MATEUS 10: 1- 4
Os Apóstolos São Enviados
Nestes versículos, temos:
I – Quem foram aqueles que Cristo ordenou para ser seus apóstolos ou embaixadores; eram seus discípulos (v. 1). Ele os tinha chamado, havia algum tempo, para que fossem discípulos, seus seguidores imediatos e ajudantes constantes, e naquela ocasião Ele lhes disse que eles deveriam ser pescadores de homens, promessa que Ele agora cumpria. Cristo normalmente concede honras e graças em estágios; a luz de ambas, como a luz da manhã, brilha cada vez mais. Durante todo o tempo, Cristo manteve esses doze:
1.Em uma situação de experiência. Embora conheça o ser humano, e soubesse desde o início o que havia neles (João 6.70), ainda assim Ele usou este método para dar um exemplo à sua igreja. Observe que sendo o ministério uma grande responsabilidade, era conveniente que os homens fossem testados durante algum tempo, antes que ele lhes fosse confiado. “E também estes sejam primeiro provados” (1 Timóteo 3.10). Portanto, “a ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1 Timóteo 5.22), mas deixai que esta pessoa seja, primeiramente, observada como um candidato em experiência, porque os pecados de alguns homens vão adiante, e outros os seguem.
2.Em uma condição de preparação. Todo o tempo Jesus esteve preparando-os para esta grande obra. Observe que aqueles que Cristo designa e chama para qualquer ser viço, Ele primeiramente, de certa maneira, os prepara e qualifica para tanto. Ele os preparou:
(1) Levando-os para estar com Ele. Observe que o melhor preparativo para a obra do ministério é o conhecimento e a comunhão com Jesus Cristo. Aqueles que o servem devem estar com Ele (João 12.26). Paulo teve Cristo revelado, não somente para ele, mas nele, antes que fosse pregá-lo entre os gentios (Gálatas 1.16). Pelos atos vivos de fé e pela prática frequente de orações e meditações, esta comunhão com Cristo deve ser mantida e preservada, e essa é uma qualificação essencial para a obra do ministério.
(2) Ensinando-os. Eles estavam com Ele como alunos, e Ele os ensinava em particular, além do benefício que eles obtinham com a sua pregação pública. Ele lhes abriu as Escrituras e ampliou sua compreensão para entenderem as Escrituras. Foi-lhes permitido conhecer os mistérios do Reino dos céus e para eles estes mistérios foram esclarecidos. Aqueles que são designados para ser professores devem, antes, ser aprendizes; eles de vem receber, antes que possam dar; eles devem ser capazes de ensinar outros (2 Timóteo 2.2). As verdades do Evangelho devem ser entregues a eles, antes que sejam encarregados de ser ministros do Evangelho. Dar a autoridade de ensinar a homens que não têm capacidade para isto não é nada mais que uma zombaria a Deus e à igreja; é mandar mensagens pelas mãos de um tolo (Provérbios 26.6). Cristo ensinou os seus discípulos antes de enviá-los (cap. 5.2), e depois, quando ampliou a missão deles, deu-lhes instruções mais amplas (At 1.3).
II – Qual foi a comissão que Ele lhes deu.
1.Ele os chamou para que viessem até Ele (v. 1). Ele os tinha chamado antes, para que o seguissem; agora Ele os chama para que venham até Ele, admitindo-os a uma familiaridade maior, e não mais os conservando a uma certa distância, de onde eles tinham observado até então. Aqueles que se humilharem, serão exaltados. Dizia-se que os sacerdotes, sob a lei, aproximavam-se de Deus mais que as outras pessoas; a mesma coisa pode ser dita sobre os ministros do Evangelho; eles são chamados a se aproximarem de Cristo, o que, assim como é uma honra, também deve lhes provocar um certo respeito e temor. Lembremo-nos de que Cristo será santificado naqueles que se aproximam dele. Percebe-se que quando os discípulos iam receber instruções, eles se aproximavam de Jesus por sua própria vontade (cap. 5.1). Mas agora que eles seriam ordenados, Ele os chamou. Convém aos discípulos de Cristo que se predisponham mais a aprender do que a ensinar. No sentido da nossa própria ignorância, devemos procurar oportunidades de sermos ensinados, e da mesma maneira nós devemos esperar por um chamado, um chamado claro, antes de assumir a responsabilidade de ensinar aos outros; pois nenhum homem deve apropriar-se dessa honra.
