CASAIS NO DIVÃ
Na clínica psicanalítica, separações são mais comuns e fáceis frente ao empenho em reconstruir um relacionamento. Atenção a sutis detalhes e possibilidades podem conferir qualidade às relações.
É provável que os talentos cognitivos específicos de cada sexo tenham surgido por se revelar vantajosos no curso da evolução. Assim, a especialização, princípio básico do desenvolvimento biológico, fez com que homens e mulheres não compartilhassem os mesmos dons, mas desenvolvessem talentos igualmente valiosos. As mulheres são mais elegantes com as palavras e têm maior capacidade de empatia. Os homens, ao contrário, dão importância aos símbolos de status, preferem a cerveja à conversa, mas em compensação consultam com maior facilidade os guias de ruas. Muitos desses traços; considerados específicos, não expressam senão preconceitos. Outros, no entanto, fundamentam-se em sólidas bases cientificas.
É verdade que a família nuclear está sofrendo radicais transformações em relação ao número crescente de casamentos, seguidos de descasamentos e recasamentos, criando uma nova composição familiar em função dos filhos que cada novo cônjuge traz para o novo lar. Passa a existir uma mudança nos papéis conferidos aos cônjuges, de forma que os lugares ocupados se sobreponham ou até invertam, e tudo é encarado com muita naturalidade, acabando com o relacionamento.
Na sociedade moderna os problemas se agravam pelo conceito predominante sobre o casamento. Numa época na qual o divórcio era raro e, geralmente condenado pela sociedade, é provável que os casais tivessem mais indignação para resolver suas diferenças. Hoje, porém, ao contrário, a separação dos cônjuges é coisa comum e disseminou-se bastante a ideia de que o divórcio pode ser sempre utilizado como um meio de fuga, caso os conflitos conjugais se agravem demasiadamente. Deve se lembrar que o conflito conjugal é, quase sempre, um sintoma de algo mais profundo, tal como egoísmo, falta de amor, falta de perdão, ira, amargura, problemas de comunicação, ansiedade, abuso sexual, bebedice, sentimentos de inferioridade, entre outros.
Então, torna-se prático pensar em respostas fáceis diante do caos em que nos encontramos. Hoje, a posição de um relacionamento é tomada com uma irresponsabilidade sem limites, sendo mais fácil separar do que reconstruir, ou seja, é melhor cada um ir para o seu lado, dividindo os bens meio a meio. Ao mesmo tempo, em poucos dias, os indivíduos são capazes de estabelecer uma outra relação sem nenhum constrangimento.
A DINÂMICA DA PSICANÁLISE
A Psicanálise é a filha da neurologia, a parte da medicina preocupada com os transtornos do funcionamento do cérebro humano, ciência que estuda tudo aquilo que escapa à consciência espontânea e refletida, os processos psíquicos que não podemos invocar voluntariamente, ou seja, faz parte do inconsciente, tudo o que quebra a continuidade lógica dos pensamentos cotidianos: lapsos, atos falhos; sonhos, esquecimentos.
Sigmund Freud também tinha uma família, e obviamente precisava relacionar-se. Por isso, sua base teve grande importância na revolução intelectual que ele iniciou, mudando a forma de entendermos as relações humanas. Em sua época, tais estudos e pesquisas foram considerados insanos, especialmente porque seu objeto de estudo era a sexualidade, que servia de fundamento para o surgimento das neuroses.
Para Freud, a vida sexual começa logo após o nascimento. Não está ligada aos genitais, mas à obtenção de prazer nas diferentes zonas do corpo. Uma criança que se alimenta estaria experimentando uma satisfação sexual na concepção freudiana. Se naquela época ele encontrou resistência, hoje, o sexo, a pornografia, o erotismo e as orgias estão inseridos no dia-a-dia, gerando uma visão prematura de algo que baqueia as bases de um relacionamento e da família.
A família sempre será a base da sociedade e principalmente de um relacionamento. Quem não tem uma família estruturada, provavelmente enfrentará dificuldades, já que o ser humano é impulsionado pelos sentimentos e não avalia os valores da lógica, da compreensão e da limitação do indivíduo que está em foco. Ao contrário, é atraído pelo sexo, pela boa qualidade de vida, por aquilo que pode conquistar ou receber neste “negócio” chamado relacionamento.
No atendimento a casais detecta-se grande dificuldade nas pessoas em conseguirem interpretar aquilo que o outro apresenta; percebo que não há um investimento real para sustentar tal relacionamento, não há pesquisa para saber se o caminho está certo ou não e, no entanto, o dia-a-dia passa a ser um nutriente para que a relação seja reforçada em teorias superficiais, pautada mais em ter do que em ser.
