livre. “Como eu já tive chefes melhores nessa empresa, vejo este momento difícil como um ciclo. Sei que vai passar.”

Renata pode estar certa. Segundo especialistas, a tendência é que gestores desse tipo percam espaço no mundo corporativo. Com os millennials (jovens na faixa dos 30 anos) chegando ao topo da hierarquia, essa deve ser uma realidade cada vez mais distante. “A geração Y busca melhor qualidade de vida e não aceita essas condições de trabalho; preferem pedir demissão e empreender”, diz Adriana.

 SOS CORUJÃO

Veja cinco dicas de como agir numa situação em que o líder exagera na dose:

1. TENHA AUTOCONTROLE

Quem lida com um chefe insone deve ter disciplina para evitar o trabalho nos momentos de lazer. Evite responder a e-mails e mensagens fora da jornada. Se for preciso, justifique-se com firmeza e segurança, apontando a razão pela qual deixou de atender ao chamado.

2. PRIORIZE O QUE É URGENTE

Caso seja impossível separar trabalho e tempo de lazer, priorize o que realmente for urgente quando houver um chamado fora da hora do trabalho – evitando que o serviço domine toda a sua vida.

3. BUSQUE MUDANÇAS

Chefes insones costumam ser pouco maleáveis para mudar a rotina. Se essa for a sua realidade, entregue o que o chefe pede e busque uma mudança de área, ou até mesmo de emprego.

4. COMPLETE SEU CHEFE

Some à equipe uma competência que seu chefe não tem. Funcionários que se destacam costumam ser mais bem tratados pelos gestores, o que pode evitar um e-mail fora de hora ou até mesmo uma conbrança por não ter respondido à mensagem.

5. MOSTRE SEU VALOR

Seja visível para o chefe de seu chefe. Se as pessoas souberem que você é produtivo e competente, não será uma mensagem ignorada durante o fim de semana que causará demissão.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 50-56 – PARTE – I

Alimento diário

A Morte de Cristo

Temos aqui, em detalhes, um relato da morte de Cristo e várias passagens memoráveis em relação ao evento.

I – A maneira como Ele deu o seu último suspiro (v. 50). Entre a terceira e a sexta hora, ou seja, entre as nove da manhã e o meio-dia, conforme a nossa contagem do tempo, Ele foi pregado na cruz, e logo depois da hora nona, ou seja, entre as três e as quatro da tarde, Ele morreu. Esta era a hora da oferta do sacrifício da tarde, e a hora em que o cordeiro da páscoa era morto. Cristo, a nossa Páscoa, foi sacrificado por nós e ofereceu a si mesmo no entardecer do mundo como um sacrifício a Deus, sacrifício que tinha um cheiro bom. Foi a essa hora do dia que o anjo Gabriel comunicou a Daniel aquela gloriosa profecia a respeito do Messias (Daniel 9.21,24ss.). E alguns pensam que, desde aquele exato momento em que o anjo o pronunciou até esse momento em que Cristo morreu, se passaram apenas setenta semanas, quer dizer, quatrocentos e noventa anos, até esse dia, até essa hora; assim como a partida de Israel do Egito ocorreu ao final de quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia (Êxodo 12.41).

Duas coisas são registradas aqui quanto ao modo como Cristo morreu.

1. Que Ele gritou em voz alta, como antes (v. 46). Mas:

(1) Isso era um sinal, após todas as suas dores e cansaço, de que a sua vida era uma vida sadia, e a sua disposição era forte. A voz de homens moribundos é uma das primeiras coisas a falhar; com uma respiração ofegante e uma língua vacilante, algumas poucas palavras sem sentido são ditas com dificuldade, e mais dificilmente ouvidas. Mas Cristo, pouco antes de morrer, falou como um homem no vigor de suas forças, para mostrar que a sua vida não lhe fora arrancada, mas fora por Ele entregue, voluntariamente, nas mãos de seu Pai, como seu próprio ato e vontade. Aquele que tinha força para gritar dessa forma enquanto morria, podia ter se libertado da prisão sob a qual estava, e ter desafiado as forças da morte; mas, para mostrar que pelo Espírito Eterno Ele estava se oferecendo, sendo o Sacerdote e o Sacrifício, Ele gritou em voz alta.

