MATEUS 3: 1-6
João Batista
Aqui temos um relato da pregação e do batismo de João, que foram o amanhecer do dia do Evangelho. Observe:
I – A ocasião em que ele apareceu. “Naqueles dias” (v. 1), ou depois daqueles dias, muito tempo depois do que foi registrado no capítulo anterior, que deixou o menino Jesus na sua infância. “Naqueles dias”, na ocasião indicada pelo Pai para o início do Evangelho, quando a plenitude dos tempos era chegada, um período que era frequentemente mencionado dessa maneira no Antigo Testamento. Naqueles dias. Agora, tinha se iniciado a última das semanas de Daniel, ou melhor, a última metade da semana, quando o Messias iria confirmar o concerto com muitos (Daniel 9.27). As manifestações de Cristo ocorrem todas no seu devido tempo. Coisas gloriosas tinham sido ditas, tanto sobre João Batista como sobre Jesus, por ocasião dos seus nascimentos, e antes deles, o que teria dado oportunidade para se esperar algumas extraordinárias manifestações da presença e do poder divino com eles, quando eram ainda muito jovens; mas as coisas aconteceram de maneira muito diferente. Com exceção do debate entre Cristo e os doutores, quando tinha doze anos de idade, nada parece notável a respeito de nenhum deles, até completarem aproximadamente trinta anos. Nada é registrado sobre a infância e a juventude deles, mas a maior parte das suas vidas é envolta em trevas e obscuridade: estas crianças pouco diferem, na sua aparência, de outras crianças, da mesma maneira como o herdeiro, enquanto ainda é pequeno, não é nada diferente de um servo, embora ele seja senhor de tudo. E isto queria dizer que:
1.Mesmo quando Deus está agindo como o Deus de Israel, o Salvador, Ele é verdadeiramente um Deus que se oculta (Isaias 45.15). “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Genesis 28.16). “O meu amado… está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas” (Cantares 2.9).
2.A nossa fé deve principalmente ter Cristo em vista, o seu ministério e as suas obras, pois existe uma demonstração do seu poder; mas na sua pessoa está o esconderijo do seu poder. Todo o tempo, Cristo foi Deus-homem; mas nós não sabemos o que Ele fez ou disse, até Ele aparecer como um profeta, e então o ouvimos.
3.Os jovens, embora bastante qualificados, não devem se sentir entusiasmados a se apresentar no ministério público, mas devem ser humildes e modestos, rápidos para ouvir e lentos para falar. Mateus não nos fala nada sobre a concepção e o nascimento de João Batista, que é relatada com detalhes por Lucas. Mateus encontra João Batista já adulto, como se tivesse caído das nuvens para pregar no deserto. Pois durante mais de trezentos anos Israel ficou sem profetas; aquelas luzes havia muito tempo se apagaram, para que ele pudesse ser o mais desejado, aquele que seria o maior profeta. Depois de Malaquias não houve profeta, nem algum pretendente ao cargo, até João Batista, a quem, portanto, o profeta Malaquias aponta mais diretamente do que qualquer dos profetas do Antigo Testamento tinha feito (Malaquias 3.1): “Eis que eu envio o meu anjo”.
