MATEUS 11: 25-30
O Convite de Cristo às Almas Oprimidas
Nestes versículos, temos Cristo elevando os olhos para o céu, agradecendo ao seu Pai pela soberania e pela segurança do concerto da redenção; e olhando à sua volta, a esta terra, com uma oferta para todos os filhos dos homens, a quem virão estas dádivas, os privilégios e os benefícios do concerto da graça.
I – Aqui Cristo agradece a Deus Pai pela sua generosidade a favor dos pequeninos, a quem foram revelados os mistérios do Evangelho (vv. 25,26). Jesus respondeu e agradeceu. Isto é chamado de resposta, embora não haja outras palavras registradas anteriormente, a não ser as suas próprias, porque é uma resposta muito consoladora às considerações melancólicas que a ante cedem, e contrasta com elas de maneira adequadamente equilibrada. O pecado e a destruição daquelas cidades infelizes, sem dúvida, era um pesar para o Senhor Jesus. Ele não podia fazer nada, exceto chorar por elas, como fez por Jerusalém (Lucas 19.41). Com este pensamento, portanto, Ele se alivia; e para torná-lo ainda mais animador, Ele o transforma em um agradecimento; pois apesar de tudo, existem alguns, embora ainda pequeninos, a quem as coisas do Evangelho são reveladas. Embora Israel não se una, ainda assim será uma nação gloriosa. Observe que podem os obter um grande incentivo ao erguer os olhos para Deus, quando à nossa volta não vem os nada, exceto o que nos desencoraja. É triste ver o quanto alguns homens deixam de se preocupar com a sua própria felicidade, mas é consolador pensar que aos sábios e fiéis Deus irá efetivamente assegurar os interesses da sua própria glória. Jesus respondeu e disse: “Graças te dou”. O agradecimento é uma resposta adequada aos pensamentos obscuros e inquietantes, e podem ser um meio efetivo para silenciá-los. Cânticos de louvor são alívios soberanos para as almas desalentadas, e irão ajudá-las a curar a melancolia. Quando não tem os outra resposta pronta para o que nos traz tristeza e medo, podemos recorrer a esta expressão do Senhor Jesus: “Graças te dou, ó Pai”; devemos sempre bendizer a Deus por nossa situação não ser pior do que realmente é.
Neste agradecimento de Cristo, podemos observar:
1.Os títulos que Ele dá a Deus: “Pai, Senhor do céu e da terra”. Observe:
(1) Todas as vezes que nos aproximamos de Deus – em louvor e também em oração – é bom que o vejamos como Pai, e que nos apeguemos a este relacionamento, não somente quando pedimos o que desejamos, mas também quando agradecemos pelo que recebemos. A misericórdia é, então, duplamente doce, e poderosa para abrir o coração em louvor, quando é recebida como símbolo do amor de um Pai, e como dom da mão de um Pai; dando graças ao Pai (Colossenses 1.12). É conveniente que os filhos sejam gratos e que digam: “Obrigado, Pai”, tão prontamente como “Eu oro, Pai”.
(2) Quando buscamos a Deus como Pai, devemos também nos lembrar de que Ele é o Senhor do céu e da terra; o que nos impele a nos dirigirmos a Ele com reverência, como o soberano Senhor de todas as coisas, e, além disso, com confiança, como alguém que é capaz de fazer por nós qualquer coisa que precisarmos ou pudermos desejar; de nos defender de todo o mal e de nos dar todo o bem. Cristo, representado por Melquisedeque, há muito tempo tinha agradecido a Deus como o “Possuidor dos céus e da terra”; e em todos os nossos agradecimentos pelas misericórdias que recebemos, devemos lhe dar glória, por ser a fonte superabundante.
2.Pelo que Ele dá graças: porque “ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”. “Estas coisas” – Ele não diz quais são as coisas, mas se refere às grandes coisas do Evangelho, as coisas que pertencem à nossa paz (Lucas 19.42). Assim, Ele fala enfaticamente sobre elas, “estas coisas”, porque eram coisas que o enchiam, e devem também nos encher: todas as outras coisas são nada, comparadas a estas coisas.
