MATEUS 10: 16-43
Instruções aos Apóstolos – Parte 2
II – Com estas predições de problemas, nós temos aqui as descrições de conselhos e consolos para épocas de dificuldades. Ele os envia realmente expostos ao perigo, e esperando-o, mas bem armados com instruções e incentivos, suficientes para sustentá-los e confirmá-los em todas estas provações. Vamos examinar o que Ele diz:
1.Com o objetivo de aconselhar e orientar em diversos assuntos:
(1). “Sede prudentes como as serpentes” (v. 16). Em outras palavras: “Vocês podem ser prudentes como as serpentes” (alguns interpretam como somente uma permissão), “desde que sejam tão símplices como as pombas”. Mas, na verdade, isto deve ser interpretado como um preceito, que nos aconselha na sabedoria dos prudentes, que é a maneira de compreender os seus métodos, e que é útil em todas as ocasiões – mas especialmente nas ocasiões de sofrimento. Portanto, por estarem expostos como ovelhas em meio aos lobos, sejam tão prudentes como as serpentes; não sejam sábios como as raposas, cuja esperteza consiste em enganar os outros; mas prudentes como as serpentes, cuja tática é unicamente defender-se, e mover-se para a sua própria segurança. Os discípulos de Cristo são odiados e perseguidos como as serpentes, e as pessoas procuram destruí-los, e por isto eles precisam da prudência das serpentes. Observe que é o desejo de Cristo que o seu povo e os seus ministros, estando tão expostos aos perigos deste mundo, como normalmente estão, não devam expor-se desnecessariamente, mas usar todos os meios justos e lícitos para a sua própria preservação. Cristo nos deu um exemplo dessa prudência (cap. 21.24,25; 22.17,18,19; João 7.6,7); apesar das várias vezes em que Ele conseguiu es capar das mãos dos seus inimigos, a sua hora era chega da. Veja um exemplo da prudência de Paulo (Atos 23.6,7). Na causa de Cristo, devemos ser indiferentes à vida e a todos os seus confortos, mas não devemos desprezá-los. A prudência da serpente consiste em preservar a sua cabeça, que não deve ser arrancada, em tapar seus ouvidos à voz do encantador (SaImos 58.4,5), e abrigar-se nas fendas das rochas – assim devemos ser tão prudentes como as serpentes. Devemos ser prudentes para não atrair problemas para as nossas próprias cabeças; prudentes para manter silêncio em tempos difíceis, e para não pecar. Devemos nos esforçar para agir desse modo.
(2). “Sede símplices como as pombas”. Em outras palavras: “Sejam suaves, mansos e serenos; não somente não façam mal a ninguém, mas não tenham uma má intenção para com ninguém; sejam como as pombas, que não têm amargura; isto sempre deve acompanhar a frase anterior”. Eles são enviados em meio aos lobos, portanto devem ser tão prudentes quanto as serpentes. Mas são enviados como ovelhas, e por isto devem ser tão inofensivos quanto as pombas. Nós devemos ser prudentes, não para ofender a nós mesmos, mas para não ofender a ninguém mais. Devemos usar a pureza das pombas para suportar vinte ofensas, em lugar da astúcia da serpente para retribuir; mesmo que se trate apenas de uma ofensa. Observe que este deve ser o cuidado constante de todos os discípulos de Cristo – ser inocentes e inofensivos nas palavras e nas obras, especialmente levando em consideração os inimigos em cujo meio se encontram. Nós precisamos de um espírito como de uma pomba, quando importunados pelas aves de rapina, para que não as provoquemos, nem sejamos provocados por elas. Davi desejava as asas de uma pomba, com as quais pudesse voar e descansar, e não as asas de um falcão. O Espírito desceu sobre Cristo como uma pomba, e todos os crentes participam do Espírito de Cristo, um espírito como o de uma pomba, feito para o amor, e não para a guerra.
