PSICOLOGIA ANALÍTICA

Comer com inteligência

COMER COM INTELIGÊNCIA

Nosso comportamento alimentar, diferentemente do de outros primatas, baseia-se no aprendizado e na imitação: escolhemos provar uma nova comida de acordo com o que fazem os outros.

Deixando de lado as diferenças culturais, as atividades humanas inerentes à alimentação – do cultivo à colheita, do preparo ao consumo –  são todas influenciadas pela sociabilidade. O contexto social em que vivemos tem um papel importante na determinação de nossas escolhas alimentares e, frequentemente, os alimentos preferidos não são os mais adequados do ponto de vista nutricional, mas os que agradam às pessoas ao lado das quais nos alimentamos. Também os macacos – a espécie mais próxima do homem do ponto de vista filogenético – comem reunidos, prestando atenção ao que fazem os companheiros.

Dada sua semelhança morfológica e comportamental com o homem, sempre se pensou que os macacos aprendem o que devia comer observando o comportamento de outros símios e que a difusão de novos hábitos alimentares seja fruto dessa observação. No caso do macaco-prego – símio sul americano onívoro como o homem -, porém, a pesquisa experimental não confirmou essa suposição aparentemente verossímil.

Os animais onívoros, que devem procurar frequentemente novos recursos alimentares, enfrentam um difícil dilema. Comer algo desconhecido pode causar intoxicação, mas evitar o novo pode significar perder a oportunidade de descobrir um alimento bom e nutritivo. O que fazer? Para resolver a questão pode-se experimentar o alimento com extrema cautela, e assim aprender pela própria experiência, ou atentar para como se comportam indivíduos mais experientes e fazer o mesmo. Mas, como os bebês e os símios se comportam diante de alimentos desconhecidos? A neofobia – isto é, a pequena aversão a experimentar novas comidas é um traço cultural característico da alimentação humana. Geralmente, essa característica exibe uma trajetória em forma de parábola, é reduzida nos bebês ainda dependentes do leite materno, atinge o ápice durante o desmame e decresce novamente quando esta fase se completa, momento em que muitos alimentos já fazem parte da dieta.

Além disso, a neofobia é influenciada pelo tipo de amamentação. Os bebês amamentados no seio, precocemente expostos aos vários sabores dos alimentos consumidos pela mãe, são geralmente menos neofóbicos que os nutridos com leite artificial. A oferta constante de novos alimentos pode reduzira relutância em experimentá-los: na idade pré-escolar as crianças tendem a incluir espontaneamente determinadas comidas na dieta após experimentar pequenas quantidades uma dezena de vezes.

Mas o homem não é o único primata neofóbico: saguis, chimpanzés e macacos-prego também o são. O macaco-prego é extremamente cauteloso em relação a novos alimentos, seja na natureza, seja no laboratório. Quando no Parque Nacional de Iguazú, na Argentina, Llaria Agostini apresentou a um grupo de 25 macacos-prego alimentos familiares (banana) e novos (amêndoas descascadas, maçãs secas e outros alimentos que os macacos de nosso laboratório comiam com entusiasmo), o que era conhecido foi devorado em poucos minutos, ao passo que as novidades quase não foram degustadas. Embora todos mostrassem cautela, os menos temerários foram os adultos, cujo acesso limitado aos recursos do grupo os obriga a procurar alternativas.

Embora representando uma proteção eficaz contra a ingestão de alimento novo em quantidades que podem ser perigosas, a neofobia é uma solução muito radical para uma espécie onívora como o macaco prego, cuja sobrevivência depende da capacidade de ampliar novos recursos nutritivos. Nesse macaco, assim como no homem, a neofobia é atenuada pela experiência: se a ingestão de novos alimentos não é seguida por mal-estar gastrointestinal, basta um certo número de contatos para que a comida seja aceita e consumida. Mas a neofobia pode ser influenciada pelo comportamento dos outros? Diante de um novo alimento, o indivíduo presta atenção no que fazem os demais e se comporta da mesma forma?

O PRATO DO VIZINHO

Para um bebê, o contexto social em que o novo alimento é encontrado é fundamental para que seja incluído na dieta. Diversos experimentos mostraram que a novidade é aceita mais rapidamente quando um adulto a come e que a observação do que fazem outros bebês pode alterar preferências alimentares já adquiridas. Também para o símio, a alimentação é uma atividade social. Segundo a antropóloga americana Barbara King, quando as símias comem próximas umas das outras, observando e cheirando o alimento e a boca alheios, adquirem informações sobre a comida. Ê dessa forma, observando os companheiros, que os indivíduos mais jovens e menos experientes aprendem o que comer.

Para verificar a hipótese, realizamos alguns experimentos com macacos-prego. há alguns anos já havíamos mostrado que, para esse animal, o contexto social influencia a aceitação e o consumo de novos alimentos: um macaco-prego inexperiente é mais inclinado a comer algo novo quando está em grupo, e quanto mais companheiros estiverem presentes, tanto mais ele comerá.

É importante notar, entretanto, que a observação de indivíduos experientes só permite adquirir a dieta correta se a comida que eles consomem e aquela que o animal inexperiente encontra forem a mesma. Por outro lado, não é possível inferir do comportamento de companheiros experientes que ingerem uma comida diferente se o alimento novo é comestível ou não. Portanto, se os símios de fato aprendem o que comer com os outros, então um macaco-prego observador deveria consumir mais alimento novo quando os demonstradores comem algo da mesma cor do que quando ingerem alimentos de cor diferente.

Surpreendentemente, nossos experimentos revelaram que os observadores aceitam um alimento novo prescindindo da cor do alimento ingerido pelos demonstradores. Nem mesmo quando devem escolher entre dois alimentos de cor diferente eles se deixam influenciar pela cor da comida que os demonstradores estão consumindo. Crianças em idade pré-escolar, porém, só aceitam alimento novo quando o adulto observado come algo de cor idêntica.