Observe como:
(1) As grandes coisas do Evangelho eterno estiveram e estão ocultas de muitos que foram sábios e prudentes, que foram eminentes no aprendizado e na política do mundo – alguns dos maiores intelectuais e dos maiores estadistas têm sido os maiores estranhos aos mistérios do Evangelho. O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria (1 Coríntios 1.21). Há uma oposição feita ao Evangelho por uma falsamente chamada ciência (1 Timóteo 6.20). Aqueles que são mais especializados em coisas concretas e seculares, normalmente são menos versados nas coisas espirituais. Os homens podem mergulhar profundamente nos mistérios da natureza e nos mistérios do Estado, e serem ignorantes e equivoca dos sobre os mistérios do Reino dos céus, por precisa rem de uma experiência com o poder destes mistérios.
(2) Embora os homens sábios e prudentes do mundo estejam nas trevas a respeito dos mistérios do Evangelho, até mesmo as crianças em Cristo têm o conhecimento salvador e santificador desses mistérios: “as revelas te aos pequeninos”. Assim eram os discípulos de Cristo; homens de nascimento humilde e pouca instrução; não eram intelectuais, não eram artistas, não eram políticos, eram homens sem letras e indoutos (Atos 4.13). Assim, os segredos da sabedoria, que é multiforme (Jó 11.6), são revelados às crianças e aos que mamam, para que a força possa ser suscitada das suas bocas (SaImos 8.2), e desta forma o louvor a Deus seja perfeito. Os homens instruídos do mundo não foram escolhidos para serem os pregadores do Evangelho, mas as coisas tolas do mundo (l Coríntios 2.6,8,10).
(3) Esta diferença entre os prudentes e os pequeninos é obra de Deus.
[1] Foi Ele quem ocultou estas coisas dos sábios e instruídos; Ele lhes deu funções e instrução e uma grande compreensão humana, superior à dos outros, e eles se orgulhavam disso, e descansavam sobre isso, e não procuravam nada além disso; e, portanto, Deus, com justiça, lhes nega o Espírito de sabedoria e revelação, e então, embora eles ouçam o som das notícias do Evangelho, para os tais, elas são uma coisa estranha. Deus não é o autor da sua ignorância e dos seus erros, mas Ele os deixa à sua própria sorte, e o seu pecado se torna a sua punição, e o Senhor é justo a este respeito. (veja João 12.39,40; Romanos 11.7,8; Atos 28.26,27.) Se eles tivessem honrado a Deus com a sabedoria e a prudência que tinham, Ele lhes teria dado o conhecimento dessas coisas melhore s; mas, porque eles alimentavam os seus desejos com elas, Ele ocultou esse conhecimento de seus corações.
[2] Foi também Ele quem revelou essas coisas aos pequeninos. As coisas reveladas pertencem aos nossos filhos (Deuteronômio 29.29), e a eles Deus dá uma compreensão para receber estas coisas, e as suas impressões. Desta maneira, Ele resiste aos soberbos, e “dá, porém, graça aos humildes” (Tiago 4.6).
(4) Esta dispensação deve ser decidida no âmbito da soberania divina. O próprio Cristo relacionou-a à soberania divina: “Sim, ó Pai, porque assim te aprouve”. Aqui, Cristo se sujeita à vontade do seu Pai no que se refere a este assunto. Sim, deixemos que Deus use os métodos que Ele quiser para se glorificar, e que Ele faça de nós os instrumentos que quiser, para continuarmos a sua própria obra; a graça pertence a Ele, e Ele pode concedê-la ou retê-la, de acordo com a sua vontade. Não podemos explicar por que Pedro, um pescador deveria ter sido feito apóstolo, e não Nicodemos, um fariseu e legislador dos judeus, embora ele também cresse em Cristo; mas assim aprouve a Deus. Cristo disse isto para que os seus discípulos ouvissem, para lhes mostrar que não era devido a nenhum mérito deles que estavam sendo desta maneira dignificados e distinguidos, mas puramente devido à boa vontade de Deus. Ele os criou para que fossem diferenciados.
(5) Esta maneira de dispensar a graça divina deve ser reconhecida por nós, como foi pelo nosso Senhor Jesus, com toda a gratidão. Nós devemos agradecer a Deus:
[1] Pelo fato de essas coisas serem reveladas (o mistério oculto por século gerações agora é manifestado); pelo fato de elas serem reveladas, não a poucas pessoas, mas porque serão transmitidas a todo o mundo.
[2] Pelo fato de serem reveladas aos pequeninos; pelo fato de os mansos e humildes se embelezarem com esta salvação; e esta honra é colocada sobre aqueles a quem o mundo dedica um grande desprezo.
