PSICOLOGIA ANALÍTICA

O TEMPO E O ESPAÇO NO CÉREBRO

Para entender conceitos relativos a localização, parece ser necessário aprender primeiro as noções associadas a temporalidade: pesquisas com voluntários que tiveram tensões neurológicas ajudam cientistas a compreender por que tendemos a imaginar o passado “à direita” ou “à esquerda”, dependendo da língua que falamos.

O tempo e o espaço no cérebro

Costumamos julgar a ideia abstrata de tempo em termos concretos de espaço. Dizemos, por exemplo, que estamos “ansiosos para o fim de semana” ou “que deixamos o passado para trás”. Esse modo de falar pode ser mais do que apenas metáfora. Um estudo publicado pelo periódico cientifico Psychological Science sugere que definir o espaço pode ser necessário para entender o tempo. Pesquisadores descobriram que, se não compreendemos o primeiro conceito com precisão, temos dificuldade com o outro.

Pessoas com a síndrome de negligência unilateral (que ignoram o que está do lado esquerdo) não se lembram de uma cena completa ou até mesmo deixam de comer metade da comida do prato após uma lesão ou acidente vascular cerebral (AVC) no lobo parietal inferior direito. Nesse novo estudo, cientistas investigaram como esses pacientes compreendem o tempo. Pessoas que falam idiomas escritos da esquerda para a direita, como o inglês ou francês, tendem a pensar a linha do tempo com o passado a esquerda e o futuro à direita. A equipe se concentrou em como a negligência unilateral pode alterar o lado esquerdo da cronologia mental, isto é, o pensamento sobre o passado.

Os cientistas selecionaram sete falantes do francês com negligência unilateral, sete pacientes com AVC sem a síndrome e sete pessoas saudáveis para participarem de um estudo simples de memória. Eles aprenderam alguns fatos sobre um personagem fictício, um homem de 40 anos chamado David. Algumas informações sobre ele faziam sentido dez anos no passado e outras só seriam possíveis em uma década no futuro. Os cientistas pediram, então, que os voluntários se lembrassem de todos os fatos que pudessem. Depois, deveriam dizer em que época aconteceram, aos 30 ou aos 50 anos de David. Como os pesquisadores suspeitavam, os participantes com diagnóstico de negligência unilateral tiveram dificuldade para recordar informações relacionadas ao passado, mas não ao futuro.

“Na hora de desenhar um rosto, por exemplo, as pessoas com esse tipo de dano cerebral podem representar apenas a sobrancelha e a orelha direitas ou agrupar todas as características desse lado”, explica a psicóloga Lera Boroditsky, autora do estudo, da Universidade da Califórnia, em San Diego. “As memórias ficam confusas: de alguma forma, os participantes tinham muita dificuldade de recordar elementos associados ao passado ou acreditar que fatos antigos aconteceram no futuro, diz.

A pesquisadora acredita que, quando perdemos a compreensão interna de espaço, a ordem correspondente de tempo é afetada. Ela pretende repetir o estudo com falantes de hebraico e árabe, que leem (e compreendem a linha do tempo) da direita para a esquerda, para verificar se negligenciam o futuro em vez do passado.

 QUANDO A DISTÂNCIA FÍSICA E A EMOCIONAL COINCIDEM

Tempo, espaço e relações sociais partilham uma língua comum de distância: falamos de lugares longínquos, amigos próximos e passado remoto. Talvez seja porque essas concepções dividem padrões comuns de atividade cerebral, de acordo com um estudo publicado no periódico científico Journal of Neuroscience.

Interessados em entender por que a metáfora de distância serve para diferentes domínios conceituais, psicólogos da Universidade de Dartmouth, em Hanover, nos Estados Unidos, usaram a ressonância magnética funcional para analisar o cérebro de 15 pessoas enquanto observavam objetos domésticos (próximos ou distantes), fotografias de amigos ou apenas conhecidos ou liam frases do tipo “em poucos segundos” ou “daqui a um ano”. Os padrões de atividade no lobo parietal inferior direito, uma região associada ao processamento de informações de distância, permitiram aos cientistas identificar quando os participantes pensavam sobre algo perto ou distante em qualquer categoria, o que indica que certos aspectos relacionados ao tempo, ao espaço e a relacionamentos são processados de maneira similar no cérebro. Segundo os pesquisadores, os resultados sugerem que as funções cerebrais superiores são organizadas mais em torno de cálculos, como perto em oposição a longe, do que domínios conceituais, como tempo ou relações sociais.

O tempo e o espaço no cérebro.2

OUTROS OLHARES

DÁ UMA LICENCINHA

Passageiros com transtorno psicológicos agora têm permissão para viajar de avião com seu animal de estimação – mesmo que seja um pato.

Da uma licencinha

Imagine a cena: nos Estados Unidos em um voo de cinco hora de Nova York para Los Angeles, o passageiro acomoda-se na poltrona e depara, instalado no assento ao lado com um pavão-azul.   Não, isso não aconteceu – mas, por pouco. Em janeiro, a artista plástica americana Ventiko queria porque queria embarcar com o exótico companheiro em um voo da United Airlines. A empresa vetou a entrada de Dexter, (o pavão, claro, tem nome) na aeronave e aproveitou a ocasião para fazer uma revisão e estabelecer limite mais claros em sua política de transportes dos chamados animais de suporte emocional, ou ESA, na sigla em inglês – uma categoria de pet cada vez mais comum no exterior e que está começando a pôr a patinha de fora no Brasil.

