MATEUS 9: 1-8
Cristo Cura um Paralítico
As primeiras palavras deste capítulo nos obrigam a olhar para o fechamento do que o precede, onde encontramos os gadarenos tão desgostosos com a companhia de Cristo, e se ressentindo tanto da perda de seus suínos, que lhe pediram para sair de seu território, E agora vemos que Ele entrou em um barco e atravessou para a outra margem. Os gadarenos ordenaram-lhe que fosse embora. Ele tomou as suas palavras ao pé da letra, e nós jamais lemos que Ele tenha pisado naquele território novamente. Neste ponto, observe:
1.Sua justiça ao deixá-los. Note que Cristo não permanecerá muito tempo onde não é bem-vindo. Em um julgamento justo, Ele abandona aqueles lugares e pessoas que estão cansados dele, mas permanece com aqueles que desejam e cortejam a sua presença. Se o descrente quer afastar-se de Cristo, que se afaste; ele está por sua conta (1 Coríntios 7.15).
2.Sua tolerância ao não deixar atrás de si nenhum castigo de destruição para puni-los, como mereciam, por seu desprezo e obstinação. Quão facilmente, e de forma merecida, Ele poderia ter dado a eles o mesmo destino dos seus porcos, que já estavam totalmente sob o poder do diabo. A provocação, realmente, era muito grande, mas Ele a suportou e ignorou; e, sem qualquer ressentimento exasperado ou censuras, Ele entrou em um barco, e atravessou para o outro lado. Este foi o dia de sua paciência. Ele não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-la; não para matar, mas para curar. Os julgamentos espirituais estão mais de acordo com as condições da época do início do Evangelho; alguns ainda observam que, naquelas guerras sangrentas que os romanos moveram contra os judeus, iniciadas não muitos anos depois disso, eles primeiro sitiaram a cidade de Gadara, onde esses gadarenos habitavam. Aqueles que afastaram Cristo para longe deles, atraíram para si mesmos toda sorte de sofrimentos. Ai de nós, se Deus nos deixar!
Ele entrou em sua própria cidade, Cafarnaum, o principal local de sua residência no momento (Marcos 2.1), e, portanto, chamada de sua cidade. Ele mesmo havia testemunhado que um profeta é menos apreciado em seu próprio país e cidade, mas apesar disso Ele foi para lá; porque procurava não sua própria glória, mas, estando em um estado de humilhação, Ele estava satisfeito em ser menosprezado pelas pessoas. Em Cafarnaum, ocorreram todas as circunstâncias registradas neste capítulo, e estão, portanto, reunidas aqui, embora, na harmonia dos evangelistas, outros eventos interviessem. Quando os gadarenos quiseram que Cristo partisse, Cafarnaum o recebeu. Se Cristo é insultado por alguns, há outros para quem Ele será glorioso; se alguns não o quiserem, outros vão querer.
O primeiro acontecimento, depois do retorno de Cristo para Cafarnaum, como registrado nestes versículos, foi a cura do paralítico. Nela, podemos observar:
I – A fé de seus amigos ao trazê-lo até Cristo. Tal era sua enfermidade, que ele não podia vir até Cristo por si mesmo, mas apenas carregado como foi. Note que mesmo os mancos e os aleijados podem ser trazidos a Cristo, e eles não serão rejeitados por Ele. Se fizermos tanto quanto pudermos, Ele nos aceitará. Cristo estava atento à fé deles. Criancinhas não podem ir por si mesmas a Cristo, mas Ele ficará de olho na fé daqueles que as trouxerem, e isso não será em vão. Jesus viu a fé deles, a fé do próprio paralítico, bem como a dos que o trouxeram. Jesus viu a sua fé, embora a sua enfermidade, talvez, tenha debilitado seu intelecto e prejudicado seu raciocínio. A fé deles era:
1.Uma fé poderosa. Eles acreditavam firmemente que Jesus Cristo podia e iria curá-lo; caso contrário eles não teriam trazido o homem doente a Ele tão ostensivamente, e com tanta dificuldade.
2.Uma fé humilde. Embora o doente não fosse capaz de dar um passo sequer, eles não pediram a Cristo para fazer-lhe uma visita, mas o trouxeram à presença dele. É mais adequado virmos a Cristo, do que Ele a nós.