[3] Porque a misericórdia a eles é ampliada, com o fato de que essas coisas estão ocultas dos sábios e instruídos – as graças que distinguem são as que mais obrigam. Assim como Jó adorava o nome do Senhor quando Ele lhe dava algo, ou quando lhe tirava algo, possamos também revelar aos pequeninos estas coisas que estão ocultas dos sábios e instruídos; não como sendo a sua infelicidade, mas como sendo um método pelo qual o próprio ser se humilha, os pensa mentos 01·gulhosos são destruídos, toda a carne é silenciada, e o poder e a sabedoria divinos brilham de modo ainda mais intenso. Veja 1 Coríntios 1.27,31.
II – Aqui Cristo faz uma graciosa oferta dos benefícios do Evangelho a todos, e estes são as coisas que são reveladas aos pequeninos (v. 25 etc.). Observe aqui:
1.O prefácio solene que introduz este chamado ou convite, tanto para chamar a nossa atenção a ele como para nos incentivar a estar de acordo com ele. Para que possamos ter um forte consolo, procurando refúgio nesta esperança que é colocada diante de nós, Cristo assinala a sua autoridade apresentando as suas credenciais. Nós veremos que Ele tem autoridade para fazer esta oferta.
Ele nos apresenta duas situações (v. 27):
(1) A sua comissão da parte do Pai: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai”. Cristo, sendo Deus, é igual, em poder e glória, ao Pai; mas como Mediador, Ele recebe o seu poder e a sua glória do Pai; Ele tem todo o julgamento sujeito a si. Ele está autorizado a estabelecer um novo concerto entre Deus e os homens, e a oferecer paz e felicidade ao mundo apóstata, nos termos que Ele julga adequados. Ele foi santificado e sela do para ser o único plenipotenciário, para conciliar e estabelecer este grande relacionamento. Para isto, Ele tem “todo o poder no céu e na terra” (cap. 28.18); tem poder sobre toda carne (João 17.2); autoridade para todo o juízo (João 5.22,27). Isto nos incentiva a ir a Cristo, pois só Ele está designado pelo Pai para nos receber, e nos dar aquilo que precisamos. Aquele que é o Senhor de todas as coisas lhe entregou tudo para que este objetivo seja alcançado. Todos os poderes, todos os tesouros, estão na sua mão. Observe que o Pai entregou todas as suas coisas nas mãos do Senhor Jesus; só temos que entregar as nossas coisas na sua mão, e o trabalho estará feito. Deus fez de Jesus o grande Juiz, o bendito Árbitro, para estender a sua mão sobre nós; e o que nós devemos fazer é concordar com a referência, é sujeitar-nos à arbitragem do Senhor Jesus, para que esta infeliz controvérsia seja resolvida, e para que possamos receber a sua recompensa.
(2) A sua intimidade com o Pai: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho”. Isto nos dá uma satisfação a mais, e muito abundante. Os embaixadores costumam ter não apenas as suas comissões, que eles apresentam, mas as suas instruções, que eles reservam a si mesmos, para fazer uso delas quando houver oportunidades nas suas negociações. O nosso Senhor Jesus tinha as duas coisas, não somente a autoridade, mas a capacidade para a sua tarefa. Ao ordenar o grande pacto ela nossa redenção, o Pai e o Filho são as principais partes interessadas; um conselho ele paz haverá entre ambos (Zacarias 6.13). Portanto, eleve ser um grande incentivo para que sejamos assegurados ele que Eles se compreendiam muito bem a respeito deste assunto; que o Pai conhecia o Filho, e o Filho conhecia o Pai, e ambos com perfeição (uma consciência mútua, podemos dizer, entre o Pai e o Filho), para que não houvesse engano ao estabelecer esta questão; pois sempre há enganos entre os homens na conclusão de contratos e no rompimento ele medidas adotadas, por causa ela sua falta ele compreensão entre si. O Filho tinha estado no seio elo Pai desde a eternidade; Ele era um membro do conselho ele gabinete (João 1.18). Cristo estava com Ele, como seu aluno (Provérbios 8.30), ele modo que ninguém conhece o Pai, senão o Filho, acrescenta Ele, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Observe:
[1] A felicidade dos homens está no conhecimento de Deus; é a vida eterna, é a per feição dos seres racionais.
