PSICOLOGIA ANALÍTICA

A DIFÍCIL RELAÇÃO MÃE-FILHA

A mulher, a maternidade e os entrelaces psíquicos entre gerações.

A difícil relação mãe-filha

Entre uma mãe e uma filha há muitos mundos… O da paixão, da fusão, da ilusão de que não há limites de compreensão, nem de amor. O do afeto, da amizade, da delicadeza, da realização, da continuidade, do resgate, do carinho, da beleza da maternidade e infinitos outros. Há, também o universo da raiva, da rivalidade, da cobrança, do conflito, da inveja, da disputa, da dependência…

O que faz com que mãe e filha sejam referências da sabedoria popular quanto à dedicação e ao carinho e, ao mesmo tempo, lugar de intensas dificuldades, batalhas é culpas?

Uma relação tão delicada, peça de teatro de Leila Assumpção que ficou alguns anos em cartaz em São Paulo e foi assistida por inúmeras mãe e filhas, emocionou plateias ao testemunharem as atrizes percorrerem sua trajetória de vida, do nascimento da filha ao envelhecimento da mãe.

Seguindo essa referência, vamos começar a pensar essa relação tão delicada no exato momento em que uma mulher descobre estar grávida de um bebê do sexo feminino. Apenas para lançar uma luz retroativa a este instante, o desejo de estar grávida está associado a uma de nossas primeiras identificações maternas –  queremos ser mãe como nossa mãe. Prova desse fato é a brincadeira preferida das meninas pequenas: “vamos brincar de mamãe e filhinha?” A disputa para ser a mãe no grupo de meninas é feroz. Desejo primeiro e precoce de toda menina – ser mãe, como a própria mãe.

INTERAÇÕES DELICADAS

A gravidez é a realização na vida adulta desse desejo primordial e tão postergado. Quando o bebê gestado é do sexo feminino, há quase uma reedição do que foi vivido com a mãe, o difícil e o fácil dessa relação. Reedição com aspectos conscientes e inconscientes, afinal, como Freud incomodamente revolucionou, nossa consciência é apenas a ponta do iceberg do mundo psíquico. Só para exemplificar, as facetas inconscientes do psiquismo podem se revelar por meio de manifestações físicas. Não é incomum a gestante de “primeira viagem” descobrir na experiência com o próprio corpo a história da mãe: uma paciente que teve várias dificuldades para amamentar no peito seu bebê soube a partir desse fato que nem sua mãe, nem sua avó materna tinham conseguido amamentar. Para três gerações de mulheres a amamentação foi uma experiência dolorosa e fracassada. Genética? Não apenas, mas sim uma experiência emocional marcada a ferro e fogo no corpo/psiquismo inconsciente dessas mulheres.

Cada dupla de mãe e filha é reeditada na geração seguinte, o que estava no palco na geração anterior, se não houve nenhum trabalho de elaboração dos conflitos e das dificuldades, tende a se repetir de uma maneira desconcertante na próxima. Transmissão psíquica entre gerações que é revelada com maestria no livro Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Márquez, no qual as gerações se sucedem, mas as histórias e os nomes dos personagens se repetem até não sabermos mais quem é a mãe, quem é a filha, quem é o pai, quem é o filho.

Dito de outra maneira, mais figurativa, aquilo que colocamos no porão escuro da nossa vida e que não queremos ver nunca mais, aparece em nossos filhos com luzes ofuscantes. Isso é o que torna mais difícil a relação mãe e filha. Como assim, o leitor pode se perguntar? O que rejeitamos em nós mesmos, geralmente aqueles sentimentos que temos, mas não aceitamos, por isso negamos de “pé junto”, pode encontrar em nossos filhos um terreno fértil. Um filho é, em parte e principalmente no início da vida uma extensão de nós mesmos, um projeto de continuidade, de descendência. Se os pais têm maturidade psíquica para reconhecer no filho um outro, diferente deles mesmos, as fronteiras psíquicas entre pais e filhos podem desempenhar uma importante função na qualidade desse relacionamento.

FRONTEIRAS PSÍQUICAS

Nas relações nas quais há fronteiras permeáveis e flexíveis entre pais e filhos o que é vivido na intimidade do lar tende a ser mais satisfatório para todos. É claro que isso é uma proposição ideal, pois as relações familiares tendem a ser as mais difíceis. justamente pela proximidade, pela ausência de fronteiras e de reconhecimento de diferença. Com a agravante de que pais com dificuldades emocionais sérias tendem a dispor dos filhos como extensões deles mesmos, para o melhor e para o pior. Para exemplificar, são pais que diante do sucesso do filho comentam: este é meu filho! E diante do fracasso ou das dificuldades: quem é este, não parece ser meu filho!

Talvez para o leitor leigo seja estranha a colocação da existência ou não de fronteiras psíquicas entre pais e filhos, ou da necessidade de reconhecimento de que o filho seja um outro. Isso é devido à plasticidade do psiquismo que não reconhece fronteiras concretas, e ao fato de que nos constituímos como pessoas a partir de outros, especialmente os pais. Os limites entre o eu e o outro não são fáceis nem simples, principalmente entre pais e filhos e especificamente entre mães e filhas.

A partir dessa compreensão podemos pensar o seguinte: se o nosso porão está entulhado de coisas, a filha ou o filho podem assumir para si a ingrata tarefa de cuidar do que está ali alienado, criando teia de aranha na mente da mãe e a impedindo de ser uma mãe mais inteira, mais livre e disponível psiquicamente. Uma vez que não ter porões cheios de coisas exige muito trabalho mental, isso significa uma mãe ocupada (sob pressão), com aquilo que ela não quer saber de si.

As crianças tendem a assumir a tarefa de reparar a mente disfuncional da mãe para que ela possa ser uma mãe “suficientemente boa” para a criança. Exemplificando, lembrei-me de um desenho de uma caricatura na qual estava uma mãe toda descabelada, possivelmente deprimida, e seu bebê lhe oferecia um pente para arrumar o cabelo. Podemos dizer que quanto mais disfuncional é a mente da mãe, mais difícil será a relação com sua filha. E quanto mais funcional for a mãe, entenda-se uma mãe que reconhece a existência de um porão e não foge ao trabalho psíquico de reconhecimento de suas humanidades, mais presença e vivacidade psíquica encontraremos na relação com sua filha que, nesse caso, pode ser reconhecida como alguém diferente, separada da mãe.

Quanto mais uma mulher se dispõe a reconhecer suas dificuldades, seus fracassos, suas perdas, seus limites, maior a chance de que sua filha não precise se ocupar do que não lhe diz respeito e seja reconhecida como uma outra pessoa e não como uma continuidade da mãe.

FILIAÇÃO FEMININA

Mas por que as filhas e não os filhos são convocados a tão ingrata e infrutífera função? Justamente porque a mãe se identifica com a filha e vice-versa, pertencem ao mesmo gênero e a mesma linhagem feminina da família – de mãe para filha. Os projetos da mãe para sua menina podem ter como característica a realização pela filha do que foi frustrante na vida da mãe. A mãe, não aceitando o que não possível em sua vida, passa o bastão à sua filha para que ela tenha quase que a obrigação de realizar planos de vida que pertencem à mãe. Nesse caso, não há o reconhecimento da individualidade da filha, há pouca diferenciação psíquica entre mãe e filha, uma é quase que totalmente a extensão / continuidade da outra.

