ALIMENTO DIÁRIO

MATEUS 11: 1-6

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Os Discípulos de João Vão a Cristo

O primeiro versículo deste capítulo de alguma maneira se une ao capítulo anterior, e promove o seu encerramento (não inadequadamente).

1.O sermão de ordenação (“Jesus enviou estes doze e lhes ordenou, dizendo…”) que Cristo pregou aos seus discípulos no capítulo anterior aqui é chamado de “instruções” (ou “ordens”, versão NTLH). Note que as comissões de Cristo implicam em mandamentos ou ordens. A pregação do Evangelho não apenas lhes era permitida, mas também lhes era imposta. Não era algo que eles pudessem deixar à sua própria vontade, mas a necessidade lhes era imposta (1 Coríntios 9.16). As promessas que Ele lhes fez estavam incluídas nestes mandamentos, pois o concerto da graça é uma palavra que Ele tinha ordenado (SaImos 105.8). Ele deu significado à ordem. As instruções que Cristo dá são instruções completas. Ele dá prosseguimento ao seu trabalho.

2.Quando Cristo disse o que tinha a dizer aos seus discípulos, Ele se separou deles. A impressão que temos é que eles estavam muito relutantes em abandonar o seu Mestre, até que Ele partisse e se separasse deles; como a babá que retira a mão para que a criança possa aprender a andar sozinha. Cristo agora os ensinaria como viver e como trabalhar sem a sua presença física. Era conveniente para eles, então, que Cristo se afastasse durante algum tempo, para que eles pudessem se preparar para a sua longa partida e para que, com a ajuda do Espírito, as suas próprias mãos lhes bastas­ sem (Deuteronômio 33.7), e para que eles não fossem sempre como crianças. Nós temos poucas informações sobre o que eles fizeram de aco1·do com a sua missão. Eles foram para outros lugares, sem dúvida; provavelmente para a Judéia (pois, até então, o Evangelho tinha sido pregado principalmente na Galileia), transmitindo a doutrina de Cristo e realizando milagres no seu nome – mas ainda com uma dependência imediata dele, e não muito distantes dele. E assim, eles foram treinados, por etapas, para a grande obra que lhes fora confiada.

3.Cristo partiu, para ensinar e pregar nas cidades às quais Ele enviou os seus discípulos antes dele, para realizar milagres (cap. 10.1-8), e assim aumentar as expectativas do povo, e abrir caminho para que o recebessem. Assim foi preparado o caminho do Senhor. João o preparou trazendo as pessoas ao arrependimento, mas ele não realizou milagres. Os discípulos foram mais além, eles realizaram milagres para a confirmação. O arrependimento e a fé preparam as pessoas para as bênçãos do Reino dos céus, que Cristo concede. Observe que quando Cristo lhes deu o poder de realizar milagres, Ele se ocupou de ensinar e pregar, como se esta fosse a opção mais honrosa. E isto está correto. Curar os enfermos é salvar os corpos, mas pregar o Evangelho é salvar almas. Cristo enviou os seus discípulos para pregar (cap. 10.7), mas Ele mesmo não deixou de pregar. Ele os enviou para trabalhai; não para o seu próprio bem, mas para o bem da nação, e não ficou menos ocupado por empregá-los. Como são pouco parecidos com Cristo aqueles que empregam os outros somente para que eles mesmos possam ficar ociosos! Observe que o crescimento na quantidade de obreiros no trabalho do Senhor deveria não representar uma desculpa para a nossa negligência, mas sim um incentivo para a nossa diligência. Quanto mais ocupados os outros estão, mais ocupados nós deve­ ríamos estar, e isto ainda seria insuficiente, pois há muito trabalho ainda por ser feito. Observe que Ele foi pregar nas cidades deles, que eram lugares muito habitados. Ele lançou a rede cio Evangelho onde havia mais peixes para serem apanhados. A sabedoria clama nas cidades (Provérbios 1.20-21), à entrada da cidade (Provérbios 8.3), nas cidades dos judeus, mesmo daqueles que faziam pouco dele, e que, apesar disso, receberam a oferta da salvação em primeiro lugar.

O que Ele pregou, não sabemos, mas provavelmente tinha o mesmo objetivo que o seu sermão da montanha. Mas em seguida encontra-se registrada uma mensagem que João Batista enviou a Cristo, e a sua retomada daquele sermão (5.2-6). Anteriormente, descobrimos que Jesus ouviu falar dos sofrimentos de João (cap. 4.12). Agora vemos que João, na prisão, ouve falar dos feitos de Cristo. Ele ouviu na prisão sobre as obras de Cristo. E sem dúvida ficou feliz em ouvir isto, pois ele era um verdadeiro amigo do esposo (João 3.29). Observe que quando algum instrumento útil é deixado de lado, Deus sabe como utilizar outros no seu lugar. O trabalho prosseguiu, embora João estivesse na prisão, e isto não acrescentou nenhuma aflição às correntes que o prendiam, mas sim uma boa dose de consolo. Não há nada mais confortador ao povo de Deus que está em sofrimento do que ouvir falar das obras de Cristo especialmente senti-las em suas próprias almas. Isto transforma uma prisão em um palácio. De uma maneira ou de outra, Cristo irá transmitir as notícias do seu amor àqueles que estão com problemas de consciência. João não podia ver as obras de Cristo, mas ouviu falar delas com satisfação. E “bem-aventurados os que não viram”, mas só ouviram, “e creram”.

João Batista, ao ouvir falar das obras de Cristo, enviou ao encontro dele dois de seus discípulos, e o que aconteceu entre eles e Jesus é relatado aqui.

 

I – A pergunta que eles deviam propor a Jesus: “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?” Era uma pergunta séria e importante. Em outras palavras: “Tu és o Messias prometido, ou não? Tu és o Cristo? Diga-nos”.

1.Era admitido como verdadeiro o fato de que o Messias iria vir. Este era um dos nomes pelos quais os santos do Antigo Testamento o conheciam, ”Aquele que vem” (SaImos 118.26), ou ”Aquele que há de vir”. Ele já veio, mas há outra vinda sua que nós ainda devemos esperar.

2.Eles dão a entender que, se este não fosse o Messias, eles iriam procurar por outro. Note que não devemos nos cansar de procurar por aquele que há de vir nem jamais dizer que não mais o esperaremos até que nos unamos a Ele. Embora Ele tarde, espere por Ele, pois aquele que há de vir, virá, ainda que não seja em nossa época.

3.Da mesma maneira, eles dão a entender que se ficarem convencidos de que Jesus é o Cristo, não serão céticos, ficarão satisfeitos e não irão procurar por outro.