(3). “Acautelai-vos dos homens” (v. 17). Em outras palavras: “Estejam sempre vigilantes e evitem as companhias perigosas; prestem atenção ao que vocês dizem e fazem, e não considerem como provável a fidelidade de homem algum. Zelem pelas pretensões mais plausíveis; não confiem no amigo, nem naquela ‘que repousa no seu seio”‘ (Miqueias 7.5). Convém aos que têm a graça que sejam cuidadosos, pois somos ensinados a nos separar dos homens maus. O mundo no qual vivemos é tão pecador que não sabemos em que confiar. Uma vez que o nosso Messias foi traído com um beijo, por um dos seus próprios discípulos, nós precisamos nos acautelar dos homens, dos falsos irmãos.
(4). “Não vos dê cuidado como ou o que haveis de falar” (v. 19). Em outras palavras: “Quando vocês forem levados diante de magistrados, comportem-se de maneira decorosa, mas não se aflijam, preocupando-se sobre como a situação terminará. Deve haver um pensamento prudente, mas não ansioso, perplexo ou inquietante. Deixe que esta preocupação recaia sobre Deus, assim como a preocupação concernente ao que você come ou bebe. Não pretenda fazer belos discursos, para adular a si mesmo; não procure expressões raras, acessos de inteligência e frases de efeito, que só servem para dar um falso brilho a uma causa ruim; o brilho dourado de uma boa causa não precisa destas coisas. Preocupar-se com estas coisas dá a ideia de falta de confiança, como se a sua causa não pudesse falar por si mesma. Você sabe em que fundamentos está enraizado. “Nunca alguém falou melhor diante de governadores e reis do que aqueles três heróis, que não pensaram antes sobre o que iriam falar, e disseram ao rei Nabucodonosor: “Não necessitamos de te responder sobre este negócio” (Daniel 3.16; veja Salmos 119.46). Observe que os discípulos de Cristo devem se preocupar mais com agir bem do que com falar bem; mais com manter a sua integridade do que com o modo de defendê-la. As nossas vidas, e não palavras arrogantes, formam a melhor justificativa.
(5) “Quando, pois, vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra” (v. 23). Em outras palavras: “Rejeitem, desta maneira, aqueles que rejeitarem a vocês e sua doutrina, e tentarem fazer com que os outros também não lhes recebam, nem à sua doutrina; desta forma, vão para outra cidade, para sua própria segurança”. Observe que em caso de perigo iminente, os discípulos de Cristo podem e devem se proteger com a fuga, quando Deus, na sua providência, lhes abre uma porta de escape. Aquele que foge pode lutar outra vez. Não é desonra para os soldados de Cristo abandonar o terreno, desde que não abandonem a sua identidade: eles podem sair do caminho do perigo, embora não devam sair do caminho do dever. Observe o cuidado que Cristo tem com os seus discípulos, providenciando lugares de fuga e abrigo para eles; organizando as situações para que as perseguições não ocorram em todos os lugares, nem ao mesmo tempo; mas quando uma cidade ficar agitada demais para eles, outra estará reservada para um ambiente mais tranquilo, como um pequeno santuário; uma graça a ser usada, e não desprezada. Mas sempre com a condição de que nenhum meio pecaminoso ou ilícito seja usado para realizar a fuga; pois neste caso, não será uma porta providenciada por Deus. Nós temos muitos exemplos desta regra na história, tanto de Cristo como de seus apóstolos, na aplicação de todos os casos particulares nos quais a prudência e a integridade orientam beneficamente.
(6) “Não os temais” (v. 26), porque eles podem matar somente o corpo (v. 28). Observe que é dever e interesse dos discípulos de Cristo não temer o maior dos seus adversários. Aqueles que temem verdadeiramente a Deus não precisam temer o homem; e aqueles que temem o menor dos pecados não precisam temer a maior dificuldade. O medo do homem traz uma armadilha, uma armadilha desconcertante que perturba a nossa paz; uma armadilha que nos confunde, e pela qual podemos ser levados ao pecado; portanto, devemos vigiar cuidadosamente, e combater e orar contra este temor. Ainda que os tempos sejam muito difíceis, os inimigos sejam muito cruéis, e as situações sejam muito ameaçadoras, ainda assim nós não precisamos ter medo, nós não temeremos, ainda que a terra se transtorne, enquanto tivermos um Deus tão bom, uma causa tão boa e uma esperança tão boa por intermédio da graça.
