PSICOLOGIA ANALÍTICA

HORA DA CHANTAGEM

Hora da chantagem

A alimentação ocupa lugar central na relação entre pais e filhos – do recém-nascido ao adolescente. Além de ser um modo de se manter vivo e aplacar a fome, comer é um meio de ter comunicação e, às vezes, motivo de oposição e de chantagem. É em torno do ato da nutrição que se forma a primeira relação

O recém-nascido depende totalmente da pessoa que o alimenta, com quem estabelece uma ligação íntima, intensa e significativa. Desde as primeiras mamadas, a alimentação se dá em um contexto social rico de sensações no qual estão envolvidos não apenas gosto e olfato, mas também o tato, acolhido nos braços da mãe, o bebê toca os lábios no mamilo. Esse contato cria uma atmosfera afetiva em que a sucção, a deglutição, a digestão e, mais tarde, a mastigação assumem significados psicológicos que vão além do ato do alimentar. O leite se funde ao corpo da mãe. Não é bom apenas para sugar, mas para imaginar. Seu per fume e sabor associam-se a sensações de bem-estar, serenidade e afeto. Não têm a mesma sorte os frangos de granja ou os macacos de Harry Harlow, que recebem alimento em abundância, mas são privados de todos os aspectos que formam a experiência da refeição calorosa e agradável

Obviamente, as mães também se deixam envolver. Para elas, alimentar a própria cria é um modo de continuar a dar-lhe vida. É por isso que se sentem mal quando os pequenos recusam o peito, a mamadeira ou a papinha. Quando a mãe diz ao pediatra “doutor, o meu filho não come, revela nessa angústia algo que vai além da preocupação com a falta de apetite – indica quão importante considera a relação que nasce e se desenvolve em torno da experiência alimentar.

O aleitamento é um período especial, pois nele são engendradas as bases do sentimento de segurança interior sobre o qual, posteriormente, constrói-se a personalidade. Nessa fase, a criança depende da pessoa que a alimenta, que por sua vez precisa se sentir apoiada pelo próprio ambiente estável do ponto de vista psicológico para desempenhar bem seu papel. Do contrário, a relação pode ser perturbada, e as consequências serão sentidas nos anos seguintes.

Os bebês absorvem por meio do corpo as tensões e as dificuldades das suas figuras de ligação afetiva e as memorizam em nível automático. A mãe constantemente agitada ou angustiada transmite uma sensação de alarme: o recém-nascido percebe sua inquietude por sinais que ela expressa pela tensão muscular, pelo tom da voz, no modo como o segura e o carrega. A mulher infeliz ou deprimida não consegue transmitir serenidade, amamenta de modo mecânico, sem envolvimento. Assim como a indiferença, a pressão é um sinal que incide sobre a relação. Não é apenas a mamada, mas o que vem depois, quando está satisfeito, o lactente abandona-se nos braços da mãe, que deveria permanecer um pouco mais com ele.

A linguagem dos bebês é necessariamente uma linguagem do corpo, intimamente relacionada às experiências que vivem; cabe aos adultos compreender o significado disso com base no contexto. Se o único tipo de relação com a mãe é a que passa pelo alimento, a criança de 7 meses pode vomitar logo depois de comer, na tentativa de prolongar a relação. Se isso não for entendido como um pedido de atenção por parte da criança, um círculo vicioso poderá ter início – a mãe se angustia pensando que o bebê está doente e ele, por sua vez, continua a vomitar em busca de atenção e em resposta à agitação dela. Com o crescimento as estratégias mudam. Para ser o centro das atenções, a criança de 2 ou 3 anos, em vez de vomitar como fazia até os 7 meses, passa a recusar alguns alimentos consumidos habitualmente pelo resto da família, transformando-se em um problema para os pais.

RECUSA DRÁSTICA

O consumo de alguns alimentos e a recusa drástica de outros são uma estratégia mais ou menos inconsciente de afirmação do eu, ou de se reconhecer em determinado grupo, como no seguinte depoimento: “Cresci numa família que não gostava de fígado. Por isso, esse prato nunca entrou em nossa mesa, todos tinham aversão a ele. Um dia, aos 6 anos, fui almoçar na casa de uma tia e, sem saber, comi fígado. O novo sabor me agradou. Só depois fiquei sabendo o que era. Naquele momento senti náuseas por ter comido aquilo que minha família sempre rejeitou. Depois disso nunca mais comi.

Graças a essa mistura complexa e precoce de prazer, sentimentos, relação e identidade, o comportamento alimentar é um campo privilegiado de expressão da boa relação consigo mesmo, com o próprio corpo e com os outros – ou, ao contrário, de hábitos errados, insatisfação e carências. Os episódios de anorexia infantil, por exemplo, descartadas as causas orgânicas, podem ter origem numa reação de oposição aos pais. A criança sabe que o alimento é um ponto delicado, sabe do valor que o pai e a mãe dão às refeições. Assim, recusá-las é um modo de exercitar a chantagem afetiva. As técnicas usadas pelas crianças são conhecidas: há quem não toque na comida, quem a segure na boca por muito tempo, cuspindo- a depois; quem só coma fora das refeições. No entanto, nem sempre a iniciativa parte delas. Às vezes os pais insistem para que as crianças comam alimentos de que não gostam, não levando em consideração que os gostos na infância são diferentes do que se estabelecem mais tarde. Ou então as estimulam a comer mais que o necessário, criando problemas de várias naturezas

