SOB A MIRA DA AUTO SABOTAGEM
Conheça os mecanismos inconscientes que dão voz aos nossos medos.
Se você perguntar a qualquer pessoa o que ela mais teme, a resposta típica será o medo de morrer ou o medo de fracassa. Na verdade, o maior medo, só que inconsciente, é o medo do sucesso. Quem nunca teve um “ato falho…? Quem nunca pôs a perder uma vitória certa? Quem nunca disse uma palavra errada na hora errada? Quem nunca ficou apavorado ao assumir um cargo e acabou desistindo? Quem nunca teve uma apresentação em que na hora “H” deu branco?
Chamamos a isso auto sabotagem. Ela ocorre em maior ou menor intensidade e com praticamente todas as pessoas. Quando muito intensa pode bloquear a vida de uma pessoa; quando de pouca intensidade causa algum grau de culpa ou frustração. Os medos são percebidos no consciente, porém, são gerados no Inconsciente.
Partimos do pressuposto de que qualquer situação gerada no nosso inconsciente tem uma “intenção positiva”, isto é, foi criada para o nosso bem. Isso pode parecer paradoxal: como é que algo que nos faz mal quer o nosso bem? Uma coisa é o comportamento, outra é a intenção. Os nossos medos têm intenções positivas. Fica fácil entender que o medo de altura quer nos proteger de quedas. O medo de assaltos quer evitar perdas ou até a morte.
Conheci um sujeito que frequentemente se sabotava nos negócios. Sempre que estava acumulando ganhos /patrimônio num certo nível ele acabava perdendo tudo. Depois de sucessivas quedas e reerguidas (sim, ele tinha a capacidade de se recuperar), descobri que ele tinha uma motivação inconsciente de nunca superar o que seu pai havia conquistado “para não humilhar o velho”. Outro exemplo: uma executiva em progressão na carreira exibia vários comportamentos sabotadores. Após algumas sessões descobri que se ela conseguisse o sucesso almejado seu casamento correria perigo. Seu marido não toleraria que ela tivesse uma posição mais alta que a dele – eles trabalhavam na mesma empresa. Outro exemplo: um sujeito fazia tudo para ser infeliz – e sempre se queixava disso – descobri que isso era um padrão familiar (seu pai e sua mãe sempre foram muito infelizes) e se ele fosse diferente “não poderia pertencer a esta família! Uma senhora idosa viúva, nunca conseguia impor sua vontade aos filhos – não conseguia dizer não – porque tinha medo de ser abandonada e ficar só. Um empresário tomava decisões erradas e foi descobrir que tinha medo de “perder a alma” se ficasse rico…
Mais uma vez, precisamos entender como funciona o cérebro. O nosso cérebro é na verdade três em um: existem três cérebros empilhados, formados na nossa evolução e funcionando perfeitamente. O mais antigo, junto à medula, é o cérebro reptiliano.
Este cérebro é extremamente simples, primitivo, encarregado das ações e reações voltadas à sobrevivência. A resposta dele é fuga ou luta. O segundo nível cerebral é o do sistema límbico.
Neste nível são geradas as emoções e duas ações: a procura pelo prazer e o evitar da dor. O último nível é o chamado ” novo cérebro”, ou neocórtex, onde o raciocínio e a lógica entram em cena.
Onde o medo do sucesso entra nisso? Primeiro pelo cérebro reptiliano. Existem casos de pessoas que exibem auto sabotagem de grande magnitude tanto em intensidade como impetuosidade. É o caso do desportista que ignora avisos do seu próprio corpo, ultrapassa limites ou se dopa sabendo dos riscos.
O sistema límbico produz sabotagens na busca do prazer/afastar a dor. O exemplo mais comum é o do estudante que sempre que tenta sentar e estudar se distrai, sente sono, vontade de comer. Se ele desistir de estudar e for ao encontro dos amigos, aí sim, vemos um jovem muito motivado, alegre, desperto e pró ativo.
O sistema límbico dele interpreta o sucesso nos estudos como perda afetiva (afastamento dos amigos) e aí; não permite que este “sucesso” aconteça. Outro exemplo: uma jovem advogada fazendo um concurso tem um “branco” na hora da prova da Ordem dos Advogados. O sistema límbico dela decidiu que se ela passasse neste exame e avançasse na carreira teria que se mudar da cidadezinha interiorana onde vivia com sua família e deixar para trás seus pais e irmãos.
O que fazer? O primeiro passo é dar-se conta do problema e querer mudá-lo. É fundamental decidir o que realmente se quer. A seguir seja específico no seu objetivo. Diga quando, onde, com quem, quanto, quais contextos você quer e o que quer. Faça uma pré- visão – uma percepção prévia do resultado desejado como se você já tivesse conquistado (o cérebro vai ajudar a conquistar aquilo que ele entender e ele entende melhor o que vê, ouve e sente). Certifique-se de que o objetivo é ecológico, ou seja, fará mais bem do que mal tanto a você como aos seus entes queridos. Certifique-se da importância que alcançar seus objetivos trará para você. Por fim, certifique-se de que os resultados desejados dependem, pelo mens na maior parte, da sua própria ação. Se você seguir estes passos, as chances de sucesso aumentam e qualquer eventual interferência poderá ser superada com mais facilidade.
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