(2) Essa passagem foi significativa. Essa voz alta mostra que Ele atacou os nossos inimigos espirituais com uma coragem desprovida de qualquer temor. Tal coragem e determinação revelam-no como sincero em sua causa, e ousado na batalha. Ele estava agora despojando os principados e as potestades, e com essa voz alta estava manifestando a sua autoridade, como alguém que é poderoso para salvar (Isaias 63.1). Compare essa passagem com Isaías 52.13,14. Ele agora se curvou com todo o seu poder, como fez Sansão, quando disse: “Morra eu com os filisteus” (Juízes 16.30). O seu chamado em voz alta, quando morreu, anunciava que a sua morte devia ser propagada e proclamada ao mundo todo; a sua morte diz respeito a toda a humanidade, e assim cada ser humano tem que prestar atenção a ela. O clamor de Cristo era como o toque da trombeta sobre os sacrifícios.

2. Que Ele então entregou o espírito. Esta é a perífrase comum para morrer; para mostrar que o Filho de Deus, sobre a cruz, morreu verdadeira e corretamente pela violência da dor a que foi submetido. A sua alma foi separada de seu corpo, e assim o seu corpo esteve ali verdadeira e realmente morto. Era correto que Ele, de fato, morresse, pois este era um requisito da obra da salvação; assim estava escrito, tanto nas cartas fechadas dos conselhos divinos como nas cartas abertas das profecias divinas; e, por essa razão, Ele deveria sofrer e morrer. Sendo a morte o castigo pela quebra do primeiro Testamento (Certamente morrerás), o Mediador do Novo Testamento deve fazer a expiação das transgressões através da morte, pois de outra maneira não há remissão (Hebreus 9.15). Ele havia se encarregado de tornar a sua alma uma oferta pelo pecado; e Ele o fez, quando rendeu o espírito e voluntariamente o entregou.

II – Os milagres que acompanharam a sua morte. Considerando que o Senhor Jesus Cristo realizou tantos milagres durante a sua vida, pode ríamos esperar a realização de alguns milagres relativos a Ele em sua morte, pois foi registrado que o seu Nome seria Maravilhoso. Se Ele tivesse sido levado, como Elias, em uma carruagem de fogo, isso já teria sido, por si só, um milagre suficiente; mas ser levado da terra através de uma cruz infame era essencial para que a sua humilhação fosse acompanhada da emanação de sinais da glória divina.

1. “E eis que o véu do templo se rasgou em dois”. Essa relação deve ter sido observada com admiração: “Vire-se para o lado e veja esse maravilhoso sinal, e fique maravilhado com ele”. Exatamente quando o nosso Senhor Jesus morria, na hora do sacrifício da tarde, e em um dia solene, quando os sacerdotes estavam oficiando no Templo e podiam ser testemunhas oculares desse milagre, o véu do Templo foi rasgado por uma força invisível; aquele véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo. Eles o haviam condenado por dizer: “Eu derribarei este templo”, interpretando as suas palavras de forma literal; agora, através dessa amostra do seu poder, Ele os fez saber que, se desejasse, poderia ter confirmado o pensamento deles, destruindo o templo de forma literal. Neste, como nos outros milagres de Cristo, havia um mistério.

(1)  Havia uma correspondência com o templo do corpo de Cristo, que agora se desintegrava. Esse era o templo verdadeiro, no qual habitava a plenitude de Deus; quando Cristo clamou em voz alta, e entregou o espírito, e assim dissolveu aquele templo, o templo literal fez como um eco àquele grito e respondeu ao golpe ao rasgar o seu véu. Note que a morte é o evento pelo qual o véu da carne é rasgado; esse é o véu que se interpõe entre nós e o Santo dos Santos. A morte de Cristo foi assim, e a morte dos verdadeiros cristãos também é assim.

(2)  Ele revelava e esclarecia os mistérios do Antigo Testamento. O véu do Templo servia para encobrir – como aquele que estava sobre o rosto de Moisés -, e por isso era considerado uma cobertura. Pois qualquer pessoa que visse a mobília do Santo dos Santos sofreria uma grande punição, exceto o sumo sacerdote, e apenas uma vez por ano, com grande cerimônia e através de uma nuvem de fumaça. Isso representava a escuridão dessa dispensação (2 Coríntios 3.13). Mas agora, através da morte de Cristo, tudo foi exposto, e os mistérios foram revelados, de forma que até mesmo aquele que passar correndo poderá interpretar o significado deles. Agora vemos que o propiciatório anunciava Cristo, a grande Propiciação; o pote de maná tipificava Cristo, o Pão da vida. Assim, todos nós, com o rosto descoberto, contemplamos, como em um espelho (o que ajuda a visão, enquanto o véu a prejudica), a glória do Senhor. Os nossos olhos veem a salvação.