Só a concorrente Delta transporta anualmente cerca de 250.000 animais acomodados na cabine, junto aos donos. Eles se encaixam em três classes de, digamos, passageiro. Uma é o cachorrinho ou gato pequeno, levado em caixa apropriada. Outra é o animal de serviço, treinado para auxiliar pessoas com deficiência, principalmente cegos, que sabe se comportar e viaja solto. A terceira é o ESA, bicho de estimação do qual o dono não se separa porque ele lhe dá tranquilidade e confiança. Sua companhia é prescrita por psicólogos e psiquiatras, como parte do tratamento contra ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

Ainda pouco reconhecidos no Brasil, os animais de suporte emocional são cada vez mais vistos no exterior em ambientes nos quais bichos não são bem-vindos, como lojas, cinemas, shows, palestras e, claro, viagens, levados por donos munidos de prescrição que atesta sua necessidade constante. A modelo Ana Cláudia Carttori, de 28 anos, erradicada em Nova York, conta que chegou a sofrer crises agudas de ansiedade e pânico antes de viagens de trabalho até encontrar um terapeuta nos Estados Unidos que lhe recomendou a adoção de um cachorro. “Minha vida mudou completamente com a chegada da Jazz”, afirma Ana Cláudia. Sempre que precisa voar, a cadela mestiça de labrador veste um coletinho com a sigla ESA, para facilitar a identificação. Ao contrário da maioria dos colegas, ela passou por um treinamento. “Aprendeu a não brincar, não correr e não fazer suas necessidades no avião. Ninguém é obrigado a viajar com um cachorro indisciplinado”, diz a modelo

Jazz não está sozinha em seu programa de viajante frequente na condição de fornecedora de suporte emocional. A United registrou um aumento de 75% nos pedidos desse tipo de transporte entre 2016 e 2017.  Na Delta, o salto foi de 84%. O designer Thiago Oliver, de 31 anos, mudou-se de São Paulo para Lisboa para cursar um mestrado em 2017 e teve dificuldade para embarcar no avião, com o chow-chow Yuri. Diagnosticado com depressão, Oliver diz que, precisa do gigante de pelos escuros para levar vida normal. “Nunca viajei sem o Yuri e fiquei aflito com a ideia de mudar de país sozinho”, explica. Decidido, gastou 3.500 reais em documentação (laudo psiquiátrico e vacinas) e treinamento do cão.

É compreensível que as empresas façam restrições ao ESA. Em novembro do ano passado, uma mulher foi expulsa de um voo da US Airways por falta de etiqueta higiênica de seu porquinho de estimação. Em 2016, passageiros da Delta se surpreenderam com a presença de um peru de apoio emocional. No mesmo ano, um macaco teve a viagem interrompida em uma escala nos Estados   Unidos por falta de documentação. Entre os animais indispensáveis ao dono já se registrou a presença de uma lhama e de um mini cavalo. Ao rever suas regras depois do incidente com o pavão Dexter, a United proibiu viagens na cabine de porco-espinho, furão, cobra, aranha e répteis, em qualquer circunstância. Também passou a exigir certificado de treinamento e atestado veterinário. Alguns passageiros estavam tentando tirar vantagem da política da empresa de poder levar a bordo os animais de suporte. Daí a razão das novas normas, mais restritas, afirma o americano Charles Hobart, porta-voz da United.

A psicóloga Silvana Prado, fundadora da ONG Patas Therapeutas explica o benefício de ter um animal de apoio para quem sofre de transtornos psicológicos.

“A ciência já provou que acariciar e cuidar de um animal estimula a produção de hormônios relacionados ao bem-estar, como a dopamina, a prolactina e a ocitocina”, diz. “Muitos portadores de transtornos psicológicos têm dificuldade para construir vinculo e cuidar de si mesmo, obstáculos que o laço com um animal, desprovido das cobranças e julgamentos que acompanham as relações humanas, pode ajudar a transpor “, afirma a psicóloga.

No Brasil não existe legislação relativa aos ESA, mas eles também começam a se fazer presentes nos aviões.  A Azul já permite o transporte dos animais nessa categoria em voo para os Estados    Unidos, onde eles são bem­ vindos. A Latam, a primeira a aceitá-los em trajetos nacionais, registrou um aumento de 70% no transporte de animais de assistência nos primeiros quatro meses deste ano, em comparação com o mesmo período no ano passado. Por mais que possam causar problemas, alguns bichinhos têm lá seu charme. Em 2016, o pato Daniel viralizou nas redes sociais ao viajar de Charlotte para Asheville, na Carolina do Norte.

Quietinho, de sapatinhos vermelhos, passou o trajeto de 50 minutos observando as nuvens pela janela enquanto era acariciado pelo dono. Um bom garoto.

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PASSARADA A BORDO

Ter estes animais cheios de penas e plumas dentro do avião pode ser tanto uma experiência indolor, a depender do comportamento da ave, como, estranha –  tão estranha que há companhias que vetam sua presença

Da uma licencinha.3

GESTÃO E CARREIRA

TODOS POR ELAS

Impulsionada por estudos que revelam o potencial de ganhos econômicos da igualdade de gêneros, o tema do avanço das mulheres no mercado de trabalho entra na agenda das grandes empresas – desta vez com ações práticas, metas e métricas.

Todos por elas

Dominada nos últimos anos pela crise financeira e pela recessão desencadeada por ela, a agenda do Fórum Econômico Mundial, realizado todo mês de janeiro em Davos, na Suíça, incluiu na mais recente edição um novo tópico: o da desigualdade de gêneros. Na esteira de dois estudos de grande repercussão, publicados pela consultoria McKinsey no ano passado, e dos desdobramentos da campanha Eles por Elas, da ONU Mulheres, os líderes de negócios reunidos na estância gelada levaram a discussão do tema da diversidade para um novo patamar: menos blá- blá- blá e mais ação. Em vez de debates abstratos sobre a importância de ampliar a representação feminina no mundo corporativo, as conversas se deram em cima de indicadores de desigualdade, metas de curto e médio prazo e do potencial de ganhos econômicos trazido por um cenário mais equilibrado.

Duas iniciativas de vulto chamaram a atenção. A primeira, do Conselho de Investimentos do Estado de Washington, que gerencia um dos maiores fundos de pensão dos Estados Unidos, visa estimular um salto na contratação de mulheres pelas indústrias de private equity e gestão de fundos. E a segunda, de alcance global, é capitaneada pela ONU Mulheres, como parte do programa Eles por Elas (lançado com alarde pela atriz britânica Emma Watson, em 2014). Trata-se do Impact 10x10x10, programa piloto envolvendo chefes de Estado, universidades e dez empresas multinacionais que se voluntariaram a liderar pelo exemplo e pavimentar o caminho para a igualdade de gêneros, implementando mudanças culturais e, sobretudo, estruturais. Ao todo, são 30 líderes globais, publicamente comprometidos com a aceleração do processo de igualdade de gêneros. Em Davos, eles apresentaram o primeiro relatório anual, divulgando informações sobre o percentual de mulheres nessas empresas, ocupando cargos de liderança, postos no conselho de administração e também entre as novas contratações. “Isso nos permite entender em que ponto essas empresas estão e, principalmente, em que direção caminham, quais são as tendências de gênero em cada uma delas”, diz Nadine Gasman, representante do escritório da ONU Mulheres no Brasil. “Pela primeira vez, temos em mãos um indicador de progresso em tempo real, um conjunto amplo de indica- dores que irá permitir uma análise profunda dos desequilíbrios de gênero em dez corporações globais.”