Sim, isto é fácil dizer; mas quando chegam as provações, tormentos e torturas, calabouços e prisões, machados e cadafalsos, fogo e lenha, são coisas terríveis, suficientes para fazer tremer o coração mais valente, e dar início a um retrocesso, especialmente quando fica claro que estas coisas poderiam ser evitadas apenas com alguns passos para trás. E, portanto, para nos fortalecer contra esta tentação, aqui temos:
[1]. Uma boa razão contra este medo, obtida do poder limitado dos inimigos; eles matam o corpo, que é o máximo a que o seu ódio pode chegar. Até aqui eles podem chegar, se Deus lhes permitir, mas não podem ir além disso. Eles não podem matar a alma, nem fazer-lhe nenhum mal, e a alma é o homem. Com isso, parece que a alma não adormece na morte (como nos sonhos), nem é privada de pensamento e percepção; pois então a morte do corpo seria a morte da alma também. A alma morre quando é separada de Deus e do seu amor, que é a sua vida, e se torna um vaso da sua ira; isso está fora do alcance do poder dos inimigos. O sofrimento, a agonia e a perseguição podem nos separar de todo o mundo, mas não podem separar-nos de Deus, não podem fazer com que não o amemos, nem fazer com que não sejamos amados por Ele (Romanos 8.35,37). Se, portanto, estivermos mais preocupados com as nossas almas, como nossas joias, estaremos menos preocupados com os homens, cujo poder não pode nos roubar as nossas almas. Eles só podem matar o corpo, que morreria rapidamente, e não a alma, que irá se alegrar com o seu Deus, apesar deles. Eles só podem esmagar o estojo. A pérola de valor fica intocada.
[2] Uma boa solução contra isto é temer a Deus. Tema àquele que é capaz de destruir tanto a alma como o corpo no inferno. Observe que, em primeiro lugar, o inferno é a destruição, tanto do corpo como da alma; não da existência de qualquer deles, mas do bem-estar de ambos. É a destruição do homem por completo; se a alma está perdida, também está perdido o corpo. Eles pecaram juntos; o corpo foi quem levou a alma a pecar, sendo a sua ferramenta no pecado, e por isto devem sofrer juntos, eternamente. Em segundo lugar, esta destruição se origina no poder de Deus. Ele é capaz de destruir; é uma destruição realizada pelo seu poder glorioso (2 Tessalonicenses 1.9). Nela, Ele fará conhecido o seu poder, não somente a sua autoridade para sentenciai; mas também a sua capacidade de executar a sentença (Romanos 9.22). Em terceiro lugar, Deus deve, dessa maneira, ser temido, mesmo pelos melhores santos deste mundo. Conhecendo os terrores do Senhor, devemos persuadir os homens a temê-lo. Se a ira e o temor dele estão mutuamente de acordo, então o temor a Ele deve estar de acordo com a sua ira, especialmente porque ninguém conhece o poder da sua ira (SaImos 90.11). Se Adão, em inocência, era intimidado por uma ameaça, que nenhum dos discípulos de Cristo pense que não precisa das restrições de um temor sagrado. Feliz é o homem que sempre teme. O Deus de Abraão, que então estava morto, é chamado de “o Temor de lsaque”, que estava vivo (Genesis 31.42,53). Em quarto lugar, o temor a Deus, e do seu poder sobre a alma, será um antídoto soberano contra o temor ao homem. É melhor ser reprovado por todo o mundo, do que ser reprovado por Deus; portanto, é mais justo, e também mais seguro, obedecermos a Deus, e não aos homens (Atos 4.19). Aqueles que temem o homem, que é mortal, se esquecem do Senhor, o seu Criador (Isaias 51.12,13; Neemias 4.14).