Embora possa nos parecer óbvio que o indivíduo deva considerar bom e comer o mesmo alimento consumido por outros, esse processo mental não é imediato para o símio. Para chegar a essa conclusão, o animal avalia a semelhança entre os alimentos e emprega um raciocínio de tipo condicional. Ela pensa que, se o seu alimento é igual ao de seus companheiros experientes, então o fato de que estes o estão comendo significa que é bom. Ao contrário, se sua comida difere da consumida pelos outros, então o que estes estão ingerindo é irrelevante para ela.

Nos macacos-prego, as influências sociais reduzem a neofobia, mas não parecem fornecer indicações sobre o que comer. A criança de 3 anos, porém, já está em condições de empregar esse sofisticado raciocínio e, portanto, de comer apenas quando é “seguro” fazê-lo: vale dizer. quando sua comida e a do demonstrador têm a mesma cor.

CONHECER PARA EVITAR

Aprender, mediante observação do comportamento alheio, que um alimento é tóxico deve ser mais vantajoso do que tentar aprender sozinho, por tentativa e erro. Todavia, se para nós isso é óbvio, para os símios não é. Até agora não há provas experimentais mostrando que as símias aprendem a evitar um alimento por meio da observação de indivíduos experientes que não o comem. Quando um grupo de macacos-prego de nosso laboratório deparou com uma comida desagradável, nenhum deles deu atenção ao fato de que os outros a evitaram: todos experimentaram um pouco. Os macacos-prego não são a única espécie que não aprende com os outros a evitar um alimento. Também nesse caso, aquilo que nos parece algo óbvio, que requer apenas um raciocínio elementar, é de fato um problema de notável complexidade. Aprender algo observando o que outros não fazem é muito mais difícil, do ponto de vista cognitivo, do que aprender com o que fazem. Para ser instruído por um fato que não se verificou, o indivíduo deve imaginar o evento que deveria ter acontecido, notar a sua ausência e deduzir a possível causa que impediu sua ocorrência.

No fascinante livro Fome e Abundância, História da alimentação na Europa, Massimo Momanari, professor de história medieval da Universidade de Bolonha e historiador da alimentação – narra a experiência de um ermitão que, retirando-se para meditar no deserto, não sabia distinguir entre plantas boas e venenosas. Após dias de jejum, observou o comportamento de uma cabra. Agora que sabemos como é difícil para os animais aprender com os outros, podemos avaliar a inteligência desse homem.

Outra opinião bastante difundida, fruto de nossa visão antropomórfica, é a de que as mães símias ensinam aos filhotes o que comer e o que evitar. Ensinar é uma atividade complexa do ponto de vista cognitivo, para ensinar o que comer é preciso saber se determinado alimento é tóxico ou não, se o outro sabe disso e, caso não saiba, que é necessário instruí-lo.

Sempre que a capacidade de ensinar foi sistematicamente estudada, concluiu-se que as mães não tentam “orientar” a escolha alimentar feita pelos filhotes. De fato, há apenas raras observações sobrea intervenção ativa para evitar que o filhote coma determinado alimento, provavelmente tóxico. O ensino ativo também é raro em outros domínios do comportamento. Por exemplo, ao contrário do que ocorre em nossa espécie, as mães não ensinam ativamente aos filhos como resolver um problema ou usar certo instrumento.

Do que vimos até aqui, conclui-se que o ensino e o aprendizado com a observação e a repetição de detalhes do comportamento alheio ou com a ausência deste exigem capacidades cognitivas que os símios não parecem possuir. Sabemos, porém, que as diversas espécies de símios evitam predadores, resolvem inúmeros problemas e elaboram uma dieta que não coloca suas vidas em risco.

Observando o comportamento espontâneo dos macacos-prego, nota-se uma série de influências sociais vagas que aumentam a probabilidade deque o indivíduo se comporte como seus companheiros: por exemplo, a tolerância entre indivíduos, a proximidade que favorece o encontro dos alimentos, o ato de pegar a comida da boca do outro ou a ingestão dos restos deixados por um companheiro.

APRENDER COM A EXPERIÊNCIA

A experiência individual pode ser suficiente para a formação de dietas corretas. Os símios, assim como muitos outros animais, têm três características fisiológicas e comportamentais fundamentais para que o indivíduo aprenda, com a própria experiência, a ampliar a dieta evitando riscos fatais: a preferência por certos sabores, a cautela em relação a alimentos jamais experimentados e a aquisição da aversão alimentar.

Os símios revelam acentuada preferência por alimentos doces e evitam os amargos, resultado do processo evolutivo que plasmou o paladar de forma a maximizar a obtenção de energia e minimizar a ingestão ele substâncias tóxicas (na natureza, em geral, os alimentos doces não contêm alta concentração de substâncias tóxicas, abundantes nos amargos).

Além disso, as símias são extremamente cautelosas quando experimentam alimento novo. Um mecanismo simples permite que elas aprendam, com a experiência, a evitar comida tóxica: quando experimenta algo novo e sente problemas gastrointestinais, ela associa o alimento ao mal-estar e, assim, aprende a não comê-lo mais.

Esse fenômeno – tecnicamente chamado de “aprendizado de aversão alimentar” –  é extremamente eficaz, pois exige um número limitado de experiências, persiste por muito tempo e é mais rápido se o alimento é novo. O aprendizado é bastante disseminado no reino animal e, no homem, pode determinar idiossincrasias em relação a novas comidas e às que eram anteriormente apreciadas. As influências sociais, que em nossa espécie têm canta importância, são abafadas pela força da aversão que a pessoa adquiriu sozinha.

À luz de nossos resultados, parece que no macaco-prego, mas provavelmente também em outras espécies de símios, as influências sociais genéricas e a experiência individual permitem que o indivíduo aprenda o que comer sem que sejam empregados processos cognitivos mais complexos, cuja presença nessas espécies ainda precisa ser demonstrada.

