MATEUS 13: 24-43 – PARTE 2
A Parábola do Trigo e do Joio, do Grão de Mostarda, e do Fermento – Parte 2
III – Aqui está a parábola do grão de mostarda (vv. 31,32). O escopo dessa parábola é mostrar
que o início do Evangelho seria pequeno, mas que, no seu final, ele aumentaria grandemente. Desse modo, a igreja cristã, o Reino de Deus entre nós, seria implantado no mundo; desse modo, a obra ela graça no coração, o Reino de Deus dentro de nós, seria implantado dentro de cada cristão.
A respeito da obra do Evangelho, observe:
1.Que ela é geralmente muito frágil e pequena no início, como ocorre com a semente de mostarda, que é uma das menores sementes. O reino do Messias, que estava então sendo implantado, tinha pouca expressão. Cristo e os seus apóstolos, comparados com os grandes do mundo, se pareciam com a semente de mostarda, com as coisas mais frágeis do mundo. Em alguns lugares em particular, os primeiros raios da luz do Evangelho são como a aurora do dia; e nas almas em particular, o Evangelho é, inicialmente, o dia das coisas pequenas, como uma cana quebrada. Os recém-convertidos são como cordeiros que têm que ser carregados nos braços (Isaias 40.11). Nesse caso, a fé está presente, mas ainda lhes faltam muitas coisas (1 Tessalonicenses 3.10). E os gemidos, que não podem ser sequer expressos, são muito pequenos. Estes podem ser considerados o início de uma vida espiritual, e a evidência de algum movimento, mas são raramente discerníveis.
2.Que ela ainda assim está crescendo e se desenvolvendo. O reino de Cristo se firmou de uma forma surpreendente. Grandes adições lhe foram feitas, nações nasceram de uma vez, apesar de toda oposição imposta pelo inferno e pela terra. Na alma onde a graça é verdadeira, ela crescerá verdadeiramente; contudo, ela talvez nem seja sentida. Um grão de mostarda é pequeno, mas é uma semente, e tem em si uma disposição para crescei A graça estará ganhando terreno, brilhando mais e mais (Provérbio 4.18). Observe como a semente cresce: os hábitos da graça são confirmados, ocorre um avivamento que leva as pessoas à ação e a um conhecimento mais claro, a fé é cada vez mais confirmada, e o amor fica mais inflamado.
3.Que ela finalmente chegará a um grande grau de força e utilidade; quando ela tiver crescido e alcançado uma certa maturidade, ela se tornará uma árvore, bem maior em alguns países do que em outros. A igreja, como a vinha trazida do Egito, lançou raízes e encheu a terra (SaImos 80.9-11). A igreja é como uma grande árvore, em que os pássaros do céu se abrigam; o povo de Deus tem, nela, um grande auxílio para a obtenção de alimento, repouso, proteção e abrigo. Em algumas pessoas em particular, o princípio da graça, se for verdadeiro, perseverará e será finalmente aperfeiçoado. A graça que cresce será um a graça forte, e fará com que muitas coisas aconteçam. Os cristãos mais maduros devem ter o anseio de serem úteis aos outros, assim como o grão de mostarda que, quando crescido, é útil para os pássaros. Para que aqueles que vivem perto, ou sob a sua sombra, possam desfrutar preciosas bênçãos (Oseias 14.7).
IV – Aqui está a parábola do fermento (v. 33). O escopo é basicamente o mesmo da parábola anterior, para mostrar que o Evangelho deveria prevalecer e ter um sucesso gradual, silencioso, e sem ser sentido; a pregação do Evangelho é como o fermento, e trabalha como fermento nos corações daqueles que a recebem.
1.Uma mulher pegou esse fermento; era o trabalho dela. Os ministros são empregados para fermentar as almas com o Evangelho. A mulher é o vaso mais fraco, e nós temos este tesouro em vasos frágeis.
