O Nascimento de Cristo
Mateus 1:18-25
O mistério da encarnação de Cristo deve ser venerado, e não visto com curiosidade. Se não conhecemos o caminho do Espírito na formação das pessoas comuns, nem como os ossos são formados no útero daquela que está grávida (Eclesiastes 11. 5), muito menos sabemos como o bendito Jesus foi formado no ventre da virgem bendita. Quando Davi se admira de como ele próprio foi feito em segredo e curiosamente formado (SaImos 139.13-16), parece que ele está falando no espírito da encarnação de Cristo. Algumas circunstâncias presentes no nascimento de Cristo, que encontramos aqui, não constam na versão de Lucas, embora o evento seja mais amplamente descrito por este evangelista. Aqui temos:
I – O casamento de Maria com José. Maria, a mãe de nosso Senhor, desposou José. Ela não estava completamente casada, mas já havia celebrado um contrato de casamento. Este contrato era uma proposta de casamento solenemente manifestada com as palavras no futuro, e a promessa de realizá-lo se Deus o permitisse. Lemos sobre um homem que desposou uma mulher e não a recebeu (Deuteronômio 20.7). Cristo nasceu de uma virgem, mas uma virgem compromissada:
- Para dar respeito ao casamento e para defendê-lo como algo honrado para todos, contra aquela doutrina do diabo que proíbe o casamento e identifica a perfeição na condição de solteiro. Quem foi mais favorecido do que Maria o foi em seu matrimônio?
- Para salvar a reputação da bendita virgem, que de outra forma teria sido exposta. Era adequado que a sua concepção fosse protegida por um casamento, e assim justificada aos olhos do mundo. Um dos antigos diz: Seria melhor que perguntassem se este não era “o filho do carpinteiro”, do que: Não é este o filho da meretriz?
- Para que a bendita virgem pudesse ter alguém para ser o guia da sua juventude, o companheiro em sua solidão e viagens, um parceiro em suas preocupações e uma ajuda adequada em todos os momentos. Alguns pensam que José era então viúvo, e aqueles que são chamados de irmãos de Cristo (cap. 13.55), eram filhos de José com uma esposa anterior. Esta é uma conjectura de muitos dos antigos. José era um homem justo, ela, uma mulher virtuosa. Aqueles que são crentes não devem se juntar de forma desigual com os não-crentes. Mas que se permita aos que são religiosos escolherem se casar com aqueles que também o são, já que eles esperam o conforto de tal relacionamento e, neste, a bênção de Deus sobre eles. Nós também podemos aprender, com este exemplo, que é bom passar à condição de casado com ponderação, e não antecipar as núpcias com precipitação, através de um contrato. Ê melhor dedicar tempo para pensar antes, do que se arrepender depois.
II – Sua gestação da semente prometida; antes de se juntarem corno um casal, Maria ficou grávida, e esta gravidez foi gerada pelo Espírito Santo. O casamento foi postergado para tanto tempo depois do contrato, que ela ficou grávida antes de chegar o momento da celebração do casamento, embora o contrato já tivesse sido celebrado antes de ela conceber. Provavelmente, foi depois do retorno de Maria da casa de sua prima Isabel, com quem permaneceu três meses (Lucas 1.56), que José percebeu que ela estava grávida, e ela não negou isso. Observe que as outras pessoas notam aqueles em quem Cristo é formado: a obra de Deus na vida de cada pessoa se torna patente. Assim sendo, nós bem podemos imaginar que perplexidade isto podia legitimamente causar à bendita virgem. Ela mesma conhecia o divino progenitor dessa concepção; mas como ela podia provar isso? Ela seria tratada como uma prostituta. No te que depois de grandes avanços, a fim de não ficarmos orgulhosos, podemos esperar que alguma situação ou pessoa nos humilhe, ou que soframos alguma repreensão, como um espinho na carne. E não apenas isto, mas às vezes essas situações são como uma espada nos ossos. Jamais alguma filha de Eva foi tão dignificada quanto a virgem Maria, e mesmo assim ainda correu o risco de cair sob a imputação de um dos piores crimes. Porém, observe que nós não a vemos se atormentando por causa disso; mas, consciente de sua própria inocência, ela se manteve calma e tranquila, e comprometida com a causa daquele que julga com justiça. Note que aqueles que se preocupam em manter a consciência limpa podem alegremente confiar que Deus manterá os seus bons nomes, e têm motivos para esperar que Ele limpe não apenas a sua integridade, mas também a sua honra, de uma forma tão clara como o sol ao meio-dia.