II – O lugar onde Ele se manifestou pela primeira vez: “No deserto da Judéia”. Não se tratava de um deserto inabitado, mas de uma parte do país não tão povoada, nem tão próxima a campos e a vinhedos, como eram outras partes; era um deserto que continha seis cidades e suas aldeias, com seus nomes (Josué 15.61,62). Nessas cidades e aldeias, João pregou, pois naquelas redondezas ele tinha vivido até então, tendo nascido em Hebrom; as cenas da sua atividade têm início ali, onde ele tinha passado muito tempo em contemplação, e mesmo quando se apresentou a Israel, ele mostrou o quanto gostava do isolamento, até o ponto em que isto estivesse de acordo com o seu ministério. A palavra do Senhor encontrou João ali, em um deserto. Observe que nenhum lugar é tão remoto a ponto de nos impossibilitar as visitas da graça divina; não, normalmente a relação mais doce que os santos têm com o Céu acontece quando eles se afastam dos ruídos deste mundo. Foi nesse deserto de Judá que Davi escreveu o Salmo 63, que tanto fala da doce comunhão que ele tinha com Deus (0seias 2.14). Foi num deserto que a lei foi entregue ao povo; e assim como o do Antigo Testamento, também o Israel do Novo Testamento foi fundado primeiramente no deserto, e ali Deus o orientou e instruiu (Deuteronômio 32.10). João Batista era um sacerdote da ordem de Arão, mas nós o encontramos pregando em um deserto, e nunca servindo no Templo; porém Cristo, que não era um filho de Arão, é frequentemente encontrado no templo, e sentado ali como uma pessoa de autoridade; assim foi predito (Malaquias 3.1): “Virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais”, e não o mensageiro que devia preparar o seu caminho. Isto sugere que o sacerdócio de Cristo devia substituir o de Arão, e conduzi-lo ao deserto.
O início do Evangelho em um deserto traz consolo aos desertos do mundo gentio. Agora as profecias devem ser cumpridas: “Plantarei no deserto o cedro” (Isaias 41.18,19). “O deserto se tornará em campo fértil” (Isaias 32.15). “O deserto e os lugares secos se alegrarão com isso” (Isaias 35.1,2). A Septuaginta fala dos “desertos do Jordão”, o mesmo deserto onde João pregava. Na igreja romana, existem aqueles que se denominam eremitas, e fingem seguir a Jesus, mas “se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais” (cap. 24.26). Havia “aquele… que fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil” (Atos 21.3 8).
III – A sua pregação. Este foi o seu trabalho. Ele não veio lutando, nem disputando, mas pregando (v. 1). Pois por meio da aparente insensatez é que o reino de Cristo deve ser estabelecido.
1.A doutrina que ele pregava era a do arrependimento (v. 2): ”Arrependei-vos”. Ele pregava isto na Judeia, entre aqueles que eram chamados de judeus, e fez uma declaração de fé, pois até mesmo eles precisavam de arrependimento. Ele pregava o arrependimento, não em Jerusalém, mas no deserto da Judéia, entre as pessoas simples; pois mesmo aqueles que se julgam livres da tentação, e, portanto, das vaidades e dos vícios da cidade, não podem lavar as suas mãos na inocência, mas devem fazê-lo em arrependimento. O trabalho de João Batista era chamar os homens para que se arrependessem dos seus pecados: “Admitam uma segunda ideia, para corrigir os erros da primeira, como uma reflexão posterior. Ponderem sobre os seus métodos, mudem o modo de pensar; vocês pensaram de maneira errada; pensem novamente, e pensem certo”. Observe que os verdadeiros penitentes têm outros pensamentos sobre Deus e Cristo, sobre o pecado e a santidade, e sobre este mundo e o outro, pensamentos que são diferentes dos que tinham antes, e são influenciados por eles. A mudança de modo de pensar produz uma mudança de caminho. Aqueles que realmente lamentam o que fizeram mal, terão o cuidado de não fazê-lo novamente. Este arrependimento é uma obrigação necessária, em obediência ao mandamento de Deus (Atos 17.30); e uma preparação e qualificação necessárias para os consolos do Evangelho de Cristo. Se o coração do homem tivesse continuado justo e incólume, as consolações divinas poderiam ter sido recebidas sem esta dolorosa operação anterior; mas, como o coração era pecaminoso, ele primeiramente precisava sofrer aflições antes de poder ter tranquilidade, precisava trabalhar antes de poder descansar. A dor deve ser procurada, caso contrário, não poderá ser curada. “Eu firo e eu saro”.