 O que mais impressiona nessa herança é que ela passa desapercebida da consciência da dupla mãe-filha. No consultório casos com essa característica tende a buscar análise por outros motivos: problemas no trabalho, dificuldade de relacionamento com homens, falta de prazer sexual, sintomas físicos diversos, transtornos alimentares, infertilidade sem causa aparente, etc.

A relação com a mãe é idealizada, não há o reconhecimento de que a fusão é um sério problema: uma complementa a outra. As queixas que motivam a busca de análise são aparentemente intercaladas do relacionamento mãe e filha.

A medida que o trabalho avança vão aparecendo os projetos que são específicos da filha e que não são compartilhados com a mãe; a partir desse momento podem começar intensas brigas ou simplesmente um afastamento devido às diferenças e a individualidade da filha que está mais identificada e definida. Geralmente processo vem acompanhado por um estranhamento, e a filha pode se perguntar: quem é essa mãe que eu não conhecia, parece ser outra? A filha não tinha ousado ser da mesma por intuir que isso desagradaria intensamente a mãe, ou ainda, mais preocupante, a individualidade da filha pode ser um fator de desorganização psíquica da mãe.

Cabe ressaltar que na história entre mães e filhas, quando esta se torna mais difícil, mais conflitiva, não há vítimas nem algozes, apenas desencontro e tristeza. Há mães deprimidas, enlutadas, frustradas, incompreendidas pelas próprias mães, avós de suas filhas. Há um elo de tristeza que abrange pelo menos três gerações (avó, mãe e filha), dor e frustração de não ter sido amada e reconhecida. Não é possível oferecer a uma filha o que não se tem, o que não se herdou da própria mãe ou não se adquiriu ao longo da vida. Mas há possibilidade, há chance de que uma nova história seja construída, se essa herança esgarçada e inconsciente puder ser elaborada e não depositada no porão da próxima geração.

 RUPTURAS NECESSÁRIAS

No entanto, mesmo quando encontramos mães apropriadas de seu mundo psíquico, mães “suficientemente boas”, também observamos queixas, ressentimentos da filha em relação à mãe. Será essa uma relação impossível? Não sejamos pessimistas, as queixas da filha em relação à mãe têm uma valiosa função: ajudar a filha a se desprender da mãe. Como assim, isso é necessário? Sim, isso é extremamente necessário; a filha precisa apropriar-se da sua vida, separar-se da mãe, individualizar-se. Até para ter um relacionamento mais satisfatório com a própria mãe. Uma filha que fica fusionada, confundida com a mãe corre o risco de ver naufragar em importantes projetos de vida, como a constituição de uma família ou o prazer de ser mulher que é vivido na parceria com um homem.

É comum em algumas famílias que seja a filha, geralmente aquela que ficou solteira (mas não necessariamente), a cuidados pais idosos ou membros doentes da família; também encontramos a profissional bem-sucedida que vive apenas para o trabalho e é mantenedora do lar materno. Ter a liberdade de usufruir da própria vida sem que isso seja uma deslealdade à mãe ou aos pais nem sempre é uma conquista fácil, ou podemos até dizer que uma família que transite razoavelmente bem pela individualidade de seus membros tende a ser exceção e não regra.

Dirão as feministas, aquelas que queimaram o soutien, que constituir uma família não é mais importante para a mulher contemporânea. Não sejamos radicais, parece-me que hoje a vida profissional, a realização como mulher e como mãe estão sempre implicadas e representam um sutil e instável equilíbrio entre demandas diversas.

Podemos imaginar que eram felizes as nossas bisavós que foram simplesmente mães, não raro o fato de abrirem mão da própria feminilidade, de não usufruírem do prazer de ser mulher? Considerando o risco da nostalgia pelo passado que diante de nossa visão atual tende a, de maneira ilusória, parecer fácil, a vida da mulher tornou-se mais rica e mais complexa. Maiores chances de realização em campos diversos, porém tudo isso dá muito trabalho e nem sempre é possível atender de forma prazerosa e satisfatória a demandas intensas e diferentes: mãe, mulher e profissional.

Além do fato de que se, há pouco tempo, as avós ainda tinham a honrosa função de ajudar com os netos. hoje temos um esvaziamento desse lugar, já que muitas avós são profissionais bem-sucedidas. Lembro-me da tristeza de uma avó médica ao relatar-me que naquele fim de semana não poderia ver seu neto, pois estaria trabalhando, ou seja, é i1m, situação querem perdas e ganhos para todos os envolvidos: avós, mães e netos.

E por falar em avós, talvez. também seja uma constatação do leitor de que a relação da neta com a avó tende a ser mais fácil do que com a mãe. O que será que acontece? A distância de uma geração parece ter um efeito favorável, o risco de confusões /fusões entre neta e avó é menor; justamente por isso a avó pode se entregar emocionalmente mais à neta e vice-versa. É uma relação na qual a agressividade da filha na direção da mãe, que tem a função de diferenciação não é mais tão necessária, já que existe entre a neta e a avó a distância de uma geração. Essa relação pode ser uma bem-vinda oportunidade de ambas realizarem um amor filial feminino, livre de conflitos. As avós tendem a ser mais generosas e tolerantes com suas netas, e as netas com as avós. Salvo exceções, é claro, há matriarcas que provocam um grande tumulto nas famílias.

RELAÇÕES TRANSFORMADORAS

Retomando o título desse artigo – a difícil relação entre mãe-filha, o que realmente é difícil? Penso ser o fato de que muitas vezes existe esse símbolo (·) conectando a dupla, ou seja, não há transformação de mãe-filha para mãe e filha, duas individualidades em parceria e não uma individualidade para dois ou um “eu” para – uma vida para duas mulheres. É claro que sempre há um quantum indiferenciado entre mãe e filha. Exemplificando: às vezes constatamos que algo de que tínhamos certeza que era apenas nosso, um pensamento, um modo de compreender certa situação, um gesto característico, o jeito de andar, o tom da voz. Etc., alguém de fora da família, uma amiga, um namorado, comenta que é exatamente igual a nossa mãe. Levamos um verdadeiro susto! Existem outras identificações entre uma mãe e uma filha que passam desapercebidas para ambas.

Vou relatar uma situação que presenciei no meu período de férias que também exemplifica uma ação diferenciada entre mãe e filha, mas com característica de fusão: estava uma avó passeando com seus netos, quando solicitada socialmente a dar o nome dos netos; diz e insiste no nome dos próprios filhos até que uma amiga estranha a situação e comenta: esses são os nomes de seus filhos e não de seus netos! A avó fica surpresa, mas depois se dá conta de que aquela situação realmente lembrava seus próprios filhos, pois era o mesmo lugar a que ela os levava nas férias, e que seus netos, uma menina e um menino, tinham a mesma diferença de idade de seus filhos e a mesma personalidade. Uma geração transcorreu, mas a impressão afetiva dessa avó é de que o tempo parou, que os netos são os filhos. Desnecessário dizer que essa avó tinha dificuldades consideráveis no relacionamento com a sua filha!