Se neste momento puder lembrar de algo muito bom que lhe aconteceu, provavelmente não será no campo do ter e, sim, no do ser. Podemos lembrar coisas boas que o ter nos proporcionou como, por exemplo, uma bela casa? um bom carro, boas roupas e outros bens materiais, mas o que realmente irá nos emocionar serão as lembranças do nascimento do filho, do dia do casamento, da restauração de nossa saúde, uma surpresa no dia do aniversário e outras situações similares.
Sem perceber, atraímos para os relacionamentos atitudes que comprometem sua estrutura. Inconscientemente existe um forte motor gerador desta angústia social; isso porque existe uma crescente necessidade de “êxitismo”, ou seja, desde criança o sujeito está ”programado pela família e pela sociedade para ser bem-sucedido, e parte para uma interminável busca por êxitos, que o deixa em constante sobressalto de vir a cumprir estas expectativas que carrega nos ombros e na mente.
Nos últimos 30 ou 40 anos, sociólogos, pedagogos e psicólogos atribuíram a culpa à socialização, isto é, à influência dos modelos que a criança encontra em seu ambiente. Segundo opinião amplamente aceita, pais e adultos em geral inculcam nos pequenos estereótipos de conduta, e, com isso, “desde o princípio dirigem seu comportamento segundo os caminhos trilhados no passado. Assim, o dominante comportamento agressivo dos meninos seria simplesmente produto da educação – uma antecipação das futuras exigências da vida militar ou da sobrevivência no selvagem mundo dos negócios, onde são justamente os homens que dão o tom.
CONFLITO UNIVERSAL
Já a alguns anos, um grupo de pesquisadores entrevistou indivíduos que haviam procurado ajuda para algum tipo de problema. Cerca de 20% dos problemas estavam ligados às “dificuldades de ajuste pessoal”; 12% dos aconselhados “tinha problemas de relacionamento com os filhos, mas uma enorme faixa, cerca de 42%, afirmou que as dificuldades estavam centralizadas no casamento.
O conflito no lar é quase universal. Antes do casamento, as pessoas que se amam tendem a enfatizar suas semelhanças e negligenciar suas diferenças. Existe a crença de que. ‘o nosso amor será diferente”, mas as tensões crescem e aparecem quando duas pessoas, vindas de ambientes diversos e com personalidades diferentes, começam a viver juntas na mais íntima de todas as relações humanas. Os esforços mútuos para ajustar-se, disposição para transigir e a experiência de aprender como solucionar conflitos, tudo isso ajuda os casais a conviverem e moldarem um casamento cheio de amor e funcionando relativamente bem.
DIFERENÇAS SEXUAIS
A sexualidade da mulher tende a relacionar-se com seu ciclo menstrual, enquanto a do homem é praticamente constante. O hormônio masculino, testosterona, é um dos principais fatores que estimulam o desejo sexual no homem, através da pornografia, nudez feminina, variedade sexual, roupas íntimas e disponibilidade da mulher. Já ela é mais estimulada por apelos não sexuais, como palavras românticas, compromisso, comunicação e intimidade. A mulher sente-se em grande parte atraída pela personalidade masculina, enquanto eles são mais estimulados pelo que veem. O homem também é menos discriminador em relação às pessoas por quem sente atração física.
Enquanto ele precisa de pouco ou nenhum preparo para o sexo, a mulher, no geral, necessita de horas de preparação emocional e mental. O tratamento rude, ou abusivo, pode facilmente anular seu desejo de intimidade sexual durante dias seguidos. Quando o marido esmaga as emoções da mulher, ela muitas vezes sente repulsa pelos avanços dele. Muitas afirmaram sentir-se como verdadeiras prostitutas quando forçadas a fazer amor enquanto ainda estão ressentidas com o parceiro. O homem talvez não tenha ideia desses sentimentos quando força a mulher a fazer sexo, e estas diferenças surgem no casamento gerando vários conflitos conjugais.
Desde o início, a mulher sabe desenvolver melhor uma relação cheia de amor. Devido a sua sensibilidade, tem mais consideração pelos sentimentos do marido e mais entusiasmo para criar um relacionamento significativo em vários níveis; isto é, ela sabe como construir algo mais do que uma maratona sexual; quer, ao mesmo tempo, ser amante, amiga, admiradora, dona de casa e companheira apreciada. O homem, por outro lado, não tem geralmente a intuição sobre como o relacionamento deveria ser. Ele não sabe como encorajar, amar e tratar a esposa de uma forma que satisfaça suas mais profundas necessidades. Sabendo que não possui uma compreensão dessas áreas vitais através da intuição, ele precisa se apoiar apenas nos conhecimentos e habilidades adquiridos antes do casamento.