Quando foram oferecidos sete tipos de alimentos aos macacos-prego, alguns dos animais estavam sozinhos (condição individual) e outros em companhia de membros do grupo (condição social). Independentemente da condição social ou individual, as preferências se orientaram pelas comidas energéticas. Isso mostra que, também no que diz respeito à aquisição de preferências alimentares, o papel do contexto social é secundário.

COMO O MACACO-PREGO ESCOLHE

Segundo a teoria do optimal foraging, a seleção natural favorece as espécies que privilegiam a obtenção de energia e de substancias nutritivas, escolhendo os alimentos mais adequados. Todavia, quando se experimenta um alimento, o feedback sensorial devido ao sabor precede as consequências fisiológicas de sua Ingestão, geradas pelas substâncias, nutritivas ou tóxicas, que contém. Investigamos se as símias avaliam um alimento novo desde as primeiras mordidas e se essa avaliação muda quando a comida se toma familiar. Pesquisamos ainda se as influências sociais modificam as preferências alimentares. Gloria Sabbatini e Margherita Stammati ofereceram sete novos tipos de alimentos a 26 macacos-prego. Cada um deles era apresentado em par, cobrindo todas as 21 combinações possíveis: cada alimento devia ser escolhido seis vezes. Após essa limitada experiência, os macacos já efetuavam escolhas conforme o conteúdo de glicose e de frutos e dos alimentos. Alimentos com alto conteúdo de açúcar (como abacaxi) eram preferidos aos que tinham pouca quantidade dessa substância (como couve). Após contatos posteriores em que puderam comer os sete alimentos à vontade, as preferências mudaram e as símias não mais se basearam apenas no conteúdo de açúcar, mas também na energia total, independentemente da fonte dessa energia (açúcar, proteína ou gordura).

Esses resultados mostram que o feedback sensorial Imediato, isto é, o gosto doce do alimento, determina inicialmente as preferências. Mas, em seguida, o indivíduo aprende a levar em conta outros fatores e, nesse ponto, privilegia os alimentos com alto conteúdo de energia e que produzem um feedback fisiológico positivo, isto é, uma sensação de saciedade.

HERANÇA ALIMENTAR

As tradições são elementos constitutivos da cultura e as relações entre aprendizado social. Tradições e cultura são ainda objeto de pesquisa intensamente debatido. Um comportamento é considerado tradicional ou cultural se: (a) está amplamente disseminado entre os membros de uma ou mais populações e ausente em outras que vivem em áreas ecologicamente similares;

(b)  a presença em uma população e a ausência na outra não puder ser atribuída a diferenças ecológicas entre as áreas em que vivem e/ ou a diferenças genéticas; e (c) mantém-se ao longo do tempo e é transmitido de uma geração a outra mediante aprendizado social. Alguns primatólogos observaram diversas populações de chimpanzés por um período que seria equivalente a 151 anos e concluíram que existe entre eles um número considerável de comportamentos culturais. Por exemplo, os chimpanzés de determinada população usam pedras e bigornas para quebrar nozes muito duras, ao passo que em outra população nenhum instrumento é usado. Também a limpeza recíproca dos pelos (grooming) varia entre as populações. Comportamentos culturais estão presentes ainda nos orangotangos e em algumas espécies de cetáceos. Em populações naturais de Cebus copucinus há tradições comportamentais relativas às técnicas de processamento de certos alimentos ou à modalidade de captura de presas. Dado que tais diferenças não parecem ocasionadas por fatores genéticos ou ecológicos, cabe pensar que se trata de tradições. Recentemente, nessa mesma população de Cebus copucinus, Susan Perry e colaboradores observaram um comportamento singular em que uma símia inseria os dedos no nariz ou na boca de outra símia, que por sua vez fazia o mesmo com a companheira. Os pesquisadores elaboraram a hipótese de que esse arriscado hábito tinha a função de avaliar a qualidade das relações sociais. Mas são necessários estudos controlados de laboratório para compreender quais processos de aprendizagem social permitem a difusão desses comportamentos e para estabelecer o papel da influência social na experiência individual. Nossas pesquisas são um primeiro passo nessa direção.

ELISABETTA VISALBERCHI – é primatóloga e pesquisadora do Instituto de Ciência e Tecnologia da Cognição (ISTC)do Conselho Nacional de Pesquisa Italiano.

ELSA ADDESSI – é pesquisadora em biologia animal e bolsista no ISTC.

GESTÃO E CARREIRA

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#PARTIU NOVOS DESAFIOS

Como saber se chegou o momento de encerrar um ciclo na sua vida e virar a página.

 Anos desafiadores como os de crise, que estamos enfrentando neste agora, pedem coragem em vários sentidos. É preciso coragem para se manter produtivo e otimista, para continuar fazendo um bom trabalho apesar das diversidades e, também, para dar uma guinada na sua vida quando as coisas não estão seguindo o caminho que você imaginava. Mas essa coragem para mudar nem sempre é uma tarefa fácil. Afinal, é comum que os profissionais entrem em uma zona de conforto e se mantenham lá até serem obrigados a se reinventar. Só que quem percebe qual é o momento de partir para outra sai na frente: essa consciência é essencial para que a realidade de uma demissão, por exemplo, não pegue você de surpresa. É claro que mudar é assustador, mas, quando isso acontece, essa é a melhor decisão a ser tomada. “Se a pessoa não muda, fica esperando eternamente algo que não vem”, diz Telma Guido, especialista em transição de carreira da Right Management Brasil, consultoria de São Paulo. Ao longo desta reportagem, mostramos como virar a página da sua vida e como entender se está na hora de correr atrás de um novo emprego, abandonar um projeto que não vinga, fechar um empreendimento, aca- bar com um mau hábito, repensar os seus objetivos de carreira ou encerrar um ciclo. Os profissionais desta matéria vão inspirar você a respirar fundo e se jogar sem medo em um novo desafio.