(3)  Ele anunciava a união do judeu com o gentio, pela remoção da pare de divisória entre eles, representada pela lei cerimonial, pela qual os judeus eram diferenciados de todos os outros povos (como um jardim fechado), trazidos para perto de Deus, enquanto os outros eram mantidos à distância. Cristo, em sua morte, repelia a lei cerimonial, cancelava aquele manuscrito de leis, tirava -o do caminho, pregava-o na cruz, e destruiu assim aquele muro de separação; e, ao abolir essas instituições, eliminou a hostilidade e fez, em si, de dois um único novo homem (assim como dois quartos se transformam em um, e este se torna grande e luminoso ao se derrubar a divisória), dessa forma fazendo a paz (Efésios 2.14-16). Cristo morreu para despedaçar todos os véus que separa m, e para fazer de todos os povos um só povo em si mesmo (João 17.21).

(4)  El e indicava a consagração e demonstração de um novo e vigoroso caminho para Deus. O véu impedia as pessoas de chegarem perto do lugar santíssimo, onde estava a Shequiná. Mas o véu rasgado indicava que Cristo, através da sua morte, abriu um caminho para Deus:

[l) Para si mesmo. Esse era o grande dia de expiação, quando nosso Senhor Jesus, como o grande Sumo Sacerdote, não pelo sangue de bodes e bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no lugar santíssimo; o véu rasgado simboliza isso (Hebreus 9.7ss.). Tendo oferecido o seu sacrifício no tabernáculo externo, o sangue desse devia, agora, ser aspergido sobre o propiciatório que estava dentro do recinto que era separado pelo véu. Portanto: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória”; o Sacerdote da glória. “E o farei aproximar, e ele se chegará a mim” (Jeremias 30.21). Embora o Senhor Jesus não ascendesse ao lugar santíssimo pessoalmente até quarenta dias mais tarde, ainda assim Ele conquistou imediatamente o direito de entrar, e já tinha uma admissão virtual.

[2] Para nós nele: é dessa forma que o apóstolo o emprega (Hebreus 9.19,20). Nós temos ousadia de entrar no lugar santíssimo, através do novo e vigoroso caminho que Ele consagrou para nós, pelo véu. Ele morreu para nos levar a Deus e, assim, rasgou o véu da culpa e da ira que se interpunha entre nós e Ele, removeu os querubins e a espada inflamada, e abriu o caminho para a árvore da vida. Nós temos agora livre acesso, através de Cristo, ao trono da graça, ou ao trono de Deus, e no futuro teremos acesso ao trono da glória (Hebreus 4.16; 6.20). Rasgar o véu indicava (como expressa esplendidamente o antigo hino) que, quando Cristo tivesse derrotado a dureza da morte, Ele abriria o Reino dos céus para todos os crentes. Nada pode obstruir ou impedir o nosso acesso ao céu, pois o véu está rasgado; uma porta nos foi aberta no céu (Apocalipse 4.1).

2. A terra de fato estremeceu; não apenas o monte Calvário, onde Cristo foi crucificado, mas a terra toda e os países vizinhos. Esse terremoto indicava duas coisas.

(1)  A terrível maldade daqueles que crucificaram a Cristo. A terra, ao tremer sob tal angústia, dava o seu testemunho da inocência daquele que foi perseguido, e contra a impiedade daqueles que o perseguiram. A criação, como um todo, jamais havia gemido sob um fardo tão pesado quanto o da crucificação do Filho de Deus. E os miseráveis culpados que o crucificaram também sentiram esse peso. A terra tremeu, como se temesse abrir a sua boca para receber o sangue de Cristo, que era muito mais precioso do que o sangue de Abel, que ela havia recebido e pelo qual foi amaldiçoada (Genesis 4.11,12). Ao mesmo tempo, a terra parecia estar ansiosa para abrir a sua boca e engolir aqueles revoltosos que haviam levado o Senhor à morte, assim como havia engolido a Datâ e Abirão por um crime muito menor. Quando o profeta quis expressar o grande aborrecimento de Deus pela iniquidade dos iníquos, ele perguntou: “Por causa disso, não se comoverá a terra?” (Amos 8.8).