AUTO-REGULAÇÃO

A equação alimento igual a afeto está tão consolidada que, quando os filhos não comem muito, certos pais sentem-se culpados por achar que não estão cumprindo seu papel.  Preocupam-se quando percebem que a criança come menos, sem considerar que o processo de desenvolvimento não mantém sempre o mesmo ritmo: há momentos de crescimento intenso – como os dois primeiros anos de vida ou o início da adolescência – e há também fases mais atenuadas, em que a necessidade de alimento é menor.  Se a criança ou o adolescente são saudáveis deveriam ser capazes de auto regular-se com base nos sinais de fome e saciedade que vêm do organismo. Se forem muito est1mulados, poderão enjoar da comida, tornar-se resistentes aos sinais do estômago ou comer mais que o necessário e entrar na espiral da polifagia ou da bulimia. Nesse caso, o risco consiste em associar as sensações de estômago e intestino estufados à condição psicológica de saciedade e bem-estar. Sob o estímulo de um reflexo condicionado, comer em excesso pode se transformar em uma maneira rápida, imatura e inconsciente de buscar consolo, de enfrentar frustrações e decepções de combater o tédio ou de preencher um vazio afetivo, com todas as consequências que isso acarreta para o próprio desenvolvimento físico e psicológico.

 MOTIVAÇÃO, CALOR E SEGURANÇA

Numa experiência clássica da psicologia, o pesquisador americano Harry Harlow mostrou que os macacos criados por um boneco “frio”, capaz de alimentá-los conseguiram sobreviver, mas ficavam encolhidos pelos cantos, sem motivação para explorar o ambiente ou enfrentar os semelhantes. Os indivíduos que, ao contrário, foram criados por um boneco “quente” respondiam às solicitações, exploravam o ambiente e não demonstravam medo. Aqueles que foram criados por uma macaca de verdade (que além de amamentar fornecia contato físico, movia e interagia) eram, obviamente, os mais serenos, curiosos e seguros.

 RITUAIS À MESA

As experiências da infância deixam marcas, tanto que a maior parte das pessoas fica ligada a sabores e alimentos aos quais foram habituadas. Diferenças culturais são evidentes e significativas.

É difícil encontrar um italiano que queira comer pastíccio de rim, algo que os ingleses adoram. Os chineses são loucos por pés de frango, parte menos valorizadas pelos brasileiros. Para os americanos, os mexilhões são moluscos repugnantes. Essas e outras preferências são resultado de aprendizagens precoces baseadas na imitação. A primeira fonte de informação é a família, mas assim que vão para a escola as crianças começam a aprender também com os colegas. Fazer como os outros, comer e beber como eles significa integrar-se ao grupo, não ser excluído. O alimento e seus ritos favorecem a coesão social.

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ANNA OLIVERIO FERRARIS – é Professora de psicologia da Universidade La Sapienza, em Roma

OUTROS OLHARES

ESTIGMAS DA BALANÇA

Causada por múltiplos fatores, a obesidade é uma doença grave que expõe seus portadores a preconceito profundamente arraigados.

Estigmas da balança

A obesidade, atualmente considerada epidemia e motivo de preocupação mundial, é uma doença grave, crônica, de elevada mortalidade e de causas múltiplas. Sua incidência tem aumentado de maneira assustadora em países desenvolvidos e em desenvolvimento, enquanto países mais pobres enfrentam ainda os problemas relacionados à carência nutricional.

Durante muitos anos a doença foi vista como decorrente de um prejuízo da motivação em perder peso. Graças as descobertas das últimas décadas, essa visão vem sendo progressivamente modificada, derrubando preconceitos. Assim, torna-se claro, à visão dos conhecimentos atuais, que a obesidade é uma doença crônica de etiologia multifatorial, incluindo aspectos genético- biológicos, endócrinos, ambientais, sociais e também psicológicos e psiquiátricos.

Infelizmente o profissional de saúde mental demorou a se interessar pelo assunto, talvez pela crença em teorias interpretativas de ordem analítica que preferiam ver a idade como resultante de um conflito inconsciente ligado ao poder, à sexualidade e/ou ao inadequado desenvolvimento da personalidade. Esse conflito tão bem oculto serviu apenas para manter a visão preconceituosa da obesidade e do obeso entre o problema de caráter e o resultado do inconsciente, ao contrário de propiciar um melhor entendimento.

Não há, à luz das evidências atuais, qualquer razão para imaginarmos que a obesidade seja o resultado direto de distúrbios psicológicos, mas sim que o estigma e o preconceito são consequências do quadro. Grandes estudos populacionais não confirmam a hipótese de que existiria uma personalidade típica do obeso. De modo similar, obesos na população geral não apresentam mais transtornos psicológicos que não-obesos.

Embora alguns profissionais de saúde tentem paulatinamente retirar o obeso do campo dos culpados de pelo menos dois pecados capitais – a gula e a preguiça -, o preconceito contra a obesidade prevalece. Muitas condições podem ser estigmatizadas e consideradas desviantes com base em normas e valores sociais. A atribuição de responsabilidade pela condição desviante é crucial, posto que pessoas com características que fogem ao conceito de normalidade e não são consideradas “culpadas” por isso recebem melhor tratamento que aquelas tidas como responsáveis pelo atribulo desviante. Embora as causas da obesidade não estejam bem estabelecidas, a opinião pública julga que os obesos são responsáveis pelo seu tamanho corporal e por isso, considera-os pessoas desprovidas de autocontrole. Um grande problema é que o estigma pode ser internalizado e incorporado à identidade do obeso. É comum constatarmos que as pessoas tendem a ignorar as outras características de um obeso, reduzindo-o a um “gordo”.