#É HORA DE MUDAR UM HÁBITO

Seja tomar café, colocar o cinto de segurança, roer as unhas ou fumar, de acordo com uma pesquisa da Universidade Duke, dos Estados Unidos, os hábitos estão presentes em 40% dos nossos dias – tanto os bons quanto os ruins. “Hábito é toda ação que não envolve um processo de decisão, quando entramos no piloto automático e não temos mais consciência de que estamos fazendo algo”, diz Sâmia Simurro vice-presidente de projetos da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, de São Paulo.

Assim como no dia a dia, os hábitos ruins no trabalho podem ter consequências na saúde e nos relacionamentos. “Quando a pessoa começa a ter prejuízos e negligencia tarefas, é sinal de que convive com um mau hábito”, diz Renata Maransaldi, psicóloga e coach, de São Paulo. Clarissa Soneghet, de 35 anos, só percebeu que o hábito de trabalhar demais era prejudicial quando teve um problema sério no quadril. Formada em turismo, ela assumiu uma posição como gerente de produção de eventos e chegava a passar dez, 12 horas no trabalho – inclusive aos finais de sema- na. “Mais que o tempo, o ritmo de trabalho era muito frenético, eu sou perfeccionista e queria acompanhar tudo de perto, nada podia dar errado”, afirma Clarissa.

Quando saiu da área de eventos, Clarissa migrou para marketing em uma agência e o cenário não mudou. “Eu era responsável pelos lançamentos dos produtos. Chegou uma hora que não tinha tempo de fazer mais nada, o trabalho consumia toda a minha dedicação”, afirma Clarissa. Mesmo sofrendo constantemente de enxaqueca crônica foi só em 2012, quando teve o problema no quadril, que ela repensou seu estilo de vida. “Comecei a questionar por que eu gastava tanta energia em projetos com os quais eu não me identificava. Os prazos sempre para ontem me incomodavam também. Daí eu decidi que era hora de construir algo para mim”, afirma Clarissa.

Ela queria mudar e, para isso, fez um exercício de autoconhecimento parecido com o descrito no best-seller O Poder do Hábito, lançado em 2012. No livro, o escritor Charles Duhigg afirma que os hábitos são compostos de três etapas e que precisamos compreendê-las para nos livrarmos deles. São elas: o sinal ou o gatilho que desencadeia aquela ação, a rotina ou a frequência com que o realizamos e aquilo que buscamos ao repetir o hábito. Para Clarissa, o impulso surgiu após um curso de empreendedorismo, no qual ampliou sua visão sobre outras formas de trabalho e conheceu sua atual sócia, Nathália Roberto. Juntas fundaram, em 2014, a Kind, uma empresa de consultoria voltada para o universo feminino. Hoje, com horários flexíveis e mais autonomia, Clarissa nem cogita voltar ao modelo antigo de trabalho. “Agora faço exercícios e tenho flexibilidade para escolher parceiros de negócios”, diz.

5 PERGUNTAS PARA MUDAR UM HÁBITO

1.Esse hábito está prejudicando algum aspecto da minha vida?

2.Qual o motivo pelo qual eu realizo essa ação?

3.Eu estou motivado a mudar esse hábito?

4.Qual o meu plano de ação para isso?

5.Como eu vou me manter afastado desse hábito?

#É HORA DE ENCERRAR UM CICLO

Mesmo que os ciclos profissionais tenham encurtado, encerrar uma etapa ainda gera conflitos. “A maioria das pessoas não possui um plano para a carreira e, por isso, esse momento vem associado a uma crise”, diz Vera Vasconcelos, da Produtive, consultoria de carreira, de São Paulo. E, quando as causas desse desejo de mudança são originadas pelas emoções, o processo fica mais complicado. “Quando a pessoa tem uma visão clara do que quer, lê o cenário e encerra uma etapa porque não possui mais possibilidades de concretizar os objetivos. Isso acontece naturalmente”, diz Telma Guido, da Right Management.

Esse foi o caso do engenheiro Eduardo Lima, de 38 anos, CEO da eduK, plataforma de cursos online. Após anos trabalhando na área de mineração e siderurgia, Eduardo percebeu que seus objetivos haviam mudado: “Eu ia trabalhar todo dia e questionava o que eu estava fazendo ali, pensava que precisava encontrar outro caminho profissional”, diz. O sonho de empreender era uma inquietação. Então o mineiro fez um plano para dar uma guinada. “Pesquisei modelos de negócios, mas nunca tinha achado algo com que eu me identificasse, até que, em 2007, surgiu o convite de um amigo de Belo Horizonte que estava montando uma franquia de e-commerce, a Neomerkato.” No começo, ele trabalhava nas horas livres, mas depois começou a investir, o empreendimento cresceu e ele abandonou de vez a engenha- ria, passando a trabalhar de casa.

Embora a mudança de Eduardo tenha ocorrido em poucos meses, não existe um prazo correto para definir quando é exatamente a hora de encerrar um ciclo. Algumas pessoas precisam sempre de estímulos, de mudanças, de adrenalina e, para elas, os ciclos fecham mais rápido. Para outras, é necessário estabilidade e movimentos de carreira mais tranquilos. “Fazer algumas perguntas como: ‘O que eu ganho se eu continuar aqui? E o que perco?’ ajudam a analisar se o problema está no lugar em que você trabalha ou em você mesmo”, diz José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), de São Paulo. A motivação e a satisfação com o trabalho são alguns dos sinais mais claros que devem ser levados em conta na hora de decidir partir pra outra. “Todo ser humano busca felicidade, e isso está diretamente ligado com engajamento, com o sentimento de ter uma missão e contribuir para algo”, diz José Roberto.

Depois que encontrou seu caminho no empreendedorismo, Eduardo estava próximo desse estágio. Mas conseguiu conquistar de fato o tão desejado propósito quando montou, ao lado de um amigo, a eduK.

Criada em 2013, a empresa tem estúdios para gravação de aulas online dos mais diversos tipos – de empreendedorismo a moda – e hoje conta com mais de 100 mil assinantes. “Sinto que mudei pela minha qualidade de vida e porque queria mais satisfação. No começo, cheguei a ganhar menos. Mas agora eu trabalho com um propósito, que é a educação”, afirma Eduardo.