[2] Aqueles que desejarem conhecer a Deus, devem procurar a Jesus Cristo; pois a luz do conhecimento da glória de Deus brilha na face de Cristo (2 Coríntios 4.6). Nós somos impelidos a Cristo por toda a revelação que temos ela vontade e do amor de Deus Pai, desde que Adão pecou; não existe uma relação confortável entre um Deus santo e um homem pecador, a não ser por meio de um Mediador (João 14.6).
2.Aqui nos é feita a própria oferta, e também um convite para aceitá-la. Depois de um prefácio solene, nós podemos esperar algo muito grandioso, e são palavras leais e dignas de toda a aceitação; palavras pelas quais nós podemos ser salvos. Aqui, somos convidados a ter Cristo como nosso Sacerdote, Príncipe e Profeta, para sermos salvos. E, para alcançarmos isto, devemos ser governados e ensinados por Ele.
(1) Devemos ir a Jesus Cristo como o nosso descanso, e repousar nele (v. 28), “Vinde a mim, todos os que es tais cansados”. Observe:
[1] O caráter das pessoas que são convidadas: “Todos os que estais cansados, e oprimidos”. Esta é uma boa palavra ao que está cansado (Isaias 50.4). Que aqueles que reclamam do peso da lei cerimonial, que era um jugo insuportável, e ficava ainda pior pela tradição elos anciãos (Lucas 11.46), venham a Cristo, e serão aliviados. Ele veio para libertar a sua igreja deste jugo, para anular a imposição destes rituais carnais, e para apresentar uma maneira mais pura e espiritual de adorar – mas é necessário compreender o peso elo peca do, tanto da culpa como elo poder maligno que ele traz. Observe que são convidados para descansar em Cristo todos aqueles, e somente aqueles, que percebem que o pecado é um peso, e que gemem sob este peso; os que não somente estão convencidos elo mal do pecado, do seu próprio pecado, mas que, por esta razão, são contritos de alma; que realmente estão cansados dos seus pecados, cansados ele servir ao mundo e à carne; que veem a sua triste e perigosa condição em razão do pecado, e que sofrem e temem por isto, como Efraim (Jeremias 31.18-20), o filho pródigo (Lucas 15.17), o publicano (Lucas 18.13), os ouvintes de Pedro (Atos 2.37 ), Paulo (Atos 9.4,6,9), e o carcereiro (Atos 16.29,30). Este é um preparativo necessário para o perdão e para a paz. O Consolador deve primeiramente convencer (João 16.8). “Fez a ferida e a ligará” (Oseias 6.1). “Eu firo e eu saro” (Deuteronômio 32.39).
[2] O próprio convite: “Vinde a mim”. Esta maravilhosa demonstração da grandeza de Deus, que nós tivemos (v. 27), como Senhor de todas as coisas, pode nos afugentar dele, mas veja aqui como Ele segura o cetro de ouro, para que possamos tocar o seu topo e viver. Observe que é dever e interesse dos pecadores cansados e oprimidos vir até Jesus Cristo. Renunciando a todas aquelas coisas que estão em oposição a Ele, ou que competem com Ele, nós devemos aceitá-lo, como nosso Médico e Advogado, e desistir de nós mesmos, pela sua conduta e pelo seu governo; desejando livremente ser salvos por Ele, à sua maneira, e de acordo com as suas condições. Venha, e jogue este peso sobre Ele, este peso que lhe oprime. Este é o convite do Evangelho: “O Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha”.
[3] A benção prometida a todos aqueles que vierem: “Eu vos aliviarei”. Cristo é o nosso Noé, cujo nome significa descanso, pois Ele “nos dará descanso das nossas obras e do trabalho das nossas mãos” (Genesis 5.29; 8.9, versão TE). Verdadeiramente, o descanso é bom (Genesis 49.15), especialmente àqueles cansados e oprimidos (Eclesiastes 5.12). Observe que Jesus Cristo dará um descanso assegurando àquelas almas cansadas, que por meio de uma fé viva venham até Ele, procurando este descanso; descanso do terror do pecado, numa paz de consciência bem fundamentada; descanso do poder do pecado, numa ordem regular da alma, e do seu próprio governo; um descanso em Deus e uma complacência da alma, no seu amor (Salmos 11.6 ,7). Este é o repouso que resta para o povo de Deus (Hebreus 4.9), que se inicia na graça e se aperfeiçoa na glória.