PÉ NA TÁBUA

Unilever, Barclays, Grupo Accor, Vodafone, PriceWaterhouse Coopers, McKinsey, Tupperware, Twitter, Schneider Electric e o conglomerado europeu de origem turca Koç compõem o grupo das primeiras dez empresas signatárias da iniciativa da ONU Mulheres que, além do compromisso de transparência, estabeleceram também três metas de curto prazo para acelerar o processo de construção de um mercado de trabalho igualitário. A pesquisa mais recente do Fórum Econômico Mundial sobre a evolução da representatividade das mulheres no mercado de trabalho sugere que, ao passo atual, levaríamos pelo menos mais 80 anos para alcançar a igualdade de gênero. Segundo os líderes reunidos pela ONU Mulheres, a economia mundial não pode esperar tanto. Juntas, essas dez empresas empregam mais de 1 milhão de pessoas, distribuídas por 180 países. Os compromissos assumidos por elas não estão circunscritos a seus escritórios-sede. Há metas assinaladas para fábricas e até programas de treinamento para agricultores. As iniciativas contemplam auditorias sobre paridade de gênero na cadeia de fornecedores e a determinação de metas que devem ser cumpridas por aqueles que não se enquadram e querem seguir como parceiros. O objetivo é acelerar o progresso em diversas esferas.

Na Schneider Electric, por exemplo, uma das metas é elevar de modo significativo a representação feminina em todos os níveis hierárquicos da empresa, em suas subsidiárias no mundo todo: até 2017, a multinacional europeia de distribuição de energia deve ter 40% de mulheres no nível de entrada, 33% no nível gerencial e 30% nos postos de alta liderança. O desafio não é pequeno. Nos cargos de liderança, o percentual de mulheres era de 22 % ao final de 2015. Mas a experiência da subsidiária brasileira indica que não se trata de um objetivo impossível. Comandada pela engenheira Tânia Cosentino (que assumiu o cargo de CEO em 2009 e, desde o início de 2013, é também presidente regional para a América do Sul), a Schneider já tem 40% de mulheres entre as executivas que se reportam diretamente à CEO. No ano passado, em toda a América do Sul, 46% dos profissionais contratados foram mulheres. “Não posso descansar enquanto não tiver um pool de executivas de alto potencial prontas para assumir posições de liderança”, diz Tânia.

Ela conta que, além das metas de recrutamento, há em curso diversas iniciativas de desenvolvimento e capacitação. O esforço é coordenado por dois grupos envolvendo os presidentes de todas as subsidiárias, que foram criados para garantir a capilaridade dos programas: a Plataforma de Liderança pela Igualdade de Gênero e o Women Advisory Board, voltado especificamente para a alta liderança. “Nesse processo, garantir que as executivas de alto potencial tenham acesso a um programa estruturado de mentores é fundamental”, ressalta Tânia. Única mulher a presidir a multinacional francesa no Brasil, a executiva de 50 anos conta que os mentores foram essenciais ao avanço de sua carreira, desde muito cedo. Ainda no colégio, Tânia foi estimulada por seus professores a fazer o ensino médio em uma escola técnica, devido ao seu interesse acima da média pela matemática. “É importante deixar claro que todos esses esforços têm como ponto de partida a competência: ela é condição inegociável para que as metas de representatividade sejam atingidas”, diz Tânia. “Os mentores apenas ajudam essas profissionais de alto potencial a desenvolver suas habilidades.” A segunda meta da Schneider Electric para o ano que vem endereça outra questão fundamental quando se trata da igualdade de gênero: a paridade salarial. O compromisso da empresa é ampliar o programa de equidade, que hoje cobre os 20 mil funcionários da sede francesa, para um total de 150 mil empregados (o que equivale a 85% de sua força de trabalho no mundo todo).

Embora não seja signatária do Impact 10x10x10, a brasileira Natura compartilha dessas duas metas, com prazos diferentes. Fátima Rossetto, diretora de RH, conta que uma das prioridades da companhia é atingir, até o ano de 2020, o índice de 50% de mulheres em cargos de liderança, considerando os níveis de diretoria e superiores. Hoje, esse percentual é de 29%. A Natura também é uma das poucas empresas a publicar, em seu relatório anual, uma série de indicadores segmentados por gênero, como dados sobre o número de funcionários homens e mulheres por nível hierárquico, bem como a proporção dos salários das mulheres em relação ao dos homens, por categoria funcional. “Dar transparência à paridade salarial é uma questão de maturidade da em- presa. É uma prática alinhada aos valores da companhia”, diz.

A FORÇA DOS NÚMEROS

Partindo do princípio que as empresas não têm como melhorar indicadores que não são medidos de forma sistemática, Sheryl Sandberg, COO do Facebook, se uniu à consultoria McKinsey para realizar uma pesquisa. Divulgada em outubro do ano passado, Women in The Workplace ouviu mais de 30 mil executivos e executivas de 118 grandes companhias americanas. O levantamento mapeou os principais pontos críticos, estabeleceu benchmarks e disponibilizou os dados para que os gestores de empresas possam se comparar a seus concorrentes e a outras indústrias. Segundo o Banco Mundial, as mulheres respondem hoje por 40% da força de trabalho, e por um percentual crescente dos diplomas universitários. A despeito dos muitos progressos, a retenção e a promoção de mulheres aos níveis hierárquicos mais altos permanece um desafio. Um em cada quatro executivos sênior são mulheres. Nas 500 maiores companhias americanas (S&P 500), as mulheres ocupam 19,2% dos postos nos conselhos de administração, um percentual que cai para 17% quando analisada a média global. No Brasil, esse número é um terço disso: só 5% dos conselheiros de administração são mulheres. Na Noruega, onde uma política de cotas foi implementada no final dos anos 90, elas representam 39%.

