MATEUS 10: 5-15
Instruções aos Apóstolos
Aqui temos as instruções de Cristo aos seus discípulos, quando lhes deu a tarefa de evangelizar. Não é importante saber se esta responsabilidade lhes foi dada em um sermão contínuo, ou se os diversos itens lhes foram mencionados em diversas ocasiões; aqui Ele lhes ordenou. Esta ordenação é chamada de “a bênção de Jacó aos seus filhos”, e com estas instruções Cristo lhes deu uma bênção. Observe:
I – As pessoas às quais Ele os enviou. Estes embaixadores foram instruídos sobre os locais a que deveriam ir.
1.Não aos gentios, nem aos samaritanos. Eles não deveriam ir pelo caminho das gentes, nem seguir qual quer caminho fora da terra de Israel, não importando quais tentações pudessem ter. Os gentios não deviam ter o Evangelho levado até eles até que os judeus o tivessem recusado. Quanto aos samaritanos, que eram descendentes do povo mestiço que o rei da Assíria trouxe a Samaria, a sua nação ficava entre a Judéia e a Galileia, de modo que os apóstolos deviam evitar entrar nas cidades dos samaritanos. Cristo tinha se negado a manifestar-se aos gentios ou aos samaritanos, e, portanto, os apóstolos não deviam pregar as boas-novas entre eles. Se o Evangelho estiver oculto de algum lugar, Cristo estará oculto deste lugar: Esta restrição lhes foi imposta somente na sua primeira missão, pois depois eles foram designados para ir a todo o mundo e ensinar a todas as nações.
2.Eles deveriam ir ao encontro das ovelhas perdidas da casa de Israel. A elas Cristo destinou o seu próprio ministério (cap. 15.24), pois Ele era um ministro da circuncisão (Romanos 15.8), e, portanto, a elas os apóstolos, que nada mais eram que seus ajudantes e agentes, deveriam se limitar. A primeira oferta de salvação deveria ser feita aos judeus (Atos 3.26). Observe que Cristo tinha uma preocupação particular e muito terna pela casa de Israel; eles eram amados por causa dos pais (Romanos 11.28). Com compaixão, Ele os considerava como ovelhas perdidas, que Ele, como um pastor, devia tirar dos atalhos do pecado e do erro, onde eles tinham se perdido, e onde, se não fossem trazidos de volta, vagariam incessantemente (veja Jeremias 2.6). Os gentios também eram ovelhas desgarradas (1 Pedro 2.25). Cristo descreve assim aqueles a quem os apóstolos foram enviados, para despertar-lhes a diligência no seu trabalho; eles estavam sendo enviados à casa de Israel (da qual faziam parte), por quem só podiam sentir piedade, e desejo de ajudar.
II – A missão de pregar que Ele lhes designou. Ele não os enviou sem urna tarefa: Ele lhes disse: “E, indo, pregai” (v. 7). Eles deviam ser pregadores itinerantes: onde chegassem, eles deviam proclamar o início do Evangelho, dizendo: “É chegado o Reino dos céus”. Não que eles não devessem dizer nada além disso, mas este devia ser o seu texto; este assunto eles deviam expandir, deixar que as pessoas soubessem que o reino do Messias, que é o Senhor dos céus, agora se estabelece, de acordo com as Escrituras; a partir disso, a consequência é que os homens devem se arrepender dos seus pecados, e abandoná-los , para poderem ser admitidos nos privilégios daquele reino. Está escrito (Marcos 6.12) que, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse, o que seria o uso e a aplicação adequados desta dou trina que trata da chegada do Reino dos céus. Portanto, eles devem esperar ouvir mais, em breve, sobre este tão esperado Messias, e devem estar preparados para receber a sua doutrina, para crer nele, e para se submeter ao seu jugo. Esta pregação era como a luz da manhã, que informa sobre a aproximação do sol nascente. Como esta pregação era diferente da de Jonas, que proclamava que a destruição estava chegando! (Jonas 3.4). Esta pregação apregoa que a salvação está chegando, que ela está perto daqueles que temem a Deus; a misericórdia e a verdade se encontram (Salmos 85.9,10), ou seja, é chegado o Reino dos céus: não apenas a presença pessoal do rei, que pode ser excessivamente apreciada, mas um reino espiritual, que será estabelecido nos corações dos homens, quando a sua presença corpórea for removida.