(7) “O que vos digo em trevas, dizei-o em luz” (v. 27); em outras palavras: “Quaisquer que sejam os riscos que você corre, continue com o seu trabalho, publicando e proclamando o Evangelho eterno a todo o mundo; este é o seu trabalho, tenha isto em mente. O desígnio do inimigo não é meramente destruir você, mas impedir que o Evangelho seja proclamado e, portanto, qualquer que seja a consequência, torne o Evangelho público”. “O que vos digo, dizei-o”. O que os apóstolos nos transmitiram é a mesma coisa que eles receberam de Jesus Cristo (Hebreus 2.3). Eles falaram aquilo que Ele lhes disse, tudo aquilo, e nada além daquilo. Estes embaixadores recebiam suas instruções de forma privada, na escuridão, ao ouvido, em esquinas, por parábolas. Cristo falou muitas coisas abertamente, e nada que foi dito em oculto era diferente daquilo que Ele pregou em público (João 18.20). Porém as instruções particulares que Ele deu aos seus discípulos depois da sua ressurreição, a respeito das coisas do Reino de Deus, foram ditas ao ouvido (Atos 1.3), pois então Ele não mais se mostrou publicamente. Mas os discípulos precisam transmitir a sua mensagem publicamente, sob a luz e sobre os telhados; pois a doutrina do Evangelho diz respeito a todos (Provérbios 1.20,21; 8.2,3). Portanto, “quem tem ouvidos para ouvir, que ouça”. A primeira indicação da aceitação dos gentios na igreja se deu sobre um telhado (Atos 10.9). Não há nenhuma parte do Evangelho de Cristo que precise, de alguma maneira, ser oculta; todo o conselho de Deus deve ser revelado (Atos 20.27). Que ele seja sempre clara e plenamente revelado a uma multidão tão variada!
2.Com o objetivo de consolo e incentivo. Aqui muita coisa é dita com este objetivo, e é suficiente, considerando as muitas dificuldades que eles iriam enfrentar durante o curso do seu ministério e a sua fraqueza atual, que era tal que, sem algum apoio poderoso, eles mal poderiam suportar até mesmo a perspectiva delas; portanto, Cristo lhes mostra por que eles deveriam ter ânimo.
(2). Aqui está uma mensagem peculiar à sua missão atual (v. 23). “Não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem”. Eles deviam pregar que o reino do Filho do Homem, o Messias, era chegado; eles deviam orar: “Venha o teu reino”; mas eles não teriam percorrido todas as cidades de Israel, orando e pregando dessa maneira, quando esse Reino viesse, na exaltação de Cristo e no derramamento do Espírito. Era um consolo:
[1]. Que aquilo que eles dissessem se realizaria. Eles disseram que o Filho do Homem estava vindo, e eis que Ele vem. Cristo irá confirmar a palavra dos seus mensageiros (Isaias 44.26).
[2]. Que isto se cumprisse rapidamente. Observe que é uma questão de consolo para os obreiros de Cristo que o seu tempo de trabalho seja curto, e termine logo. O trabalhador tem o seu dia; o trabalho e o combate, em pouco tempo, terminarão.
[3]. Que então eles progredissem para uma posição mais elevada. Quando o Filho do Homem vier, eles receberão um poder maior das alturas; então eles eram enviados como agentes e mensageiros, mas dentro de pouco tempo a sua tarefa se ampliaria, e eles seriam enviados como plenipotenciários a todo o mundo.
(2). Aqui há várias mensagens que se relacionam com o seu trabalho em geral, e os problemas que eles iriam enfrentar para realizá-lo, e são mensagens boas e consoladoras.
[1]. Os seus sofrimentos se destinavam a um testemunho para reis e governadores, e para os gentios (v. 18).
Quando o conselho judeu transferir vocês para os governadores romanos, para que eles vos condenem à morte, e vocês forem levados de um tribunal a outro, isto irá ajudar a tornar mais público o vosso testemunho e vos dará a oportunidade de levar o Evangelho aos gentios, assim como aos judeus. Não, vocês darão testemunho a eles, e contra eles, pelos mesmos problemas que vocês vierem a enfrentar. Observe que o povo de Deus, e em especial os ministros de Deus, são suas testemunhas (Isaias 43.10), não somente nas suas realizações como também nos seus sofrimentos. Por isso são chamados de mártires de Cristo, para que as suas verdades transmitam certeza e valor indubitável; e, sendo suas testemunhas, são testemunhas contra aqueles que se opõem a Ele e ao seu Evangelho. Os sofrimentos dos mártires dão testemunho da verdade do Evangelho que eles professam, como também da inimizade dos seus perseguidores, e assim são um testemunho contra eles, e serão transformados em evidência no grande dia em que os santos julgarão o mundo. E a razão da condenação será: “Quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Se os sofrimentos seriam um testemunho, com que alegria deveriam ser suportados! pois o testemunho que eles dão deverá ser completo (Apocalipse 11.7). Como testemunhas de Cristo, eles precisam suportar os seus sofrimentos.