III – A perplexidade de José, e sua preocupação sobre o que fazer nesse caso. Nós podemos imaginar que grande problema e desapontamento foi para José descobrir que alguém sobre quem ele tinha tal opinião e consideração, ficasse sob a suspeita de um crime tão odioso. Essa é Maria? Ele começou a pensar: “Como podemos ser ludibriados por aqueles sobre quem pensamos o melhor! Como podemos nos desapontar com aqueles de quem mais esperamos!” Ele reluta em acreditar em algo tão ruim, indo de uma mulher que ele acreditava ser tão boa; e o caso em si, sendo ruim demais par a ser perdoado, é também claro demais para ser negado. Que luta provocou este acontecimento em seu peito, entre aquele ciúme que é a ira do homem, cruel como uma sepultura, por um lado, e a afeição que ele senti a por Maria, por outro!
Considere:
- “O extremismo que ele pensou evitar”. Ele não estava disposto a torná-la um exemplo público. Ele podia ter feito isso; pois, pela lei, uma virgem comprometida, se procedesse corno prostituta, ser ia apedrejada até a morte (Deuteronômio 22.23,24). Mas ele não desejava usar a lei contra ela; se ela fosse culpada, o que até agora não se sabia, não seria conhecido através dele. Quão diferente era o ânimo mostrado por José em relação ao de Judá, que em um caso semelhante, apressadamente proferiu aquela sentença severa: “Tirai-a fora para que seja queimada!” (Gênesis 38.24). Que bom é pensar sobre as coisas como José fez aqui. Haveria mais ponderação em nossas críticas e julgamentos, haveria mais misericórdia e moderação neles. Castigá-la é aqui o chamado a fazer dela um exemplo; o que mostra que a finalidade a ser alcançada com a punição é passar um aviso para os outros: é através do terror que, em todo lugar, se ouve e se teme. “Fira o escarnecedor”, e os símplices se acautelarão.
Algumas pessoas de temperamento severo culpariam José por sua clemência, mas aqui este fato é mencionado como um elogio; pois ele era um homem justo, portanto não queria expô-la. Ele era um homem religioso e bom; e, portanto, inclinado a ser misericordioso como Deus é, e perdoar como alguém que foi perdoado. No caso da donzela prometida, se ela fosse desonrada no campo, a lei caridosamente suporia que ela havia gritado (Deuteronômio 22.26), e ela não deveria ser punida. Talvez José tenha dado esta ou alguma outra interpretação caridosa a esse assunto; neste contexto, ele é um homem justo, cuidando do nome daquela que nunca antes havia feito qualquer coisa para manchá-lo. Note que cabe a nós, em muitos casos, sermos gentis com aqueles que estão sob suspeita de haver transgredido a lei, esperar o melhor no tocante a eles, e extrair o melhor daquilo que, a princípio, parece ruim, na esperança de que o melhor aconteça. Summ um just, summa injuriae – O rigor da lei é (às vezes) a medida da injustiça. O tribunal da consciência restringe o rigor da lei ao que nós chamamos de um tribunal justo. Aqueles que são considerados delituosos foram talvez surpreendidos no erro, e devem ser reabilitados com o espírito de brandura; e a intimidação, mesmo quando justa, deve ser moderada.
- “A oportunidade que ele encontrou para evitar este extremo”. Ele tinha em mente abandoná-la em segredo, ou seja, dar-lhe em mãos uma carta de divórcio diante de duas testemunhas, e assim manter o assunto somente entre eles. Sendo um homem justo, ou seja, um estrito observa dor da lei, ele não daria andamento ao seu casamento com Maria, mas resolveu afastar-se dela; mesmo assim, em um gesto de carinho para com ela, decidiu fazer isso tão secretamente quanto possível. Note que as críticas àqueles que transgrediram a lei devem ser conduzidas sem estardalhaço. As palavras dos sábios são ouvidas com discrição. O próprio Cristo não discutiria nem gritaria. O amor cristão e a prudência cristã encobrirão uma grande quantidade de pecados, alguns deles graves, até o ponto em que isso não signifique solidarizar-se com eles.