Isto era a mesma coisa que João Batista e Cristo tinham pregado antes. As pessoas precisam ter as boas verdades repetidas, e se elas forem pregadas e ouvidas com um afeto renovado, soarão como se fossem novidades. Cristo, no Evangelho, é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hebreus 13.8). Depois, na verdade, quando o Espírito foi derramado, e a igreja cristã foi formada, veio este Reino dos céus, de que agora se fala como já chegado; mas o Reino dos céus ainda deve ser o assunto da nossa pregação. Agora que ele chegou, nós devemos dizer às pessoas que ele chegou para elas, e devemos apresentar-lhes os seus preceitos e privilégios; e há um reino de glória que ainda está por vir, do qual devemos falar como se já tivesse chegado, despertando as pessoas à diligência através dessa consideração.
III – O poder que Jesus lhes deu para realizar milagres para a confirmação da sua doutrina (v. 8). Quando Ele os enviou para pregar a mesma doutrina que Ele tinha pregado, Ele os capacitou para confirmá-la, pelos mesmos selos divinos, para que ela jamais pudesse ser vista como uma mentira. O Reino de Deus já veio; podemos pedir milagres, hoje mesmo, sabendo que o alicerce já foi lançado, e o edifício já foi edificado. Porém, não devemos pedir estes milagres como sinais do estabelecimento do seu reino. Com o assunto estabelecido, e a doutrina de Cristo suficientemente confirmada pelos milagres que Cristo e os seus apóstolos realizaram, pedir mais sinais a título de mera confirmação é tentar a Deus. Aqui, eles são orientados:
1.A usar o seu poder para fazer o bem: não “ire mover as montanhas”, nem “fazer descer fogo do céu”, mas “curar os enfermos e limpar os leprosos”. Eles são enviados como bênçãos públicas, para dar a entender ao mundo que o amor e a bondade eram o espírito e a genialidade daquele Evangelho que eles tinham vindo pregar, e daquele reino que eles se dedicavam a estabelecer. Assim, pareceria que eles eram servos daquele Deus que é bom e que faz o bem, e cuja misericórdia está em todas as suas obras, e que a intenção da doutrina que eles pregavam era de c:urnr almas enfermas, e de ressuscitar aqueles que estavam mortos no pecado; e por isto, talvez, a ressurreição dos mortos é mencionada. Embora não leiamos que eles tenham ressuscitado nenhuma vida antes da ressurreição de Cristo, ainda assim eles foram essenciais para ressuscitar muitos à vida espiritual.
2.A fazer isso de graça. “De graça recebestes, de graça dai”. Aqueles que tinham o poder para curar todas as enfermidades, tinham uma oportunidade de enriquecer. Quem não compraria tais curas garantidas, a qualquer preço? Dessa forma, eles são aconselhados a não lucrar com o poder que tinham de realizar milagres: eles deviam curar de graça, par a exemplificar ainda mais a natureza e o caráter do reino do Evangelho, que é feito de graça abundante, “gratuitamente pela sua graça” (Romanos 3.24). Comprai [o remédio] sem dinheiro e sem preço (Isaias 55.1). E a razão é: “De graça recebestes”. O seu poder para curar os enfermos não lhes custava nada e, portanto, eles não deviam obter nenhum benefício secular para si mesmos. Simão, o mágico, não teria oferecido dinheiro pelos dons do Espírito Santo, se não esperasse ganhar dinheiro com eles (Atos 8.18). A consideração da liberdade com que Cristo nos fez o bem deveria nos deixar livres para fazer o bem aos outros.