2.O argumento que ele usava para reforçar o seu chamado era: “porque é chegado o Reino dos céus”. Os profetas do Antigo Testamento chamavam as pessoas ao arrependimento, para obter e garantir as misericórdias temporais sobre a nação, e para evitar e remover o julgamento temporal sobre a nação. Mas agora, embora o dever recomendado seja o mesmo, o motivo é novo, e puramente evangélico. Agora os homens são considerados na sua capacidade pessoal, e não tanto como naquela época, de uma maneira social e política. Arrependam-se agora, “pois é chegado o Reino dos céus”: a revelação que o Evangelho faz do concerto da graça, da abertura do Reino dos céus a todos os crentes, pela morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ê um reino no qual Cristo é o Soberano, e nós devemos ser os súditos leais e dispostos deste reino. Ê um reino dos céus, e não deste mundo, um reino espiritual; a sua origem é o céu, o seu destino é o céu. João pregava que este reino era chegado; naquele tempo, estava à porta; para nós, já chegou, pelo derramamento do Espírito e pela plena exposição das riquezas do Evangelho da graça. Assim sendo:
(1) Este é um grande incentivo para que nós nos arrependamos. Não há nada como a consideração da divina graça para partir o coração, tanto por meio do pecado como por causa dele. Isto é o arrependimento evangélico, que flui a partir de uma visão de Cristo, de uma sensação do seu amor, e das esperanças de perdão por meio dele. A bondade é conquistar; a bondade ofendida ou maltratada traz a humilhação e a comoção. Que infeliz eu era, por pecar contra tal graça, contra a lei e o amor de um reino como este!
(2) É um grande incentivo para nos arrependermos. “Arrependam-se, pois os seus pecados serão perdoados depois do seu arrependimento. Voltem-se a Deus em obediência, e Ele, por meio de Cristo, trará cada um de vocês ao caminho da misericórdia”. A proclamação do perdão descobre e atrai o malfeitor que antes fugia e se esquivava. Dessa maneira, somos atraídos com as cordas do homem e com os laços de amor.
IV – A profecia que se cumpriu nele (v. 3). Era dele que se falava no início daquela passagem da profecia de Isaías, que é principalmente evangélica, e que aponta para a época e a graça do Evangelho (veja Isaias,4). Aqui, se fala de João Batista como:
1.A voz daquele que clama no deserto. João era esta voz (João 1.23): “Eu sou a voz do que clama no deserto”, e isto é tudo, Deus é quem fala, quem dá a conhecer o que está em sua mente por meio de João, assim como um homem o faz com a sua própria voz. A palavra de Deus deve ser recebida como tal (1 Tessalonicenses 2.13); o que é Paulo, e o que é Apolo, a não ser a voz! João é chamado de “a voz” daquele que está gritando, que está assustando e despertando. Cristo é chamado de “a Palavra”, que, sendo distinta e eloquente, é mais instrutiva. João, sendo a voz, despertava os homens, e então Cristo, sendo a Palavra, os ensinava. Como vemos em Apocalipse 14 .2,3: ”A voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e uma voz de harpistas, que tocavam com a sua harpa. E cantavam um como cântico novo”. Alguns observam que, embora a mãe de Sansão não devesse beber nada forte, ainda assim ele foi designado para ser um homem forte; da mesma maneira, o pai de João Batista ficou mudo, e João Batista foi designado para ser a voz do que clama. Quando a voz do que clama é gerada por um pai mudo, isto mostra a excelência do poder de Deus, e não dos homens.
2.Como alguém cujo trabalho era preparar o caminho do Senhor, e endireitar as veredas para Ele; isto foi dito dele antes de seu nascimento, que ele deixaria um povo preparado para o Senhor (Lucas 1.17), trabalhando como o arauto e o precursor de Cristo. Ele era alguém íntimo com a natureza do reino de Cristo, pois ele não veio com as roupas ostentosas de um arauto em armadura, mas com a roupa simples de um eremita. Soldados eram enviados à frente dos grandes homens, para limpar a passagem; assim, João Batista preparou o caminho do Senhor.