4.Sendo assim, eles perguntam: “És tu aquele?” João, por sua vez, tinha dito: “Eu não sou o Cristo” (João 1.20).

(1) Alguns pensam que João enviou esta pergunta para a sua própria satisfação. É verdade que ele tinha dado um nobre testemunho a respeito de Cristo; João tinha declarado que Ele era o Filho de Deus (João 1.34), o Cordeiro de Deus (João 1.29), e que Ele batizaria com o Espírito Santo (João 1.33), e que era o enviado de Deus (João 3.34); estas eram informações preciosas. Mas ele queria ter certeza de que Ele era o Messias prometido havia tanto tempo, e durante tanto tempo esperado. Observe que em questões relativas a Cristo e à nossa salvação por Ele, é bom termos plena certeza. Cristo não apareceu naquela pompa e naquele poder em que alguns esperavam que Ele aparecesse. Os seus próprios discípulos hesitaram em vista disso, e talvez João também o tenha feito. Cristo percebeu isso no final dessa investigação, quando disse: “Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em mim”. Note que é difícil, até mesmo para os homens bons, suportar erros comuns.

(2) A dúvida de João pode ter nascido das suas próprias condições atuais. Ele era um prisioneiro, e pode ter sido tentado a pensar: Se Jesus é realmente o Messias, como pode ser que eu, seu amigo e precursor, seja trazido a esta situação, e deixado tanto tempo nela, e Ele nunca se preocupe comigo, nunca me visite, nem mande saber de mim, não faça nada, nem para diminuir o meu aprisionamento nem para apressar a minha libertação? Sem dúvida, havia um bom motivo porque o Senhor Jesus não foi visitar João na prisão – para que não parecesse haver um acordo entre eles. Mas João pode ter interpretado a situação corno negligência, e isto talvez possa ter sido um choque para a sua fé em Cristo. Observe:

[1) Mesmo onde existe fé verdadeira, pode haver uma mescla de descrença. Nem mesmo os melhores são, sempre, igualmente fortes.

[2] Os problemas que passamos por Cristo, especialmente quando eles duram muito tempo sem alívio, são como provas de fé que algumas vezes provam ser difíceis demais de suportar.

[3] A descrença remanescente dos homens bons pode, algumas vezes, em um momento de tentação, atingir a raiz e questionar as verdades mais fundamentais que deveriam estar bem estabelecidas. O Senhor abandona para sempre? Mas nós temos esperança de que a fé de João não falhou nessa questão – ele somente desejava tê-la confirmada e fortalecida. Observe que os melhores santos têm necessidade da melhor ajuda que puderem ter para o fortalecimento da sua fé e para a sua proteção contra as tentações à infidelidade. Abraão creu, e ainda assim desejou um sinal (Genesis 15.6,8), e a mesma coisa aconteceu com Gideão (Juízes 6.36). Mas:

(3) Outros pensam que João enviou seus discípulos a Cristo com esta pergunta, não tanto para a sua própria satisfação como para a deles. Note que embora ele fosse um prisioneiro, eles o seguiam, cuidavam dele e estavam prontos para receber instruções dele. Eles o amavam e não iriam deixá-lo. Entretanto:

[1]. Eles eram fracos em conhecimento, e eram hesitantes na sua fé, e precisavam de instrução e confirmação; e nessa questão, eles tinham um pouco de preconceito. Por zelo ao seu mestre, eles tinham ciúmes do nosso Mestre. Eles se negavam a reconhecer que Jesus era o Messias, porque Ele eclipsava João – e se negavam a crer no seu próprio mestre quando pensavam que ele falava contra si mesmo e contra eles. Os bons homens são capazes de ter os seus julgamentos abençoados pelo seu interesse. Com isso, João corrigiria os enganos deles, e desejava que eles ficassem tão satisfeitos quanto ele mesmo estava. Observe que o forte deve considerar a indecisão do fraco, e fazer o que puder para ajudá-lo; assim, quando não conseguimos resolver tudo sozinhos, devemos buscar aqueles que podem nos ajudar. “Quando te converteres, confirma teus irmãos”.

[2] Durante todo o tempo, João se empenhou em entregar os seus discípulos a Cristo, como se estivesse transferindo-os da escola elementar para a faculdade. Talvez ele tenha sentido que a sua morte se aproximava, e, portanto, queria trazer os seus discípulos a um melhor conhecimento de Cristo, sob cuja guarda ele precisaria deixá-los. Observe que a função dos ministros é conduzir todos a Cristo. E aqueles que conhecem a certeza da doutrina de Cristo devem se aplicar a Ele, que veio para nos dar entendimento. Aqueles que desejam crescer na graça devem ser inquiridores.

 

II – Aqui está a resposta de Cristo à pergunta deles (vv. 4-6). Ela não foi tão direta e expressa como quando Ele disse: “Eu o sou, eu que falo contigo”; mas foi uma resposta verdadeira, uma resposta de fato. Cristo quer que transmitamos as evidências convincentes das verdades do Evangelho, e que nos esforcemos para obter conhecimento.

1.Ele lhes enfatiza o que eles ouviram e viram, coisas que deveriam contar a João, para que ele pudesse, a partir de então, aproveitar a oportunidade mais plenamente para instruí-los e convencê-los, a partir das suas próprias bocas. “Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes”. Note que os nossos sentidos podem e são atraídos a estas coisas que são os seus objetos apropriados. Portanto, a doutrina papista ela presença real não está de acordo com a verdade, segundo Jesus; pois Cristo nos aponta para as coisas que vemos e ouvimos. Ide e anunciai a João,

(1) O que vocês viram sobre o poder dos milagres de Cristo. Vocês veem como, pela palavra de Jesus, os cegos veem, e os coxos andam etc. Os milagres de Cristo eram realizados abertamente, à vista ele todos; pois estes não temeriam os escrutínios mais fortes e mais imparciais. Os milagres devem ser considerados:

[1] Como atos do poder divino. Ninguém, exceto o Deus da natureza, poderia dominar e exceder desta maneira o poder da natureza. Fala-se particularmente como sendo prerrogativa ele Deus abrir os olhos aos cegos (SaImos 146.8). Os milagres, portanto, são o grande selo do céu, e a doutrina à qual eles são afixados deve ser a de Deus, pois o seu poder nunca irá contradizer a sua verdade; nem se pode imaginar que Ele colocasse o seu seio em uma mentira. Por mais que maravilhas mentirosas possam ser testemunhadas como evidências ele falsas doutrinas, os verdadeiros milagres evidenciam uma comissão divina – assim eram os milagres de Cristo, e não deixavam campo para dúvida de que Ele era enviado por Deus e de que a sua doutrina era daquele que o enviou.