Essa colagem de gerações, essa diferenciação precária entre uma mãe e uma filha, pode provocar inúmeras situações conflitivas ou, de uma maneira ainda mais nefasta, gerar uma situação na qual a mãe e a filha não conseguem se separar, unidas até que a morte as separe. São filhas que após a morte da mãe chegam ao consultório extremamente deprimidas, não encontrando o sentido de sua vida; morreram junto com a mãe.

Essas são situações extremas nas quais fica evidente o que em situações não tão intensas pode passar desapercebido a dificuldade na separação psíquica entre uma mãe e uma filha, a constituição de individualidade de cada uma. Essa individualidade nunca é total, mas é condição de realização de uma mulher que também pode ser mãe e profissional.

Aos cinco anos, queremos calçar os sapatos da mamãe, usar sua maquiagem, seus perfumes, suas roupas. Na adolescência achamos nossa mãe cafona, ultrapassada.  As amigas são muito mais interessantes e as mães das amigas também podem ser boas confidentes, já que não são a nossa mãe. As críticas à mãe, muitas vezes ferozes, modificam-se apenas quando a filha se torna ela mesma mãe; a partir desse momento o relacionamento entre mãe e filha pode se transformar em uma parceria mais plena.

O relacionamento com uma filha pode ser muito gratificante, se a mãe conseguir ser próxima e distante ao mesmo tempo. Aceitar que sua menina ou sua adolescente precisa disputar atributos femininos com a mãe em um misto de admiração e reprovação. Os contos de fadas são bons exemplos do que pode acontecer na intimidade do relacionamento entre mãe e filha, principalmente no que se refere a rivalidade. As produções culturais fazem parte da formação simbólica de muitas gerações, por isso, são terrenos férteis para demandas inconscientes que encontram aí uma representação.

ERA UMA VEZ…

Toda boa história instiga a pensar sobre várias vertentes, talvez até infinitas possibilidades de articulações, mas vamos nos ater a uma faceta do conto Branca de Neve: a beleza feminina na

sua doçura, fascinação e tormento e que muitas vezes é objeto de disputa entre mães e filhas.

A madrasta nos contos de fadas é uma representação dos sentimentos hostis entre mãe e filha que precisam ser distanciados, não é a mãe e sim uma substituta, para serem expressos. No conto de fadas há uma riqueza de opostos, de cisões extremadas que comportam, intensos sentimentos de amor e ódio: a mãe idealizada da primeira infância e a madrasta má, que revela sem pudor sua rivalidade feminina – ela é má, invejosa, diz o caçador e os anões.

O conto oferece um continente psíquico para o intenso trabalho de elaboração que é demandado na trajetória feminina para aproximar e integrar esses sentimentos nossa amada mãe é também nossa maior rival. Como compartilhar do amor de um mesmo homem –  pai e marido! Desafio cravado com culpas inevitáveis e no qual a beleza pode ser um trunfo mortífero.

Branca de Neve é desejada bela pela mãe: a pele bronca como neve e os olhos negros tom, ébano. No adolescer de sua beleza transforma-se em uma linda moça que sonha com seu príncipe que a arrancará da tirania de sua madrasta/mãe.

Arrancar, violar, raptar são situações que fazem parte do imaginário feminino. Toda princesinha precisa ser arrancada dos laços simbióticos estabelecidos com sua mãe, essa é a importância da função paterna, separar a menina do corpo/ psiquismo oceânico da mãe. Função que é transmitida pelo pai ao seu acordado sucessor. É o pai que consente com a solicitação do pretendente à mão da filha em casamento, acompanhando-a ao altar onde a transmissão ritualizada se dá.  

 Branca de Neve é salva, resgatada sempre por personagens masculinos: o caçador que preserva a sua vida e diz para ela fugir e se esconder, os anões (homenzinhos) que, a acolhem e protegem e por fim o príncipe que a acorda para o desejo e a sexualidade adormecida.

 Espelho, espelho meu; existe alguém no mundo mais bela do que eu? Sua beleza é grande minha

Rainha, mas Branca de Neve é mais bela ainda. O ponto de vidada rainha/mãe é o efémero da beleza, tão comum na contemporaneidade. Diante de uma demanda narcísica e frágil não é possível reconhecer e dar lugar à filha, não é possível lembrar-se que a filha foi desejada bela para sucedê-la. O rito da sucessão entre gerações da passagem do tempo nem sempre é possível devido a pendências narcísicas aprisionantes – o desejo envenenado da maçã. Nessa situação a mãe não admite uma sucessão, complicando o relacionamento mãe e filha. Não é incomum vermos nas ruas ou na porta das escolas, mães que se vestem, e algumas se comportam exatamente igual a uma adolescente; a mãe de microssaia e a filha com um jeans bem

comportado. A “mãe adolescente” já na faixa dos quarenta não dá espaço para que a filha viva seu adolescer.  Nesses casos constatamos um amadurecimento precoce da filha, que passa a ser mais responsável que a mãe, ou pode acontecer uma grande inversão: a filha tornar-se mãe da mãe.

 A beleza tão almejada pelas mulheres, pode ainda ser apreciada quando não é objeto de disputa entre mães e filhas, quando comporta diferenças, parcialidades e quando há o reconhecimento da sucessão das gerações, da passagem do tempo. Beleza liberta das algemas narcísicas: a mais bela, a única, imortal e atemporal.

Entre uma mãe e uma filha há a beleza e a feiura, a boa rainha e a bruxa má. Toda mãe é rainha, madrasta e bruxa. Toda filha é sonhada bela para suceder a mãe. A beleza da filha pode ser apreciada e sustentada prazerosamente por uma mãe que pode ser uma bela mulher madura –  como a rainha, entre muitas outras belas mulheres. Compartilhar belezas é possível a partir de um certo estatuto psíquico que implica a capacidade de entristecer, de envelhecer, de pensar na finitude e na infindável sucessão de gerações, na qual somos apenas um elo.

A relação entre uma mãe e uma filha tem sempre aspectos difíceis, é verdade, mas quem disse que o difícil também não é surpreendente, realizador e prazeroso?

A difícil relação mãe-filha2

MARINA RIBEIRO – é psicanalista, professora do curso “Entrelaces psíquicos entre mães e filhas” no Instituto Sedes Sapientae; autora do livro Infertilidade e produção assistida – Desejando filhos na família contemporânea, mestre e doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-SP, membro do Instituto Sedes Sapientae. Contato: marinaribeiro@terra.com.br

OUTROS OLHARES

O FUTURO DA MEDICINA

Dois novos testes baseados em inteligência artificial chegam ao Brasil e evidenciam como a tecnologia torna os diagnósticos precisos e cria tratamentos sob medida.

