MATEUS 25: 14-30 – PARTE I
A Parábola dos Talentos
Nesse trecho, temos a parábola dos “talentos” que foram entregues a três servos. Isto sugere que nós estamos em uma situação de trabalho e negócios, assim como a parábola anterior sugere que nós estamos em uma situação de expectativa. Aquela mostrou a necessidade de uma preparação constante, esta mostra a necessidade de verdadeira diligência no nosso trabalho e serviço atuais. Naquela, nós somos incentivados a proceder bem para as nossas próprias almas; nesta, a nos dedicarmos para a glória de Deus e o bem dos outros.
Nesta parábola:
1. O Mestre é Cristo, que é o Dono e Proprietário absoluto de todas as pessoas e coisas, e de uma maneira especial, da sua igreja; nas suas mãos, Ele tem todas as coisas.
2. Os “servos” são os cristãos, os seus próprios ser vos; assim eles são chamados; nascidos na sua casa, comprados com o seu dinheiro, dedicados ao seu louvor, e empregados em seu trabalho. É provável que isto se destine especialmente aos ministros, que são os que o auxiliam mais de perto, e são enviados por Ele. O apóstolo Paulo frequentemente dizia ser um servo de Jesus Cristo. Veja 2 Timóteo 2.24.
De maneira geral, há três pontos importantes nesta parábola:
I – O que foi confiado a esses servos. O homem “entregou-lhes os seus bens”. Tendo lhes indicado o que deviam fazer (pois Cristo não quer que os servos estejam ociosos), ele lhes deixou algo para fazer. Observe que:
1. Os servos de Cristo têm e recebem tudo dele; pois eles mesmos não têm nenhum valor, nem têm nada que possam chamar de seu, exceto o pecado.
2. O que nós recebemos de Cristo é para que trabalhemos para Ele. Os nossos privilégios têm a intenção de nos dar trabalho. A “manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil”.
3. Seja o que for que nós recebemos para usar para Cristo, ainda assim a propriedade é dele; nós somos apenas inquilinos na sua terra, “despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4.10). Considere aqui:
(1) Em que oportunidade os talentos foram confiados a estes servos. O seu mestre estava “partindo para fora da terra”, para um lugar distante. Isto está explicado em Efésios 4.8: “Subindo ao alto… deu dons aos homens”. Observe que:
[1] Quando Cristo subiu ao céu, Ele era como um homem partindo para um lugar distante; isto é, Ele partiu, com o propósito de estar ausente por muito tempo.
[2] Quando partiu, Ele se preocupou em dotar a sua igreja com todas as coisas necessárias para ela durante a sua ausência pessoal. Considerando a sua partida, Ele confiou à sua igreja verdades, leis, promessas e poder; isto era o parakatatheke – o grande depósito (como é chamado, 1 Timóteo 6.20; 2 Timóteo 1.14), “o bom depósito” que nos foi confiado; e Ele enviou o seu Espírito para capacitar os seus servos a ensinar e professar essas verdades, a colocar em vigor e observar essas leis, a aprimorar e aplicar essas promessas e a exercer e empregar esse poder, ordinária ou extraordinariamente. Assim Cristo, na sua ascensão, entregou os seus bens à sua igreja.
(2) Em que proporção os bens foram confiados.
[1] Ele entregou “talentos”. Um talento de prata, em nossa moeda, é estimado como sendo 353 libras, onze xelins e dez centavos e meio. Observe que os dons de Cristo são ricos e valiosos. A compra que Ele fez, com o seu próprio sangue, tem um valor elevado demais; este valor é inestimável.
[2] Ele deu mais a alguns, a outros, menos. ”A um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade”. Quando a Divina Providência faz uma diferença nas habilidades dos homens, quanto à mente, corpo, situação, relações e interesses, a graça divina reparte os dons espirituais de maneira correspondente, mas ainda assim a habilidade, em si mesma, vem de Cristo. Observe, em primeiro lugar, que todos receberam pelo menos um talento, e isto não é uma quantia inicial desprezível para um pobre servo. A nossa alma é o único talento que cada um de nós recebe, e é a favor dela que devemos trabalhar.
Em segundo lugar, nem todos receberam a mesma coisa, pois não tinham as mesmas habilidades e oportunidades. Deus age livre mente, conforme a sua própria vontade, e reparte “particularmente a cada um como quer”; alguns são mais talhados para trabalhos de determinado tipo, outros, de outro tipo, como membros do corpo natural. Quando o dono da casa terminou de resolver essas questões, “ausentou-se logo para longe”. O nosso Senhor Jesus, quando terminou de entregar as suas instruções aos seus apóstolos, como alguém que tem pressa de partir, foi para o céu.
II – Temos aqui um relato da maneira diferente de administrar e aprimorar o que foi confiado (vv. 16-18).