[2] Como o cumprimento de uma predição divina. Tinha sido predito (Isaias 35.5,6) que o nosso Deus viria, e que então se abririam os olhos dos cegos. Se as obras de Cristo estão de acordo com as palavras do profeta, como claramente estão, então não há dúvida de que este é o nosso Deus, que nós esperamos, que virá com uma recompensa; este é aquele que é tão esperado e desejado.

(2) Anunciai a João a pregação do seu Evangelho, que vocês ouviram, acompanhada pelos seus milagres, que vocês viram. A fé, embora confirmada com a visão, vem por meio da audição. Digam a ele:

(1) Que os pobres pregam o Evangelho; também alguns o leem. Isto prova a missão divina de Cristo, o fato de que aqueles que Ele empregou para a fundação do seu reino eram homens pobres, destituídos de todas as vantagens seculares, e que, portanto, não poderiam nunca ter transmitido a sua mensagem se não tivessem sido portadores de um poder divino.

(2) Que aos pobres é anunciado o evangelho. O público de Cristo é constituído daqueles que os escribas e os fariseus desprezavam e consideravam com pouco caso, e que os rabinos não educavam, porque queriam ser pagos. Os profetas do Antigo Testamento foram enviados principalmente a reis e príncipes, mas Cristo pregou às congregações dos pobres. Tinha sido predito que os pobres do rebanho o aguardariam (Zacarias 11.11). Note que a condescendência e a compaixão graciosa de Cristo pelos pobres são uma evidência de que era Ele quem iria trazer ao mundo as graças e a misericórdia do nosso Deus. Tinha sido predito que o Filho de Davi seria o Rei dos pobres (SaImos 72.2,4,12,13), ou podemos interpretar não tanto dos pobres do mundo, mas sim dos pobres de espírito, e desta forma a Escritura se cumpre (Isaias 61.1): “O Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos”. Observe que é uma prova da missão divina de Cristo que a sua doutrina seja realmente o Evangelho – boas-novas àqueles que se humilham verdadeiramente em tristeza pelos seus pecados, e verdadeiramente se humilham na negação de si mesmos. Para eles é adequada a missão, por aqueles a quem Deus sempre declarou que tinha misericórdia reservada.

(3) Que os pobres recebem o Evangelho, e por meio dele são transformados, são evangelizados; recebem o Evangelho e lhe dão as boas-vindas, são influenciados por ele, e são modelados por ele. Note que a maravilhosa eficiência do Evangelho é uma prova da sua origem divina. Os pobres são transformados por ele. Os profetas reclamavam dos pobres, porque não sabiam o caminho do Senhor (Jeremias 5.4). Eles não podiam fazer nenhum bem a eles; mas o Evangelho de Cristo conseguiu alcançar as suas mentes não instruídas.

2.Ele pronuncia uma bênção àqueles que se não escandalizarem nele (v. 6). Tão claras são estas evidências da missão de Cristo, que aqueles que não tinham preconceito voluntário contra Ele, e não se escandalizavam nele (esta é a palavra), não podem deixar de receber a sua doutrina, e dessa forma são abençoados por Ele. Observe:

(1) Há muitas coisas em Cristo com que os ignorantes e sem discernimento podem se ofender, algumas circunstâncias pelas quais rejeitam o conteúdo do seu Evangelho. A insignificância da sua aparência, a sua educação em Nazaré, a pobreza da sua vida, a indignidade dos seus seguidores, o desprezo que as autoridades lhe dedicavam, a rigidez da sua doutrina, a contradição que ela traz quanto à carne e ao sangue, e os sofrimentos que acompanham a profissão do seu nome. São coisas que mantêm muitos afastados dele, e que, não fosse por isso, veriam a presença de Deus Pai nele. Assim Ele é posto para a queda de muitos em Israel (Lucas 2.34), uma rocha de escândalo (1 Pedro 2.8).

(2) Bem-aventurados são aqueles que superam estas ofensas. A expressão dá a entender que é difícil derrotar estes preconceitos, e é perigoso não derrotá-los; mas quanto aqueles que, apesar dessa oposição, creem em Cristo, a sua fé fará com que louvem, honrem e glorifiquem ao Senhor.

GESTÃO E CARREIRA

MENINA DE OURO

Menina de ouro

Conheça Nathália Arcuri, que acaba de fazer seu primeiro milhão de reais ensinando finanças pessoais de maneira divertida no YouTube.

Há pouco mais de 6 meses, Nathália Arcuri foi eleita a personalidade brasileira mais relevante da internet na categoria empreendedorismo e negócios. O reconhecimento, dado na segunda edição do Prêmio Influenciadores Digitais, promovido pela revista Negócios da Comunicação e pelo Centro de Estudos da Comunicação (Cecom), chegou ao mesmo tempo que ela conquistou o primeiro milhão. O sucesso é fruto do Me Poupe! seu canal de finanças no Youtube.  Formada em jornalismo, a paulistana de 32 anos classifica o próprio trabalho como “entretenimento financeiro”. O que faz, na prática, é ensinar ao público leigo o bê-á-bá da economia de um jeito informal e divertido. Nos mais de 260 vídeos postados na plataforma, ela usa fantasia, conta piadas, faz palhaçadas. Enfim, tira a chatice do economês. E tem dado certo. Em dois anos e meio, ganhou uma legião de seguidores. Hoje, mais de 625.000 pessoas acompanham suas publicações. O objetivo é chegar a 1 milhão até o fim do ano. Segundo a youtuber, o canal ganha, em média, 2.200 novos usuários par dia.

Para bater a meta, Nathália trabalha cerca de 11 horas diárias, sete dias na semana. Além das gravações para o YouTube (ela posta dois vídeos semanais, sempre às 20 horas), comanda um programa semanal na Rádio 89 FM, faz aparições na mídia e dá palestras e Workshops em empresas e eventos. Tudo para elevar sua popularidade e claro, os lucros do canal, que conta com oito funcionários, entre produtor, editor e gerente comercial. No ano passado, o Me Poupe! faturou 400 000 reais com publicidade. Em 2018, deve fechar com quase o quádruplo disso, 1,5 milhão de reais. “Poderia ser mais, mas tenho restrições a alguns tipos de merchandising. Não posso incentivar as pessoas a comprar algo que não seja interessante”, diz a youtuber, que já realizou ações com marcas como Microsoft, Volkswagen, ltaú, Santander, Bradesco e Sebrae.