Desnecessário dizer que políticas de cotas são alvo de muita polêmica em todo o mundo. Por aqui, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é contra. Acredita que o movimento pode gerar mais conflito de gêneros e que não teria impacto significativo sobre as situações de desigualdade de oportunidades. Andrea Menezes, CEO do banco sul-africano Standard Bank, que capitaneia no Brasil a comunidade internacional de mulheres conselheiras de administração (o Women Corporate Directors – WCD), pensa diferente. “Já fui contra as cotas e entendo quem ainda pensa assim”, diz. “Mas hoje defendo que precisamos de medidas extremas para uma situação extrema.” A executiva faz, no entanto, uma ressalva. Para ela, a política de cotas deve ser temporária e encarada apenas como um mecanismo para acelerar a chegada aos conselhos de mulheres extremamente bem preparadas. Ela mesma é um exemplo dessa mistura de oportunidade, planejamento e mérito. Física de formação e financista por vocação, passou pelo JP Morgan, Merrill Lynch e Lehman Brothers. Trabalhou na mesa de operações, na tesouraria e na área internacional antes de assumir a presidência do Standard Bank no Brasil, em 2012. Hoje, é também conselheira de seis startups. “Quem não tem competência não vai longe”, diz. Nem mesmo com cotas.

Acompanhar os índices de representação feminina nos diferentes níveis hierárquicos irá propiciar um melhor entendimento dos pontos de queda e permitir que estratégias específicas sejam desenhadas para endereçar essas perdas. Mariana Donatelli, gerente sênior da McKinsey no Brasil, participou nos últimos anos de estudos realizados pela consultoria como parte do programa Women Matter, que investiga questões de gênero e carreira em empresas do mundo todo. Diz que um grande ponto de inflexão nesse assunto é, sem dúvida, a maternidade – uma decisão que tem grande influência sobre o ritmo e o alcance do avanço das carreiras femininas. “Nas decisões sobre promoções ou expatriações, a vida pessoal da mulher sempre é incluída entre os fatores ponderados pelos superiores”, diz Mariana. “Por outro lado, a vida pessoal do homem muito raramente entra nessa equação.”

PONTO DE INFLEXÃO

Em geral, mulheres em idade de ter filhos (ou com filhos pequenos) são preteridas em processos de expatriação que, muitas vezes, são cruciais para o avanço da trajetória de um executivo. Andrea Alvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura, é uma das raras exceções. Quando trabalhava na PepsiCo, ela foi expatriada para a Argentina. Tinha dois filhos pequenos. O marido ficou no Brasil e ela se mudou com as crianças e uma babá. Ele passava uma semana inteira por mês com a família – nas outras três, as visitas se restringiam aos finais de semana. Quando a filha caçula nasceu, o arranjo começou a pesar e Andrea planejou com seus superiores a sua volta para o Brasil. “É preciso eleger prioridades e ficar em paz com elas.” Na volta, sua carreira não estagnou. Ela mudou novamente de área e liderou projetos que tiveram grande exposição dentro da companhia. Em janeiro deste ano, aceitou o convite para assumir a posição na Natura – e agora é uma de apenas duas mulheres presentes no corpo executivo da empresa.

Nessa seara, empresas do mundo inteiro vêm se mobilizando para implementar políticas de estímulo ao equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira, visando não apenas a mulher, mas a família toda. Nos Estados Unidos, a Netflix estabeleceu a política de licença parental mais ousada de que se tem notícia: é ilimitada no primeiro ano de vida (ou de adoção) para o pai ou para a mãe, que pode escolher uma combinação de licença total, jornada de trabalho reduzida, home office integral ou home office part time. Por aqui, a agenda dos direitos da família, que contempla tanto a mãe quanto o pai, avança. Além das iniciativas privadas (a maioria vinda de subsidiárias que trazem esse tipo de cultura de suas sedes), uma lei sancionada no início de março deve estimular a prática – ou pelo menos o debate. Trata-se do Marco Legal da Primeira Infância, que estabelece uma série de regras de atenção a crianças de 0 a 6 anos e que tem como principal destaque a ampliação da licença paternidade para 20 dias. O benefício se aplica apenas aos funcionários de companhias que aderem ao programa Empresa Cidadã (que concede licença maternidade estendida, de seis meses em vez de quatro). Até então, a licença paternidade ampliada só podia ser usufruída por funcionários públicos de 13 estados brasileiros.

No fim de fevereiro, Melinda Gates fez da divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres o tema da carta que publica todos os anos para divulgar os desafios da Fundação Gates, que toca com o marido, Bill. Apontando a diferença no número de horas dedicadas diariamente ao trabalho não remunerado, que inclui as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos, ela propõe um novo contrato social. “Imagine que metas surpreendentes você não poderia bater se tivesse uma hora extra por dia? Ou, no caso de muitas meninas de países pobres, cinco horas extras ou mais? Há muitas maneiras de responder a essa pergunta, mas é óbvio que uma boa parte dessas mulheres passaria mais tempo fazendo trabalhos remunerados, abrindo um negócio ou contribuindo de outra forma para o bem-estar econômico de sociedades ao redor do mundo. O fato de elas não poderem atrasa o desenvolvimento de suas famílias e comunidades”, diz Melinda.

POR QUE A IGUALDADE?

Mais do que uma questão ética e social, a igualdade de gêneros é vista como um imperativo de negócios. Diversos levantamentos mostram o seu impacto econômico. Empresas com alta representatividade de mulheres nos comitês executivos têm melhor performance financeira, com retorno médio sobre capital 47% maior que a de seus pares com menor índice de diversidade. Essa relação também foi confirmada pela comparação do faturamento bruto: nas empresas mais igualitárias, ele é 55% maior. E esse efeito sobre o resultado das empresas, evidentemente, se reflete na economia como um todo. O estudo O Poder da Paridade, publicado em setembro passado pelo McKinsey Global Institute, revela que zerar a desigualdade de gêneros em escala global viria a dobrar a contribuição das mulheres para o PIB mundial, já em 2025. Em um cenário de mercado de trabalho igualitário, US$ 28 trilhões seriam adicionados à economia do planeta – valor equivalente à soma das economias dos Estados Unidos e da China, em números de hoje.