COMPREENSÃO É ARTE
Acredito veementemente que, embora as pesquisas apontem para inúmeras diferenças entre homens e mulheres, é possível estabelecer uma linha de relacionamento que seja eficaz e ao mesmo tempo possa unir dois seres tão diferentes. É possível ter uma vida conjugal feliz tomando, em contrapartida, o respeito e a disposição de estar em constante processo de transformação não somente em nome do outro, mas para o próprio crescimento pessoal, porque a partir do momento que se consegue respeitar o outro, aumenta a capacidade de compreender, perceber, entender e ouvir. O que se observa hoje nos relacionamentos conjugais é o triste quadro de “eu não vou ceder”, e não se trata de ceder ou não, mas, sim, de compreender, pois esta é a arte de se viver um relacionamento saudável com qualquer ser humano. É um processo de reeducação do querer, pois ao continuar fazendo o que sempre foi feito, continua-se obtendo o que sempre se obteve.
É um mito, porém, pensar que um casal poderá superar seus conflitos sem nenhuma intervenção. E é trágico quando ambos negam sistematicamente qualquer tipo de ajuda. Você não pode mudar o que você não pode mudar, mas é possível mudar a sua percepção. A psicoterapia pode não só conduzir a uma mudança de conduta, mas também levar a uma nova fase de redescoberta do prazer de estar com o outro. É o teste quase que definitivo sobre a indecisão – ou certeza – dos sentimentos perante o parceiro, sejam positivos ou negativos. Apenas deve-se ter cuidado para que a psicoterapia não seja uma desculpa para o fim de um relacionamento. Se uma das partes não está disposta a carregar o ônus do outro, fica fácil colocar a culpa no terapeuta.
DA TEORIA À PRÁTICA
Paul Popenoe; fundador do Instituto Americano de Relações Familiares, em Los Angeles, dedicou seus anos mais produtivos à pesquisa das diferenças biológicas entre os sexos. Algumas de suas descobertas foram:
– A mulher tem uma vitalidade constitucional maior, talvez devido à formação singular de seus cromossomos. A mulher, no geral, vive cerca de três a quatro anos mais que o homem nos Estados Unidos.
– O metabolismo feminino é normalmente mais baixo que o masculino.
– O homem e a mulher diferem na estatura do esqueleto. A mulher te, cabeça mais curta, rosto mais largo, queixo menos proeminente, pernas mais curtas e tronco mais comprido.
– A mulher tem funções singulares e importantes: menstruação, gravidez, lactação. Os hormônios femininos são de um tipo diferente, e mais numerosos que os do homem.
– A tireoide da mulher é maior e mais ativa. Ela cresce durante a gravidez e a menstruação; provoca o aparecimento de bócio com maior frequência, fornece resistência ao frio; está associada com o corpo de pele macia, quase sem pelos, e camada grossa de gordura subcutânea.
A FELICIDADE DO OUTRO
Como é possível fazer alguém feliz quando nós mesmos não sentimos felicidade? O inconsciente acaba exalando processos que não são reconhecidos e o processo psicanalítico está baseado nesta descoberta das suas leis e métodos, para ter acesso ao que chamamos de Id (impulsos). Mais cedo ou mais tarde descobre-se estar alimentando um sentimento mentiroso em prol de uma outra pessoa, porque não respeitou seus próprios limites – ou talvez nem os conhecesse – numa busca desesperada para encontrar afago, carinho e tudo aquilo que, de repente, o sujeito não encontra com os próprios pais.
COMUNICAÇÃO E AVANÇOS
Em qualquer relacionamento, comunicação defeituosa ocorre quando a mensagem enviada não é aquela recebida. As mensagens são enviadas verbal (por meio de palavras) e não verbalmente (com gestos, tom de voz, expressões faciais etc.). Quando a mensagem verbal e a não verbal se contradizem, surge uma “mensagem dupla” que provoca incerteza e a quebra da comunicação. Considere, por exemplo, a mulher que diz verbalmente: “não me que você viaje a negócios”, mas cujo tom resignado de voz e falta de entusiasmo deixam entrever o sentimento:” na verdade, não quero que você vá”. Inevitavelmente, nestes casos, faz-se necessária uma boa leitura de comportamento corporal, para melhorar a comunicação.
ALEXANDER DE PAULA BARNABÉS – é psicanalista, teólogo e trainner em programação neurolinguística. E-mail.:dr.barnabes@hotmail.com
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