IV – A provisão que deve ser feita para eles nesta expedição; esta é uma parte importante a ser considerada ao se enviar um embaixador, que deve ter a responsabilidade da mensagem. Quanto a isto:
1.Eles não deviam fazer nenhuma provisão para si mesmos (vv. 9,10). “Não possuais ouro, nem prata”. Da mesma maneira como, por um lado, eles não devem conseguir bens com o seu trabalho, também, por outro lado, eles não devem gastar o pouco que têm para realizá-lo. Isto estava limitado a esta missão, e Cristo os ensinou a:
(1) Agir de acordo com a conduta da prudência humana. Eles vão fazer apenas uma curta viagem, e em breve retornarão ao seu Messias, e de novo ao seu quartel-general, e, portanto, por que levariam o peso de algo de que não precisariam?
(2) Agir confiando da providência divina. Eles devem ser ensinados a viver sem se preocuparem com a vida (cap. 6.25ss.). Observe que aqueles que realizam uma missão para Cristo têm, mais que todas as outras pessoas, razão de confiar nele para ter alimentos. Sem dúvida, Jesus não deseja que aqueles que trabalham no reino passem necessidades. Aqueles que Ele emprega, da mesma maneira como são colocados sob proteção especial, também têm direito a provisões especiais. Os servos contratados de Cristo terão pão suficiente e de sobra; enquanto permanecermos fiéis a Deus e ao nosso dever, e cuidarmos de realizar bem o nosso trabalho, podemos colocar em Deus todas as nossas outras preocupações. Jeová-jiré, que o Senhor atenda as nossas necessidades, e as dos nossos, como Ele julgar apropriado.
2.Eles podiam esperar daqueles a quem estavam sendo enviados o fornecimento do que fosse necessário (v.10). “Digno é o obreiro do seu alimento”. Eles não de viam esperar ser alimentados por milagre, como foi Elias, mas podiam confiar em Deus para motivar os corações daqueles aos quais estavam sendo enviados, para que fossem generosos para com eles, fornecendo o que eles necessitassem. Embora aquele que serve ao altar não deva esperar ficar rico pelo altar, ainda assim eles podiam esperar viver, e viver confortavelmente do altar (1 Coríntios 9.13,14). É adequado que eles não pudessem obter o seu sustento do seu trabalho. Os ministros são, e devem ser, operários, trabalhadores, e são tão dignos do seu alimento a ponto de não serem forçados a nenhum outro trabalho para obtê-lo. Cristo queria que os seus discípulos, assim como não deixassem de ter confiança no seu Deus, também não deixassem de confiar nos seus compatriotas, a ponto de duvidar de uma subsistência confortável entre eles. Se você pregar-lhes as boas-novas, e empenhar-se para fazer o bem entre eles, certamente eles lhe darão comida e bebida, suficientes para as suas necessidades; e, se o fizerem, nunca deseje guloseimas; Deus irá pagar o seu salário no futuro, e assim será até então.
V – A conduta que deviam observar em qualquer lugar (vv. 11 -15). Eles partiam sem saber exatamente para onde iam, sem ser convidados, sem ser esperados, sem conhecer ninguém, e sem que ninguém os conhecesse; saíam da terra do seu nascimento dirigindo-se a uma terra estranha. Que lei deveriam seguir? Que rumo deveriam tomar? Cristo não os enviaria sem instruções completas, e aqui estão elas.
1.Eles são aqui orientados sobre como se comportarem em relação aos que lhes eram estranhos. Como proceder:
(1). E m cidades e aldeia. estranhas: “Procurai saber quem nela seja digno”.