(2)  As gloriosas realizações da cruz de Cristo. Esse terremoto indicava o poderoso choque, mas também o golpe fatal, que agora fora desferido contra o reino de Satanás. Tão vigoroso era o ataque que Cristo desferia sobre as potestades do inferno, que (como na antiguidade, quando saiu de Seir, quando marchou pelo campo de Edom) a terra tremeu (Juízes 5.4; Salmos 68.7,8). Deus fará tremer todas as nações, quando o Desejado de todas as nações vier. Ainda haverá uma ocasião em que todas as coisas serão abaladas, e entendemos que ela está ligada a esse evento (Ageu 2.6,21).

3. As rochas se partiram. A parte mais dura e firme da terra sentiu esse choque poderoso. Cristo havia dito que, se as crianças parassem de gritar “Hosana”, as pedras gritariam imediatamente; e agora, de fato, elas o fizeram, proclamando a glória do Jesus sofredor, e se mostraram sensíveis ao mal que lhe fora feito, sim, mais sensíveis do que os judeus de coração endurecido, que também, em breve, ficariam contentes ao encontrar uma abertura em alguma rocha e uma rachadura nas rochas ás­ peras, para se esconderem do rosto daquele que está assentado sobre o trono. Veja Apocalipse 6.16; Isaias 2.21. Mas, quando a ira de Deus se derramar como um fogo, as rochas serão por Ele derribadas (Naum 1.6). Jesus Cristo é a Rocha; e a quebra daquelas rochas indicava a quebra dessa rocha:

(1)  Para que, em suas fendas, pudéssemos nos esconder, como Moisés na fenda da rocha em Horebe, para que ali possamos contemplar a glória do Senhor, como ele o fez (Êxodo 33.22). A pomba de Cristo está oculta nas fendas das penhas (Cantares 2.14), ou seja, como aludem alguns, abrigada nas feridas de nosso Senhor Jesus, a Rocha fendida.

(2)  Para que, de suas fendas, rios da água da vida possam fluir e nos acompanhar no deserto, como ocorreu com a rocha que Moisés feriu (Êxodo 17.6) e que Deus fendeu (Salmos 78.15); e aquela rocha era Cristo (1 Coríntios 10.4). Quando celebramos o memorial da morte de Cristo, nossos corações duros e insensíveis é que devem ser fendidos, e não as nossas vestes. Aquele coração que não se rende à apresentação do Cristo crucificado, nem se derrete em sua presença, é evidente­ mente mais duro que uma rocha.

4. Os sepulcros se abriram. Esse assunto não foi relatado de forma tão completa como desejaria a nossa curiosidade; pois as Escrituras não pretendiam satisfazê-la; aparentemente, o mesmo terremoto que fendeu as rochas abriu os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam ressuscitaram. A morte para os santos não é mais do que um descanso do corpo, e o sepulcro é a cama em que dormem. Eles se levantaram pelo poder do Senhor Jesus (v. 53), saíram dos túmulos após a ressurreição dele, e foram para Jerusalém, a cidade santa, e apareceram a muitos. Então, aqui:

(1)  Podemos levantar muitas interrogações relativas a isso, as quais não podemos responder, como, por exemplo:

[1] Quem eram esses santos que, de fato, ressuscitaram. Alguns pensam que eram os antigos patriarcas, que tiveram o cuidado de pedir para serem sepultados na terra de Canaã, talvez na convicção do benefício dessa ressurreição precoce. Cristo havia recentemente demonstrado a doutrina da ressurreição através do exemplo dos patriarcas (cap. 22.32), e aqui estava uma rápida confirmação de seu argumento. Outros pensam que aqueles que ressuscitaram eram santos que viveram naquela época, em que o Senhor Jesus Cristo viveu em carne, mas que morreram antes dele; como se u pai José, Zacarias, Simeão, João Batista e outros, que eram conhecidos dos discípulos, enquanto viviam, e eram, dessa forma, adequados para servir como testemunhos para eles, em uma aparição posterior. E se supusermos que eles eram os mártires, que, na época do Antigo Testamento, haviam selado as verdades de Deus com o seu sangue, e que foram assim exaltados e reconhecidos? Cristo particularmente os apontou como os seus antecessores (cap. 23.35). Também encontramos (Apocalipse 20.4,5) que aqueles que foram degolados pelo testemunho que deram a respeito de Jesus ressuscitaram antes do restante dos mortos. Aqueles que sofrem com Cristo reinarão primeiro com Ele.