Segundo os números levantados pela McKinsey, a contribuição da igualdade de gêneros é expressiva tanto para os países desenvolvidos quanto para os países em desenvolvimento. Em 46 das 95 nações estudadas, o crescimento do PIB em 2025 seria pelo menos 10% maior em um cenário de igualdade de gêneros. A Índia e a América Latina seriam as regiões em que esse impacto econômico seria maior. Para Tracy Francis, sócia-diretora da McKinsey no Brasil, além do impacto econômico, há nesses esforços para promover a igualdade de gêneros um componente de sustentabilidade dos negócios. “Hoje, cerca de metade dos profissionais formados por universidades de excelência é mulher. Não posso abrir mão de uma parte desses talentos sem consequências”, diz Tracy. “Sem contar que, comprovadamente, equipes mais igualitárias tendem a tomar decisões melhores e mais inovadoras.”

Todos por elas 2

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 27: 33-49 – PARTE I

Alimento diário

A Crucificação

Temos aqui o relato da crucificação de nosso Senhor Jesus Cristo.

I – O lugar onde o nosso Senhor Jesus foi morto.

1. Eles chegaram a um lugar chamado Gólgota, bem perto de Jerusalém, provavelmente o lugar público de execução. Se Jesus tivesse uma casa em Jerusalém, é provável que, para sua maior desgraça, eles o tivessem crucificado diante de sua própria porta. Mas então, no mesmo lugar onde os criminosos eram sacrificados para cumprir a justiça do governo, o nosso Senhor Jesus foi sacrificado para cumprir a justiça de Deus. Alguns pensam que o local era chamado de lugar da caveira porque ali se situava o ossuário público, onde os ossos e crânios dos mortos eram colocados lado a lado, fora do caminho, para que as pessoas não os tocassem e fossem assim contaminadas. Ali jaziam os troféus da vitória da morte sobre multidões de filhos dos homens; mas, ao morrer, Cristo destruiu o poder da morte. Ele adicionou essa circunstância de honra à sua vitória. Ele triunfou sobre a morte, no próprio campo em que a morte reinava.

2. Ali eles o crucificaram (v. 35). Pregaram suas mãos e seus pés na cruz, e então a levantaram, com o Senhor pendurado nela; pois essa era a maneira de os romanos crucificarem. Que os nossos corações sejam tocados pelo sentimento daquela dor cortante que o nosso bendito Salvador suportou, e olhemos para aquele que foi perfurado dessa maneira, e gemeu de tanta dor. Já houve alguma dor como a dele? E, quando contemplarmos a maneira como Ele morreu, observemos o quanto Ele nos amou.

II – O tratamento bárbaro e agressivo que eles dispensaram ao Senhor. Eles competiam em sagacidade e malícia para ver quem era superior. Como se a morte, um a morte tão sofrida, não fosse ruim o suficiente, eles contribuíam para aumentar o seu amargor e terror.

1. Pela bebida que eles providenciaram para Ele, antes que fosse pregado à cruz (v. 34). Era comum oferecer um cálice de vinho temperado àqueles que seriam mortos, conforme a orientação de Salomão (Provérbios 31.6,7): “Dai bebida forte aos que perecem”; mas naquele cálice do qual Cristo estava a ponto de beber, eles misturaram vinagre e fel para torná-lo azedo e amargo. Isso significava:

(1) O pecado do homem, que é uma raiz de amargura, que dá fel e absinto (Deuteronômio 29.18). O pecador talvez o revolva sob a sua língua como uma migalha, mas para Deus é uva de fel (Deuteronômio 32.32). Foi assim para o Senhor Jesus quando Ele tomou sobre si os nossos pecados, e mais cedo ou mais tarde será assim para o próprio pecador; amargura no final da vida, mais amarga do que a morte (Eclesiastes 7.26).

(2) Representava a ira de Deus, aquele cálice que Deus Pai colocara em sua mão, um cálice amargo, sem dúvida, como a água amarga que trazia a maldição (Números 5.18). Eles lhe ofereceram essa bebida como fora literalmente previsto (Salmos 69.21). E:

[1] Ele a provou, tendo assim o pior dela, sentindo o gosto amargo em sua boca. Ele não deixou de provai· o cálice da amargura, quando estava expiando toda a nossa predileção pecaminosa pelo fruto proibido. Ele estava provando a morte em todo o seu amargor.

[2] Ele não a beberia, pois não queria ter o melhor dela; o Senhor Jesus não queria ter nenhum narcótico par a diminuir a sua sensação de dor, pois Ele morreria de um modo que sentisse a morte em toda a sua força. Ele tinha uma grande obra a fazer como o nosso Sumo Sacerdote em seu esforço agonizante.

2. Pela partilha de suas vestes (v. 35). Quando eles o pregaram à cruz, arrancaram as suas vestes, pelo menos a parte de cima; pois, pelo pecado, ficamos nus, para nossa vergonha, e dessa maneira Ele comprou para nós trajes brancos para nos cobrirmos. Se formos, a qualquer tempo, despidos por Cristo de nossos consolos, suportemos isso pacientemente; Ele foi despido por nossa causa. Os inimigos podem tirar as nossas roupas, mas não podem nos privar de nossos melhores confortos; eles não podem tomar de nós as vestes de louvor. As roupas daqueles que são executados são o pagamento dos carrascos: quatro soldados foram utilizados para crucificar a Cristo, e eles devem, cada um, ter uma parte. A sua veste superior, se dividida, não seria útil para nenhum deles, e por isso resolveram lançar sortes sobre ela.

(1) Alguns pensam que a veste era tão fina e rica que valia a pena lutar por ela; mas isso pode não estar de acordo com a pobreza que Cristo aparentava.

(2) Talvez eles tivessem ouvido sobre aqueles que haviam sido curados ao tocar a orla de sua roupa, e a considerassem valiosa devido a alguma virtude “mágica” nela existente. Ou ainda (3) Eles esperavam conseguir dinheiro de seus amigos por uma relíquia sagrada como essa. Ou

(4) Por escárnio, eles pareciam lhe atribuir o valor das roupas de um rei. Ou

(5) Por diversão. Para passar. o tempo enquanto aguardavam a sua morte, eles jogavam dados pelas roupas; mas, quaisquer que fossem os seus desígnios, a Palavra de Deus é, nesse fato, cumprida. Em um famoso salmo, de cujas primeiras palavras Cristo fez uso do alto da cruz, está escrito: “Repartem entre si as minhas vestes e lançam sortes sobre a minha túnica” (Salmos 22.18). Isto nunca aconteceu a Davi, mas parece antes de tudo uma palavra direcionada a Cristo, de quem Davi falava em espírito. Então, essa parte da humilhação na cruz termina; pois parece ter sido por deliberação e conhecimento prévio de Deus. Cristo se despiu de suas glórias, para dividi-las entre nós.