5 PERGUNTAS PARA SE FAZER ANTES DE DESISTIR DE UM CICLO

1.Quais foram os meus aprendizados?

2.Eu entreguei todos os projetos com os quais me comprometi?

3.A causa da minha insatisfação está em mim ou no meu trabalho?

4.Onde estou não existe mais possibilidade de mudanças?

5.O que eu faço deixou de fazer sentido?

#É HORA DE MUDAR DE EMPREGO

Os motivos para querer deixar um emprego podem ser inúmeros. Na crise, costuma pesar a falta de reconhecimento, a remuneração baixa, a pressão, as equipes enxutas. E o fator chefe chato sempre é uma questão. Antes de pedir demissão, porém, é preciso identificar esses problemas, avaliar se existe uma solução e medir a temperatura do mercado. “Mesmo sendo um momento difícil, cada um precisa saber avaliar se vale a pena continuar em um lugar que não lhe faz bem”, diz Isabella Santoyo, coach de vida e carreira, de São Paulo. Essa foi a estratégia de Lara Hammoud, de 24 anos, gerente de finanças na Bidu, startup de seguros, de São Paulo. Formada em administração, ela trabalhava em uma consultoria onde aprendeu bastante, mas tinha medo de ficar presa em uma carreira mais consultiva e não conhecer a rotina de uma empresa. “Além disso, me incomodava o fato de ser prestadora de serviços e não desenvolver relações de longo prazo”, diz Lara.

Para encontrar qual caminho trilhar, a paulistana fez algo altamente recomendado pelos especialistas: conversar com amigos e colegas que já enfrentaram a situação. “Fazer um planejamento da mudança é fundamental para encontrar uma saída e entender aonde você quer chegar”, diz Isabella. Com isso em mente, Lara começou a entender que não queria uma carreira numa multinacional, por exemplo, e que desejava algo mais dinâmico. Um dos amigos sugeriu que, talvez, ela tivesse perfil para trabalhar em uma startup e a indicou para entrar na Bidu. “Foi tudo muito rápido, eles precisavam de alguém e, em menos de duas se- manas, eu já tinha sido contratada”, diz Lara. Mas, antes de dar a palavra final, ela voltou várias vezes na empresa, conversou com gestores e colegas com os quais trabalharia. “Expliquei que não possuía experiência em diversas atuações e que precisava de um tempo para aprender e de suporte”, afirma. As portas da empresa anterior continuaram abertas. Isso porque a administradora não saiu de supetão: indicou ao chefe que estava se sentindo estagnada – o que é fundamental. “Fazer uma análise detalhada de que a insatisfação continua mesmo depois de pensar em alternativas dentro do atual emprego é funda- mental”, diz Isabella.

Além da ânsia por se demitir logo, outro erro que os profissionais cometem é de postergar demais a decisão da saída. Quando há muito desgaste emocional (e até físico) e os valores não estão mais alinhados, não tem jeito: é hora de partir para outra. “Quando há essa combinação, a pessoa não se sente mais engajada e sair faz todo o sentido”, diz Isabella. Ficar no em- prego apenas por receio do que os outros vão achar da sua decisão ou porque você prefere insistir em algo que está lhe fazendo mal em vez de encontrar outra solução é terrível. Isso só vai minar as suas energias e minguar sua força de vontade para tentar algo novo.

5 PERGUNTAS PARA SE FAZER ANTES DE DEIXAR SEU EMPREGO

1.Meus valores estão alinhados aos valores da empresa?

2.Minhas habilidades estão sendo utilizadas?

3.Sinto vontade para desempenhar o que esperam de mim?

4.Vejo um futuro e desejo crescer junto com a empresa?

5.Estou ficando doente por causa de aspectos do trabalho com os quais não consigo lidar?

#É HORA DE DESAPEGAR DE UM PROJETO

Quem trabalha com projetos sabe como é grande a pressão para que as empreitadas deem certo rapidamente – ainda mais na crise, quando os investimentos minguam. “A principal habilidade para trabalhar bem com isso é decidir rápido”, diz Randes Enes, professor da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. É evidente que projetos precisam de um tempo hábil para dar certo, e muitas vezes a ansiedade acaba atrapalhando. Mas há um limite entre insistir em algo que vai parar em pé e em algo que está fadado a dar errado.

Alexandre da Silva, de 53 anos, líder da área de sistemas inteligentes do Centro de Pesquisas Global da GE no Brasil, lida com essas questões. Ele é responsável por coordenar um grupo de pesquisadores que trata de automação industrial avançada e atua em diferentes negócios da GE, em setores como óleo e gás, energia elétrica, transportes ferroviários e aviação. Todo ano, ele administra uma carteira de 12 projetos, mais ou menos. “A decisão entre perseverar ou interromper acontece em todos os projetos”, diz Alexandre. O passo a passo ideal para estruturar um projeto é avaliar o grau de risco, traçar um plano e definir parâmetros para avaliar se as coisas estão caminhando bem ou não. Segundo Randes, a experiência de realizar um projeto é semelhante à de ler um livro. A pessoa gosta da capa, começa a ler o livro, e no primeiro capítulo já não aprecia. Em vez de largar a leitura, muitos continuam lendo. “Isso é uma mentalidade cultural, ler um livro é um projeto. Mas, uma vez que não está gostando, vira uma perda de tempo”, afirma Randes. “Ela sabe que não vai dar certo, que não é lucrativo, mas, só porque já começou, acha que precisa terminar – mesmo que isso envolva recursos desnecessários e que não atinja o resultado desejado. Essa é uma decisão extremamente emocional e que envolve o ego”, diz o professor. E o mesmo raciocínio nos acomete quando nos dedicamos a um projeto que não vai render. Depois que se fez a análise de que é preciso mudar de rumo ou partir para outra, o mais importante é não se deixar consumir pela sensação de fracasso e incompetência nem encarar esses “erros” de maneira negativa. O melhor é abandonar o barco furado rapidamente – para não afundar junto.