O futuro da saúde

Eles começam a mudar tudo na saúde. Para citar algumas das transformações: tornam o diagnóstico preciso, ajudam a desenhar tratamentos para cada paciente, a levar o cuidado a regiões distantes e a encontrar remédios eficazes em tempo recorde. Na saúde, assim como em outras áreas da vida contemporânea, os robôs revolucionam “Seu uso é um ponto de virada na medicina”, afirma o médico Gregg Meyer, do Massachusetts General Hospital, da Universidade Harvard (EUA), e um dos mais respeitados estudiosos do assunto. Na edição deste ano do Fórum de Inovação Médica Mundial realizada recentemente em Boston, o tema foi um dos destaques. reunindo 1.5 mil pessoas só para debatê-lo.

Robô é o nome palatável encontrado para definir os complexos sistemas de algoritmos que baseiam a inteligência artificial. Em linhas gerais, trata-se da utilização do maior número possível de dados disponível sobre determinado assunto, seu cruzamento e, como consequência, a identificação de padrões. Na saúde, as informações geradas no processo esclarecem ou confirmam suspeitas diagnósticas e indicam a resposta do paciente ao tratamento. Além dos ganhos médicos, reduzem os custos ao evitar gastos em terapias desnecessárias.

é possível ver exemplos assim na prática. No Brasil, duas das principais novidades dizem respeito aos diagnósticos. O Grupo Dasa – reúne alguns dos principais laboratórios de exames do País – acaba de fazer uma parceria com hospitais de Harvard para a implantação de um sistema que tornará mais preciso o diagnóstico de câncer de próstata, o mais incidente entre os homens brasileiros. Boa parte dos casos é pouco agressiva e cresce muito lentamente.  Porém, a dificuldade em determinar qual tumor foge à regra muitas vezes leva a tratamentos desnecessários e lesivos. Com a tecnologia, as imagens obtidas em exames de ressonância magnética serão analisadas com base em banco de dados das instituições.

A conclusão apontará o grau de malignidade, o médico receberá um laudo com todas as informações. Terá mais recursos para decidir a terapia adequada, explica o radiologista Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica do grupo.

GENÔMICA

No laboratório Fleury começou a ser oferecido o primeiro exame com inteligência artificial do pioneiro programa Watson para Genômica, uma das aplicações de inteligência artificial da IBM. O teste avaliará o perfil genético da amostra tumoral e apontará, em segundos, as pesquisas mais recentes com opções em estudo para o caso. “O resultado ajudará o médico a saber, por exemplo, se o paciente tem condições para entrar em uma investigação sobre uma nova droga, diz Edgar Rizzati, diretor executivo do Fleury.

Um dos maiores beneficiados dos robôs da saúde é atender à necessidade específica do paciente. “O caminho é adotarmos uma medicina cada vez mais personalizada”, afirma a médica Ana Grubba, diretora de Marketing da Roche Diagnóstica Brasil.

VAI MUDAR TUDO

Alguns dos principais impactos da inteligência artificial na saúde

  • Rapidez e precisão nos diagnósticos, contribuindo para tratamentos individualizados.
  • Ajuda na criação de máquinas que facilitam a comunicação de pacientes com dificuldades devido a lesões neurológicas.
  • Aplicativos são usados por médicos em regiões afastadas para lazer diagnósticos.
  • A análise de dados indica os padrões de infecções hospitalares, auxiliando a identificar indivíduos em risco.
  • A compilação de informações fornecidas por aparelhos usados por pacientes para monitorar a saúde, como os que registram a pressão arterial e os batimentos cardíacos, traça um retrato amplo da saúde da população e baseará a formulação de políticas públicas.
  • Médicos usufruem de mais tempo para se dedicar a casos complexos. Os rotineiros, tem as respostas dadas pelos sistemas de análise.
  • A criação de remédios, que hoje pode levar uma década, começa a ser abreviada.

GESTÃO E CARREIRA

PROVOQUE A REAÇÃO EM CADEIA

Às vezes, basta mudar um único hábito para fazer uma revolução na empresa.

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Grandes transformações exigem, sempre, profundas mudanças de hábitos. Mas não de quaisquer hábitos. É preciso talento para saber identificar com exatidão as práticas e os costumes que devem ser corrigidos – do contrário, as alterações podem ser apenas cosméticas, inócuas. Em outras palavras, é necessário detectar os chamados hábitos angulares, denominação dada a comportamentos que, uma vez alterados, provocam uma série de mudanças em cadeia.

O caso da Alcoa é um exemplo de como uma cultura organizacional pode ser completamente transformada por meio da mudança de um hábito angular. O exemplo é descrito no livro O Poder do Hábito. Considerada uma das três maiores produtoras de alumínio do mundo, a Alcoa vivia períodos turbulentos no final dos anos 80. Os dirigentes vinham cometendo uma série de tropeços estratégicos, que acabaram comprometendo os resultados e minando a paciência dos acionistas. Era preciso mudar processos e pessoas – algo que o board decidiu fazer em 1987, nomeando Paul O’Neill como presidente. Primeira medida do novo chefe: implementar um plano de segurança no trabalho para os funcionários. O’Neill acreditava que essa era a maneira de produzir uma reação em cadeia capaz de fortalecer a empresa. Ele estava certo. Um ano após a sua posse, a Alcoa teve uma alta recorde e, em 2000, quando o dirigente se aposentou, o valor de mercado já era cinco vezes maior do que o registrado na data de sua estreia. Quem poderia imaginar que investir em segurança do trabalho aumentaria o valor de uma empresa?

Ao assumir, O’Neill encontrou um clima de insatisfação e muita desconfiança do mercado a respeito de sua gestão – justamente em função do seu foco em reduzir a quantidade de acidentes de trabalho. Ninguém botava fé que isso pudesse reverter os resultados negativos da Alcoa. Depois que o plano de segurança foi implementado, o índice de acidentes de trabalho na Alcoa tornou-se 20 vezes menor do que a média americana. Para entender mais a fundo o motivo dos acidentes, O’Neill precisava saber em detalhes o que estava acontecendo de errado no processo de fabricação. Isso fez com que a companhia investisse mais em controle de qualidade e no treinamento dos funcionários. Um ganho duplo para a Alcoa, em segurança e em produtividade.

A determinação de O’Neill era de que qualquer acidente deveria ser relatado a ele em um prazo máximo de 24 horas. A notificação deveria ser acompanhada de um plano estratégico, para evitar que outro acidente acontecesse. Para isso, toda a cultura organizacional da empresa foi modificada: era preciso facilitar a comunicação entre funcionários de todos os escalões. Outra sacada: só seriam promovidas as pessoas que obedecessem ao programa de segurança da empresa, uma medida para aumentar o engajamento. Com melhor comunicação interna, mais participação coletiva, aprimoramento produtivo constante e treinamento frequente, O’Neill conseguiu, a um só tempo, tornar os processos mais precisos e seguros – gerando um impacto direto na qualidade. Mudar hábitos angulares faz toda a diferença. Basta detectá-los.