Eles agora se sentaram e o vigiaram (v. 36). Os príncipes dos sacerdotes foram cuidadosos, sem dúvida, ao colocarem essa guarda, a fim de evitar que o povo, de quem eles ainda tinham muito medo, pudesse se revoltar e resgatá-lo. Mas a Providência assim o determinou, para que aqueles que foram designados para vigiá-lo, com isso se tornassem testemunhas irrepreensíveis dele. Tiveram a oportunidade de ver e ouvir aquilo que arrancou deles esta nobre confissão (v. 54): “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus”.

3. Pelo título colocado sobre a sua cabeça (v. 37). Era comum justificar o julgamento público e humilhar ainda mais os malfeitores que eram executados, não apenas colocando um arauto à frente deles para anunciar, mas um manuscrito acima da cabeça deles para informar o crime pelo qual eles sofriam; assim, colocaram sobre a cabeça de Cristo, por escrito, a acusação contra Ele, para avisar ao público porque Ele fora condenado: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”. Isto, eles planejaram para sua vergonha, mas Deus desconsiderou tanto isso, que até mesmo a acusação contra Ele contribuiu para a sua glória. Pois:

(1) Nela não havia nenhum crime alegado contra Ele. Não estava escrito que Ele era um pretenso Salvador ou um Rei usurpador, embora eles pensassem assim (João 19.21); mas: Este é Jesus, o Salvador; com certeza, isso não era um crime. E a expressão “Este é o Rei dos Judeus” também não é um crime; pois eles esperavam que o Messias fosse assim. Dessa forma, o Senhor Jesus não cometeu nenhuma transgressão, nem mesmo contra os seus próprios inimigos, que estavam na posição de juízes. Ao contrário,

(2) Aqui estava uma verdade, muito gloriosa declarada a respeito dele, de que Ele é Jesus, o Rei dos judeus, aquele Rei que os judeus esperavam e a quem deviam ter e submetido; de modo que a acusação contra Ele corresponde a isto: que Ele era o verdadeiro Messias e o Salvador do mundo. Aqui vemos algo parecido com o caso de Balaão, quando foi enviado para amaldiçoar Israel, porém os abençoou completamente por três vezes (Números 24.10), pois Pilatos, em vez de acusar a Cristo como criminoso, o proclamou Rei por três vezes em três inscrições. Desse modo, Deus faz com que os homens sirvam aos seus propósitos, muito mais do que aos propósitos deles.

4. Pelos seus companheiros de sofrimento (v. 38). Havia dois ladrões crucificados com Ele, ao mesmo tempo e no mesmo lugar e sob a mesma guarda; dois assaltantes de estrada ou salteadores, é o significado correto da palavra no texto original. É provável que aquele fosse o dia designado como o dia das execuções; e por isso, eles apressaram o processo de Cristo pela manhã, para que o tivessem pronto para ser executado com os criminosos. Alguns pensam que Pilatos determinou que as coisas fossem feitas desse modo, para que o ato de justiça da execução desses dois ladrões pudesse reparar a injustiça que ele praticou ao condenar a Cristo. Outros, que os judeus o planejaram, para aumentar a ignomínia dos sofrimentos do nosso Senhor Jesus; seja como for, as Escrituras foram cumpridas aqui (Isaias 53.12): “Ele foi contado com os transgressores”.

(1)  Ser crucificado com eles era uma vergonha para Jesus. Embora, enquanto vivo, ficasse separado dos pecadores, na morte eles não foram separados, mas Ele foi obrigado a compartilhar com os mais baixos malfeitores os seus flagelos, como se Ele tivesse sido um parceiro em seus pecados; pois Ele se fez pecado por nós e tomou para si a semelhança da carne pecaminosa. Ele foi, em sua morte, contado entre os transgressores e compartilhou o seu destino com os perversos para que nós, em nossa morte, possamos ser contados entre os santos e ter o nosso destino entre os escolhidos.

(2)  Era uma vergonha adicional que fosse crucificado entre os dois, como se Ele tivesse sido o pior dos três, o principal malfeitor; pois, entre três, o meio é o lugar reservado ao chefe. Cada detalhe foi planejado para a sua desonra, como se o grande Salvador fosse, de todos, o maior pecador. Foram, também, concebidos para contrariá-lo e embaraçá-lo, em seus últimos momentos, os gritos, os gemidos e as blasfêmias desses malfeitores, que, provavelmente, fizeram uma gritaria terrível quando foram pregados na cruz. Mas, nesse caso, tudo isso comoveria o próprio Cristo, pois Ele estava presenciando os sofrimentos dos pecadores, e estava padecendo pela salvação deles. Alguns apóstolos de Cristo foram, mais tarde, crucificados – como, por exemplo, Pedro e André-, mas nenhum deles foi crucificado junto com Ele, para que não parecesse que eles tivessem compartilhado com Ele o pagamento do pecado do homem, bem como a compra da vida eterna e da glória. Por isso, Ele foi crucificado entre dois malfeito­ res que não poderiam contribuir de forma alguma para a dignidade de sua morte. Jesus Cristo, e só Ele, levou os nossos pecados sobre o seu próprio corpo.

5. Pelas blasfêmias e insultos com os quais eles o oprimiram quando estava pendurado na cruz. Porém, não está escrito que eles tenham lançado acusações contra os ladrões que foram crucificados com o Senhor: Seria de se pensar que, quando o pregaram na cruz, tivessem feito o pior possível, e que a maldade tivesse se dissipado: sem dúvida, se um criminoso for colocado no pelourinho ou levado em uma carroça, por ser uma punição inferior à morte, isto geralmente é acompanhado de tais expressões de maus tratos; mas um homem moribundo, mesmo um homem infame, deve ser tratado com compaixão. É uma vingança insaciável, sem dúvida, aquela que não pode ser saciada nem mesmo com a morte, e uma morte tão notável. Mas, para completar a humilhação de nosso Senhor Jesus, e para mostrar que enquanto estava morrendo Ele carregava a iniquidade, Ele foi, então, oprimido com acusações. E, pelo que parece, nenhum de seus amigos, que há alguns dias gritavam “Hosana” para Ele, foi visto ousando mostrar algum respeito por Ele.