A primeira manifestação desse preconceito aparece na infância. Quando crianças e adultos são apresentados a desenhos de crianças em cadeiras de rodas, em muletas, desfiguradas, amputadas ou obesas, eles tendem a rejeitar mais as representações de obesos que qualquer outra figura, com exceção dos mutilados. Estudos encontraram aumento de 40,8% na rejeição aos desenhos de crianças obesas, frequentemente definidas pelos colegas já a partir dos 6 anos como “preguiçosas, sujas, estúpidas, feias e burras” ou com um dúbio e superficial elogio de engraçadas, alegres”

Meninas convidadas a escolher entre diferentes tipos de bonecas preferem bonecas magras para brincar, mesmo que elas próprias sejam obesas. Adolescentes e adultos obesos são discriminados em sua vida acadêmica e profissional de maneira clara e esse empobrecimento social, cultural, econômico e afetivo parece estar diretamente relacionado ao grau da obesidade, isto é, quanto maior o IMC, mais problemas psicológicos esta pessoa sofrerá, como consequências e não causas da obesidade. Esse desamparo alimenta o risco de desencadeamento de quadros psiquiátricos como depressão, transtornos ansiosos, abuso de álcool, drogas e transtornos alimentares.

Muitos profissionais de saúde também estigmatizam obesos, apresentando os mesmos preconceitos sobre a “auto responsabilidade” da pessoa obesa sobre seu peso. Isso indica que alguns desses profissionais não guiam suas atitudes para com os pacientes obesos com base nos conhecimentos técnico-científicos e sim nos mesmos fatores culturais “lipofóbicos” presentes na sociedade. Embora as drogas anti obesidade possam ser importantes no curso de tratamento, na maioria dos casos, elas são prescritas para pessoas sem excesso de peso.

Ao prescrever esses remédios o profissional “compactua” com as exigências sociais da ditadura da beleza e reforça o estigma da obesidade. É bastante curioso que enquanto o preconceito contra outros grupos previamente marginalizados tem diminuído cada vez mais, a estigmatização da obesidade é tolerada e, às vezes, tratada como socialmente aceita e desejável. Parte de tal tolerância vem de alguns profissionais de saúde que consideram importante o obeso se sentir mal com seu corpo e consigo mesmo para que mude seu comportamento “errôneo” e emagreça. É bastante óbvio, porém necessário, reiterar que tal colocação é contrária à filosofia de saúde e bem-estar defendida pelas organizações de saúde.

EMOÇÕES INSTÁVEIS

Estudos mostram que obesos apresentam padrões comportamentais alimentares alterados e elevados graus de psicopatologia. Embora as pessoas obesas da população geral não apresentem mais quadros psicológicos e psiquiátricos, os obesos que buscam tratamento revelam mais problemas clínicos, psiquiátricos e alimentares. Sintomas depressivos e ansiosos são comuns; a síndrome depressiva parece ser frequente nos gravemente obesos. Pacientes obesos emocionalmente instáveis podem vivenciar aumento na ansiedade e depressão quando fazem dietas. Portanto, o obeso apresenta aspectos emocionais e psicológicos identificados como consequências ou como mantenedores de sua condição de obeso, concomitantes com uma condição clínica e alimentar alterada.

A relação multifatorial sobre as causas da obesidade está bem estabelecida. Aspectos genéticos, familiares e biológicos Interagem determinando uma predisposição individual e guardando relação com outros fatores que funcionariam como “gatilho” no seu aparecimento. Fatores ambientais e sociais constituem parte desses agentes contribuintes para obesidade.

Os chamados “problemas emocionais” foram por muito tempo julgados como os principais fatores desencadeadores da obesidade. Muitas vezes são percebidos como consequências, embora conflitos psicológicos de auto avaliação possam preceder o desenvolvimento da obesidade. Por muito tempo, o obeso era visto como alguém de baixa autoestima, com baixo potencial motivacional para perder peso, com falha de caráter ou mesmo como uma ”pessoa fraca”. Na verdade, esse preconceito poderia, sim, desencadear sintomas psiquiátricos e atrasar a busca por tratamento adequado.

A orientação cognitivo-comportamental da psicologia sugere que os sistemas de crenças de indivíduos obesos determinem sentimentos e atitudes desencadeados por pensamentos disfuncionais acerca do peso, da alimentação e do valor pessoal. Por exemplo, pessoas obesas altamente insatisfeitas com seu peso e, portanto, com importante sofrimento psíquico acreditam que ser magro está associado a autocontrole, competência e superioridade, interferindo diretamente na constituição da auto estima, comprometendo a auto avaliação e, consequentemente, o estado motivacional para perda de peso. Além disso, essas crenças centrais levam a comportamentos conhecidos por “tudo ou nada”, e desta forma há maior possibilidade de sentimento de frustração quando um objetivo não é plenamente alcançado, novamente comprometendo a autoestima.

Estudos comunitários recentes revelam que não há maior nível de psicopatologia na população geral de obesos quando comparada à de não-obesos. Porém, indivíduos obesos que buscam tratamento especializado para perda de peso apresentam maior prevalência de sintomas ansiosos, depressivos, de mau comportamento alimentar e de traços de impulsividade.

Essas diferenças entre as amostras comunitárias e clínicas podem refletir a tendência dos indivíduos que sofrem de algum transtorno psiquiátrico associado de apresentarem maior sofrimento com a obesidade e, portanto, buscarem tratamento específico. Além disso, parece haver uma relação direta entre a presença desses sintomas e o maior grau de obesidade. Pacientes portadores de obesidade grau III, conhecida como obesidade mórbida (IMC superior a 40 kg /m2), têm mais sintomas de transtorno de personalidade borderline (TPB), prevalência de transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) e episódios depressivos severos.

Dentre os transtornos comportamentais que poderiam determinar a obesidade estão a depressão atípica, o TCAP e a síndrome da compulsão alimentar noturna (SAN). A depressão a típica   apresenta como critérios diagnósticos o ganho de peso ou o aumento de apetite significativos. A presença de reatividade do humor (humor que melhora em resposta a eventos positivos e reais) pode muitas vezes levar a um atraso no diagnóstico adequado do episódio depressivo, permitindo o estabelecimento do ganho de peso e obesidade.