Para tomar uma decisão desse tipo, Alexandre tenta alinhar sua visão e intuição ao julgamento técnico. “Interromper requer mais coragem do que insistir”, diz. O que o ajuda na análise, além de sua experiência prévia, é ouvir feedbacks dos clientes e colegas e fazer projetos com ciclos mais curtos. “Antigamente, a gente levava entre três e cinco anos para desenvolver um produto novo, hoje esses ciclos foram encurtados significativamente, para menos de um ano”, afirma Alexandre. Isso dá agilidade para abastecer o mercado de novidades e, também, para errar rápido.

5 PERGUNTAS ANTES DE ABANDONAR UM PROJETO

1.A equipe que trabalha comigo está alinhada para atingir a meta estabelecida?

2.Eu tenho indicadores objetivos que apontam que estou no caminho certo?

3.O projeto está chegando ao final de seu prazo sem a maioria dos resultados esperados?

4.Já tentei reajustar o plano para tentar salvar o projeto?

5.Estou apegado demais ao plano e não consigo enxergar saídas?

#É HORA DE TER UMA NOVA META

Ainda na época da faculdade, o publicitário Felipe Versati, de 29 anos, já tinha decidido qual caminho gostaria de seguir: iria trabalhar na área de criação de uma grande agência. “A gente acredita que vai encontrar um ambiente informal, onde você pode trabalhar de bermuda, ter liberdade para criar e ainda ganhar prêmios com seu trabalho”, diz Felipe. Mesmo passando por outras áreas, o desejo persistia e, em 2011, prestes a concluir a graduação, Felipe aceitou a proposta de trabalhar na Bilheteria.com, agência especializada em serviços culturais, em São Paulo. Chegando lá, o publicitário encontrou uma realidade totalmente diferente da que esperava. Trabalhando mais de 18 horas por dia, sem horário para comer e dormir e sem vida social, o paulista percebeu que, mesmo alcançando o seu sonho, ele se sentia insatisfeito. “Muitas pessoas criam expectativas irreais sobre algo porque olham apenas para as coisas boas e acreditam que isso representa o todo. Daí, quando se deparam com a realidade, acabam se frustrando”, diz Daniela do Lago, coach de São Paulo.

Um ano e uma úlcera depois, Felipe entendeu que era hora de mudar seu objetivo, mesmo com expectativas de crescimento na agência. “Eu já havia me tornado analista sênior e tinha a perspectiva de uma promoção em breve, mas isso não compensava a minha falta de adaptação ao modelo de trabalho e vi que tinha que almejar outra coisa”, diz Felipe. E essa mudança de ambição é normal. Muitos entram no mundo corporativo acreditando que sucesso é sinônimo de uma posição elevada, por exemplo, mas conforme o tempo passa as expetativas mudam e você precisa se ajustar.

Com um MBA que o auxiliou a ampliar seus horizontes, em 2013, Felipe quis resgatar um sonho antigo e começou a procurar oportunidades no terceiro setor, onde havia estagiado. Mesmo com ganhos menos agressivos, ele aceitou a proposta de estruturar a área de marketing da Associação Cruz Verde, organização filantrópica que atende pessoas com paralisia cerebral grave, em São Paulo. “Mu- dei as minhas expectativas”, diz. Um dos pontos mais difíceis na hora de largar uma ambição é, por vezes, reconhecer que a definição de sucesso que cada um de nós possui pode ser diferente daquela que aprendemos ser a mais acertada. “Precisamos conhecer nossos objetivos e expectativas e compreender que nossa satisfação tem que estar relacionada com as nossas crenças”, diz Paulo Moraes, diretor da Talenses, empresa de recrutamento do Rio de Janeiro. Outro ponto é não olhar para essa mudança de ambição como um fracasso. “Quando você entende que aquele desejo não lhe pertencia, precisa encarar como uma alternância de caminho, e não um passo para trás”, diz Vera.

Hoje, quase três anos após a escolha, a associação é um dos empregos mais duradouros de Felipe. “Antes, com um ano eu queria mudar de trabalho, agora me sinto muito recompensado. Por mais que você seja premiado, nunca seus produtos vão te dar um abraço de agradecimento, como os que eu ganho dos pacientes diariamente”, conclui.

5 PERGUNTAS PARA SE FAZER ANTES DE DESISTIR DE UMA META

1.O que eu valorizo de verdade?

2.Eu tenho condições reais de concretizar essa ambição onde estou?

3.Eu fiz algo no sentido de concretizar esse objetivo?

4.Essa meta está prejudicando outros aspectos da minha vida?

5.Eu ainda quero me tornar aquilo que planejei há algum tempo?

#É HORA DE FECHAR SEU EMPREENDIMENTO

O advogado Francisco Pereira, de 35 anos, trilhou uma carreira na área de consultoria. Em 2008, era supervisor da multinacional Terco e queria se tornar gerente. Tudo mudou quando um amigo o chamou para empreender na área têxtil. “Sempre tive esse sonho e, quando fui convidado para ser responsável pela gestão da empresa, aceitei”, diz Francisco. Os dois montaram uma companhia que concebia e fabricava peças de vestuário. Em sete meses, o investimento havia sido quitado, eles fecharam contratos, tinham uma equipe de 12 pessoas e cada sócio lucrava 5 000 reais mensais.

Só que as coisas pioraram em 2009, quando sofreram um baque. Um cliente que já havia retirado 50% das peças desapareceu, o que gerou um rombo. Os sócios pegaram dinheiro emprestado, cobriram os gastos com funcionários e com a manutenção. Até que, seis meses depois, outro cliente deu calote. “Com a dívida anterior e sem dinheiro para brigar judicialmente, ficamos com um prejuízo de mais de 217 000 reais”, diz Francisco.