 

SAMY DANA – é economista, doutor em administração e Ph.D. em Negócios. Professor na Eaesp/FGV, autor de livros e consultor, é também comentarista dos programas Conta Corrente, da Globo News, e Hora 1, na Globo. É colunista da Rádio Globo e do G1.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 26:  57– 68

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Cristo no Palácio do Sumo Sacerdote

Temos aqui a acusação contra o nosso Senhor Jesus na corte eclesiástica, diante do grande sinédrio. Considere:

I – A sessão da corte; os escribas e os anciãos estavam reunidos, embora fossem altas horas da noite, quando as outras pessoas estavam dormindo profundamente em suas camas. Mesmo assim, para satisfazerem a malícia que tinham contra Cristo, negaram a si mesmos esse descanso natural, e ficaram acordados a noite toda, para que estivessem preparados para cair sobre a presa que esperavam que Judas e seus homens lhes trouxessem.

Observe:

1. Quem eram aqueles que estavam reunidos; os escribas, os doutores da lei e os anciãos, os príncipes dos sacerdotes da sinagoga judaica; estes eram os inimigos mais amargos de Cristo, o nosso grande Mestre e Príncipe, sobre quem eles tinham um olhar invejoso, como alguém que reduzia o brilho deles; talvez alguns desses escribas e anciãos não fossem tão maliciosos em relação a Cristo, como eram alguns outros; contudo, concordando com os demais, eles se fizeram culpados. Agora as Escrituras foram cumpridas (Salmos 22.16): “O ajuntamento dos malfeitores me cercou”. Jeremias reclama de uma reunião de homens traiçoeiros; e Davi reclama de seus inimigos se reunindo contra ele (Salmos 35.15).

2. Onde eles estavam reunidos. Na casa de Cáifás, o sumo sacerdote; ali eles se reuniram dois dias antes, para tramarem a conspiração (v. 3). Ali eles agora se reuniram outra vez, para executar o plano. O sumo sacerdote era chamado de – o pai da casa de juízo, mas agora ele é o patrono da impiedade; a sua casa deveria ter sido o santuário da inocência oprimida, mas se tornou o local do trono da iniquidade; e não é de admirar que esses homens iníquos tenham transformado a própria casa de oração de Deus em um covil de ladrões.

II – A postura do prisioneiro no recinto do tribunal; aqueles que haviam lançado mão de Jesus levaram-no, empurrando-o, sem dúvida com violência, conduziram-no como um troféu de sua vitória, como uma vítima para o altar. Ele foi levado a Jerusalém através da porta das ovelhas, pois este era o caminho para entrar na cidade, saindo do monte das Oliveiras; e era chamada assim porque as ovelhas designadas para o sacrifício eram levadas por aquele caminho até o Templo; muito adequadamente, portanto, Cristo, que é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, é levado por este caminho. Cristo foi levado primeiro ao sumo sacerdote, porque, pela lei, todos os sacrifícios deveriam ser primeiro apresentados ao sacerdote, e entregues em sua mão (Levíticos 17.5).

III – A covardia e o medo de Pedro (v. 58): “Pedro o seguiu de longe”. Isto é apresentado aqui como um prenúncio da história seguinte, quando Pedro nega Jesus. Pedro o abandonou como os demais o fizeram, quando Jesus foi preso, e o que é dito aqui sobre tê-lo seguido é facilmente conciliável com o fato de Pedro tê-lo abandonado; o fato de Pedro ter seguido Jesus não é melhor do que o fato de ter abandonado Jesus; porque:

1. Ele o seguiu, porém “de longe”. Algumas faíscas de amor e preocupação por seu Mestre estavam em seu peito, e por essa razão ele o seguiu; mas o medo e a preocupação pela sua própria segurança prevaleceram, e assim Pedro o seguiu de longe. Note que é um mau presságio quando aqueles que estão dispostos a ser discípulos de Cristo não estão dispostos a ser reconhecidos como tais. Aqui Pedro começou a negar Jesus; pois segui-lo de longe é afastar-se dele pouco a pouco. Há perigo em se afastar, e também em olhar para trás.

2. Pedro o seguiu, e, “entrando, assentou-se entre os criados”. Ele deveria ter subido até o pátio, e servido ao seu Mestre, comparecendo à presença dele. Mas ele entrou onde havia uma fogueira, e assentou-se com os criados, não para calar as críticas, mas para se proteger. Foi uma presunção de Pedro, portanto, a atitude de se lançar à tentação; aquele que age assim sai da proteção de Deus. Cristo havia dito a Pedro que ele não poderia segui-lo agora, e o havia advertido particular mente quanto ao perigo dessa noite; mesmo assim, Pedro iria se aventurar no meio desse grupo de ímpios. O fato de Davi odiar se reunir com malfeitores o ajudou a andar em integridade; ele não se assentava com os ímpios.

3. Pedro seguiu o Senhor, mas só o fez “para ver o fim”, sendo levado mais pela sua curiosidade do que pela sua consciência; ele compareceu como um mero espectador, em vez de participar da situação como um discípulo, uma pessoa envolvida. Ele deveria ter entrado, para prestar a Cristo algum serviço, para trazer a si mesmo alguma sabedoria e graça, observando o comportamento de Cristo sob os seus sofrimentos. Mas Pedro só entrou para observá-lo; não é improvável que Pedro tenha entrado, esperando que Cristo fosse fugir miraculosamente das mãos de seus perseguidores; que, tendo tão recentemente se desviado daqueles que tentavam agarrá-lo, o Senhor agora destruiria aqueles que se assentavam para julgá-lo. E era isso que Pedro tinha vontade de ver; se esse raciocínio estiver correto, seria tolice para Pedro pensar em ver qualquer outro fim além daquele que Cristo havia predito, de que Ele deveria ser morto. Note que é mais necessário que nós nos preparemos para o fim, seja ele qual for, do que indagarmos curiosamente qual será o fim. O evento é de Deus, mas o dever é nosso.

IV – O julgamento de nosso Senhor Jesus neste tribunal.

1. Eles buscavam testemunhas contra Ele, embora estivessem decididos – quer estivessem certos ou errados – a condená-lo; no entanto, para dar uma aparência melhor ao julgamento, eles iriam produzir evidências contra o Senhor. Os crimes da competência do seu tribunal eram doutrinas falsas e blasfêmias; e essas coisas eles tentaram provar a fim de condená-lo. Observe aqui:

(1)  A busca deles por provas: “Buscavam falso testemunho contra Jesus”; eles o haviam prendido, amarrado, açoitado, e depois de tudo ainda tinham que procurar algo de que acusá-lo, e não podiam mostrar nenhuma causa para a sua prisão e julgamento. Eles se consultaram, pois talvez algum deles pudesse alegar, a partir de seu próprio conhecimento, qualquer coisa contra o Senhor; e assim sugeriram uma calúnia e então outra, de modo que, se alguma fosse verdadeira, pudessem tocar em sua vida. “O homem vão cava o mal” (Provérbios 16.27). Aqui eles pisam o caminho de seus predecessores, que maquinaram projetos contra Jeremias (Jeremias 18.18; 20.10). Os líderes da nação judaica proclamaram que, se alguém pudesse dar informações contra o prisioneiro no recinto do tribunal, eles estariam prontos a recebê-las, e naquele momento muitos deram falsos testemunhos contra o Senhor (v. 60). O governador que dá atenção às palavras mentirosas achará que todos os seus servos são ímpios (Provérbios 29.12). Este é “um mal que se vê debaixo do sol” (Eclesiastes 10.5). Se Nabote deve ser levado para fora, haverá filhos de Belial para jurar contra ele.