[1]. Imagina-se que havia alguns assim em cada lugar, que estavam mais dispostos que outros a receber o Evangelho, e os seus pregadores, embora fosse uma época de corrupção e apostasia geral. Observe que nas piores épocas e nos piores lugares, nós podemos esperar, com desprendimento, que existam alguns que se destaquem, e que sejam melhores que os seus vizinhos; alguns que nadem contra a corrente, e que sejam como o trigo em meio à palha. Havia santos na casa de Nero. Devemos procurar saber quem é digno, aqueles que têm algum temor a Deus, e aprimorar a luz e o conhecimento que eles têm. Até mesmo as melhores pessoas estavam longe de merecer o favor de uma oferta do Evangelho; mas alguns teriam mais probabilidade que outros de dar aos apóstolos e à sua mensagem uma recepção favorável, e não pisariam em tais pérolas. Observe que a disposição prévia ao que é bom é, ao mesmo tempo, uma orientação e um incentivo aos ministros, ao lidarem com as pessoas. Existe mais esperança de que a palavra seja benéfica àqueles que já estão dispostos a ouvi-la, àqueles que a aceitam; e existem pessoas assim por toda parte.
[2]. Eles devem procurar estas pessoas. Não devem perguntar pelas melhores hospedarias; os estabelecimentos públicos não eram lugares adequados para eles, já que eles não levavam dinheiro consigo (v. 9), nem esperavam receber nenhum (v. 8), mas deviam pro curar alojamento em casas particulares, com aqueles que os recebessem bem, e não deviam esperar nenhuma outra compensação além da recompensa de um profeta, a recompensa de um apóstolo, a sua pregação e a sua oração. Observe que aqueles que proclamam o Evangelho não devem reclamar do custo de fazê-lo, nem prometer que sobreviverão por ele neste mundo. Eles de vem procurar, não quem é rico, mas quem é digno; não quem é o melhor cavalheiro, mas quem é o melhor homem. Os discípulos de Cristo, aonde quer que fossem, deviam perguntar pelas boas pessoas do lugar, e procurar conhecê-las; quando aceitamos a Deus como o nosso Deus, aceitamos o seu povo como nosso povo, e os crentes naturalmente se alegram por estarem em contato com outros crentes. Em todas as suas viagens, Paulo encontrava os irmãos, quando havia (Atos 28.14). Está implícito que se eles procurassem aqueles que eram dignos, poderiam encontrá-los. Aqueles que fossem melhores que os seus vizinhos se distinguiriam, e qualquer pessoa poderia lhes dizer: “Ali vive um homem honesto, sóbrio e bom”, pois estas são características que, como o unguento na mão direita, não se podem ocultar e enchem a casa com o seu perfume. Todos sabiam onde estava a casa do vidente (1 Samuel 9.18).
[3]. Na casa daqueles que achassem dignos, eles deviam permanecer. Isto dá a entender que eles deviam permanecer pouco tempo em cada cidade, para não precisar mudar de alojamento, mas em qualquer casa a que a Providência os conduzisse no início, eles deviam permanecer até deixar aquela cidade. Justifica-se suspeitar que não têm bom desígnio aqueles que estão frequentemente mudando de alojamento. Convém que os discípulos de Cristo aproveitem ao máximo a sua permanência, e não estejam mudando a cada desgosto ou inconveniência.
(2). Em casas estranhas. Quando tivessem encontrado a casa de alguém que julgavam digno, eles deviam, à sua entrada, saudá-la. Através dessas cortesias comuns, estejam rapidamente com as pessoas, como sinal de sua humildade. Não pensem que é algo depreciativo convidar-se a uma casa, nem se prendam ao detalhe de serem convidados. Saúdem a família:
[1]. Para possibilitar a conversa, e assim apresentar a sua mensagem (dos temas da conversa comum podemos, de forma imperceptível, passar àquela conversa que é útil para a edificação).
[2]. Para testar se são bem-vindos ou não. Você perceberá se a saudação é recebida com timidez e frieza, ou com uma reação rápida. Aquele que não receber a sua saudação com gentileza, não irá receber com gentileza a sua mensagem, pois quem é fiel no mínimo também é fiel no muito (Lucas 16.10).