1. Dois dos servos trabalharam bem.
(1) Eles foram diligentes e leais; eles saíram “imediatamente a negociar com eles” (v. 16, versão RA. Eles utilizaram o dinheiro que lhes tinha sido confiado da maneira devida, aplicando- o em bens, e obtendo o retorno; tão logo o seu mestre tinha partido, imediatamente se aplicaram aos seus negócios. Aqueles que têm muito trabalho a fazer, como todo cristão tem, precisam iniciá-lo rapidamente, e não perder tempo. Eles saíram e negociaram. Observe que um cristão verdadeiro é um negociante espiritual. Estes negócios são chamados de mistérios, “e, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade”; é como um comércio de manufaturas; existe algo a ser feito nos nossos corações, para o bem de outros. É um comércio, uma atividade mercantil; nós abrimos mão das coisas de menor valor para nós em troca de coisas de maior valor; é um comércio de sabedoria (Provérbios 3.15; cap. 13.45). Um negociante é aquele que, tendo se decidido por este ofício, e se esforçado para aprendê-lo, se dedica ao seu negócio, direciona tudo o que tem para o sucesso do seu empreendimento, deixa todos os demais assuntos dependentes dele, e vive com o que ganha com o seu ofício. É assim que um verdadeiro cristão age no trabalho da religião; nós não temos um estoque nosso, com que negociar, mas negociamos como intermediários, com o estoque do nosso Mestre. Os dons da mente – o raciocínio, a inteligência, o estudo – devem ser usados em subserviência à religião; as alegrias terrenas – as propriedades, a credibilidade, os interesses, o poder, as preferências – devem ser aprimorados para a honra de Cristo. As ordenanças do Evangelho e as nossas oportunidades de observá-las – a Bíblia, os ministérios, os sacra mentos devem ser aprimoradas para a finalidade para a qual foram instituídas. A nossa comunhão com Deus deve ser mantida por meio delas, e os dons e as graças do Espírito devem ser exercidos; e isto significa negociar com os nossos talentos.
(2) Eles foram bem-sucedidos. Eles dobraram o que tinham, e em pouco tempo lucraram cem por cento. “O que recebera cinco talentos negociou com eles e granjeou outros cinco talentos”. Nem sempre somos bem-sucedidos quando negociamos os nossos talentos com os outros; no entanto, a atitude de negociar será positiva para nós mesmos (Isaias 49.4). Observe que “a mão dos diligentes enriquece” em graças, consolos, e tesouros de boas o bras. Existe um grande trabalho a ser feito na religião, e a este devemos dedicar muito empenho.
Observe que o lucro foi proporcional ao que os ser vos tinham recebido.
[1] Daqueles a quem Deus entregou cinco talentos, Ele espera o lucro de cinco, e uma colheita abundante onde Ele semeou com abundância. Quanto mais dons uma pessoa tiver, mais deverá se es forçar para multiplicá-los. Aqueles que têm um grande estoque para administrar precisam fazer o mesmo.
[2] Daqueles a quem Ele deu apenas dois talentos, Ele espera somente o lucro de dois, o que pode incentivar aqueles que estão situados em uma esfera de utilidade inferior e mais estreita; se eles se dispuserem a trabalhar bem, de acordo com o melhor da sua capacidade e oportunidade, eles serão aceitos, ainda que não trabalhem tão bem quanto os outros.
2. O terceiro agiu mal (v. 18): “O que recebera um foi, e cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor”. Embora a parábola represente que apenas um, em três, não foi leal, ainda assim, em uma história que responde a esta parábola, encontramos a desproporção de maneira totalmente oposta, quando dez leprosos foram limpos, nove deles esconderam o talento, e somente um voltou para dar glória (Lucas 17.17,18). O servo infiel foi aquele que recebeu apenas um talento. Sem dúvida, há muitos que recebem cinco talentos, e enterram todos eles; são aqueles que possuem grandes capacidades, grandes pontos positivos, porém não os utilizam na obra de Deus. Mas Cristo nos indica:
(1) Que se aquele que tinha somente um talento teve de prestar contas por tê-lo enterrado, muito mais serão considerados ofensores aqueles que têm mais, que têm muitos, e os enterram. Se aquele que tinha pouca capacidade foi lançado nas trevas porque não aprimorou o que tinha, “de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar” as suas maiores vantagens?
(2) Aqueles que têm menos a fazer para Deus, frequentemente fazem menos do que devem fazer. Alguns fazem do fato de que não têm as mesmas oportunidades de servir a Deus que outros têm uma desculpa para a sua negligência; e porque não têm os recursos para fazer o que dizem que farão, eles não fazem o que sabemos que poderiam fazer, e assim se sentam, e não fazem nada. Realmente agrava a sua negligência o fato de que quando têm apenas um talento para administrar, eles o negligenciam.
Ele “cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor”, temendo que fosse roubado. Ele não o gastou mal, nem o empregou mal, não o usurpou, nem o dissipou, mas o escondeu. O dinheiro é como o esterco (assim costumava dizer Lord Bacon); não serve para nada quando está amontoado, mas deve ser espalhado. Há um mal que nós temos visto frequentemente sob o sol: um tesouro acumulado (Tiago 5.3; Eclesiastes 6.1,2), que não traz o bem a ninguém. E a mesma coisa acontece com os dons espirituais; muitos os têm, e não os utilizam para a finalidade para qual eles lhes foram concedidos. Aqueles que têm propriedades, e não dispõem delas nas obras de piedade e caridade; que têm poder e vantagens, e não fazem nada com eles para promover o Evangelho nos lugares onde vivem; os ministros que têm capacidade e oportunidades de trabalhar bem, mas não despertam o dom que há neles, são aqueles servos negligentes que procuram as suas próprias coisas, em lugar das de Cristo.
Ele escondeu o dinheiro do seu senhor. O dinheiro tinha sido seu, ele poderia ter feito com ele o que desejasse. Contudo, sejam quais forem as capacidades e vantagens que tenhamos, elas não são nossas, nós apenas as administramos, e devemos prestar contas ao nosso Senhor, pois este s dons são dele. Piorava a sua negligência o fato de os seus companheiros se ocupa rem do seu negócio e serem bem-sucedidos, e o zelo deles devia ter estimulado o dele. Os outros são ativos, e nós seremos ociosos?
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