(2)  O sucesso deles nessa busca; em várias tentativas, eles foram frustrados. Aqueles homens buscaram falsos testemunhos entre si, outros se apresentaram para ajudá-los, e mesmo assim não acharam ninguém que pudesse testemunhar de forma coerente contra o Filho de Deus. Eles não puderam fazer nada nesse sentido, não conseguiram juntar evidências plausíveis, ou dar qualquer aparência de verdade ou consistência às falsas acusações. Além disso, não poderiam fazê-lo, pois eles mesmos se colocaram na posição de juízes. Os motivos alegados eram mentiras palpáveis, que traziam em si as suas próprias contestações. Tudo isso foi revertido para a honra de Cristo, naquele momento em que eles estavam procurando carregá-lo de desgraças.

Mas, finalmente, eles conseguiram duas testemunhas, que, parece, concordaram com as evidências deles, e, portanto, foram ouvidas, na esperança de agora obterem sucesso. As palavras que eles proferiram em juramento contra o Senhor foram que Ele havia dito: “Eu posso derribar o templo de Deus e reedificá-lo em três dias” (v. 61). Então, através disso, eles planejavam acusá-lo:

[1] Como um inimigo do Templo, e alguém que buscava a destruição dele, algo que eles não suportavam sequer ouvir; pois eles valorizavam a si mesmos pelo Templo do Senhor (Jeremias 7.4), e, quando abandonaram os ídolos, fizeram dele um ídolo perfeito. Estêvão foi acusado de falar “contra este santo lugar” (Atos 6.13,14).

[2] Como alguém que lidava com a feitiçaria, ou alguma arte ilícita, com a ajuda da qual Ele poderia levantar o edifício em três dias; eles frequentemente sugeriam que o Senhor estava aliado com Belzebu. Então, quanto a isso, em primeiro lugar, as palavras foram citadas de forma errada pelos caluniadores. O Senhor disse: “Derribai este templo” (João 2.19), sugerindo claramente que Ele falava de um templo que os seus inimigos iriam procurar destruir; eles vêm, e juram que Ele disse: “Eu posso derribar este templo”, como se o plano contra o Templo fosse dele. Ele disse: “Em três dias o levantarei” – egero auton, uma palavra usada adequadamente para um templo vivo. Eu o levantarei para a vida. Eles vêm, e juram que Ele disse: “Eu posso” oikodomesai- levantá-lo, o que é usado propriamente para um templo construído. Em segundo lugar, as palavras foram mal-entendidas. “Ele falava do templo do seu corpo” (João 2.21), e talvez quando Ele disse: “este templo”, tenha apontado ou colocado a sua mão sobre o seu próprio corpo; mas eles juraram que Ele se referiu ao Templo de Deus, significando esse santo lugar. Note que houve, e ainda há, uma deturpação das palavras de Cristo para a própria destruição dos caluniadores (2 Pedro 3.16). Em terceiro lugar, por pior que eles pudessem julgar o assunto, não se tratava de um crime capital, nem mesmo pela sua própria lei; se fosse um crime capital, Ele teria sido perseguido por isso, quando pronunciou essas palavras em um discurso público alguns anos antes. Não, as palavras eram passíveis de uma construção louvável, e revelam a sua atenção ao Templo; se o Templo fosse destruído, Ele iria se empenhar ao máximo para reconstruí-lo. Mas qualquer coisa que parecesse criminosa serviria para dar aparência à perseguição maliciosa deles. Agora as Escrituras foram cumpridas, pois diziam: “Se levantaram falsas testemunhas contra mim” (Salmos 27.12; veja Salmos 35.11). “Eu os remi, mas disseram mentiras contra mim” (Oseias 7.13). Quando somos justamente acusados, é a lei que “nos acusa” (Deuteronômio 27.26; João 5.45). Satanás e as nossas próprias consciências nos acusam (1 João 3.20). As criaturas exclamam contra nós. Então, para nos livrar de todas essas justas acusações, o nosso Senhor Jesus se sujeitou a isso, sendo injusta e falsamente acusado, para que, em virtude de seus sofrimentos, possamos ser capacitados a vencer todos os desafios: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?” (Romanos 8.33,34). Ele foi acusado para que não pudesse ser condenado; e se, em qualquer tempo, sofrermos assim, se tivermos todos os tipos de males, não apenas ditos, mas proferidos em falsos juramentos contra nós, lembremo-nos de que não podemos esperar ser tratados melhor que o nosso Mestre.

(3)  O silêncio de Cristo sob todas essas acusações, para espanto do tribunal (v.62). O sumo sacerdote, o juiz da corte, encolerizou-se e disse: “‘Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti?’ Que defesa tu podes fazer? Ou o que tens a oferecer em resposta a esta acusação?” ”Jesus, porém, guardava silêncio” (v. 63), não como alguém taciturno, ou como alguém autocondena­ do, ou como alguém perplexo ou em confusão; não porque Ele buscasse algo para dizer, ou que não soubesse o que dizer, mas para que as Escrituras fossem cumpridas (Isaias 53.7): “Mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca”. Isto também ocorreu para que Ele pudesse ser o Filho de Davi. Quando os inimigos falaram coisas perversas contra Ele, o Senhor foi como um homem surdo que não ouvia (Salmos 38.12-14). Ele ficou em silêncio, porque havia chegado a sua hora. Ele não negaria a acusação, porque estava disposto a se sujeitar à sentença; caso contrário, Ele poderia facilmente silenciá-los e envergonhá-los agora, como havia feito muitas vezes antes. Se Deus entrasse em juízo conosco, ficaríamos sem palavras (cap. 22.12), incapazes de responder a uma de mil coisas (Jó 9.3). Portanto, quando Cristo foi feito pecado por nós, Ele ficou em silêncio, e deixou que o seu sangue falasse (Hebreus 12.24). Ele permaneceu calado no recinto desse tribunal, para que pudéssemos ter algo a dizer no tribunal de Deus.

Bem, assim o Senhor abre mão de seus direitos; um recurso poderia ser impetrado através de algum outro expediente.

2. Eles examinaram o nosso Senhor Jesus em um juramento como o do ex officio; e, visto que eles não puderam acusá-lo, tentarão, em uma atitude contrária à lei da igualdade, fazer com que Ele acuse a si mesmo.

(1) Aqui está o interrogatório apresentado pelo sumo sacerdote.