(1)  O povo que passava o insultava. Seu sofrimento extremo e paciência exemplar nessa condição, não os modificava nem os fazia demonstrar piedade; mas aqueles que, por sua gritaria, o conduziram a isso, agora pensavam se justificar através de suas acusações, como se houvessem pra ticado o bem ao condená-lo. Eles o insultavam: eles disseram blasfêmias contra Ele; e eram blasfêmias no sentido mais exato, pois estavam falando com maldade daquele que não considerava crime o fato de ser igual a Deus. Considere agora:

[1] As pessoas que o insultavam; aqueles que passavam, os viajantes que seguiam ao longo da estrada, e era uma grande estrada, que ia de Jerusalém a Gibeão. Elas estavam dominadas pelos preconceitos contra Ele, pelos relatos e clamores das pessoas dominadas pelos sacerdotes da religião judaica. Ter urna boa opinião a respeito das pessoas e das coisas que são depreciadas e criticadas em todo lugar é algo difícil, e requer mais dedicação e determinação do que aquelas com que geralmente nos deparamos. Todos tendem a repetir o que diz a maioria, e atirar uma pedra contra aquilo cuja reputação é ruim.

[2] O gesto que usaram, em desrespeito a Ele, meneando a cabeça; isso indicava o triunfo deles através da sua degradação, e os seus insultos contra Ele (Isaias 37.22; Jeremias 18.16; Lamentações 2.15). A linguagem era: “Eia, sus, alma nossa (Salmos 35.25). Desse modo, eles insultavam aquele que era o Salvador de seu país, assim como os filisteus fizeram com Sansão, o destruidor de seu país. Esse mesmo gesto fora profetizado (Salmos 22.7): “Eles meneiam a cabeça para mim”. E também o Salmo 109.25.

[3] Os insultos e os escárnios que eles disseram. Estes são registrados aqui.

Em primeiro lugar, eles o censuraram quanto à destruição do Templo. Embora os próprios juízes tivessem percebido que o que Ele dissera fora distorcido (como entendemos em Marcos 14.59), ainda assim eles habilmente espalharam entre o povo, para induzir ao ódio contra Ele, que era seu objetivo destruir o Templo; nada inflamaria mais o povo contra alguém. E essa não foi a única vez em que os inimigos de Cristo haviam se dado ao trabalho de fazerem os outros pensarem dessa forma sobre a religião e o povo de Deus, cuja acusação eles próprios sabiam ser falsa e injusta: “‘Tu que destróis o templo’, aquela estrutura enorme e poderosa, usa esse poder para descer agora da cruz, remove esses pregos e salva-te a ti mesmo; se tens o poder que apregoas, esta é a hora adequada para manifestá-lo e demonstrá-lo; pois espera-se que todo homem faça o máximo que puder para salvar a si mesmo”. Isso transformou a cruz de Cristo em um tremendo obstáculo para os judeus; eles a consideraram inconsistente com o poder do Messias. Ele foi crucificado em fraqueza (2 Coríntios 13.4); assim lhes parecia. Mas, sem dúvida, o Cristo crucificado é o Poder de Deus.

Em segundo lugar, eles o censuraram por dizer que era o Filho de Deus: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz”. Agora eles usam as palavras do Diabo, aquelas com as quais ele tentou o Senhor no deserto (cap. 4.3,6), e repetem a mesma agressão: “Se és o Filho de Deus”. Eles pensam que Ele deve provar agora que é o Filho de Deus ou nunca o fará; eles esqueceram de que Ele o havia provado pelos milagres que realizou, e, particularmente, ainda o faria ressuscitando dos mortos. Eles se recusavam a esperar pela prova completa, a sua própria ressurreição, a qual o Senhor Jesus havia tantas vezes mencionado. Se eles tivessem percebido realmente que Ele estava dizendo que iria ressuscitar, a humilhação da cruz teria sido antecipada. Este tipo de atitude resulta ele julgar as coisas pelos seus aspectos atuais, sem a de­ vida lembrança do que se passou e uma paciente espera pelo que pode acontecer no futuro.

(2)  Os príncipes dos sacerdotes e os escribas, os administradores da sinagoga judaica, os anciãos e os governantes o ridicularizaram (v. 41). Eles não pensaram que era suficiente convidar a multidão para fazê-lo, mas deram a Cristo a desonra, e a si mesmos, a diversão, reprovando-o em seus corações. Eles deviam estar no Templo em sua devoção, pois era o primeiro dia da festa dos pães asmos, quando deveria haver uma santa convocação (Levíticos 23.7); mas estavam aqui, em um lugar de execução, expelindo seu veneno contra o Senhor Jesus. Quão abaixo da grandeza e da seriedade de seu caráter estava isso! Podia qualquer outra coisa levá-los a se tornarem mais desprezíveis e baixos diante do povo? Podia-se pensar que, embora não temessem a Deus nem respeitassem o homem, ainda assim a prudência deveria lhes ter ensinado, sim, àqueles que tiveram uma grande participação na morte de Cristo, a se manter em o quanto pudessem nos bastidores e ficarem o menos possível à vista; mas nenhuma atitude má é tão ruim a ponto de a malícia não poder se agarrar a ela. Eles foram assim tão baixos, a ponto de causar um grande desgosto a Cristo. E será que devemos temer a aparente humilhaão ao nos juntarmos às multidões para glorificar ao Senhor, dizendo: “Se isto é ser vil, ele boa vontade me humilharei ainda mais?”.

Duas coisas pelas quais os sacerdotes e os anciãos tentaram censurá-lo.