A principal característica do TCAP é a presença de episódios recorrentes de compulsão alimentar sem nenhuma evidência de comportamento compensatório para evitar ganho de peso. Define-se como compulsão alimentar a ocorrência de episódio onde há ingestão de grande quantidade de alimentos, usualmente hipercalóricos, em curto período de tempo, com a sensação de perda de controle sobre o ato alimentar (impulsividade).Torna-se claro que pela ingestão de grande quantidade de calorias de forma recorrente na ausência de comportamentos que possam compensar ou evitar o ganho de peso, como por exemplo, atividade física, haverá inevitavelmente o ganho de peso. Estudos indicam uma prevalência desse transtorno em aproximadamente 2% da população geral, 30% da população de obesos que buscam tratamento, até 50% dos pacientes candidatos à cirurgia bariátrica (anti obesidade) e 70% em grupos de autoajuda, como os Comedores Compulsivos Anônimos.

O TCAP, também conhecido como transtorno do comer compulsivo, ainda hoje sem ter o peso que realmente merece, despertou o interesse psiquiátrico na década de 50, quando um estudo preliminar descreveu de forma minuciosa um subgrupo de obesos que apresentavam um comportamento alimentar descrito como ‘comer num período muito curto de tempo uma grande quantidade de comida que é definitivamente maior do que a maioria das pessoas podem comer nesse período”. Tal comportamento estaria associado à sensação de completa perda de controle.

PERIGO DE RECAÍDA

Algumas proposições posteriores confirmam a ideia de que há uma relação direta entre o grau de obesidade e a maior frequência de comportamento compulsivo alimentar. Pacientes com TCAP tendem a ter mais recaídas após tratamento, maior comorbidade com depressão, abuso de álcool e drogas, transtorno de personalidade e insatisfação com a imagem corporal quando comparados com os obesos não-compulsivos.

Outro transtorno associado à obesidade, ainda não categorizado, é o SAN, cujos sintomas são compatíveis com transtorno alimentar e transtorno do sono. Trata-se de uma síndrome caracterizada por episódios recorrentes de ingestão alimentar que ocorrem exclusivamente durante o período noturno, usualmente após o início do sono. Os portadores de SAN têm hábito alimentar diurno adequado, aparentemente sem restrições ou excessos, e à noite, após iniciado o sono, despertam com uma “necessidade” de ingerir alimentos. sob o risco de não conseguir voltar a dormir caso não se alimentem. Curiosamente, alguns pacientes não se lembram desses episódios noturnos. A prevalência estimada de SAN na população geral é de 1,5%, podendo atingir 10% em obesos e até 25 % em portadores de obesidade mórbida.

No tratamento psicoterápico, a terapia cognitiva vem mostrando eficácia. A avaliação e a correção dos pensamentos inadequados, que contribuem tanto para a etiologia quanto para a manutenção da obesidade, são procedimentos disparadores e frequentes no processo psicoterápico. A reestruturação cognitiva, as imagens orientadas, o treinamento da autoinstrução, a determinação de objetivo estimulo ao auto reforço e à resolução de problemas são alguns procedimentos inter-relacionados, de base cognitiva, incorporados a outros programas comportamentais.

A orientação cognitivo-comportamental segue o modelo que identifica a crença central e a crença intermediária (regra, atitude, suposição), que levam a um pensamento e influenciam uma situação, e vice-versa, desencadeando igualmente reações emocionais, comportamentais e fisiológicas. Com base nessa orientação, os sistemas de crenças de indivíduos obesos determinam sentimentos e hábitos desencadeados por pensamentos disfuncionais acerca do peso, da alimentação e do valor pessoal. Por exemplo, a crença de que ser magro está associado a autocontrole, competência e superioridade interfere diretamente na construção da autoestima da pessoa, ou mesmo a crença de que ser magro é fundamental para a evolução de problemas da vida e que, portanto, pessoas obesas seriam infelizes e malsucedidas são significações também encontradas nesse grupo.

Tais crenças provocam no obeso tendências disfuncionais de raciocínio levando-o a desenvolver pensamentos dicotômicos – pensamentos em termos absolutos e extremos do tipo se não estou completamente com o controle significa que perdi todo o controle, que está tudo perdido; então, posso me fartar” O desafio da psicoterapia cognitiva é compreender como diversos fatores interagem entre si em cada caso ou situação e, associada e integrada a outras terapias, favorecer a melhora no manejo do sintoma para que o paciente possa dispor de um repertório qualitativamente mais amplo para responder às demandas da vida.

MASSA CORPORAL E CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL

De maneira prática a obesidade é definida como excesso corporal de gordura, acima de 20 % do peso corporal total em homens e de 30 % em mulheres. Embora outros instrumentos para a classificação desse distúrbio estejam disponíveis, o mais empregado é o índice de massa corporal (IMC). O IMC é calculado dividindo-se o peso em quilos pela altura ao quadrado.

Uma perspectiva global da obesidade é atualmente possível pela orientação da Organização Mundial da Saúde de estabelecimento de peso normal, com diferentes graus de baixo peso, sobrepeso e obesidade baseado no IMC. Obeso é aquele cujo IMC supera 30 kg/m2.

A OMS estima que haja cerca de 180 milhões de obesos adultos atualmente, com número significativamente maior se somado aos indivíduos com sobrepeso.