Nesse momento, o advogado sentiu o drama comum aos empreendedores: sabia que talvez fosse melhor voltar atrás, mas ainda se sentia muito ligado ao negócio para desistir. “É como uma bateria que está sempre no vermelho, chega uma hora que não vai aguentar mais”, diz Tiago Aguiar, mentor empresarial e sócio da QI Empreender Grandes Ideias, de São Paulo. Desistir é sempre difícil no mundo do empreendedorismo porque é fácil se iludir com histórias mirabolantes de perseverança que se assemelham aos “doze trabalhos de Hércules”. Claro que a persistência é boa – desde que o empreendedor tenha um olhar racional sobre suas metas e sobre seus erros e encontre saídas viáveis para continuar tentando até esgotar todas as possibilidades. Sem isso, é provável que a persistência se transforme em teimosia. “O teimoso passa anos e não sabe quais ações deram errado, não estabelece um plano e não se adapta à nova realidade”, diz Tiago.

Para não fazer parte desse grupo, Francisco e seus sócios analisaram tudo friamente. Notaram que, por causa das dívidas, pagariam juros sobre juros, o que não valeria a pena. A saída foi fazer um novo empréstimo para fechar o negócio em 2010. Além da tristeza com o fracasso, o advogado tinha que lidar com uma dívida de 12 000 reais, dividida entre os sócios, que demorou três anos para quitar. Desempregado, vendeu o carro e precisou de ajuda familiar para pagar as contas. A solução foi começar tudo de novo – só que, desta vez, no mundo corporativo. Ele entrou em contato com seu antigo gerente da Terco, que o indicou para uma vaga em outra consultoria, a BDO, onde é, hoje, gerente sênior da área de tributos. “Voltar foi difícil porque eu não aceitei esse baque, tive que vir de cabeça baixa, ganhando menos”, diz. Mas essa humildade o ajudou a perceber que poderia aprender com os erros e que, pelo menos em médio prazo, o seu lugar é onde há uma carteira assinada.

5 PERGUNTAS ANTES DE DESISTIR DE UM EMPREENDIMENTO

1.Acredito na ideia?

2.A ideia está ligada ao meu propósito?

3.Atingi o limite de tempo?

4.Atingi o limite de dinheiro?

5.Esgotei todos os caminhos?

ALIMENTO DIÁRIO

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MATEUS 5: 33-37

Continuação do Sermão da Montanha

Aqui temos uma explicação do terceiro mandamento, que devemos nos preocupar em compreender, porque está dito, especificamente, que quem infringir este mandamento, de não tomar o nome do Senhor em vão, não será considerado inocente pelo Senhor, não importando como a pessoa mesmo se considere. Quanto a este mandamento:

I – Sempre se concordou que ele proíbe o perjúrio, os falsos juramentos e a violação de juramentos e votos (v. 33). Foi dito aos antigos, e este é o verdadeiro significado e a verdadeira intenção do terceiro mandamento. Não tomarás, ou usarás, o nome de Deus (como quando fazemos um juramento) em vão, ou por bobagens, ou numa mentira. Aquele que não entrega a sua alma à vaidade e que não jura enganosamente está descrito nas palavras acima (Salmos 24.4). O perjúrio é um pecado condenado à luz da natureza, como uma complicação da impiedade com relação a Deus e da injustiça com relação aos homens, e como resultado de um homem altamente insolente à ira divina, que sempre foi considerada como caindo tão infalivelmente sobre o pecado que todas as formas de juramentos se transformavam normalmente em execrações ou imprecações; como Deus me fez isto, e outras frases semelhantes a estas. A expressão “e assim Deus faça” significa: que eu nunca tenha qualquer ajuda de Deus, se jurar em falso. Assim, com o consentimento de nações, têm havido homens que têm amaldiçoado a si mesmos, duvidando que Deus iria amaldiçoá-los, se eles mentissem sobre a verdade quando solenemente invocaram a Deus para ser sua testemunha.

De outras partes das Escrituras, se acrescenta: “mas cumprirás teus juramentos ao Senhor” (Números 30.2); o que pode querer significar:

1.Quanto a outras promessas, das quais Deus participa, devemos nos lembrar que os votos ou juramentos feitos a Deus devem ser cumpridos pontualmente (Eclesiastes 5.4,5); ou:

2.Promessas feitas a nossos irmãos, de que Deus é testemunha, sendo chamado para atestar a nossa sinceridade, devem ser feitas ao Senhor, prestando atenção a Ele, e por Ele: pois, para Ele, ao ratificar as promessas com um juramento, nós nos tornamos devedores; e se quebrarmos uma promessa assim ratificada, não mentimos apenas aos homens, mas também a Deus.

II – Aqui se acrescenta que o mandamento não somente proíbe o juramento em falso, mas também todos os juramentos intempestivos e desnecessários: “De maneira nenhuma jureis” (v. 34). Compare com Tiago 5.12. Nem todos os juramentos são pecaminosos; até agora, o juramento, se feito corretamente, é parte da adoração religiosa, e nele damos a Deus a glória devida ao seu nome (veja Deuteronômio 6.13; 10.20; Isaias 45.23; Jeremias 4.2). Vemos que Paulo confirma aquilo que ele dizia com tal solenidade (2 Coríntios 1.23), quando havia necessidade disto. Ao jurar, hipotecamos a verdade de alguma coisa conhecida, para confirmar a verdade de alguma coisa duvidosa ou desconhecida; se juramos de maneira enganosa, apelamos para um conhecimento maior, para um tribunal superior, e rogamos a vingança de um Juiz justo.

A determinação de Cristo sobre este assunto é:

1.Que não devemos jurar, de maneira nenhuma, exceto quando estivermos devidamente obrigados a isto, e quando a justiça ou a caridade para com o nosso irmão, ou o respeito pela comunidade tornarem necessário o juramento para o fim da contenda (Hebreus 6.16). O magistrado civil deve ser, normalmente, o juiz desta necessidade. Nós podemos ser jurados, mas não devemos jurar; podemos ser intimados, e desta maneira estar obrigados ao juramento, mas não devemos nos atirar a ele em busca de alguma vantagem terrena.