[2]. Em todas as ocasiões, eles teriam a presença especial de Deus com eles, e a ajuda imediata do seu Espírito Santo, particularmente quando fossem chamados para dar testemunho diante de governadores e reis. “Naquela mesma hora, vos será ministrado o que haveis de dizer”. Os discípulos de Cristo foram escolhidos entre os tolos do mundo, homens sem estudos e ignorantes, e, portanto, podiam com razão não confiar em suas próprias habilidades, especialmente quando trazidos diante de homens poderosos. Quando Moisés foi enviado a Faraó, ele protestou: “Eu não sou homem eloquente” (Êxodo 4.10). Quando Jeremias foi colocado sobre as nações, ele objetou: “Sou uma criança” (Jeremias 1.6,10). Em resposta a esta sugestão, em primeiro lugar; aqui eles recebem a promessa de que lhes seria ministrado na mesma hora, e não algum tempo antes, o que deveriam dizer. Eles falarão de improviso, e também falarão de maneira adequada, como se o assunto nunca tivesse sido tão bem estudado. Observe que quando Deus nos chama para falar por Ele, nós podemos confiar nele para nos ensinar o que dizer; mesmo se estivermos sob as maiores desvantagens e desencorajamentos. Em segundo lugar, aqui eles têm a garantia de que o bendito Espírito Santo dirigirá o apelo por eles. “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (v. 20). Eles não seriam abandonados nesta ocasião, mas Deus se responsabilizaria por eles; o seu Espírito de sabedoria falaria neles, como algumas vezes a sua providência falou maravilhosamente por eles, e das duas maneiras eles foram manifestados nas consciências até mesmo dos seus perseguidores. Deus lhes daria a capacidade, não apenas de falar de acordo com o objetivo, mas ele que, o que dissessem, o dissessem com zelo sagrado. O mesmo Espírito que os auxiliava no púlpito, os ajudaria nos tribunais. Só pode se sair bem quem tem um advogado assim; aqueles a quem Deus disse, como disse a Moisés (Êxodo 4.12): “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca”.
[3]. ”Aquele que perseverar até ao fim será salvo” (v. 22). Aqui é muito bom considerar, em primeiro lugar, que estes sofrimentos terão um fim; eles podem durar muito tempo, mas não durarão para sempre. Cristo se consolou com isto, e também os seus seguidores podem fazê-lo, porque “vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito” (Lucas 22.37). Observe que uma perspectiva que tenhamos da duração dos nossos problemas será muito útil para nos sustentar quando eles nos afligirem. “Os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados” (Jó 3.17). Deus dará o fim que esperamos (Jeremias 29.11). Os problemas podem parecer cansativos, como os dias da prestação dos serviços, mas, bendito seja Deus, eles não duram para sempre. Em segundo lugar, ainda que eles persistam, podem ser suportados; da mesma maneira como não são eternos, também não são insuportáveis; eles podem ser suportados, e suportados até o fim, porque os sofredores serão mantidos, durante os problemas, por braços eternos: “Com a tentação [Deus] dará também o escape” (1 Coríntios 10.13). Em terceiro lugar, a salvação será a compensação eterna daqueles que a suportarem até o fim. A época será tempestuosa, e o caminho será difícil, mas o prazer do lar compensará a todos. Uma consideração de fé para a coroa da glória tem sido, em todos os tempos, o alívio e o sustento para os santos que sofrem (2 Coríntios 4.16,17,18; Hebreus 10.34). Isto não é apenas um incentivo para que suportemos, mas um compromisso para suportar até o fim. Aqueles que suportam apenas durante algum tempo, e na hora da tentação esmorecem, têm corrido em vão, e perderam tudo o que tinham conseguido; mas aqueles que perseveram, e somente eles, podem ter certeza do prêmio: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da viela”.