(2) Nós devemos ir a Jesus Cristo como nosso Governante, e nos submetermos a Ele (v. 29). “Tomai sobre vós o meu jugo”. Isto acompanha o versículo anterior, pois Cristo é exaltado para ser o Príncipe e também o Salvador, o Sacerdote sobre o seu trono. O repouso que Ele promete é um alívio do trabalho árduo do pecado, não do serviço a Deus, e não deixa de ser uma obrigação e um dever que temos para com Ele. Cristo tem um jugo para os nossos pescoços, e também uma coroa para as nossas cabeças, e Ele espera que este jugo nos atraia e que o tomemos sobre nós. Convidar os que estão cansados e oprimidos para que tomem sobre si um jugo, parece aumentar a aflição dos aflitos, mas a pertinência disso está na palavra “meu” “Vocês estão sob um jugo que os deixa cansados; tirem este jugo e experimentem o meu, que será mais fácil para vocês”. Diz-se que os servos estão debaixo de um jugo (1 Timóteo 6.1), assim como os súditos (1 Reis 12.10). Tomar o jugo de Cristo sobre nós significa colocarmo-nos da mesma maneira que os servos e os súditos dele, e nos conduzir adequadamente, em uma obediência consciente a todos os seus mandamentos, e em uma submissão alegre a todas as suas vontades; é obedecer ao Evangelho de Cristo, rendermo-nos ao Senhor: é o jugo de Cristo; o jugo que Ele indicou; um jugo que Ele mesmo apresentou diante de nós, pois Ele aprendeu a obediência. Ele faz uma obra através do seu Espírito que habita e opera dentro de cada um de nós, pois Ele nos ajuda nas nossas fraquezas (Romanos 8.26). Um jugo dá a entender uma dose de dificuldades, mas se o animal precisa puxar, o jugo o ajuda. Os mandamentos de Cristo são todos a nosso favor: nós devemos tomar este jugo sobre nós para nos ajudar. Nós tomamos o jugo para trabalhar; portanto, devemos ser diligentes. Nós tomamos o jugo para nos sujeitar; portanto, devemos ser humildes e pacientes. Nós tomamos o jugo juntamente com nossos irmãos, que também são servos; portanto, devemos guardar a comunhão dos santos; e as palavras do sábio são como um incentivo para aqueles que tomam este jugo sobre si.
Esta é a parte mais difícil da nossa lição, e, por esta razão, ela é especificada (v. 30): “O meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. Vocês não precisam ter medo dele.
[1] O jugo dos mandamentos de Cristo é um jugo suave; não apenas suave, mas gracioso, este é o significado desta palavra. É doce e agradável, não há nada nele que machuque o pescoço que ele prende, nada que nos machuque, mas, ao contrário, ele nos alivia. É um jugo que está alinhado com o amor. Esta é a natureza de todos os mandamentos de Cristo, tão razoáveis em si mesmos, tão proveitosos para nós, e tudo resumido em uma única palavra, e que palavra doce: amor. Tão pode rosa é a ajuda que Ele nos dá, tão adequados são os incentivos, e tão fortes os consolos, que devem ser encontrados no caminho do dever, que nós podemos verdadeiramente dizer: É um jugo de conforto. É suave para a nova natureza, muito fácil de ser carregado por aquele que tem conhecimento (Provérbios 14.6). Pode ser um pouco difícil no início, mas depois se torna fácil, suave; o amor de Deus e a esperança do céu o tornarão suave.
[2] O fardo da cruz de Cristo é um fardo leve, muito leve. As aflições de Cristo, que acontecem conosco como homens; os sofrimentos por amor a Cristo, que nos acontecem como cristãos – estes têm um significado especial. Este fardo, por si mesmo, não é alegre, mas triste; ainda assim, por ser de Cristo, é leve. Paulo o conhecia como qualquer homem, e ele o chama de leve tribulação (2 Coríntios 4.17). A presença de Deus (Isaias 43.2), a com paixão de Cristo (Isaias 73.9; Daniel 3.25), e especialmente a consolação do Espírito (2 Coríntios 1.5), tornam o sofrimento por amor a Cristo algo leve e suave. Quando abundam os sofrimentos, e são prolongados, também abundam os consolos, que são também prolongados. Devem os, portanto, nos reconciliar com as dificuldades, e nos ajudar em meio aos desânimos que podemos encontrar, tanto realizando o trabalho como sofrendo o trabalho: embora possamos perder algo por amor a Cristo, não seremos perdidos por Ele.