[1] Disseram que Ele não podia salvar a si mesmo (v. 42). Ele havia sido ofendido anteriormente em seu ministério profético e real, e agora, em seu ministério sacerdotal, como o Salvador. Em primeiro lugar, eles tinham como certo que Ele não podia salvar a si mesmo, e por isso não tinha o poder que alegava ter, quando, na verdade, o Senhor Jesus não se livraria da morte porque morreria para nos salvar. Eles deviam supor: “Ele salvou a outros, portanto poderia salvar a si mesmo. E, se não o faz, é por alguma boa razão”. Mas, em segundo lugar, eles desejavam insinuar que, como Ele, agora, não salvava a si mesmo, toda a sua pretensão de salvar a outros nada mais era do que simulação e ilusão, e era algo que nunca, de fato, fora feito, embora a veracidade de seus milagres fosse demonstrada e estivesse além de qualquer contestação. Em terceiro lugar, eles o repreenderam por afirmar ser o Rei de Israel. Eles sonhavam com a pompa e o poder exterior do Messias, e por isso consideravam a cruz como algo completamente incompatível com o Rei de Israel e inconsistente com tal personagem. Muitas pessoas gostariam do Rei de Israel se Ele descesse da cruz, se eles pudessem ter o reinado dele sem a tribulação pela qual eles devem passar. Mas a questão está resolvida; se não há cruz, não há Cristo, nem coroa. Aqueles que reinariam com Ele, deveriam aceitar sofrer com Ele, pois Cristo e a sua cruz estão ligados um ao outro neste mundo. Em quarto lugar, eles o desafiaram a descer da cruz. E o que seria de nós, então, e da obra da nossa redenção e salvação? Se Ele tivesse sido incitado a descer da cruz por essas zombarias, deixando assim a sua missão incompleta, nós estaríamos arruinados para sempre. Mas o seu amor e resolução imutáveis o colocaram acima dessa tentação, e fortaleceram-no contra ela, de forma que Ele não foi mal- sucedido e nem desanimou. Em quinto lugar, eles prometeram que, se Ele descesse da cruz, eles acreditariam nele. Que Ele lhes dê essa prova de que é o Messias, e eles confessarão que Ele o é. Anteriormente, quando eles exigiram um sinal, Ele lhes disse que o sinal que lhes daria seria não a sua descida da cruz, mas algo que seria uma amostra maior do seu poder: ressuscitar dentre os mortos, algo que não tiveram a paciência de aguardar por dois ou três dias. Se o Senhor tivesse descido da cruz, eles poderiam utilizar o mesmo argumento que usaram quando Ele ressuscitou, dizendo que os seus discípulos vieram à noite e roubaram o seu corpo, ou pode­ riam dizer que os soldados haviam trapaceado ao pregá-lo na cruz. Mas prometer que acreditaríamos se tivéssemos tais e tais condições e motivos ele fé, conforme condições determinadas por nós mesmos, quando não aproveitamos os desígnios ele Deus, não é apenas um exemplo grosseiro ela falsidade de nossos corações, mas o triste refúgio, ou melhor, subterfúgio, ele uma obstina­ da infidelidade destruidora.

[2] Disseram que Deus, o seu Pai, não o salvaria (v. 43). Ele confiou em Deus, quer dizer, Ele assim o fingiu; pois disse: “Sou o Filho ele Deus”. Aqueles que chamam a Deus ele Pai, e a si mesmos ele seus filhos, estão declarando a sua confiança nele (Salmos 9.10). Agora eles sugerem que Ele apenas decepcionou a si mesmo e a outros, ao se mostrar como sendo tão querido pelos céus; pois, se Ele fosse o Filho de Deus (como os amigos ele Jó argumentaram a respeito dele), não teria sido abandonado à mercê ele todo esse sofrimento, e muito menos mantido nele. Isto era uma espada em seus ossos, como Davi se queixa em uma condição semelhante (Salmos 42.10); e era uma espada de dois gumes, pois foi planejado, em primeiro lugar, para difamá-lo e fazer os espectadores pensarem que Ele era um impostor; como se as suas declarações ele que era o Filho de Deus estivessem agora efetivamente desmentidas. Em segundo lugar, para aterrorizá-lo e fazê-lo desconfiar e perder a esperança do amor e do poder de seu Pai; o que, alguns pensam, era o que Ele temia, zelosamente, orando para que não ocorresse e que fosse livre dela (Hebreus 5.7). Davi se queixou mais dos esforços de seus perseguidores para abalar a sua fé e afastá-lo de sua esperança em Deus do que das suas tentativas de afastá-lo do seu trono e do seu reino. As afirmações deles eram: “Não há salvação para ele em Deus” (Salmos 3.2) e “Deus o desamparou” (Salmos 71.11). Nisso e em outras coisas, ele tipificou a Cristo. Nessa famosa profecia a respeito de Cristo, Davi menciona as palavras que foram ditas por seus inimigos (Salmos 22.8). Ele confiava que o Senhor o libertaria. Certamente, esses sacerdotes e escribas haviam-se esquecido elos seus Salmos, caso contrário, não teriam usado as mesmas palavras de uma forma tão exata, para responder ao tipo e á profecia: mas as Escrituras devem ser cumpridas.

(3)  Para completar o vitupério, os ladrões que também foram crucificados com Ele não apenas não foram insultados como Ele foi, como se tivessem sido santos quando comparados com Ele, mas, sendo seus companheiros de sofrimento, juntaram-se aos seus acusadores e lhe proferiam insultos face a face. Um deles chegou a dizer: “Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós (Lucas 23.39). Seria de se pensar que, de todas as pessoas, esse ladrão tinha menos motivos e deveria ter se preocupado menos em provocar ou ridicularizar a Cristo. Companheiros de sofrimento, ainda que por motivos diferentes, geralmente se solidarizam um com o outro; e poucos, a despeito do que tenham feito anteriormente, gastarão o seu último suspiro com insultos. Mas parece que as maiores mortificações do corpo e as repreensões mais humilhantes da Providência de Deus não mortificarão, por si mesmas, as corrupções da alma, nem conterão as iniquidades dos perversos, sem a graça de Deus.

Bem, desse modo, tendo o nosso Senhor Jesus tomado para si o encargo de satisfazer a justiça divina pelo mal que o pecado fez no tocante à honra de Deus, Ele o fez sofrendo em sua honra. E Ele o fez não apenas negando a si mesmo o que lhe era devido por ser o Filho de Deus, mas se submetendo à pior indignidade que poderia ser feita ao pior dos homens; porque Ele foi feito pecado por nós. Ele se tornou, assim, uma maldição por nós, para que possamos suportar com mais facilidade as situações mais difíceis, como, por exemplo, se formos acusados injustamente de todo tipo de iniquidade, por amor à justiça.

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