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 PREVALÊNCIA DO DISTÚRBIO É INFLUENCIADA POR FATORES SOCIAIS

Análises recentes têm revelado que há diferenças de prevalência de obesidade entre países de uma mesma região, assim como entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Muitas vezes a razão pelas quais tais diferenças se estabelecem são desconhecidas. Contudo, sobrepeso e obesidade são particularmente mais frequentes em populações de baixo nível socioeconômico, assim como é possível identificar uma relação inversa entre o nível educacional e o grau de excesso de peso. Desta forma, a obesidade tem sido ligada à exclusão social em diversos países.

Dados da OMS sugerem que no Brasil a prevalência de obesidade em indivíduos do sexo masculino e feminino com idade entre 25 e 64 anos é de respectivamente 6% e 13%. Segundo o último levantamento realizado pela pesquisa de orçamentos familiares (POF) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o excesso de peso atinge 40,6% da população adulta brasileira. Destes, aproximadamente 27% são obesos, correspondendo a 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres.

Para ter uma compreensão global, esta prevalência nos Estados Unidos atinge 20% e 25%, respectivamente para indivíduos do sexo masculino e do feminino, com idades entre 20 e 74 anos. Na verdade, a comparação da prevalência de obesidade entre países é difícil, uma vez que até recentemente não havia consenso a respeito da sua classificação.

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TÁKI ATHANÁSSIOS CORDÁS – é professor do Departamento de Psiquiatria da USP e coordenador do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.

ALEXANDRE PINTO DE AZEVEDO – é psiquiatra, coordenador do Grupo de Estudo, Assistência e Pesquisa em Comer Compulsivo e Obesidade – Grecco/Ambulim.

GESTÃO E CARREIRA

NÃO ME OLHE COM ESSA CARA

Truque de manipular expressões em uma negociação pode dar errado.

Não me olhe com essa cara

Alguns estudos sobre táticas de negociação já defenderam a tese de que utilizar certas expressões emocionais, como olhar com raiva para intimidar o interlocutor ou mostrar um semblante de decepção para deixá-lo com culpa, seria útil para obter bons resultados. Agora, porém, estudo conjunto de pesquisadores das universidades de Pittsburgh, Saint Louis e Washington DC, divulgado pelo Journal of Applied Psychology, revela que esses truques psicológicos, embora possam até obter resultados imediatos, no longo prazo tendem a ser desastrosos, gerando consequências opostas às pretendidas.

Em um dos experimentos, 140 participantes eram convocados via e-mail para um suposto emprego, sendo necessário negociar sua remuneração. As mensagens do “empregador” sobre as propostas de salário do candidato eram escritas em tom neutro, amigável ou agressivo. As agressivas recebiam respostas no mesmo tom, embora, ao final, os candidatos aceitassem a oferta.

Contudo, o experimento incluiu uma segunda rodada de propostas de outro empregador fictício, oferecendo a mesma remuneração. Resultado: mais da metade dos participantes que haviam recebido mensagens agressivas rejeitou a nova proposta, apesar de ser do mesmo valor aceito anteriormente. Para os autores, a tática de intimidação abalou a confiança dos candidatos em relação aos empregadores. Frequentemente, uma negociação imediata é apenas um momento de um relacionamento mais longo, e manipulá-la dessa forma pode dar muito errado.

ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 26: 36–46 – PARTE I

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 A Agonia no Jardim

Até esse ponto, temos visto os preparativos para os sofrimentos de Cristo; agora, vamos entrar na cena sangrenta. Nesses versículos, temos a história de sua agonia no jardim. Esse foi o início das dores para o nosso Senhor Jesus. Então a espada do Senhor começou a ser desembainhada contra o homem que era o seu companheiro. E como a espada deveria estar quieta quando o Senhor deu a ordem? As nuvens tinham se juntado por um tempo, e pareciam negras. Ele havia dito, alguns dias antes: “Agora, a minha alma está perturbada” (João 12.27). Mas agora a tempestade começou de forma resoluta. Ele se colocou nessa agonia, antes dos seus inimigos lhe causarem qualquer problema, para mostrar que Ele era uma oferta voluntária; que a sua vida não foi tirada dele, mas que Ele mesmo a deu (João 10.18). Considere:

I – O lugar onde o Senhor passou por sua imensa agonia; foi em um lugar chamado Getsêmani. O nome significa torculus alei um moinho de azeitonas, uma prensa para azeitonas, como uma prensa de vinho, onde eles pisam as azeitonas (Miqueias 6.15). E este era o lugar próprio para tal atividade, no pé do monte das Oliveiras. Ali o nosso Senhor Jesus começou a sua paixão; ali Deus Pai se agradou em moê-lo, e esmagá-lo, para que o azeite fresco pudesse fluir dele para todos os crentes, para que pudéssemos tomar parte na raiz e na gordura daquela boa Oliveira. Ali Ele pisou o lagar da ira de seu Pai, e o pisou sozinho.

II – A companhia que Ele tinha consigo, quando estava nessa agonia.

1. Ele levou todos os seus discípulos consigo para o jardim, exceto Judas, que estava, nesse momento, ocupado com outra coisa. Embora fosse tarde da noite, perto da hora de dormir, eles permaneceram com Ele, e fizeram essa caminhada ao luar com Ele, como Eliseu, que, quando foi informado que o seu mestre logo seria tirado de sua liderança, declarou que ele não o deixaria, embora tenha acompanhado a sua partida. Assim esses seguem o Cordeiro, aonde quer que Ele vá.

2. Cristo só levou consigo a Pedro, Tiago e João para aquele local do jardim onde sofreu a sua agonia. Ele deixou os demais a uma certa distância, talvez na entrada, com esta ordem: ”Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar”. Como fez Abraão com o seu moço (Genesis 22.5): “Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós”.