(3) Nós devemos procurar Jesus Cristo como nosso Mestre, e nos dispormos a aprender com Ele (v. 29). Cristo edificou uma grande escola e nos convidou para sermos seus alunos. Nós devemos entrar, nos relacionarmos com seus alunos e comparecer diariamente para as instruções que Ele dá, por meio da sua palavra e do seu Espírito. Nós devemos conversar muito sobre o que Ele disse, estando preparados para utilizar as suas palavras em todas as ocasiões. Devemos estar em conformidade com o que Jesus fez, e seguir as suas pisadas (1 Pedro 2.21). Alguns fazem das palavras “sou manso e humilde de coração” uma lição particular que nós devemos aprender do exemplo de Cristo. Devemos aprender dele a ser mansos e humildes, e devemos mortificar o nosso orgulho e a nossa paixão, que nos tornam tão diferentes dele. Devemos aprender as lições ensinadas por Cristo, como também as lições a respeito de Cristo (Efésios 4.20), pois Ele é, ao mesmo tempo, o mestre e a própria Lição, a Orientação e o Caminho; Ele é Tudo em Todos.
São dadas duas razões pelas quais devemos aprender mais a respeito de Cristo.
[1] “Sou manso e humilde de coração”, e, desta forma, capacitado para lhe ensinar. Em primeiro lugar, Ele é manso, e pode ter compaixão dos ignorantes, com quem os outros poderiam ter algum aborrecimento. Muitos professores capacitados são temperamentais e apressados, o que é um grande desencorajamento para aqueles que são menos inteligentes, ou lentos, mas Cristo sabe como suportar isto e como abrir o entendimento dessas pessoas. A sua maneira de lidar com os seus doze discípulos foi um exemplo disso. Ele era manso e gentil com eles, e aproveitou o máximo deles. Embora eles fossem desatentos e esquecidos, Ele não era extremado, a ponto de destacar as suas tolices. Em segundo lugar, Ele é humilde de coração. Ele condescende para ensinar a pobres alunos, e novos convertidos. Ele escolheu discípulos, não da corte, nem das escolas, mas do litoral. Ele ensina os primeiros princípios, coisa que são como leite para os bebês. Ele se curva às capacidades mais inferiores. Ele ensinou Efraim a andar (Oseias 11.3). Quem ensina como Ele? É um incentivo para nós frequentar a escola de tal professor. Esta humildade e mansidão qualificam-no para ser o Mestre, e estas serão as melhores qualificações daqueles que serão ensinados por Ele; pois Ele guiará os humildes na justiça (Salmos 25.9, versão RA).
[2] “Encontrareis descanso para a vossa alma”. Esta promessa é emprestada de Jeremias 6.16, pois Cristo gostava de se expressar usando a linguagem dos profetas, para mostrar a harmonia entre os dois Testamentos. Observe, em primeiro lugar, que o descanso para a alma é o descanso mais desejável; ter a alma descansada. Em segundo lugar a única maneira, e uma maneira garantida, de encontrar descanso para a nossa alma, é sentarmo-nos aos pés de Cristo e ouvir a sua palavra. O caminho do dever é o caminho para o descanso. O entendimento encontra descanso no conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, e ali é abundantemente satisfeito, encontrando no Evangelho aquela sabedoria que foi buscada em vão em meio a toda a criação (Jó 28.12). As verdades que Cristo ensina são tais que nós podemos arriscar a nossa alma nelas. Os enfermos irão encontrar descanso no amor de Deus e Jesus Cristo, e neles encontrar o que lhes dará uma satisfação abundante, tranquilidade e certeza para sempre. E estas satisfações serão perfeitas e perpetuadas no céu, onde veremos e apreciaremos a Deus imediatamente, e o veremos como Ele é, e o apreciaremos como Ele nos aprecia. Este descanso se dará com Cristo, para todos aqueles que aprendem dele.
Pois bem, este é o resumo e o conteúdo do chamado e da oferta do Evangelho: aqui nós lemos, em poucas palavras, o que o Senhor Jesus deseja de nós, e isto está de acordo com aquilo que Deus disse repetidas vezes a respeito dele: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o”.
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