Saber precificar seu trabalho é um ponto forte de Nathália. Antes de se tornar influenciadora digital, quando ainda era repórter de TV, ela já havia conseguido mais do que dobrar sua remuneração graças a negociações salariais. O segredo: ser propositiva, saber vender o próprio peixe e dar valor a si mesma. “De 4 000 reais no SBT fui para uma remuneração mensal de 9 000 reais na Record, onde passei a apresentar o quadro sobre educação financeira Muito com Pouco, no programa Hoje em Dia. No mesmo período, mudei o nome do blog para Me Poupe! (antes, chamava-se Poupe com Sara), comprei uma câmera e criei um canal no YouTube. Logo, recebi a primeira proposta de patrocínio: 13 000 reais ao mês por um ano. Foi quando pedi demissão.”

DESDE CRIANÇA

A segurança para abandonar o trabalho formal foi reforçada pela facilidade de lidar com dinheiro, algo que traz da infância. Aos 7 anos, por exemplo, Nathália decidiu economizar para comprar um carro na maioridade. Como não recebia mesada, passou a guardar o troco do lanche da escola e a pedir dinheiro em vez de brinquedo no Natal. Aos 14, começou a fazer campanhas para marcas como Kibon para atingir seu objetivo mais rapidamente. Chegou aos 18 com 7 000 reais no cofrinho. Acabou ganhando o veículo de uma madrinha e resolveu aplicar o valor economizado. Errou feio. “Investi tudo em um fundo de alto risco. Após um ano, só tinha metade do valor inicial”, diz.

Desse momento em diante Nathália aprofundou-se nas finanças. Começou a estipular metas, a planejar compras e a devorar os principais livros de educação financeira disponíveis no mercado. Na cabeceira, passou a acumular obras como Adeus, Aposentadoria e Como Organizar Sua Vida Financeira, do autor best-seller Gustavo Cerbasi, e A Mente Acima do Dinheiro, de Ted e Brad Klontz. Fez também um curso de extensão em planejamento financeiro pessoal no lnsper, tradicional instituição de economia e administração de São Paulo.

Focada, Nathália conta que sempre evitou gastos desnecessários. O hábito rendeu até apelidos maldosos no trabalho, como “muquirana”. “As pessoas acreditam que, se você é bem-sucedido, fez algo ilícito. Sofri bullying pela forma como tratava o dinheiro, mas nunca me importei. Minhas colegas iam comer fora e eu as acompanhava, mas tirava meu lanchinho da bolsa para não gastar além do planejado”, diz. Esse tipo de atitude, ao lado de hábitos como parar o carro na rua para não pagar estacionamento, comprar verduras e legumes na xepa e só encontrar os amigos em casa, permitiu a Nathália a aquisição do primeiro imóvel à vista aos 23 anos: um apartamento no bairro Casa Verde, na zona norte de São Paulo. “Eu e meu ex-marido compramos na planta, com 15% de desconto. Quando separamos, sete anos depois, comprei a parte dele à vista. Isso me trouxe uma enorme sensação de liberdade.”

Hoje, o imóvel na Casa Verde está alugado e garante uma renda extra à youtuber. Casada há dois anos com Érico Borgo, um dos fundadores do portal de entretenimento Omelete, é ela quem cuida das finanças. O casal mora num imóvel alugado na capital. A opção, de acordo com ela, é matemática. “Optamos por uma aplicação que vai nos render 14% ao ano e pagamos uma taxa de 3,6% no aluguel.” Os investimentos de Nathália estão em fundos de renda fixa, como Tesouro Direto, e debêntures. Investir em ações é um plano para o futuro, quando as taxas de juro caírem mais. Até o primeiro semestre de 2018, ela pretende lançar seu primeiro livro, pela editora Sextante. Nele, vai ensinar aos leitores a ter independência financeira. Em 2018, voltará sua artilharia para um programa na TV aberta. O formato, já engatilhado, está em negociação. Entre os sonhos, um é ambicioso: conquistar 5 milhões de reais até 2021 – quando planeja abandonar os holofotes para se envolver em trabalhos voluntários. Que Nathália tem tudo para conseguir o montante almejado, ninguém duvida. Resta saber se, com tanta disposição, ela vai mesmo se aposentar.

 TRUQUES DE MESTRE

Dez dicas da YouTuber para você economizar e guardar dinheiro a cada mês.

1 – Estude: Conhecimento é fundamental para se dar bem com o dinheiro. Por isso, fique de olho em livros, revistas, sites e canais do YouTube que explorem o tema. Se puder, invista também em um curso na área.

2 – Faxine as contas: Avalie seus estratos bancários e veja quais itens e serviços podem ser riscados de sua lista. Se pagou seis meses de academia e foi três vezes, melhor cancelar

3 – Troque de planos e negocie descontos de telefonia, internet e TV a cabo e, se não tiver êxito em seu pedido, busque opções mais baratas.

4 – Fuja de tarifas: Osbancos oferecem contas digitais isentas de tarifas, então, para que pagar taxas? Aproveite para negociar a anuidade do cartão de crédito. Já existem cartões, como o  Nubank, que não cobram essa tarifa.

5 – Vá de taxi: Automóvel não é investimento: É um bem que custo e desvaloriza. Por isso, antes de comprar um veículo, avalie bem seu valor, a depreciação no mercado, o IPVA, o DPVAT, o seguro, o gasto que terá com garagem, manutenção e também com combustível para ter certeza de que a aquisição compensa. Se o plano for economizar, poderá ser mais inteligente andar de taxi ou com o auxílio de APPs de transporte.

6 – Tenha metas: De curto, médio e longo prazo. Ter objrtivos atingíveis é essencial para guiar um planejamento. No curto prazo, coloque os cursos que deseja fazer em breve e deixe para o longo prazo as metas mais difíceis, como a compra da casa própria e a posentadoria.

7 – Não faça dívidas: Conte com seu orçamento mensal real e priorize compras que caibam no seu bolso e possam ser pagas à vista e com desconto.

8 – Alugue em vez de financiar: Principalmente se você tem um financiamento que custa mais do que 10% ao ano. Com o valor da entrada em uma aplicação, dá para comprar o mesmo imóvel à vista no futuro e num prazo menor do que o determinado pelo financiamento. Para a compra hipotética de um imóvel de 65 metros quadrados no valor de 475 000reais e taxas de 8% ao ano, o financiamento sairia por 4.407 reais ao mês, enquanto o custo de aluguel desse mesmo imóvel seria de 2.147 reais ao mês, metade do valor. Uma economia de 2.26 reais  ao mês que, se aplicada,  viabilizaria a compra do mesmo imóvel em 15 anos (e não em 20 anos.confotmr o financiamento).