(1) Ele fez isto pessoalmente entre os homens daquela geração. Na nação judaica, naquela época, tudo estava seguindo um rumo errado; havia uma enorme falta de religiosidade, os órgãos vitais da religião estavam corrompidos e eram devorados pelas tradições e imposições dos anciãos. Os escribas e os fariseus, isto é, os maiores hipócritas do mundo, tinham as chaves do conhecimento e a chave do governo no seu cinturão. Em geral, as pessoas eram extremamente orgulhosas dos seus privilégios, confiantes da sua justificação pela sua própria justiça, insensíveis ao pecado; e, embora agora sob as mais humildes circunstâncias, tendo sido transformados em uma província do Império Romano, ainda assim não eram humildes; eles tinham o mesmo temperamento que tinham na época de Malaquias, eram insolentes e arrogantes e estavam sempre prontos para contradizer a Palavra de Deus; assim, João foi enviado para nivelar estas montanhas, para derrubar a alta opinião que eles tinham de si mesmos, e para mostrar a eles os seus pecados, para que a doutrina de Cristo pudesse ser mais aceitável e eficaz.
(2) A sua doutrina de arrependimento e humilhação é ainda tão necessária quanto era naquela ocasião, para preparar o caminho do Senhor. Observe, há muita coisa a ser feita para abrir caminho para Cristo em uma alma, para curvar o coração para a recepção do Filho de Davi (2 Samuel 19.14); e nada é mais necessário, para isto, que a descoberta do pecado, e uma convicção da insuficiência da sua própria justiça. O que não convém permanecerá, até que seja tirado do caminho. Os preconceitos precisam ser removidos; a atitude de pensar em si mesmo com excessiva importância precisa ser rompida, e assim os pensamentos serão levados cativos à obediência de Cristo. Portões de bronze precisam ser rompidos, e barras de ferro precisam ser separadas, antes que as portas eternas se abram para que o Rei da glória possa entrar. O caminho do pecado e de Satanás é um caminho deformado; para preparar um caminho para Cristo, as veredas precisam ser endireitadas (Hebreus 12 .13).
V – A roupa com a qual ele aparecia, a sua imagem, e o seu modo de vida (v. 4). Os judeus, que esperavam o Messias como um príncipe temporal, pensavam que o seu precursor viria com grande pompa e esplendor, que os seus acompanhantes seriam impressionantes e joviais; mas foi exatamente o contrário. Ele será grande aos olhos do Senhor, mas insignificante aos olhos do mundo; e, como o próprio Cristo, sem aparência ou formosura; para declarar em breve que a glória do reino de Cristo deveria ser espiritual. Os súditos deste reino seriam comumente pobres e desprezados (em sua condição natural, ou teriam se tornado assim por causa do reino). Eles obtêm as suas honras, os seus prazeres, e as suas riquezas de um outro mundo.
1.As suas roupas eram simples. Este mesmo João tinha a sua roupa feita de pelos de camelo, e um cinto de couro ao redor de seus lombos; ele não se vestia com roupas compridas, como os escribas, nem macias, corno os fariseus, mas com as roupas de um homem do campo; pois ele vivia no campo, e adaptava os seus hábitos ao lugar onde morava. Observe que é bom que nos acomodemos ao lugar e às condições nos quais Deus, na sua providência, nos colocou. João apareceu com estas roupas:
(1) Para mostrar que, como Jacó, ele era um homem simples, mortificado para este mundo, para os prazeres e as satisfações que este propiciava. Vejam um verdadeiro israelita! Aqueles que são humildes de coração o mostram com uma negligência e uma indiferença santas na sua aparência; e não vestem roupas que os enfeitem, nem avaliam os demais pelas suas vestes.
(2) Para mostrar que ele era um profeta, pois os profetas usavam roupas ásperas, como homens mortificados (Zacarias 13.4) ; e, especialmente, para mostrar que ele era o Elias prometido; pois observações especiais são feitas sobre Elias, de que ele era um homem vestido de pelos (alguns julgam que isto se refere às roupas de pelos que ele usava) e com os lombos cingidos de um cinto de couro (2 Reis 1.8). João Batista em nada parece inferior a ele, em sua mortificação; portanto, este era aquele Elias que havia de vir.
(3) Para mostrar que ele era um homem determinado; seu cinto não era elegante, como os que se usavam na época, mas era resistente, era um cinto de couro; e bem-aventurado é este servo, pois o seu Senhor, quando vier, encontrará cingidos os seus lombos (Lucas 12.35; 1 Pedro 1.13).