[2] Não se sabe ao certo se (como pensam alguns) eles ressuscitaram por ocasião da morte de Cristo e permaneceram em algum lugar, só entrando na cidade depois da ressurreição dele. Ou se (como pensam outros), embora seus sepulcros (que os fariseus ha­ viam construído e adornado, cap. 23.29, e que assim se tornaram notáveis) tenham sido agora destruídos pelo terremoto (pois Deus jamais considera o apreço hipócrita), ainda assim eles não reviveram nem se levantaram até após a ressurreição do Senhor. Parece mais provável que os detalhes sejam mencionados aqui para que o relato seja mais conciso.

[3] Alguns pensam que eles ressuscitaram apenas para dar testemunho da ressurreição de Cristo para aqueles a quem apareceram e, terminado o seu testemunho, retiraram-se, novamente, para os seus sepulcros. Mas é mais apropriado à glória deles e de Cristo supor, embora não possamos prová-lo, que eles ressuscitaram como Cristo, para nunca mais morrer, e assim ascenderam à glória com Ele. O que sabemos com certeza a respeito deles é que a segunda morte não tem poder sobre aqueles que participam da primeira ressurreição.

[4] A quem eles apareceram (não para todas as pessoas, mas para muitos), se inimigos ou amigos, de que maneira apareceram, quantas vezes, o que disseram e fizeram, e como desapareceram, são segredos que não nos pertencem; não devemos desejar saber mais do que aquilo que foi escrito. O relato tão breve desse assunto é uma clara indicação, para nós, de que não devemos olhar nessa direção em busca de uma confirmação da nossa fé; temos uma profecia mais detalhada e precisa. Veja Lucas 16.31.

(2)  Ainda assim, podemos tirar boas lições desse episódio.

[1] Que mesmo aqueles que viveram e morreram antes da morte e da ressurreição de Cristo, obtiveram o benefício da redenção através delas, assim como aqueles que viveram depois; pois Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hebreus 13.8).

[2] Que Jesus, ao morrei venceu, desarmou e neutralizou a morte. Aqueles santos que ressuscitaram eram verdadeiros troféus da vitória da cruz de Cristo sobre os poderes da morte, que Ele, dessa maneira, expôs publicamente. Tendo, através da morte, destruído aquele que tinha o poder da morte, Jesus, desse modo, levou cativo o cativeiro e foi glorificado nesses cativos retomados, cumprindo neles as Escrituras: “E os resgatarei da morte” (Oseias 13.14).

[3] Que, em virtude da ressurreição de Cristo, os corpos de todos os santos, na plenitude dos tempos, ressuscitarão novamente. Esta era uma garantia da ressurreição universal no último dia, quando todos aqueles que estiverem em sepulturas ouvirão a voz do Filho de Deus. E, talvez, Jerusalém seja por isso chamada aqui de cidade santa, porque os santos, na ressurreição universal, entrarão na nova Jerusalém; esta será, na verdade, aquilo que a Jerusalém terrena era apenas no nome e no simbolismo, a cidade santa (Apocalipse 21.2).

[4] Que todos os santos, pela influência da morte de Cristo, e de conformidade com ela, em verdade ressuscitarão da morte do pecado para uma vida de justiça. Eles serão ressuscitados com Ele para uma vida divina e espiritual; eles entrarão na cidade santa, tornando-se seus cidadãos, e habitarão nela. Por essa razão, muitos os consideram como pessoas que não são deste mundo.

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troca de óleo automotivo do mané

Venda e prestação de serviço automotivo

darkblack78

Siyah neden gökkuşağında olmak istesin ki gece tamamıyla ona aittken 💫

Babysitting all right

Serviço babysitting todos os dias, também serviços com outras componentes educacionais complementares em diversas disciplinas.