(1)  Cristo foi orar sozinho, embora recentemente Ele tenha orado com os seus discípulos (João 17.1). Note que as nossas orações com as nossas famílias não devem servir como desculpa para não termos as nossas devoções particulares.

(2)  Ele ordenou que se sentassem ali. Devemos cuidar para não causarmos qualquer perturbação ou interrompermos aqueles que se retiram para uma comunhão particular com Deus. Ele levou esses três consigo, porque eles tinham sido testemunhas da sua glória em sua transfiguração (cap. 17.1,2), e iria prepará-los para serem as testemunhas de sua agonia. Aqueles que estão melhor preparados para sofrer com Cristo são aqueles que, pela fé, viram a sua glória, e que conversaram com os santos glorificados no santo monte. Se sofrermos com Cristo, reinaremos com Ele. E se esperamos reinar com Ele, por que não deveríamos esperar sofrer com Ele?

III –  A própria agonia em que Ele estava: “Começou a entristecer-se e a angustiar-se muito”.

Isso é chamado de uma agonia (Lucas 22.44), um conflito. Ele não estava sofrendo qualquer dor ou tormento físico, não ocorreu nada que o ferisse; mas, seja lá o que tenha sido, foi algo interior. Ele se perturbou (João 11.33). As palavras usadas aqui são muito enfáticas. Ele começou a entristecer-se e a consternar-se. A última palavra significa a tristeza que faz um homem não ser uma boa companhia, e nem desejá-la. Era como se Ele tivesse um peso de chumbo sobre o seu espírito. Os médicos usam uma palavra semelhante a essa para expressar a desordem em que um homem está, como um calafrio, ou o início de uma febre. Então estava cumprido (Salmos 22.14): “Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera e derreteu-se dentro de mim”. E todas aquelas passagens nos Salmos onde Davi se queixa das tristezas de sua alma (Salmos 18.4,5; 42.7; 55.4,5; 69.1-3; 88.3; 116.3), e a queixa de Jonas (cap. 2.4,5).

Mas qual foi a causa de tudo isso? O que foi que o colocou em agonia? Por que estás abatido, ó bendito Jesus, e por que te perturbas? Certamente, não era desespero ou falta de confiança em seu Pai, muito menos qualquer conflito ou luta com Ele. Como o Pai o amava porque Ele sacrificou a sua vida pelas ovelhas, assim Ele se sujeitou inteiramente à vontade de seu Pai. Mas:

1. Ele participou de um encontro com os poderes das trevas; assim Ele sugere (Lucas 22.53): “Esta é a vossa hora, e o poder das trevas”; e Ele falou disso pouco antes (João 14.30,31). Em outras palavras: “Vem o príncipe deste mundo. Eu o vejo reunindo as suas forças, e se preparando para um ataque geral; mas ele não tem nada em mim, nenhuma guarnição favorável aos seus interesses, nenhum soldado que mantenha secretamente alguma correspondência com ele; por tanto, as suas tentativas, embora ferozes, serão infrutíferas; mas assim como o Pai me deu mandamento, assim eu também vos dou; seja como for, devo travar uma luta com ele, e o campo deve ser completamente ocupado em batalha; portanto, levantai-vos, partamos para o campo de batalha ao encontro do inimigo”. Agora é travada uma batalha de perto, em um único combate, entre Miguel e o dragão, corpo a corpo; “agora é o juízo deste mundo”; a grande causa deve ser agora determinada, e a batalha decisiva deve ser travada, na qual o príncipe deste mundo será certamente derrotado e expulso (João 12.31). Cristo, quando opera a salvação, é descrito como um campeão assumindo o controle do campo (Isaias 59.16-18). Então a serpente faz o se u ataque mais feroz à semente da mulher, e direciona a sua picada, a picada mortal, ao seu coração; e a ferida é mortal.

2. Ele estava então levando as iniquidades que o Pai colocou sobre Ele, e com tristeza e espanto concordou com a sua tarefa. Os sofrimentos nos quais Ele estava entrando eram pelos nossos pecados; eles foram feitos para serem enfrentados, e Jesus sabia disso. Assim como somos forçados a nos lamentar particularmente pelos nossos pecados, Ele se entristeceu pelos pecados de todos nós. Então, no vale de Josafá, onde Cristo estava naquele momento, Deus congregou todas as nações, e entrou em juízo com elas na pessoa de seu Filho (Joel 3.2,12). Jesus conhecia a malignidade dos pecados que estavam colocados sobre si, como eram provocantes a Deus Pai, e como eram destruidores ao homem; e sendo todas essas coisas colocadas em ordem diante dele, e sobrecarregadas nele, Jesus começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então as iniquidades o prenderam, de modo que Ele não podia olhar para cima, como foi predito a seu respeito (Salmos 40.7,12).

3. Ele tinha uma perspectiva completa e clara de todos os sofrimentos que estavam diante dele. Ele previu a traição de Judas, a falta de amabilidade de Pedro, a maldade dos judeus, e a ingratidão desprezível que lhe demonstrariam. Ele sabia que, dentro de poucas horas, ser ia açoitado, cuspido, coroado com espinhos, pregado na cruz. A morte em seus aspectos mais terríveis, a morte em pompa, acompanhada de todos os seus terrores, o olhou na face; e isto o entristeceu, especialmente porque era o salário pelo nosso pecado, a expiação que Ele havia se incumbido de realizar. É verdade, os mártires que sofreram por Cristo acolheram os maiores tormentos, e as mortes mais terríveis, sem qualquer tristeza e consternação; chamaram as suas prisões de pomares deleitáveis; e um canteiro de chamas chamaram de canteiro de rosas. Mas, então:

(1)  Cristo rejeita os apoios e confortos que eles tiveram; isto é, Ele negou os confortos a si mesmo, e a sua alma se recusou ser confortada, não em paixão, mas em justiça à sua tarefa. A alegria deles sob a cruz se devia ao favor divino, que, naquele momento, não foi concedido ao Senhor Jesus.