2.Ele lhes deu poder, autoridade no seu nome, para convocar os homens à obediência, e para a confirmação daquela autoridade que também coloca os demônios sob sujeição. Toda a autoridade legítima deriva de Jesus Cristo. Todo o poder é dado a Ele, sem limites, e os poderes subordinados são ordenados por Ele. Ele coloca sobre os seus ministros um pouco da sua honra, assim como Moisés colocou um pouco da sua honra sobre Josué. Note que é uma prova inegável da plenitude do poder que Cristo usava como Mediador o fato de que Ele pudesse distribuir o seu poder àqueles a quem Ele usava, e os capacitasse a realizar, em seu nome, os mesmos milagres que Ele realizava. Ele lhes deu poder sobre os espíritos imundos, e sobre todos os tipos de enfermidades. Observe que o desígnio do Evangelho é vencer o mal e curar o mundo. Estes pregadores foram enviados, destituídos de todas as vantagens externas que os pudessem recomendar: Eles não tinham riqueza, nem aprendizado, nem títulos honoríficos, e eram muito poucos; portanto, era essencial que eles tivessem algum poder extraordinário que os colocasse acima dos escribas.
(1). Ele lhes deu poder contra os espíritos imundos, para expulsá-los. Observe que o poder entregue aos ministros de Cristo está diretamente apontado contra o diabo e o seu reino. O diabo, sendo um espírito imundo, trabalha tanto em erros doutrinários (Apocalipse 16.13) como em concupiscências (2 Pedro 2.10); e, nos dois casos, os ministros têm uma acusação contra ele. Cristo lhes deu o poder de expulsá-lo dos corpos das pessoas; mas isto deveria significar a destruição do reino espiritual do diabo, como também de todas as suas obras; para este propósito, o Filho de Deus se manifestou.
(2). Ele lhes deu poder para curar todos os tipos de enfermidades. Ele os autorizou a realizar milagres para a confirmação da sua doutrina, para provar que ela era de Deus; e eles deviam realizar milagres úteis para exemplificá-la, para provar que ela não apenas era confiável, mas digna de toda a aceitação; que o desígnio do Evangelho é curar e salvar. Os milagres de Moisés eram, muitos deles, para a destruição. Os milagres que Cristo realizou, e designou aos seus apóstolos que realizassem, eram todos para a edificação, e evidenciavam que Ele era não apenas o grande Professor e Governante, mas também o grande Redentor do mundo. Observe que a ênfase é colocada sobre a extensão do seu poder, sobre toda enfermidade, e todo mal, sem a exceção nem mesmo daqueles que são reconhecidamente incuráveis, e com a censura dos médicos. Na graça do Evangelho, existe um a pomada para cada ferida, um remédio para cada doença. Não existe doença espiritual tão maligna, tão inveterada, mas existe suficiência de poder em Cristo para a sua cura. Que ninguém, portanto, diga que não existe esperança, ou que a brecha é tão grande quanto o mar a ponto de não poder ser curada.
III – O número e os nomes daqueles que foram comissionados. Eles foram feitos apóstolos, isto
é, mensageiros. Anjo e apóstolo, as duas palavras significam a mesma coisa, alguém enviado em uma missão, um embaixador. Todos os ministros fiéis são enviados por Cristo, mas aqueles que foram primeira e imediatamente enviados por Ele, são eminentemente chamados de apóstolos; os primeiros-ministros de estado no seu reino. Mas isto foi apenas a parte inicial do seu trabalho; quando Cristo ascendeu aos céus é que Ele deu alguns para apóstolos (Efésios 4.11). O próprio Cristo é chamado de apóstolo (Hebreus 3.1), pois foi enviado pelo Pai, e também os enviou (João 2.21). Os profetas eram chamados de mensageiros de Deus.
1.Eles eram doze, uma referência ao número de tribos de Israel, e aos filhos de Jacó, que eram os patriarcas dessas tribos. A Igreja do Evangelho é o Israel de Deus; os judeus foram os primeiros convidados a entrar nela; os apóstolos foram os pais espirituais, para gerar uma semente para Cristo. O Israel que segue a carne deve ser rejeitado pela sua infidelidade; estes doze, portanto, são nomeados para ser os pais de outra nação de Israel. Estes doze, pela sua doutrina, deverão julgar as doze tribos de Israel (Lucas 22.30). Eles eram as doze estrelas que constavam da coroa da igreja (Apocalipse 12.1), os doze fundamentos da nova Jerusalém (Apocalipse 21.12,14), caracterizados pelas doze pedras preciosas no peitoral de Arão, os doze pães na mesa dos pães da proposição, as doze fontes de água em Elim. Este era aquele famoso tribunal (e para torná-lo um grande tribunal, Paulo foi acrescentado a ele) que foi nomeado para analisar a situação entre o Rei dos reis e toda a humanidade. E, neste capítulo, os membros deste tribunal recebem a responsabilidade que lhes é dada por aquele a quem todo o julgamento foi confiado.