3.Uma fé ativa e diligente. Na crença no poder e na bondade de Cristo, eles trouxeram o doente à sua presença, deitado em uma cama, o que não poderia ser feito sem muitas dificuldades. Observe que urna grande fé não considera nenhum obstáculo ao perseverar para chegar mais perto de Cristo.
II – A bondade de Cristo, naquilo que disse ao paralítico: “Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados”. Este era um soberano cordial para com um doente, cordial o suficiente para responsabilizar a doença pela sua condição de acamado, facilitando as coisas para ele. Não lemos sobre qualquer coisa dita a Cristo; provavelmente o pobre enfermo não podia falar, e aqueles que o trouxeram preferiram falar mais através de ações do que com palavras; eles o colocaram diante de Cristo; isso era o suficiente. Observe que não é em vão que apresentamos a nós mesmos e a nossos amigos a Cristo, como objetos de sua compaixão. O sofrimento clama tanto quanto o pecado; e, quando se trata de ouvir, a misericórdia é tão rápida quanto a justiça. Essa verdade está evidente nas palavras de Cristo:
1.Uma gentil saudação: “Filho”. Note que em exortações e consolações aos aflitos devemos falar como se es tivéssemos falando com os nossos filhos, pois as aflições são disciplinas paternas (Hebreus 12.5).
2.Um generoso encorajamento: “Tem bom ânimo”. Tenha esperança; alegre o seu espírito. Provavelmente o pobre homem, quando foi baixado entre eles em sua cama, estava desconcertado, com medo de uma repreensão por ter sido trazido assim tão rudemente. Mas Cristo não se baseia em formalismos; Ele o convida a ficar de bom ânimo; tudo ficaria bem, ele não ficaria deitado diante de Cristo em vão. Cristo convida-o a ter bom ânimo; e então o cura. Aqueles a quem Ele distribuiu a sua graça ficarão felizes em segui-lo, e em confiar nele; e terão coragem.
3.Uma boa razão par a aquele encorajamento: “Perdoados te são os teus pecados”. Neste momento, isso deve ser considerado:
(1) Como uma introdução para a cura da enfermidade corporal do homem. “Perdoados te são os teus pecados”, e, portanto, tu serás curado. Note que como o pecado é a causa da doença, assim o perdão dos pecados é o conforto da recuperação da doença. O pecado pode ser perdoado, e mesmo assim a doença pode não ser removida; há casos em que a doença é removida, e o pecado não é perdoado. Mas se tivermos o conforto da nossa reconciliação com Deus junto com o conforto de nossa recuperação das doenças, isso se torna realmente uma grande misericórdia para nós, como foi para Ezequias (Isaias 38.17). Ou:
(2) Como uma razão para a ordem de ter bom ânimo, esteja ele curado de sua doença ou não, temos o seguinte raciocínio: “Mesmo que eu não te cure, não dirás que me buscaste em vão se eu te assegurar que os teus pecados estão perdoados. Não verás isto como um alívio suficiente, mesmo que continues paralítico?” Aqueles que, através da graça, têm alguma evidência do perdão de seus pecados, possuem razões para ter bom ânimo, quaisquer que sejam os aparentes problemas ou aflições que estejam enfrentando (veja Isaias 33.24).
III – A crítica dos escribas ao que Cristo disse (v. 3). Eles disseram interiormente, em seus corações, entre eles, em seus murmúrios secretos: “Ele blasfema”. Veja como o maior exemplo do poder e graça do céu é marcado a ferro com a nota mais negra da hostilidade do inferno. O perdão de Cristo aos pecados é chamado de blasfêmia; não teria sido nada menos que isso, se Ele não tivesse sido designado por Deus para realizar tal obra. Os seus acusadores, então, é que são culpados de blasfêmia, por não terem tal autoridade e ainda fingirem que perdoavam pecados.
IV – A convicção que Cristo lhes deu da irracionalidade dessa objeção, antes que prosseguisse.
- Ele os acusou. Embora somente tivessem falado entre eles, Ele conhecia seus pensamentos. Note que o nosso Senhor Jesus tem o conhecimento perfeito de tudo o que pensamos. Os pensamentos são secretos; porém, de repente, mesmo assim são desnudados e abertos diante de Cristo, a Palavra eterna (Hebreus 4.12,13), e Ele os entende à distância (SaImos 139. 2). Ele poderia dizer a eles (o que nenhum homem poderia): “Por que pensais mal em vosso coração?” Existe muito mal em pensamentos pecaminosos, que são muito ofensivos ao Senhor Jesus. Sendo Ele o Soberano do coração, pensamentos pecaminosos violam seu direito e perturbam sua posse; Ele os percebe e fica muito descontente com eles. Neles aloja-se a raiz da amargura (Genesis 6.5). Os pecados que começam e terminam no coração, e não vão além, são tão perigosos quanto quaisquer outros.