2.A sua dieta era simples; a sua refeição consistia de gafanhotos e mel silvestre; não como se ele nunca comesse qualquer outra coisa; mas isto era o que ele comia frequentemente, e assim fazia muitas refeições, quando se retirava para lugares solitários, e continuava ali por muito tempo, para meditar. Os gafanhotos eram um tipo de inseto voador, muito bom como alimento, e permitido, por ser puro (Levíticos 11.22); eles não precisavam de muito tempero, e eram de digestão leve e fácil. Por isto, quando se fala das enfermidades e da velhice (com a sua consequente falta de forças), costuma-se utilizar a expressão “quando o gafanhoto for um peso” (Eclesiastes 12.5). O mel silvestre era aquele mel abundante em Canaã (1 Samuel 14.26). Ele era colhido imediatamente, quando caía sobre o orvalho, ou era encontrado em cavidades de árvores e rochas, onde as abelhas os fabricavam em colmeias sob o cuidado e a inspeção dos homens. Isto indica que João comia com moderação, e, na realidade, podemos concluir que ele comia pouco: um homem teria que passar muito tempo comendo para saciar a fome com gafanhotos e mel silvestre. João Batista veio sem comer e sem beber (cap. 11.18), e estava desprovido da curiosidade, da formalidade, e da familiaridade com que as outras pessoas o faziam. Ele estava tão completamente absorvido pelas coisas espirituais, que mal podia encontrar tempo para fazer uma refeição. Agora:
(1) Isto estava de acordo com a doutrina do arrependimento que ele pregava, e com os frutos do arrependimento que ele mencionava. Observe que aqueles que conclamam outros a se lamentarem pelo pecado, e a mortificá-lo, devem viver uma vida sóbria, uma vida de contrição, de mortificação e lamento pela situação do mundo. Assim, João Batista demonstrava quão profundamente sentia a maldade do tempo e do local onde vivia, o que tornava a pregação do arrependimento extremamente necessária; cada dia era, para ele, um dia de jejum.
(2) Este comportamento estava de acordo com o seu oficio como precursor de Cristo. Através dessa prática, João demonstrava que conhecia o Reino dos céus, e que experimentava o seu poder. Observe que aqueles que conhecem os prazeres espirituais divinos não podem ter outra atitude a não ser olhar para os deleites e ornamentos dos sentidos com urna santa indiferença – pois eles conhecem algo muito melhor. Exemplificando esta atitude para as outras pessoas, ele estava preparando o caminho para Cristo. Observe que a convicção da vaidade do mundo e de todas as coisas que nele há é o melhor preparativo para a recepção do Reino de Deus no coração. Bem-aventurados são os pobres de espírito.
VI – As pessoas que o procuravam e o seguiam em grandes grupos (v. 5): “Ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia”. Grandes multidões vinham ter com ele, provenientes da cidade, e de todas as partes do país; de todos os tipos, homens e mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres, fariseus e publicanos ; eles o procuravam, assim que ficavam sabendo da sua pregação do Reino dos céus, para poderem ouvir aquilo de que tanto falavam. Agora:
1.Era uma grande honra para João o fato de que tantas pessoas o procurassem, e com tanto respeito. Observe que frequentemente aqueles que mais são honrados são os que menos se importam com a honra. Aqueles que vivem uma vida de mortificação, que são humildes e que se auto negam, e que morrem para o mundo, motivam respeito; e os homens têm uma consideração e uma reverência secreta por eles, mais do que eles poderiam vir a imaginar.
2.Isto dava a João uma excelente oportunidade de fazer o bem, e era uma evidência de que Deus estava com ele. Agora as pessoas começavam a se agrupar e a “empregar força para entrar” no Reino dos céus (Lucas 16.16); e que visão maravilhosa era esta (“como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade”; SaImos 110.3), ver a rede lançada onde havia tantos peixes.