2.Os seus nomes são aqui registrados, e isto é feito para a honra deles. Até nisto eles tinham mais razões para se alegrar, porque os seus nomes estavam escritos nos céus (Lucas 10.20), enquanto os nomes dos arrogantes e poderosos da terra são enterrados na poeira. Observe:
(1).Dos doze apóstolos, há alguns sobre os quais as Escrituras não nos informam nada além dos seus nomes, como Bartolomeu e Simão, o zelote; e ainda assim eles foram servos fiéis a Cristo e à sua igreja. Observe que nem todos os bons ministros de Deus são igualmente famosos, nem os seus atos são comemorados da mesma maneira.
(2). Eles são nomeados em pares; pois no início assim foram enviados, porque dois é melhor que um; um serviria ao outro, e juntos serviriam melhor a Cristo e às almas; o que um deles esquecesse, o outro lembraria, e da boca de duas testemunhas todas as palavras se estabeleceriam. Três dos pares eram compostos de irmãos: Pedro e André, Tiago e João, e o outro Tiago e Lebeu. Observe que a amizade e o companheirismo devem ser mantidos nas relações, e devem ser úteis à religião. É algo excelente quando irmãos de sangue são irmãos pela graça, e estes dois laços fortalecem cada um deles.
(3). Pedro é nomeado em primeiro lugar, porque ele foi o primeiro a ser chamado ou porque ele era o mais entusiasmado deles, e em todas as ocasiões ele se fazia a voz dos demais, e além disso ele seria o apóstolo da circuncisão. Mas isso não lhe deu nenhum poder sobre os demais apóstolos, nem existe a menor marca de que qualquer supremacia lhe tenha sido dada, ou mesmo reivindicada por ele, neste grupo sagrado.
(4). Mateus, o escritor deste Evangelho, aqui se une a Tomé (v. 3), mas em dois aspectos existe uma diferença entre este relato e os de Marcos e Lucas (Marcos 3.18; Lucas 6.15), onde Mateus é citado em primeiro lugar; nesta ordem, ele parece ter sido ordenado antes de Tomé; mas aqui, na sua própria lista, Tomé é nomeado em primeiro lugar. Observe que é muito apropriado que os discípulos de Cristo desejem, uns aos outros, que estejam em honra. Nos livros de Marcos e Lucas, ele é chamado somente de Mateus; aqui, de Mateus, o publicano, o cobrador de impostos, que foi chamado daquele emprego Infame para ser um apóstolo. Bom é que aqueles que são promovidos à honra com Cristo, olhem para a rocha de onde foram cortados; frequentemente para se lembrarem do que eram antes que Cristo os chamasse, para que dessa maneira possam se conservar humildes, e para que a graça divina possa ser glorificada cada vez mais. Mateus, o apóstolo, era Mateus, o publicano.
(5). Em algumas versões em inglês, Simão é chamado de “o cananeu”, um homem de Caná da Galileia, onde provavelmente nasceu; aqui ele é chamado de Simão, “o zelote”, que alguns interpretam como sendo o significado de “cananeu”.
(6). Judas Iscariotes é sempre citado por último, e com aquela marca negra sobre o seu nome, “aquele que o traiu”; o que dá a entender que, desde o início, Cristo sabia quão infeliz aquele homem era, e também que tinha um demônio, e que provaria ser um traidor; ainda assim, Cristo o recebeu entre os apóstolos, para que não fosse uma surpresa e um desencorajamento para a sua igreja se, em alguma ocasião, os escândalos mais desprezíveis acontecessem nas melhores sociedades. Estas manchas têm estado nas nossas festas de caridade; joio em meio ao trigo, lobos junto às ovelhas; mas se aproxima o dia da descoberta e da separação, quando os hipócritas serão desmascarados e lançados fora. Nem o apostolado, nem os demais apóstolos, foram piores por Judas ter sido um dos doze, enquanto a sua maldade estava oculta.
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