Considere:

[1] A pergunta em si: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus?” Isto é: Tu finges ser Ele? Porque eles não admitirão isso de nenhum modo, seja Ele realmente o que diz ou não; embora o Messias devesse ser o Consolador de Israel, e coisas gloriosas tenham sido ditas a respeito dele no Antigo Testamento, eles estavam tão estranhamente embriagados com a inveja de qualquer coisa que ameaçasse o poder exorbitante e a grandeza deles, que jamais entrariam no exame da questão, se Jesus era o Messias ou não. Nem uma vez sequer consideraram o caso de Ele o ser; eles apenas desejavam que Ele confessasse que se denominava o Messias, para que nisto pudessem condená-lo como um enganador. O que o orgulho e a malícia não levariam os homens a fazer?

[2] A solenidade da proposta: “Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas”. Não que aquele homem tivesse qualquer consideração pelo Deus vivo, mas tomou o nome do Senhor em vão; somente assim, ele esperava conseguir a atenção do nosso Senhor Jesus: “Se tu tens qualquer estima pelo nome bendito de Deus, e reverência por sua Majestade, nos diga isto”. Se o Senhor Jesus se recusasse a responder quando foi assim conjurado, eles o acusariam de desprezar o nome bendito de Deus. Assim, os perseguidores dos homens bons frequentemente tomam vantagem contra eles por suas consciências, como os inimigos de Daniel fizeram contra ele, na questão do seu Deus.

(2)  A resposta de Cristo nesse interrogatório (v. 64), no qual:

[1] Ele admite ser o Cristo, o Filho de Deus. “Tu o disseste”; isto é: “É como tu o disseste”. Porque em Marcos foi registrado: “Eu sou”. Até aquele momento, o Senhor raramente havia professado a si mesmo, expressamente, como sendo o Cristo, o Filho de Deus; o teor de sua doutrina revelava isso claramente, e os seus milagres o comprovavam; mas agora, Ele não se omitiria de fazer uma confissão disso. Em primeiro lugar, porque isso teria parecido renegar a verdade da qual Ele entrou no mundo para dar o testemunho. Em segundo lugar, teria parecido que o Senhor estaria recusando os seus sofrimentos, quando Ele sabia que esse reconhecimento daria aos seus inimigos toda a vantagem que eles desejavam contra Ele. Ele, portanto, confessou, para exemplo e estímulo a seus seguidores, quando forem chamados a confessá-lo diante dos homens, sejam quais forem os riscos que isso acarrete. E de acordo com esse padrão, os mártires prontamente confessaram-se cristãos, embora soubessem que deveriam morrer por isso, como os mártires em Thebais (Eusebio, Hist., 50.8; 100.9). Cristo respondeu sem consideração pela conjuração que Caifás havia usado em nome do Deus vivo, de forma profana; penso que o Senhor Jesus equiparou a conjuração daquele homem com a conjuração que foi expressa pela boca do Diabo (Marcos 5.7).

[2] O Senhor então se refere, como prova disso, à sua segunda vinda, e certamente a todo o seu estado de exaltação. É provável que eles olhassem para Ele com um sorriso de escárnio e desdém, quando Ele dizia: “Eu sou”. É possível que tenham pensado: “Como é que um homem como Ele pode dizer que é o Messias, cuja vinda é esperada em meio a tão grande pompa e poder?” Mas é exatamente a isso que o Senhor se refere: “Embora agora vocês me vejam neste estado inferior e abjeto, e achem ridículo que Eu me autodenomine Messias, aproxima-se o dia em que me manifestarei em glória”. “Desde agora” (versão ARA), em breve; pois a sua exaltação teria início; em apenas alguns dias. Então, o seu reino havia começado a ser estabelecido rapidamente. E no futuro “vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso”, para julgar o mundo; a sua vinda breve para julgar e destruir a nação judaica tipificaria essa situação futura, sendo até mesmo um penhor dela. Note que os terrores do dia do juízo serão uma convicção sensata da infidelidade mais obstinada, não com a finalidade de conversão (será tarde demais para isso), mas para a confusão eterna. Observe, em primeiro lugar, a quem eles deveriam ver: “o Filho do Homem”. Tendo admitido ser o Filho de Deus, mesmo agora em seu estado de humilhação, o Senhor Jesus fala de si mesmo como o Filho do Homem, em seu estado de exaltação; pois Ele tinha essas duas naturezas distintas em uma só pessoa. A encarnação de Cristo fez dele o Filho de Deus e o Filho do Homem; porque Ele é o “Emanuel, o Deus conosco”. Em segundo lugar, em que postura eles deveriam vê-lo:

1. Assentado à direita do Todo-poderoso, de acordo com a profecia do Messias (Salmos 110.1): ”Assenta-te à minha mão direita”; algo que denota tanto a dignidade como o domínio ao qual Ele é exaltado. Embora o Senhor Jesus estivesse agora no banco dos réus de um tribunal humano, eles em breve o veriam assentado no trono de Deus.

2. “Vindo sobre as nuvens do céu”; isto se refere a uma outra profecia com relação ao Filho do Homem (Daniel 7.13,14) que é aplicada a Cristo (Lucas 1.33), quando Ele vem para destruir Jerusalém. Tão terrível foi o juízo, e tão claras as indicações da ira do Cordeiro no juízo, que essa passagem se torna uma aparição visível de Cristo; mas, sem dúvida, essa é uma referência ao juízo geral. O Senhor recorre a esse dia, e os convoca ao comparecimento naquele dia e lugar para responder pelo que eles estavam fazendo agora. Pouco tempo antes, Ele havia falado sobre esse dia aos seus discípulos, para o conforto deles, e havia ordenado que levantassem as suas cabeças com grande expectativa por esse dia (Lucas 21.27,28). Então o Senhor fala disso aos seus inimigos, para o terror deles; porque não há nada mais confortante para os justos, e nada mais terrível para os ímpios, do que o julgamento do mundo por Cristo no último dia.

V – A sua convicção nesse tribunal: “O sumo sacerdote rasgou as suas vestes”, de acordo com um costume dos judeus, quando ouviam ou viam qualquer coisa feita ou dita que eles considerassem reprovável a Deus (como em Isaias 36.22; 37.1; Atos 14.14). Caifás seria considerado um homem extremamente zeloso da glória de Deus (Venha e veja o seu zelo pelo Senhor dos Exércitos); mas, embora ele demonstrasse ter repulsa pela blasfêmia, ele mesmo era o maior blasfemo; ele então se esqueceu da lei que proíbe o sumo sacerdote de rasgar as suas vestes em qualquer situação. Será que devemos supor que essa era uma situação de exceção?

Observe:

1. O crime do qual o Senhor Jesus foi considerado culpado: blasfêmia. “Blasfemou”; isto é, Ele falou de forma reprovável ao Deus vivo; esta é a noção que temos da blasfêmia. Pelo fato de nós, pelo pecado, termos rejeitado ao Senhor, por essa razão, quando Cristo foi feito pecado por nós, Ele foi condenado como um blasfemo pela verdade que lhes disse.

2. A evidência pela qual eles o acharam culpado: “Para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que bem ouvistes, agora, a sua blasfêmia”. Ele reconheceu o fato de que confessou ser o Filho de Deus; e então fizeram disso uma blasfêmia, e o condenaram por sua confissão. O sumo sacerdote triunfa no planejamento do laço que havia lançado. Ele talvez tenha pensado: ”Agora eu acho que consegui apanhá-lo”. Assim aconteceria conosco. Portanto, o Senhor foi julgado pelas palavras que saíram de sua própria boca no tribunal, porque estávamos sujeitos a ser julgados no tribunal de Deus. Não há necessidade de testemunhas contra nós; as nossas próprias consciências estão contra nós, valendo mais do que mil testemunhas.