9 – Invista: Essa é a maneira mais rápida de fazer seu dinheiro trabalhar para você. Para os mais conservadores, os fundos de renda fixa são os mais indicados, especialmente para iniciantes.

10 – Peça desconto: Pesquise preços na internet, encontre o mais barato e, se possível, vá até a loja física e peça desconto sobre o ítem anunciado. Caso o lojista dê uma negativa, chame o gerente e pela para consultar se o sistema realmente não oferece algum abatimento em pagamentos à vista.

 

Fonte: Revista Você S.A – Edição 234

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O NOVO TOM DA LINGUAGEM

O novo tom da linguagem

Boa parte da revolução de Noam Chomsky na linguística, incluindo a explicação sobre como aprendemos idiomas, tem sido questionada. Uma das principais críticas é de que a teoria mudou várias vezes para dar conta de exceções que contrariam seus postulados originais – marcando um recuo de suas origens ambiciosas. Defensores de teorias alternativas à gramática universal argumentam que, ao aprenderem uma língua, crianças usam capacidades cognitivas gerais e leem as intenções alheias.

A ideia de que temos cérebros equipados com um modelo mental para aprender gramática – lançada Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) – dominou a linguística por quase meio século. Mas recentemente, cientistas cognitivos e linguistas abandonaram em massa a teoria da “gramática universal” de Chomsky por causa de uma nova pesquisa que examina muitas línguas diferentes – e a forma como as crianças aprendem a entender e a falar os idiomas de suas comunidades. Esse trabalho não dá sustentação às afirmações de Chomsky. A pesquisa sugere uma visão radicalmente diferente, segundo a qual o aprendizado de uma primeira língua pela criança não depende de um módulo gramatical inato. Em vez disso, o estudo mostra que a criança usa várias formas de pensar que podem não ser típicas da língua – como a capacidade de classificar o mundo em categorias (pessoas ou objetos, por exemplo) e entender as relações entre as coisas. Essa capacidade, aliada à habilidade humana única de entender o que outros pretendem comunicar, permite a ocorrência da linguagem. As novas descobertas indicam que, se realmente quiserem entender como crianças e demais aprendem línguas, os pesquisadores precisam buscar diretrizes fora da teoria de Chomsky.

Essa conclusão é importante porque o estudo da linguagem desempenha um papel central em diversas disciplinas – da poesia à inteligência artificial e até à própria linguística; métodos equivocados levam a resultados questionáveis. Além disso, a linguagem é usada por humanos de maneira que nenhum animal iguala; se compreendermos o que é a linguagem, entenderemos um pouco mais sobre nós mesmos.

Na primeira versão de sua teoria, apresentada em meados do século 20, Chomsky entrelaçou duas tendências emergentes da vida intelectual ocidental. Primeiro, ele postulou que a linguagem usada pelas pessoas para se comunicarem no dia a dia se comportava como a linguagem com base na matemática do então novo campo da ciência da computação. Sua pesquisa buscou a estrutura computacional subjacente da linguagem e sugeriu uma série de processos que criariam sentenças “bem formadas”. A ideia revolucionária era que um programa como o de computador poderia produzir sentenças que as pessoas reais considerassem gramaticalmente corretas. Esse programa poderia supostamente explicar também a forma como as pessoas geravam suas sentenças. Essa maneira de falar sobre linguagem ganhou repercussão entre muitos acadêmicos desejosos de adotar um enfoque computacional para… bem… tudo.

Enquanto desenvolvia suas teorias, Chomsky simultaneamente propunha que elas tinham raízes na biologia humana. Na segunda metade do século 20, muitos concordavam que nossa história evolucionária singular havia influenciado aspectos de nosso funcionamento mental – o que favoreceu a propagação de sua teoria. A gramática uni- versal foi apresentada como um componente inato da mente humana – e prometia revelar as profundas bases biológicas das mais de 6 mil línguas humanas. As mais poderosas, para não dizer as mais bonitas, teorias da ciência revelam uma unidade escondida sob a diversidade superficial, e assim essa teoria imediatamente se tornou atraente.

Mas a teoria de Chomsky está em xeque. Como disse uma vez o físico Max Planck, antigos acadêmicos tendem a persistir nas fórmulas antigas: “A ciência processa um funeral por vez”. A primeira “encarnação” da gramática universal, nos anos 60, tomou como ponto de partida a estrutura básica do “padrão médio das línguas europeias” – as faladas pela maioria dos linguistas que trabalhavam com elas. Assim, o programa de gramática universal operou em pedaços de linguagem, como frases nominais (“os bons cães”) e frases verbais (“gostam de gatos”).

Mas logo começaram a ser feitas comparações linguísticas entre múltiplas línguas que não se enquadravam nesse esquema simples. Algumas línguas nativas da Austrália, como o warlpiri, tinha elementos gramaticais espalhados por todas as sentenças – frases nominais e verbais que não estavam “ordenadamente empacotadas” para que pudessem se encaixar na gramática universal de Chomsky – e algumas sentenças não tinham nenhuma frase verbal.

Era difícil conciliar esses chamados desvios com a gramática universal construída com exemplos dos idiomas europeus. Outras exceções à teoria de Chomsky vieram do estudo de idiomas ergativos, como basco ou urdu, nas quais o sujeito da sentença é usado de forma muito diferente da maioria das línguas europeias, mais uma vez contestando a ideia de uma gramática universal.

Essas descobertas, juntamente com trabalhos de teoria linguística, levaram Chomsky e seus seguidores a uma completa revisão da noção de gramática universal nos anos 80. A nova versão da teoria, chamada princípios e parâmetros, substituiu uma gramática uni versal única para todas as línguas do mundo por uma série de princípios “universais” que regiam a estrutura da língua. Esses princípios se manifestavam de forma diferente em cada língua. Uma analogia seria que todos nascemos com um grupo básico de gostos (doce, azedo, amargo, salgado e umami) que interagem com a cultura, história e geografia para produzir as atuais variações na cozinha mundial. Os princípios e parâmetros eram a analogia linguística aos paladares. Eles interagiram com a cultura (se uma criança estava aprendendo japonês ou inglês) para produzir as variações correntes nas línguas, assim como definiram a série de línguas humanas possíveis.

Línguas como o espanhol formam sentenças gramaticais completas sem a necessidade de sujeitos separados – por exemplo: Tengo zapatos, na qual a pessoa que tem sapatos, eu, é indicada não por uma palavra à parte, mas pelo “o” ao fim do verbo. Chomsky sustentou que, logo que as crianças encontravam algumas sentenças desse tipo, um interruptor seria ligado em seu cérebro para indicar que o sujeito da sentença deveria ser descartado. Elas então saberiam que poderiam eliminar o sujeito em todas as suas sentenças.