(2)  Os seus sofrimentos eram de uma outra natureza, diferente do deles. O apóstolo Paulo, ao ser oferecido como um sacrifício e um serviço pela fé dos santos, pode se alegrar e se regozijar com todos eles; mas ser oferecido em sacrifício para fazer expiação pelos pecados é um caso muito diferente. Na cruz dos santos há uma bênção proclamada, que permite que eles se regozijem sob ela (cap. 5.10,12); mas na cruz de Cristo havia uma maldição agregada, que o entristeceu e o angustiou muito. E a sua tristeza na cruz foi o fundamento da alegria que eles sentiam sob a cruz.

IV – A sua queixa sobre essa agonia. Encontrando-se sob o ataque dessa paixão, o Senhor se dirige aos seus discípulos (v. 38), e:

1. Ele lhes faz saber de sua condição: ”A minha alma está cheia de tristeza até à morte”. Ter um amigo para desabafar, e dar vazão às tristezas, dá um pouco de alívio a um espírito perturbado. Cristo lhes diz:

(1)  Qual era o centro de sua tristeza; era a sua alma, que agora estava em agonia. Isto prova que Cristo tinha uma verdadeira alma humana; porque Ele sofreu não só em seu corpo, mas em sua alma. Tínhamos pecado tanto contra o nosso corpo como contra a nossa alma; ambos foram usados no pecado, e ambos foram enganados por ele. Portanto, Cristo sofreu na alma, bem como no corpo.

(2)  Qual era o grau de sua tristeza. Ele estava excessivamente triste, cercado de tristeza por todos os lados. Era a tristeza no grau mais elevado, “até à morte”. Era uma tristeza mortal, uma tristeza que nenhum homem mortal poderia experimentar e sobreviver. Ele estava pronto para morrer de tristeza; eram tristezas de morte.

(3)  A sua duração; ela continuará até à morte. ”A minha alma estará triste enquanto estiver neste corpo; não vejo nenhuma saída além da morte”. Ele então começou a entristecer-se, e em nenhum momento deixou de sentir essa tristeza, até dizer: “Está consumado”. Então terminou aquela tristeza que começou no jardim. Foi profetizado a respeito de Cristo que Ele seria um “homem de dores” (Isaias 53.3). Ele foi assim o tempo todo. Nunca lemos que Ele tenha sorrido; mas todas as suas tristezas até aquele momento eram nada, se comparadas a essa agonia no Getsêmani.

2. Ele encomenda a companhia e o serviço deles:

“Ficai aqui e vigiai comigo”. Certamente, Ele estava necessitando de ajuda quando rogou a ajuda deles, mesmo sabendo que seriam apenas consoladores lamentáveis. Mas Ele aqui iria nos ensinar o benefício da comunhão dos santos. É bom ter o auxílio dos nossos irmãos quando, em qualquer momento, estivermos passando por uma agonia; porque “dois é melhor que um”. O que Ele lhes disse, Ele disse a todos: “Vigiai” (Marcos 13.37). Não só vigiar por Ele, na expectativa da sua vinda futura, mas vigiar com Ele, na aplicação do nosso trabalho atual.

V – O que se passou entre Jesus e o seu Pai quando Ele estava nessa agonia: “Posto em agonia, orava”. A oração nunca está fora de época, mas é especialmente apropriada em meio a uma agonia.

Considere:

1. O lugar onde Ele orou: “Indo um pouco adiante”, se afastou deles, para que a Escritura se cumprisse: “O lagar, eu o pisei sozinho”. Ele se retirou para orar; uma alma perturbada encontra mais alívio quando está sozinha com Deus, pois Ele entende a linguagem inexprimível de suspiros e gemidos. Cristo aqui nos ensina que a oração em secreto deve ser feita em particular. No entanto, alguns pensam que os discípulos a quem Cristo deixou na entrada do jardim o ouviram; porque foi dito (Hebreus 5.7) que houve um “grande clamor”.

2. A postura do Senhor na oração: “Prostrou-se sobre o seu rosto”. A sua posição prostrada denota:

(1)  A agonia em que Ele estava, no extremo de sua tristeza. Jó, em grande tristeza, “se lançou em terra” (Jó 1.20); e uma grande angústia é manifestada pela expressão “revolver-se no pó” (Miqueias 1.10).

(2)  Sua humildade em oração. Esta postura era uma expressão de seu temor reverente (mencionado em Hebreus 5.7), com o qual Ele ofereceu essas orações. Ele o fez nos dias de sua carne, em seu estado de humilhação, ao qual ele aqui se conciliou.

3. A oração em si; nela, podemos observar três particularidades:

(1)  O título com que Ele se refere a Deus: “Meu Pai”. Por mais espessa que a nuvem fosse, o Senhor Jesus podia ver Deus como um Pai através dela. Note que todas as vezes que nos dirigimos a Deus, devemos vê-lo como um Pai, como o nosso Pai; e é especialmente confortável fazer isso quando estamos em agonia. É uma corda de harpa agradável de se tocar em um momento desses: “Meu Pai”. Para onde vai uma criança quando alguma coisa a amedronta, além de seu pai?