[4]. Qualquer dificuldade que os discípulos de Cristo encontrem, não será maior do que o seu Messias enfrentou antes (vv. 24,25). “Não é o discípulo mais do que o mestre”. Nós descobrimos que isto lhes é dado como um motivo pelo qual eles não devem hesitar em realizar as tarefas mais humildes, como lavar os pés uns dos outros (João 13.14,16). Isto lhes é dado como um motivo pelo qual eles não devem esmorecer nem mesmo com os piores sofrimentos. Eles são lembrados desta mensagem (João 15.20). Ê uma expressão conhecida, “não é o servo maior do que o seu senhor”, e, portanto, que o servo não espere que aconteça coisa melhor. Observe, em primeiro lugar, que Jesus Cristo é o nosso Mestre, o Mestre que nos ensina, e nós somos seus discípulos, e aprendemos com Ele. O Mestre nos governa, e nós, sendo seus servos, devemos obedecer a Ele. Ele é o Senhor da casa, que tem o poder absoluto sobre a igreja, que é a sua família. Em segundo lugar; Jesus Cristo, nosso Senhor e Mestre, encontrou todas as dificuldades neste mundo; eles o chamaram Belzebu, o deus das moscas, o nome elo príncipe dos demônios, com quem disseram que Ele estava de acordo. É difícil dizer aqui o que é mais admirável, se é a maldade dos homens que assim maltrataram a Cristo, ou se é a paciência de Cristo, que se submeteu a ser tratado assim, que aquele que era o Deus da glória fosse caracterizado como o deus das moscas; o Rei ele Israel, como o deus de Ecrom; o Príncipe da luz e da vida, como o príncipe dos poderes da morte e das trevas; que o maior inimigo e destruidor de Satanás fosse reduzido a seu aliado, e além disso suportasse tal contradição dos pecadores. Em terceiro lugar, considerarmos o mau tratamento que Cristo encontrou no mundo deve nos motivar e nos preparar para coisas similares, e para suportá-las com paciência. Não devemos estranhar se aqueles que o odiaram também odeiam aos seus seguidores, por causa do seu nome; nem achar difícil que aqueles que em breve serão como Ele, em glória, sejam agora como Ele, nos sofrimentos. Cristo começou pelo cálice amargo. Estejamos, pois, dispostos a nos comprometer com Ele; o sacrifício que Ele suportou na cruz abriu o caminho para nós.
[5]. “Nada há encoberto que não haja de revelar-se” (v. 26). Nós compreendemos que isto trata, em primeiro lugar, da revelação do Evangelho a todo o mundo. “Dizei-o em luz” (v. 27), pois será dito. As verdades que agora estão, como mistérios, ocultas dos filhos dos homens, serão todas dadas a conhecer, a todas as nações, na sua própria língua (Atos 2.11). Os confins da terra devem ver esta salvação. Observe que é um grande incentivo àqueles que estão realizando a obra de Cristo o fato de que este é um trabalho que certamente será realizado. Ê uma plantação que Deus irá apressar. Ou, em segundo lugar, é um esclarecimento da inocência dos servos sofredores de Cristo, que são chamados até mesmo de Belzebu; o seu verdadeiro caráter agora é invejosamente disfarçado com falsidades, mas não importa como a sua inocência e excelência estejam agora encobertas, elas serão reveladas. Isto ocorre frequentemente neste mundo. Mas a justiça dos santos é feita, pelos eventos subsequentes. para que ela brilhe como a luz. De qualquer maneira, isto ocorrerá no grande dia, quando a sua glória se manifestará a todo o mundo, aos anjos e aos homens, aos quais agora são como espetáculos (1 Coríntios 4.9). Toda reprovação a eles será eliminada, e as suas graças e os seus serviços, que agora estão encobertos, serão revelados (1 Coríntios 4.5). E um consolo ao povo de Deus, sob todas as calúnias e reprovações dos homens, o fato de que haverá uma ressurreição de nomes, assim como de corpos, no último dia, quando os justos brilharão como o sol. Que os ministros de Cristo revelem fielmente as verdades de Deus, e então deixem que Ele, no devido tempo, revele a integridade deles.
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