O parâmetro para “eliminar o sujeito” supostamente determinou também outras características estruturais da língua. Essa noção de princípios universais serve razoavelmente bem a muitas línguas europeias. Mas dados sobre línguas não europeias revelaram que estas não se encaixavam na versão revisada da teoria de Chomsky. De fato, a pesquisa que tentou identificar parâmetros, tais como o para eliminar o sujeito, levou ao abandono da segunda encarnação da gramática universal porque não resistia à análise.

Mais recentemente, em um famoso estudo publicado na Science em 2002, Chomsky e seus coautores descreveram uma gramática universal que incluía apenas uma característica, chamada recursividade computacional (embora muitos defensores da gramática uni- versal ainda prefiram supor que existam muitos princípios e parâmetros universais). Essa mudança permitia que um número limitado de palavras e regras fosse combinado para formar um número ilimitado de sentenças.

As possibilidades sem fim existem pela forma como a recursividade embute uma frase dentro de outra frase do mesmo tipo. Em inglês, por exemplo, podem-se adicionar frases à direita (John hopes Mary knows Peter is lying) ou embuti-las ao centro (The dog that the cat that the boy saw chased barked). Na teoria, é possível acoplar essas frases infinitamente. Na prática, o entendimento começa a se romper quando as frases são empilhadas como nesses exemplos. Chomsky acreditava que essa ruptura não estava diretamente relacionada com a língua em si. Era mais uma limitação da memória humana. Mais importante, Chomsky propôs que essa capacidade recursiva é o que diferencia a linguagem de outros tipos de pensamentos como categorização e percepção das relações entre as coisas. Recentemente ele também propôs que essa capacidade surgiu de uma única mutação genética ocorrida entre 100 mil e 50 mil anos atrás.

Da mesma forma que antes, quando linguistas começaram de fato a olhar as variações de línguas no mundo, eles descobriram contraexemplos à alegação de que esse tipo de recursividade era uma propriedade essencial da língua. Alguns idiomas – como o pirarrã, do Amazonas – parecem prescindir da recursividade de Chomsky. Como acontece com todas as teorias linguísticas, sua gramática universal faz um exercício de equilíbrio. A teoria tem de ser suficientemente simples para valer a pena tê-la. Ou seja, deve prever algumas coisas que não estão na teoria em si (de outra forma seria apenas uma lista de fatos). Mas não pode ser tão simples a ponto de não conseguir explicar o que deve explicar. Pegue a ideia de Chomsky de que as sentenças em todas as línguas do mundo têm um “sujeito”. O problema é que o conceito de um sujeito se parece mais com “semelhanças familiares” características que com uma categoria pura. Cerca de 30 diferentes aspectos gramaticais definem as características de um sujeito. Qualquer língua terá apenas um subgrupo dessas características – e os sub- grupos não costumam se sobrepor aos de outras línguas.

Chomsky tentou definir os componentes de um estojo de ferramentas essenciais da língua – o tipo de maquinário mental que permite que a linguagem humana aconteça. Quando exemplos contrários foram encontrados, alguns defensores de Chomsky res- ponderam que só porque uma língua não tem determinada ferramenta – como recursividade – não quer dizer que não esteja no estojo. Da mesma forma, não é porque uma cultura não use o sal para temperar os ali- mentos que ele não esteja em seu repertório básico de sabores. Infelizmente, essa linha de raciocínio torna difícil testar as propostas de Chomsky na prática.

QUANDO OS SINOS DOBRAM

Uma falha-chave nas teorias de Chomsky é que, ao serem aplicadas ao aprendizado de línguas, elas estipulam que as crianças vêm equipadas com a capacidade de formar sentenças usando normas gramaticais abstratas. (As normas precisas dependem de qual versão da teoria esteja sendo invocada.) Mas muitas pesquisas mostram agora que a aquisição da linguagem não ocorre dessa forma. As crianças começam aprendendo padrões gramaticais simples e gradualmente intuem as normas por trás deles parte por parte.

Assim, as crianças inicialmente usam apenas construções gramaticais concretas e simples com base em padrões específicos de palavras: “Onde está X?”; “Eu quero X”; “Mais X”; “É um X”; “Eu estou X-endo isso”; “Coloque X aqui”; “Mamãe está X-endo isso”; “Vamos X isso”; “Jogue X”; “X foi embora”; “Mamãe X”; “Sente em X”; “Abra X”; “X aqui”; “Há um X”; “X quebrou”. Posteriormente, as crianças elaboram esses padrões em outros mais com- plexos, como “Onde está X que mamãe X?”.

Muitos defensores da gramática universal aceitam essa caracterização de desenvolvimento gramatical inicial das crianças. Mas eles supõem que, quando surgem construções mais complexas, esse novo estágio reflete o amadurecimento de uma capacidade cognitiva que usa a gramática universal e seus princípios e categorias gramaticais abstratos.

A maior parte dos enfoques da gramática universal defende, por exemplo, que uma criança forma uma questão seguindo uma série de normas com base em categorias gramaticais como “O que (objeto) você (sujeito) perdeu (verbo)?”. Resposta: “Eu (sujeito) perdeu (verbo) algo (objeto)”. Se esse pressuposto estiver correto, então, em determinado período do desenvolvimento, a criança deveria cometer erros parecidos com todas as perguntas semelhantes, que, em inglês, começam com palavras iniciadas com wh. Mas os erros das crianças não se enquadram nessa previsão. Muitas delas, nas primeiras etapas do desenvolvimento, cometem erros como “Why he can’t come?”, mas, ao mesmo tempo que cometem esse erro – deixando de colocar o “can’t” antes de “he” –, elas formam corretamente outras perguntas com outras palavras iniciadas com wh e verbos auxiliares, como a sentença “What does he want?”.

Estudos experimentais confirmam que crianças elaboram perguntas de forma cor- reta mais frequentemente com determinadas palavras com wh e verbos auxiliares (em geral com as que estão mais acostumadas, como “What does…”), enquanto continuam cometendo erros com perguntas contendo outras (em geral menos frequentes) combinações de palavras com wh e verbos auxiliares: “Why he can’t come?”.

A principal resposta dos gramáticos uni- versais a essas descobertas é que a criança tem a competência em gramática, mas outros fatores podem impedir seu desempenho e isso tanto oculta a verdadeira natureza de sua gramática como interfere no estudo da gramática “pura” defendida pela linguística de Chomsky. Os fatores que mascaram a gramática implícita, dizem, incluem capacidades sociais, atenção e memória imaturas.