3.Isto era uma prova de que esta era uma época de grandes expectativas; geralmente se pensava que ”logo se havia de manifestar o Reino de Deus” (Lucas 19.11) e, portanto, quando João se apresentasse a Israel, vivesse e pregasse à sua maneira, tão completamente diferente dos escribas e dos fariseus, eles estariam prontos para dizer que ele seria o Cristo (Lucas 3.15); e isto provocava esta confluência de pessoas para junto dele.
4.Aqueles que se beneficiassem do ministério de João precisariam ir com ele ao deserto, e compartilhar a sua reprovação. Observe aqueles que realmente desejam o leite verdadeiro da Palavra: se este não lhes for trazido, irão à sua procura. E aqueles que aprendessem a doutrina do arrependimento precisariam sair da confusão deste mundo e se aquietar.
5.Aparentemente, dos muitos que vinham ao batismo de João, apenas uns poucos aderiam a ele; observe a fria recepção que Cristo teve na Judéia e nas redondezas de Jerusalém. Observe que pode haver uma multidão de ouvintes entusiasmados, mesmo onde haja apenas alguns poucos crentes verdadeiros. A curiosidade e a aparente novidade e variedade podem levar muitos a comparecerem à boa pregação e serem influenciados por ela durante algum tempo, sem, no entanto, se sujeitarem ao poder dela (Ezequiel 33.31,32).
VII – O rito, ou a cerimônia, com que ele aceitava discípulos (v. 6). Aqueles que recebiam a sua doutrina, e se sujeitavam à sua disciplina, eram batizados por ele no Jordão, desta forma professando o seu arrependimento e a sua fé de que era chegado o reino do Messias.
1.Eles davam testemunho do seu arrependimento, ao confessar os seus pecados; uma confissão geral, é provável, que faziam a João de que eram pecadores, de que estavam contaminados pelos seus pecados, e de que precisavam de purificação. Mas a Deus, eles faziam uma confissão de seus pecados particulares, pois Ele é a parte ofendida. Os judeus eram ensinados a se justificarem; mas João os ensina a se acusarem, e a não se limitarem, como costumavam fazer, na confissão feita por todo o Israel, uma vez por ano, no dia da expiação, mas a fazer em, cada um, um reconhecimento particular do mal em seu próprio coração. Observe que urna confissão penitente do pecado é necessária para obter a paz e o perdão; e somente quem a faz estará preparado para receber a Jesus Cristo como sua Justiça – estes são trazidos à sua própria culpa com tristeza e vergonha ( 1 João 1.9).
2.Os benefícios do Reino dos céus, que agora es tão disponíveis, eram concedidos a eles pelo batismo. João Batista os lavava com água, como um símbolo de que Deus os estava limpando de todas as suas iniquidades. Era usual, entre os judeus, batizar aqueles que eles aceitavam como prosélitos à sua religião, especialmente aqueles que eram somente prosélitos de porta, que não eram circuncidados, como eram os prosélitos da justiça. Alguns acreditam que é provável que pessoas eminentes do judaísmo, que eram os líderes, admitissem alunos e discípulos por meio do batismo. A pergunta de Cristo, a respeito do batismo de João Batista: “O batismo de João era do céu ou dos homens?”, dava a entender que existiam os batismos dos homens, que não eram uma missão divina, e com este uso João Batista estava de acordo, mas o seu batismo era do céu, e pelas suas características era diferente de todos os outros. Este era o batismo do arrependimento (Atos 19.4). Todo Israel foi batizado em Moisés (1 Coríntios 10.2). A lei cerimonial consistia de submergir na água, ou batizar-se (Hebreus 9.10), mas o batismo de João se refere à lei corretiva, a lei do arrependimento e da fé. Ele batizava as pessoas no Jordão, aquele rio que ficou famoso pela passagem de Israel por ele, e pela cura de Naamã; mas é provável que João não batizasse neste rio no início, mas que depois, quando as pessoas que vinham ao seu batismo eram em maior número, ele tenha passado a usar este rio. Por meio do batismo, ele os exortava a levar uma vida santa, de acordo com a profissão de fé que estavam assumindo. Observe que a confissão dos pecados sempre deve estar acompanhada de determinações santas, com a força da divina graça, par a nunca mais retornar ao pecado.
Você precisa fazer login para comentar.