- Ele discutiu com eles por causa disso (vv. 5,6). Onde se observa:
- Como Ele afirma sua autoridade no reino da graça. Ele toma para si a incumbência de provar que o Filho do Homem, o Mediador, tem poder na terra para perdoar pecados; pois, por essa razão, o Pai confiou ao Filho todos os julgamentos, e lhe deu essa autoridade, porque Ele é o Filho do Homem (João 5.22,27). Se Ele tem poder para conceder a vida eterna, como certamente tem (João 17.2), Ele tem poder para perdoar os pecados; porque a culpa é uma barreira que deve ser removida, ou nunca poderemos chegar ao céu. Que estimulo para os pobres pecadores se arrependerem: o poder de perdoar os pecados está colocado nas mãos do Filho do Homem, que tem ossos como os nossos ossos! E se Ele tinha esse poder na terra, muito mais agora que está exaltado à direita do Pai, como Príncipe e Salvador, para dar o arrependimento e a remissão dos pecados (Atos 5.31).
- Como Ele prova isso: através de seu poder no reino da natureza; seu poder de curar doenças. “Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda?”. Ele que pode curar das doenças, quer declaradamente como um profeta, quer de maneira impositiva como Deus, pode, da mesma forma, perdoar os pecados. Ora:
[1] Este é um argumento comum para provar que Cristo tinha uma missão divina. Seus milagres, especialmente suas curas milagrosas, confirmam o que Ele disse de si mesmo, que Ele era o Filho de Deus. O poder evidenciado em suas curas prova que Ele foi enviado por Deus; a misericórdia mostrada nelas prova que Ele foi enviado por Deus para curar e salvar. O Deus da verdade não colocaria o seu selo em uma mentira.
[2] Havia um a peculiar força de persuasão neste caso. A paralisia não era mais que um sintoma da doença do pecado; e agora Ele deixou claro que poderia efetivamente curar a doença original, pela remoção imediata daquele sintoma; havia uma ligação muito próxima entre o pecado e a doença. Aquele que tinha poder para retirar o castigo, sem dúvida, tinha poder para perdoar o pecado. Os escribas se apoiavam muito em uma justiça legalista, e depositavam sua confiança nisso. Eles não davam muita importância ao perdão dos pecados, a doutrina que Cristo tencionava exaltar aqui, mostrando que a sua grande missão no mundo era salvar o seu povo dos pecados que praticavam.
V – A cura instantânea do homem enfermo. Cristo desviou-se da discussão com eles e disse ao paralítico palavras de cura. As discussões mais necessárias não devem nos desviar de fazer o bem que a nossa mão procura fazer. Ele disse ao paralítico: “Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa”; e uma força vivificadora acompanhou esta palavra (v. 7): “E, levantando-se, foi para sua casa”. Agora:
1.Cristo lhe ordena que tome a sua cama, para mostrar que ele estava perfeitamente curado e que não só não teria mais motivo para ser carregado em sua cama, como também tinha força para carregá-la.
2.Ele o mandou para casa, para ser uma bênção para sua família, onde ele havia sido um fardo por muito tempo; e não o levou consigo para o exibir, o que fariam em tais situações aqueles que buscam a glória que vem dos homens.
VI – A impressão que isso causou na multidão (v. 8): ”A multidão, vendo isso, maravilhou-se e glorificou a Deus”. Todo o nosso assombro deveria ajudar a aumentar em nossos corações a glorificação a Deus, que sozinho faz tantas coisas maravilhosas. Eles glorificaram a Deus pelo que Ele tinha feito por esse pobre homem. Deveríamos louvar a Deus pela misericórdia concedida aos outros e deveríamos agradecer por ela, pois somos parte uns dos outros. Embora poucos nessa multidão estivessem convencidos disso a ponto de chegar a crer em Cristo, mesmo assim eles o admiravam, não como Deus, ou o Filho de Deus, mas como um homem a quem Deus tinha dado tal poder. Note que Deus deve ser glorificado em todo o poder que é dado aos homens para fazer o bem. Por que todo poder se origina dele; está nele, como fonte, e nos homens, como cisternas.
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