Mas a interpretação chomskyana do comportamento infantil não é a única possível. Memória, atenção e habilidades sociais podem não mascarar a verdadeira condição da gramática; elas podem muito bem ser parte integral da construção da linguagem em primeiro lugar. Um recente estudo de coautoria de um de nós (Ibbotson) mostrou que a capacidade de a criança conjugar um verbo ir- regular no pretérito perfeito de forma correta – como “Every day I fly, yesterday I flew” (e não “flyed”) – está associada com sua capacidade de inibir uma resposta tentadora desvinculada da gramática. (Por exemplo, dizer a palavra “lua” ao olhar para uma foto do sol). Mais que um obstáculo para as crianças expressa- rem a gramática pura dos linguistas chomskyanos, faculdades mentais como memória, analogias mentais, atenção e raciocínio sobre situações sociais podem explicar por que a língua se desenvolve da forma como faz.

Assim como com o recuo em relação aos dados translinguísticos e o argumento da caixa de ferramentas, a ideia de desempenho mascarando a competência é também bastante difícil de verificar. Recursos a esses tipos de alegações são comuns em paradigmas científicos em declínio que não possuem forte base empírica – considere, por exemplo, a psicologia freudiana e as interpretações marxistas de história.

À parte esses desafios empíricos para a gramática universal, psicolinguistas que trabalham com crianças têm dificuldades em conceber teoricamente um processo no qual as crianças começam com as mesmas normas gramaticais algébricas para todas as línguas e então partem para descobrir como uma língua em particular – seja inglês ou suaíli – se conecta com aquele esquema de normas. Linguistas chamam esse enigma de o problema de conexão, e uma rara tentativa sistemática de resolvê-lo no contexto da gramática universal foi feito pelo psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard, sobre os sujeitos de sentenças. O trabalho de Pinker, no entanto, mostrou-se em discordância com dados de estudos de desenvolvimento infantil ou não aplicável a outras categorias gramaticais além do sujeito. Assim o problema de conexão – que deve ser central na aplicação da gramática universal ao aprendizado da língua – nunca foi resolvido nem seriamente confrontado.

VISÃO ALTERNATIVA

Tudo isso leva inevitavelmente à visão de que a noção de gramática universal está errada. Evidentemente, cientistas nunca abandonam sua teoria favorita, mesmo diante da evidência contraditória, até surgir uma alternativa razoável. Essa alternativa, chamada linguística com base no uso, chegou. A teoria, que assume diversas formas, propõe que a estrutura gramatical não é inata. Em vez disso, é o produto da história (o processo como as línguas são passadas de geração para geração) e da psicologia (a série de capacidades sociais e cognitivas que permitem que gerações aprendam uma língua em primeiro lugar) humanas. Mais importante, essa teoria propõe que a língua recruta sistemas cerebrais que podem não ter evoluído especificamente para esse propósito e, portanto, é uma ideia diferente da de Chomsky sobre a mutação de um gene único para a recorrência.

Pela nova abordagem centrada no uso (que inclui ideias de linguistas funcionais, linguistas cognitivos e de construção gramatical), as crianças não nascem com uma ferramenta dedicada, universal, para aprender gramática. Em vez disso, herdam o equivalente mental a um canivete suíço: uma série de ferramentas multiuso – como categorização, leitura de intenções comunicativas e capacidade de analogia, com que constroem normas e categorias gramaticais da língua que ouvem ao seu redor.

Crianças de língua inglesa, por exemplo, entendem “the cat ate the rabbit” (o gato comeu o coelho) e, por analogia, compreendem também “the goat tickled the fairy” (a cabra fez cócegas na fada). Elas generalizam ouvindo de um exemplo a outro. Após um número suficiente de exemplos desse tipo, elas podem até conseguir adivinhar quem fez o que para quem na sentença “the gazzer mibbed the toma”, mesmo que algumas palavras sejam literalmente sem sentido. A gramática deve ser algo que elas discernem além das próprias palavras, dado que as sentenças têm pouco em comum no nível das palavras.

O significado da linguagem surge por meio de uma interação entre o potencial significado das palavras (como as coisas que a palavra “ate” pode significar) e o significado da construção gramatical à qual estão conectadas. Por exemplo, mesmo que sneeze (espirrar) apareça no dicionário como um verbo intransitivo que acompanha um ator único (aquele que espirra), se for usado em uma construção bitransitiva – capaz de aceitar um objeto direto e um objeto indireto –, o resultado poderá ser “she sneezed him de napkin” (ela espirrou o guardanapo para ele), no qual sneezed é construído como uma ação de transferência (ou seja, ela fez o guardanapo chegar a ele). A sentença mostra que a estrutura gramatical pode dar uma contribuição tão forte ao sentido do enunciado quanto as palavras. Contraste essa ideia com a de Chomsky, que argumentou que há níveis de gramática que são totalmente livres de significado.

O conceito do canivete suíço explica também o aprendizado da língua sem precisar invocar dois fenômenos exigidos pela teoria da gramática universal. Um é a série de normas algébricas para combinar símbolos – um chamado núcleo gramatical conectado no cérebro. O segundo é um léxico – uma lista de exceções que cobrem todos os outros idiomas e idiossincrasias das línguas naturais que precisam ser aprendidas. O problema com essa abordagem de mão dupla é que algumas construções gramaticais em parte são baseadas em normas e em parte não são – por exemplo, “him a presidential candidate?!”, em que o sujeito him retém a forma de um objeto direto, mas com os elementos da sentença fora da ordem adequada. Um nativo de língua inglesa pode gerar uma variedade infinita de sentenças usando o mesmo método: “her go to ballet?!” ou “that guy a doctor?!”. A questão, então, é: esses enunciados são parte do núcleo gramatical ou da lista de exceções? Se não são parte de um núcleo gramatical, então precisam ser aprendidos individualmente como itens separados. Mas, se crianças podem aprender esses enunciados que são em parte norma e em parte exceção, então por que não podem aprender o restante da língua da mesma forma? Em outras palavras, por que elas precisam da gramática universal, afinal?

De fato, a ideia de uma gramática universal contradiz evidências de que crianças aprendem a língua por meio de interação social e ganham prática usando construções de sentenças que foram criadas por comunidades linguísticas ao longo do tempo. Em alguns casos, há bons dados sobre como esse aprendizado ocorre. Orações relativas, por exemplo, são comuns nas línguas do mundo e costumam derivar de uma junção de sentenças separadas. Assim, podemos dizer, “My brother… he lives over in Arkansas… he likes to play piano” (Meu irmão… ele vive em Arkansas… ele gosta de tocar piano). Por causa de vários mecanismos de processamento cognitivos – com nomes como esquematização, habituação, descontextualização e automatização –, essas frases evoluem por longos períodos para construções mais complexas: “My brother, who lives over in Arkansas, likes to play the piano” (Meu irmão, que vive em Arkansas, gosta de tocar piano). Ou podem gradualmente transformar sentenças como “I pulled the door, and it shut” (Eu puxei a porta e ela fechou) em “I pulled the door shut”.