[3]. Para se insinuar, tendo uma boa opinião da parte deles. Saúdem a família, para que eles possam ver que vocês são sérios e não mal-humorados. Observe que a religião nos ensina a ser corteses e educados, e prestativos a todos com que temos contato. Embora os apóstolos tivessem o respaldo da autoridade do próprio Filho de Deus, ainda assim as suas instruções eram, ao chegar a uma casa, não obrigá-la, mas saudá-la. Pedir por caridade é o modo evangélico. As almas são atraídas a Cristo com cordas humanas, e se mantêm ao lado dele por cordas de amor (Oseias 11.4). Quando Pedro fez a primeira oferta do Evangelho a Cornélio, um gentio, o apóstolo foi saudado em primeiro lugar (veja Atos 10.25), pois os gentios também apreciavam aquilo que os judeus apreciavam – a cordialidade.
Depois de terem saudado a família de uma maneira cortês, eles deveriam, por sua vez, analisá-la, e proceder adequadamente. Observe que o olhar de Deus está sobre nós, para observar a recepção que damos às pessoas boas, e aos bons ministros: “Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz” (v. 13). Assim, parece que mesmo depois de terem perguntado pelo mais digno (v. 11), era possível que eles pudessem descobrir aqueles que não eram dignos. Observe que embora seja sábio ouvir a opinião e os relatos comuns, é tolice confiar neles. A sabedoria do prudente é que ele compreenda ao seu próprio modo. Esta regra se destina:
Em primeiro lugar, à satisfação dos apóstolos. A saudação comum era: “Paz seja convosco”; da maneira como eles a usavam, ela se transformou no próprio propósito do Evangelho; era a paz de Deus, a paz do Reino dos céus, que eles desejavam. Eles não deveriam pronuncia-la promiscuamente, porque muitos eram indignos dela; porém, a orientação servia para limpá-los deste escrúpulo. Cristo lhes diz que esta oração do Evangelho (pois é isto que esta expressão tinha se tornado) deveria ser dita a todos, como a prova de que o Evangelho se destinava a todos, indefinidamente, e que deveriam deixar que Deus, que conhece o coração e o verdadeiro caráter de todos os homens, determinasse a sua consequência. Se a casa fosse digna, colheria os benefícios da sua bênção; se não fosse, não haveria nenhum prejuízo, os apóstolos não perderiam o benefício; ela voltaria para eles, assim como as orações pelos inimigos ingratos voltaram a Davi (SaImos 35.13). Observe que é conveniente julgarmos caridosamente a todos, orarmos sinceramente por todos, e nos portarmos de modo cortês com todos, pois este é o nosso papel, e deixarmos que Deus determine o efeito que isto terá sobre eles, pois esta parte só compete a Ele.
Em segundo lugar, para a orientação deles. Em outras palavras, se, depois da sua saudação, os apóstolos tivessem a impressão de que a casa era verdadeiramente digna, eles deveriam deixar que ela desfrutasse mais da sua companhia, e deixar que a sua paz descesse sobre ela; deveriam pregar-lhes o Evangelho, a paz de Jesus Cristo; mas se não fosse este o caso, se a casa fosse rude com os apóstolos, e fechasse as suas portas, eles deveriam deixar que a sua paz, a mesma em que eles se encontravam, retornasse para eles. Deveriam retirar o que haviam dito e voltar as costas para aquela casa; ao desprezar aquilo que eles tinham a oferecer, ela se tornou indigna do restante dos seus favores, e os interromperam. Grandes bênçãos são frequentemente perdidas por um desprezo ou por uma negligência aparentemente pequena e insignificante, quando os homens estão sendo postos à prova, juntamente com o seu comportamento. Foi assim que Esaú perdeu o seu direito de primogenitura (Genesis 25.34), e Saul, o seu reino (1 Samuel 13.13,14).