(2)  O favor que Ele suplica: “Se for possível, passe de mim este cálice”. Ele chama os seus sofrimentos de cálice; não um rio, não um mar, mas um cálice, do qual logo veremos o fundo. Quando estamos passando por dificuldades, devemos fazer delas o mínimo, e não agravá-las. Os sofrimentos do Senhor Jesus poderiam ser chamados de cálice, porque Ele o repartia, como nos banquetes em que um cálice era colocado para cada prato. Ele suplica que este cálice seja passado dele, isto é, que os sofrimentos agora iminentes pudessem ser evitados; ou, ao menos, que eles pudessem ser abreviados. Isto sugere simplesmente que o Senhor Jesus era real e verdadeiramente humano, além de ser Deus, e como um homem ele só poderia ter aversão à dor e ao sofrimento. Este é o primeiro ato, e o simples ato da vontade do homem: afastar-se daquilo que é sensivelmente doloroso para si, e desejar o impedimento e a remoção dele. A lei da autopreservação é impressa na natureza inocente do homem, e domina ali até ser revogada por alguma outra lei. Portanto, Cristo admitiu e expressou uma relutância a sofrer, para mostrar que Ele foi tomado dentre os homens (Hebreus 5.1), compadeceu-se das nossas fraquezas (Hebreus 4.15), e foi tentado como nós o somos, porém sem jamais pecar. Note que uma oração de fé contra uma aflição pode muito bem consistir na paciência da esperança sob a aflição. Quando Davi disse: “Emudeci, não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste”. As palavras seguintes dele foram: “Tira de sobre mim a tua praga” (Salmos 39.9,10). Mas observe a condição: “Se for possível”. Se Deus puder ser glorificado, o homem, ser salvo, e os fins de sua missão, serem atendidos, sem que o Senhor Jesus beba esse cálice amargo, Ele deseja ser dispensado; caso contrário, não. Aquilo que não pudermos fazer em benefício do nosso propósito, devemos considerar como impossível. Cristo fez isso. Não podemos e não devemos fazer nada contra a verdade.

(3)  A sua inteira submissão e anuência à vontade de Deus Pai: “Todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres”. Não que a vontade humana de Cristo fosse contrária ou oposta à vontade divina; aquela era apenas, em seu primeiro ato, diferente desta. Porém, no segundo ato da vontade, que compara e escolhe, Ele se sujeita espontaneamente. Observe que:

[1] O Senhor Jesus, em­ bora tivesse um senso aguçado da amargura extrema dos sofrimentos que iria enfrentar, estava livremente disposto a se sujeitar a eles para a nossa redenção e salvação, e ofereceu-se a si mesmo por nós.

[2] O motivo da submissão de Cristo aos seus sofrimentos foi a vontade de seu Pai: “mas como tu queres” (v. 39). Ele fundamenta a sua própria vontade na vontade do Pai, e com isso o problema é totalmente resolvido; portanto, Ele fez o que fez, e o fez com prazer, porque era a vontade de Deus (Salmos 40.8). Ele frequentemente se referia a toda a sua missão corno aquilo que o motivava e o sustentava. Essa é a vontade de Deus (João 6.39,40). Foi isso que Jesus buscou (João 5.30); fazer isso era a sua comida e bebida (João 4.34).

[3] Em conformidade com esse exemplo de Cristo, devemos beber do cálice amargo que Deus coloca em nossas mãos, não importa quão amargo seja; embora a natureza lute, a graça deve sujeitá-la. Então estaremos dispostos, corno Cristo estava, quando as nossas vontades estiverem, em todas as coisas, fundidas na vontade de Deus, embora isso seja sempre desagradável à carne e ao sangue: “Faça-se a vontade do Senhor” (Atos 21.14).

4. A repetição da oração: “E, indo segunda vez, orou” (v. 42), e deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez (v. 44), e tudo com o mesmo sentido. Porém, corno podemos ver aqui, na segunda e na terceira oração Ele não pediu que o cálice pudesse passar dele, como havia feito na primeira. Note que, embora possamos orar a Deus para evitar e remover uma aflição, a nossa tarefa principal, e na qual devemos insistir, deve ser que o Senhor nos dê graça para suportá-la bem. O nosso cuidado deve estar mais direcionado a termos as nossas dificuldades santificadas, e os nossos corações satisfeitos sob elas, do que tê-las removidas. Ele orou, dizendo: “Faça-se a tua vontade”. Note que a oração é a oferta a Deus, não só dos nossos desejos, mas das nossas resignações. Uma oração será aceitável a qualquer hora em que estivermos em aflição. E nessas ocasiões que devemos nos dirigir a Deus, entregando o nosso caminho e o nosso trabalho a Ele: “Faça-se a tua vontade”. Pela terceira vez, Ele disse as mesmas palavras, a mesma palavra, que é o mesmo assunto ou argumento. As suas palavras tinham o mesmo significado. Temos razão para pensar que isso não foi tudo o que Ele disse, pois parece, pelo versículo 40, que Ele continuou por uma hora em sua agonia e oração; mas, se Ele, de fato, disse algo mais, foi para esse efeito, desaprovando os seus sofrimentos iminentes, porém sujeitando-se à vontade de Deus, que estava contida neles. E podemos estar certos de que o Senhor Jesus não estava limitado a essas expressões.

Mas que resposta Ele teve para essa oração? Certamente, não foi feita em vão. Aquele que sempre o ouvia, não lhe negou uma resposta agora. É verdade, o cálice não passou dele, pois Ele condicionou a petição, e não insistiu nela (se tivesse insistido, pelo que sei, o cálice teria sido passado); mas o Senhor Jesus teve uma resposta para essa oração; pois:

(1)  Ele foi fortalecido em sua alma, no dia em que clamou (Salmos 138.3); e essa foi uma resposta real (Lucas 22.43).

(2)  Ele foi preservado daquilo que temia, que era não ofender a seu Pai pela impaciência e pela falta de confiança, o que o desqualificaria para prosseguir em sua missão (Hebreus 5.7). Em resposta à sua oração, Deus Pai providenciou para que Ele não falhasse nem ficasse desencorajado.

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