Além disso, parece que temos uma habilidade específica para decodificar as intenções comunicativas de outros – saber o que um orador pretende dizer. Eu poderia dizer, por exemplo, “she gave/bequeathed/sent/loaned/ sold the library some books” (ela deu/pediu/enviou/emprestou/vendeu à biblioteca alguns livros), mas não “she donated the library some books”. Pesquisa recente mostrou que há vá- rios mecanismos que levam as crianças a restringir esses tipos de analogias inadequadas. Por exemplo, crianças não fazem analogias sem sentido. Então elas nunca tentariam dizer “she ate the library some books” (ela comeu alguns livros da biblioteca). Além disso, se as crianças ouvem com frequência “she donated some books to the library” (ela doou alguns livros para a biblioteca), esse uso evita a tentação de dizer “she donated the library some books”.

Esses mecanismos de restrição limitam sensivelmente as possíveis analogias que uma criança possa fazer às que se alinham com as intenções comunicativas da pessoa que ela está tentando entender. Nós usamos esse tipo de leitura de intenções quando entendemos “can you open the door for me?” (você pode abrir a porta para mim?) como um pedido de ajuda, e não uma questão sobre nossa capacidade de abrir portas.

Chomsky admitiu esse tipo de “pragmatismo” – como usamos a língua no contexto – em sua teoria geral sobre como o idioma funciona. Considerando-se como a língua é ambígua, ele tinha de fazê-lo. Mas ele parece tratar o papel do pragmatismo como periférico ao trabalho principal da gramática. De alguma forma, as contribuições da teoria com base no uso mudou o debate em direção a quanto o pragmatismo pode fazer pela língua antes que os oradores precisem se voltar para as regras da sintaxe.

As teorias centradas no uso estão longe de oferecer uma resposta completa sobre como a língua funciona. Generalizações significativas que as crianças fazem por ouvir sentenças e frases tampouco revelam toda a história de como as crianças constroem sentenças – há generalizações que fazem senti- do, mas não são gramaticais. Por exemplo, “he disappeared the rabbit. De todas as possíveis generalizações com significado, mas não gramaticais que as crianças podem fazer, elas parecem fazer muito poucas. A razão parece ser que elas são sensíveis ao fato de que a comunidade da língua a que elas pertencem se enquadra em uma norma e comunica uma ideia apenas “desse jeito”. Elas alcançam um delicado equilíbrio, no entanto, uma vez que a língua das crianças é tanto criativa (I goed to the shops”) quanto obediente às normas gramaticais (“I went to the shops”). Há muito trabalho a ser feito pelos teóricos da língua com base no uso para explicar como essas forças interagem na infância de forma a explicar exatamente o caminho do desenvolvimento da linguagem.

UM OLHAR À FRENTE

Quando foi proposto, o paradigma de Chomsky era uma ruptura radical com abordagens mais informais que prevaleciam na época e chamou atenção para toda a complexidade cognitiva envolvida em se tornar competente na fala e entendimento da língua. Mas, ao mesmo tempo que teorias como as de Chomsky nos ajudaram a ver coisas novas, elas também nos cegaram para outros aspectos da língua. Em linguística e campos correlatos, muitos pesquisadores estão se tornando cada vez mais insatisfeitos com uma abordagem totalmente formal como a gramática universal – para não mencionar as inadequações empíricas da teoria. Além disso, muitos pesquisadores modernos estão insatisfeitos também com análises teóricas de dados linguísticos – muitos disponíveis on-line – que podem ser usadas para testar uma teoria.

A mudança de paradigma certamente não está completa; parece adequado levar em conta as considerações. Há novas descobertas fascinantes a serem feitas com a pesquisa dos detalhes das diferentes línguas do mundo, no que elas têm de semelhante e diferente entre si, de como elas mudaram historicamente e como as crianças adquirem competência em uma ou mais delas. A gramática universal parece ter chegado a um impasse final. Em seu lugar, a linguística centrada no uso pode abrir um caminho para estudos empíricos do aprendizado, uso e desenvolvimento histórico das 6 mil línguas do mundo.

NOAM-CLATURA

Noam Chomsky impressionou a comunidade linguística há mais de 50 anos com uma ideia tão simples quanto interessante, segundo a qual a estrutura da língua é formada por uma série de normas inatas que premiem a criação de sentenças gramaticais desde a infância. Chomsky buscou definir essas normas e como elas funcionam. Ele pensou que sem a gramática universal seria impossível para uma criança aprender qualquer língua. Nos anos seguintes, a teoria foi contestada por novas teorias que afirmam que a linguagem é adquirida quando as crianças discernem padrões no idioma com o qual convivem.

PEQUENOS CRIADORES DE FRASES

A gramática universal de Chomsky postula que a criança dispõe de normas que funcionam em frases (“os cães bons”) e normas para transformar essas frases (“cães bons gostam de gatos”). A teoria evoluiu nos últimos anos, mas mantém a ideia essencial de que crianças nascem com a habilidade de fazer palavras se enquadrar em um modelo gramatical.

APRENDIZADO CENTRADO NO USO

Novas abordagens da linguística e da psicologia sugerem que a habilidade natural das crianças de intuir o que outros pensam, combinada com poderosos mecanismos de aprendizado no cérebro em desenvolvimento, diminui a necessidade de uma gramática universal. Ao ouvir, a criança aprende padrões de uso que podem ser aplicados a diferentes sentenças. A palavra “comida” pode substituir a palavra “bola” após a frase “o cachorro quer”.

Estudos mostram que essa teoria de construção de conhecimento do significado das palavras e da gramática aproxima a forma como crianças de 2 e 3 anos aprendem de fato a língua. A máquina diagramadora de sentença inata do cérebro, segundo Chomsky, colocaria as palavras no espaço gramatical correto – “bons” (adjetivo) e “cães” (substantivo).

 

PAUL IBBOTSON – é doutor em linguística, professor de desenvolvimento da linguagem na Universidade Abert, na Inglaterra.

MICHAEL TOMASELLO – é neurocientista, codiretor do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária em Leipzig, na Alemanha. É autor de A natural history of human morality (Harvard University Press, 2016, não publicado no Brasil).

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