2.Aqui eles são orientados a como agir em relação àqueles que os rejeitassem. Apresenta-se o caso (v. 14) daqueles que não os recebem, nem ouvem as suas palavras. Os apóstolos poderiam pensar que por terem tal doutrina para pregar, e tal poder para realizar milagres, para a confirmação da doutrina, sem dúvida eles só poderiam ser universalmente bem recebidos. Porém, eles ouvem de antemão que haveria aqueles que os desprezariam, e olhariam com menosprezo para eles e para a sua mensagem. Observe que os melhores e mais poderosos pregadores do Evangelho podem esperar encontrar algumas pessoas que não lhes darão ouvidos nem lhes mostrarão nenhum sinal de respeito. Muitos se recusarão a ouvir até mesmo o som mais alegre, e não darão ouvidos à voz daqueles que lhes trazem as boas-novas. Considere: “Se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras”. Note que o desprezo pelo Evangelho normalmente acompanha o desprezo pelos seus ministros, e qualquer um deles se transformará em um desprezo por Cristo, e será computado dessa maneira.
Neste caso, temos:
(1) As orientações dadas aos apóstolos sobre o que devem fazer. Eles devem sair daquela casa ou cidade. O Evangelho não se demora com aqueles que não o recebem. Ao partir, eles devem sacudir o pó dos seus pés:
[1]. Abominando a maldade deles. Isto era tão abominável, que até mesmo contaminava o solo onde eles passavam, e assim deveria ser sacudido como uma coisa imunda. Os apóstolos não devem ter amizade nem comunhão com aqueles que rejeitam o Evangelho, e também não devem levar consigo o pó da cidade deles. As ações dos que se desviam não se pegarão a mim (SaImos 101.3). O profeta não devia comer nem beber em Betel (1 Reis 13.9).
[2). Denunciando a ira contra eles. Isto devia significar que eles eram vis e maus como o pó, e que Deus os sacudiria. A poeira dos pés dos apóstolos, que eles deixariam atrás de si, daria testemunho contra essas pessoas, e seria uma evidência de que o Evangelho lhes tinha sido pregado (Marcos 6.11). Compare com Tiago 5.3. Veja isto em prática (Atos 13.51; 18.6). Observe que aqueles que desprezam a Deus, e ao seu Evangelho, serão pouco apreciados.
(2) A condenação destinada a estes desobedientes voluntários (v.15). “No Dia do Juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra”. Considere:
(1). Há um dia de julgamento futuro, quando todos aqueles que recusaram o Evangelho certamente serão chamados para responder por isto; por mais que agora brinquem com esta decisão. Aqueles que não ouvem a doutrina que poderia salvá-los serão levados a ouvir a sentença que os destruirá. O seu julgamento estará suspenso, até aquele dia.
[2]. Existirão diferentes graus de punição naquele dia. Todas as dores do inferno serão insuportáveis, mas alguns sofrerão mais que outros. Alguns pecadores irão mergulhar no inferno mais fundo que outros, e serão açoitados com mais açoites.
[3]. A condenação daqueles que rejeitam o Evangelho, neste dia, será mais pesada e severa do que a de Sodoma e Gomorra. Diz-se que Sodoma sofrerá a pena do fogo eterno (Judas 7). Mas esta vingança virá com mais severidade sobre aqueles que desprezam a grande salvação. Sodoma e Gomorra eram excessivamente pecadoras (Genesis 13.13), e o que representou o máximo da sua maldade foi que não receberam os anjos que tinham sido enviados a elas, mas os atacaram (Genesis 19.4,5) e não ouviram as suas palavras (v. 14). E ainda assim haverá mais tolerância com elas do que com aqueles que não recebem os ministros de Cristo, e não ouvem as suas palavras. A ira de Deus contra eles será mais ardente, e as suas próprias reflexões sobre si mesmos serão mais cortantes. “Filho, lembre-te” ele que Eu falarei mais terrivelmente aos ouvidos daqueles que receberam uma oferta justa da vida eterna, e preferiram a morte. A maldade de Israel, quando Deus lhes enviou os seus servos e profetas, é considerada, na prestação de contas, mais atroz que a maldade de Sodoma (Ezequiel 16.48,49). Quanto mais agora que Ele lhes enviou o seu Filho, o grande Profeta.
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