2.Que não devemos jurar superficial e irreverentemente, nas conversas comuns. É um pecado muito grande fazer um apelo absurdo à gloriosa Majestade do céu, que, sendo sagrada, sempre deve ser muito séria. É uma grande profanação do santo nome de Deus, e uma das coisas sagradas que os filhos de Israel santificam ao Senhor. Este é um pecado que não tem disfarce; não há desculpa para ele, e, portanto, é um sinal de um coração desprovido da graça do Senhor, onde reina a inimizade contra Deus: “Os teus inimigos tornam o teu nome em vão”.

3.Que devemos, de uma maneira especial, evitar juramentos ao fazer alguma promessa, dos quais Cristo particularmente fala aqui, pois estes juramentos devem ser cumpridos. A influência de um juramento afirmativo cessa imediatamente quando descobrimos fielmente a verdade e toda a verdade; mas um juramento de promessa compromete por tanto tempo, e pode ser rompido de tantas maneiras, pela surpresa e pela força de uma tentação, que não deve ser usado, exceto em algum caso de grande necessidade. O uso frequente de juramentos se reflete sobre os cristãos, que deveriam ter uma fidelidade reconhecida a ponto das suas palavras sóbrias serem tão sagradas quanto os seus juramentos solenes.

Que não devemos jurar por nenhum a outra criatura. Parece que havia alguns que} como cortesia (pensavam eles) ao nome de Deus, não fariam uso dele nos juramentos, mas juravam pelo céu, ou pela terra etc. Isto Cristo proíbe aqui (v. 34), e mostra que não há nada por que possamos jurar, mas que isto está de uma maneira ou de outra relacionada com Deus. que é a origem de todos os seres, e, portanto, é igualmente perigoso jurar por eles, quanto jurar pelo próprio Deus. É a veracidade da criatura que é posta em jogo; isto não pode ser um instrumento de testemunho, mas tem relação com Deus, que é a Verdade principal. Como, por exemplo:

(1) De maneira nenhuma jureis pelo céu. Isto é tão verdadeiro quanto é verdade que existe um céu, pois é o trono de Deus, onde Ele reside, e de uma maneira particular manifesta a sua glória, como um príncipe em seu trono. Sendo esta a dignidade inseparável do mundo superior, não se pode jurar pelo céu, pois quem o faz acaba jurando pelo próprio Deus.

(2)  Nem pela terra, porque é o escabelo dos seus pés. Ele governa os movimentos deste mundo inferior. Da mesma maneira como Ele governa o céu, Ele também governa a terra; e embora a terra, esteja sob os seus pés, ela também está sob os seus olhos e os seus cuidados, e é dele (SaImos 24.1). A terra pertence ao Senhor; de modo que, ao jurar por ela, se está jurando pelo seu proprietário.

(3) Nem por Jerusalém, um lugar pelo qual os judeus tinham tanta veneração que não conseguiam  pensar em nada mais sagrado por que jurar; mas, além da referência comum que Jerusalém tem para Deus, corno parte da terra, ela tem uma relação especial com Ele, porque é a cidade do grande Rei (SaImos 48.2), a cidade de Deus (Salmos 46.4), portanto Ele tem interesse nela e em todo juramento feito por ela.

(4) “Nem jurarás pela tua cabeça”; embora esteja próxima de você e seja uma parte essencial de você, é mais de Deus do que sua, pois Ele a criou e formou todas as suas origens e os seus

poderes. Enquanto você mesmo não consegue, por nenhuma influência intrínseca natural, mudar a cor de um cabelo, para torná-lo branco ou preto, você também não pode jurar pela sua cabeça, mas sim por Ele, que é a vida da sua cabeça, e o que exalta a sua cabeça (SaImos 3.3).

(5)Que, portanto, em todas as nossas comunicações, devemos nos contentar com “sim, sim, não, não” (v. 37). Nas conversas normais, se afirmamos alguma coisa, devemos somente dizer: “Sim”, é assim; e, E se for necessário, para evidenciar a nossa certeza de alguma coisa, podemos nos manifestar dizendo: “Sim, sim”, realmente é assim. “Na verdade, na verdade” era o “sim, sim” do nosso Salvador. Da mesma forma, para negar urna coisa, é suficiente dizer: “Não”, ou, se for necessário, repetir a negação e dizer: ” Não, não”; e se a nossa fidelidade for conhecida, que isto seja suficiente para termos crédito; e se ela for questionada, reforçar o que dizemos com juramentos não será nada além de torná-lo mais duvidoso. Aquele que é capaz de engolir um juramento profano, não conseguirá discernir uma mentira. E uma pena que isto que Cristo coloca na boca de todos os seus discípulos precise ser fortalecido, segundo alguns, por outras maneiras, quando (como diz o Dr. Hammond) qualquer coisa além de sim e não nos é proibido, e não somos orientados a fazer uso de outras palavras.

É fácil perceber a razão: porque o que passa disso é de procedência maligna, embora não chegue ao pecado de um juramento. Isto vem ek tou Di abolou; conforme uma cópia antiga apresenta: isto vem do Diabo, o maligno; vem da corrupção da natureza do homem, da paixão e da veemência; de uma vaidade reinante na mente, e do desprezo pelas coisas sagradas; vem daquela falsidade que há nos homens. ”Todo homem é mentiroso” (Romanos 3.4), e, consequentemente, os homens usam estas declarações porque desconfiam uns dos outros e pensam que sem estas palavras não se pode acreditar neles. Observe que os cristãos devem, para crédito da ima religião, evitar não somente o que é mal em si mesmo, mas o que vem do mal e aquilo que tem aparência de mal. É necessário evitar aquilo que possa ser suspeito, aquilo que vem de alguma causa ruim. Um juramento é algo físico, e, portanto, pressupõe alguma deficiência.

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