2.O fermento foi escondido em três medidas de farinha. O coração é, como a farinha, leve e maleável. E é o coração macio que tende a ser beneficiado pela Palavra. O fermento, no meio de grãos que não estão moídos, não tem efeito. Da mesma forma, o Evangelho, em almas altivas e não quebrantadas em relação ao pecado, não traz os benefícios que estão disponíveis. A lei mói o coração, e então o Evangelho age nele como fermento. Aqui se fala de três medidas de fermento, que é uma grande quantidade, pois um pouco de fermento faz crescer a massa toda. A farinha deve ser sovada, antes que receba o fermento. Da mesma forma, os nossos corações devem ser quebrantados e umedecidos, e devemos ter o cuidado de prepará-los para a Palavra, para que recebam as bênçãos que estão disponíveis. O fermento deve ser escondido no coração (SaImos 119.11), nem tanto pelo segredo (pois ele se mostrará), mas por segurança; o nosso pensamento interior deve estar nele, e devemos guardá-lo como Maria guardou as palavras de Jesus (Lucas 2.51). Quando a mulher esconde o fermento na farinha, a intenção é que ele transmita a sua essência, para que possa agir nela. Ê assim que devemos guardar e reverencial’ a Palavra em nossas almas, para que sejamos santificados por ela (João 17.17).
3.O fermento assim escondido na massa ali trabalha, ele fermenta; a Palavra é rápida e poderosa (Hebreus 4.12). O fermento trabalha velozmente, como a Palavra, mas ele trabalha gradualmente. Que súbita mudança o manto de Elias causou na vida de Eliseu! (1 Reis 19.20). A Palavra trabalha silenciosa e imperceptivelmente (Marcos 4.26), mas também forte e irresistivelmente; ela faz o seu trabalho sem barulho – pois esse é o modo do Espírito, mas o faz sem falhar. Basta esconder o fermento na massa, e nem mesmo o mundo todo poderá impedi-lo de passar o seu gosto e fazer com que seja saboreado. Embora ninguém veja como isso é feito, aos poucos tudo se torna levedado.
(1). Assim foi no mundo. Os apóstolos, pela sua pregação, esconderam um punhado de fermento na grande massa da humanidade, e ele teve um poderoso efeito; ele colocou o mundo em um processo de fermentação, e, de certa forma, virou-o de ponta cabeça (Atos 17.6), e aos poucos fez uma mudança incrível no gosto e no apetite. O sabor do Evangelho se manifestou em todos os lugares (2 Coríntios 2.14; Romanos 15.19). Assim, ele foi eficaz, não por alguma força exterior, por alguma força resistível e conquistável, mas pelo Espírito do Senhor dos Exércitos, que trabalha e ninguém pode impedir.
(2). Assim é no coração. Quando o Evangelho entra na alma:
[1] Ele causa uma mudança, não na essência (pois a massa continua sendo a mesma), mas na qualidade; ele nos traz um paladar diferente daquele que temos, e faz com que saboreemos as coisas de uma forma diferente da que fazíamos antes (Romanos 8.5).
[2] Ele causa uma mudança universal; ele se difunde em todos os poderes e faculdades da alma, alterando até mesmo as propriedades dos membros do corpo (Romanos 6.13).
[3] Essa mudança é tal que faz com que a alma compartilhe a natureza da Palavra, assim como a massa compartilha a natureza do fermento. Nós somos postos nele como em um molde (Romanos 6.17), e assim somos transformados na mesma imagem (2 Coríntios 3.18), como a impressão de um selo sobre a cera. O Evangelho tem o sabor de Deus, de Cristo, da graça e das bênçãos gratuitas, e de outro mundo; e essas coisas agora se misturam com a nossa alma, trazendo um sabor extremamente agradável. A Palavra de Deus é uma palavra de fé e arrependimento, santidade e amor, e estas virtudes são trabalhadas na alma por esta Palavra. Este sabor tão precioso é transmitido de uma forma imperceptível, pois a nossa vida está escondida. Mas a graça que permeia todo este processo, e que está na alma de cada um de nós, é inseparável, pois é uma boa pa1·te que jamais será tirada daqueles que a possuem. Quando a massa recebe a ação do fermento, ela é levedada. Então ela é levada ao forno; as provas e as aflições geralmente participam dessa mudança. Mas é assim que os santos são preparados para que se tornem pão para a mesa do nosso Mestre.
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