VI – A sua sentença e condenação (v. 66).

Aqui está:

1. O apelo de Caifás aos juízes do tribunal: “Que vos parece?” Veja a sua hipocrisia e parcialidade, como são desprezíveis; tendo prejulgado a causa, e declarando-o blasfemo, então, Caifás pergunta como se quisesse saber a opinião de seus irmãos. Mas a atitude de esconder a malícia sempre tão astuciosamente sob a túnica da justiça, de uma forma ou de outra, irá se manifestar. Se ele tivesse tratado o caso de forma justa, deveria ter recolhido os votos dos juízes sucessivamente, e pela ordem, começando pelo menor, dando a sua própria opinião por último. Mas Caifás sabia que pela autoridade de sua posição ele poderia influenciar os demais. Portanto, ao declarar o seu julgamento, ele presume que todos eles tenham a mesma opinião. Ele considera o crime de que acusavam a Cristo como “pró-confesso”, ou seja, como um crime confessado; e o juízo, com relação ao tribunal, também como “pró-confesso”, como um juízo acordado.

2. A concordância com ele. Eles disseram: “É réu de morte”; talvez nem todos eles concordassem com tal sentença; é certo que José de Arimatéia, se esteve presente, discordou (Lucas 23.51), assim como Nicodemos. E é provável que outros também tenham discordado. Porém, a maioria apoiou a sentença; mas, talvez, sendo esse um conselho extraordinário, ou, antes, cabal, ninguém havia sido avisado para estar presente, exceto aqueles que sabiam que ele ocorreria, e assim poderia ser votado unanimemente. O julgamento foi: “Ele é réu de morte; pela lei Ele merece morrer”. Embora, naquele momento, eles não tivessem poder para matar qualquer homem, por esse julgamento eles tornavam um homem um criminoso entre o povo, assim a nossa lei antiga descreve um criminoso), e assim o expunha à fúria de um tumulto popular, como foi com Estêvão, ou à aclamação contra ele perante o governador, como ocorreu com Cristo. Assim, o Senhor da vida foi condenado à morte, para que, através dele, já não haja nenhuma condenação contra nós.

VII – Os abusos e os insultos contra o Senhor, depois da sentença, foram aprovados (vv. 67,68): “Então, cuspiram-lhe no rosto”. Devido ao fato de eles não terem poder para matá-lo, e por não poderem ter a certeza de que prevaleceriam fazendo com que o governador fosse o executor, eles fariam todas as crueldades possíveis, agora que o tinham em suas mãos. Os prisioneiros condenados são tomados sob a proteção especial da lei, à qual eles devem fazer a reparação, e por todas as nações civilizadas têm sido tratados de forma humana; este castigo é suficiente. Mas quando aqueles homens aprovaram a sentença contra o nosso Senhor Jesus, Ele foi tratado como se o inferno tivesse sido lançado sobre Ele, como se Ele não só fosse digno de morte, mas como se isso fosse bom demais para Ele, e fosse indigno da compaixão que é demonstrada ao pior dos malfeitores. Assim, “Ele foi feito uma maldição por nós”. Mas quem eram aqueles que foram assim tão bárbaros? Parece que foram as mesmas pessoas que aprovaram a sentença de morte contra Ele. Eles disseram: “Ele é réu de morte”. Então, cuspiram-lhe no rosto. Os sacerdotes começaram, e então não seria surpresa se os criados, que fariam qualquer coisa para se divertir, e para bajular os seus senhores, continuassem a ação. Veja como eles abusaram de Cristo.

1. Eles cuspiram em seu rosto. Assim, a Escritura foi cumprida (Isaias 1.6). O Senhor Jesus não escondeu o seu rosto da vergonha e do cuspe. Jó queixou-se desse insulto, e assim ele estava tipificando a Cristo (Jó 30.10): “E no meu rosto não se privam de cuspir”. Esta é a expressão de maior desprezo e ultraje possível; consideraram-no mais desprezível do que o próprio chão no qual eles cospem. Quando Miriã estava sofrendo de lepra, isto foi considerado uma desgraça para ela, como se o seu pai cuspisse em seu rosto (Números 12.14). Aquele que se recusasse a edificar a casa de seu irmão deveria ser submetido a essa desonra (Deuteronômio 25.9). No entanto, Cristo, quando estava restaurando os declínios da grande família da humanidade, submeteu-se a isso. Aquele rosto que era mais justo que os filhos dos homens, que era branco e rosado, e que os anjos reverenciam, foi, desse modo, abusado de forma imunda pelos mais vis e desprezíveis filhos dos homens. Assim, a confusão foi derramada sobre o seu rosto, para que o nosso rosto não fosse cheio de vergonha e desprezo eternos. Aqueles que agora profanam o seu Nome bendito, abusam de sua Palavra, e odeiam a sua semelhança na vida dos seus santos, o que fazem senão cuspir em seu rosto? Eles fariam ainda pior, se algo pior estivesse ao alcance deles.

2. “E lhe davam murros… e outros o esbofeteavam”. Isto acrescentava dor à vergonha, porque ambos vinham com o pecado. Então a Escritura foi cumprida (Isaias 1.6): “Eu lhes dei as minhas faces para arrancarem a barba”; e Lamentações 3.30: “Ele dá a face ao que o fere; ele está cheio de reprovação, e mesmo assim fica em silêncio” (v. 28); e Miquéias 5.1: “Ferirão com a vara no queixo ao juiz de Israel”; aqui se lê, na margem: “Eles o feriram com a vara”; porque este é o significado de erra­ pisan, e a isso o Senhor se submeteu.

3. Eles o desafiaram a dizer quem o havia agredido, tendo primeiro vendado os seus olhos: “Profetiza-nos, Cristo, quem é o que te bateu?”

(1)  Eles se divertiram com Ele, como os filisteus fizeram com Sansão; é doloroso para aqueles que estão aflitos, que as pessoas se divirtam com eles, mas muito mais doloroso é quando as pessoas se divertem com os sofredores e com a sua aflição. Aqui temos o exemplo da maior depravação e degeneração da natureza humana que poderia existir, para mostrar que havia necessidade de uma religião que recuperasse os homens, levando-os a um estado de humanidade.

(2)  Eles zombaram de seu ofício profético. Eles tinham ouvido alguém lhe chamar de profeta, e que Ele se tornou afamado por fazer revelações maravilhosas; com isso eles o vituperaram, e fingiram fazer um julgamento; como se a onisciência divina devesse se rebaixar à brincadeira mal-intencionada de crianças mal-educadas. Eles colocaram uma afronta semelhante sobre Cristo, brincaram com as Escrituras e as profanaram, e se divertiram com as coisas santas; agiram como nas festas de Belsazar, em que os vasos do Templo foram profanados.

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