IV – A libertação de José dessa perplexidade por um mensageiro enviado do céu (vv. 20,21). Enquanto ele pensava nessas coisas e não sabia o que decidir, Deus graciosamente indicou-lhe o que fazer, facilitando-lhe as coisas. Note que aqueles que costumam receber a orientação de Deus devem pensar a respeito dela e consultar a si mesmos a este respeito. Deus guiará aquele que reflete, e não o irracional. Quando José estava confuso, e havia pensado sobre o assunto tanto quanto conseguia, então Deus se manifestou com uma recomendação. Note que a hora de Deus em que Ele se manifesta com uma orientação para o seu povo, é aquela em que eles estão confusos e indecisos. O conforto de Deus deleita a alma em meio à profusão de seus pensamentos e de sua perplexidade. A mensagem foi enviada a José através de um anjo do Senhor, provavelmente, o mesmo anjo que levou à Maria a notícia da concepção, o anjo Gabriel. Agora a comunicação com o céu, através de anjos, com a qual os patriarcas haviam sido dignificados, mas que há muito tinha sido interrompida, começa a ser reativada; pois, quando o Primogênito fosse trazido a este mundo, os anjos seriam instruídos a acompanhar os seus movimentos. Quanto pode Deus agora, de um modo invisível, fazer uso do auxílio dos anjos para livrar o seu povo das suas dificuldades, não podemos dizer; mas disto nós temos certeza: todos eles são espíritos que atuam para o bem dele. Este anjo apareceu a José em um sonho quando ele estava dormindo, da maneira como Deus algumas vezes falou aos patriarcas. Quando estamos quietos e tranquilos, estamos no melhor estado de espírito para receber as notícias da vontade divina. O Espírito se move em águas calmas. Este sonho, sem dúvida, carregava em si a evidência de que se originava de Deus, e não de uma presunçosa imaginação. Agora:
- José é orientado aqui a prosseguir com o seu casamento. O anjo o chama: “José, filho de Davi”; ele o lembra de sua relação com Davi, para que possa estar preparado para receber esta surpreendente capacidade de entendimento de sua relação com o Messias, que, todos sabiam, seria um descendente de Davi. Às vezes, quando grandes honras recaem sobre aqueles que têm poucas posses, eles não se preocupam em aceitá-las, querendo desistir delas; era, portanto, necessário colocar na mente desse pobre carpinteiro o valor desse nascimento: “Valoriza a ti mesmo, José, tu és aquele filho de Davi através de quem a linhagem do Messias está para ser traçada”. Podemos então dizer a cada verdadeiro crente: “Não temas, tu, filho de Abraão, tu, filho de Deus; não esqueças a dignidade do teu nascimento, do teu novo nascimento”. “Não teimas receber a Maria, tua mulher”; assim isso pode ser entendido. José, suspeitando que ela estava grávida devido à prostituição, temia aceitá-la, com receio de que colocasse sobre si mesmo a culpa ou a acusação. Não, diz Deus, não temas; a questão não é essa. Talvez Maria tivesse lhe dito que havia engravidado pelo Espírito Santo, e talvez ele tenha ouvido o que Isabel disse a ela (Lucas 1.43), quando a chamou de a mãe do seu Senhor; e, se este foi o caso, talvez ele temesse ser presunçoso ao se casar com alguém tão superior a ele. Mas, qualquer que fosse a causa do aparecimento de seus medos, estes foram todos silenciados com estas palavras: “Não temas receber a Maria, tua mulher”. Note que é uma grande bênção sermos libertados de nossos medos, e termos as nossas dúvidas solucionadas, para que assim possamos prosseguir em nossos afazeres com satisfação.
- Aqui ele é informado sobre aquele ser sagrado, que a sua esposa tinha em seu ventre. Aquele que foi concebido nela tem origem divina. Ele está tão longe do risco de compartilhar a impureza ao casar-se com ela, que com isso compartilhará a maior honra possível. Duas coisas lhe são ditas:
- Que ela tinha concebido “pelo poder do Espírito Santo”; e não pela força da natureza. O Espírito Santo, que criou o mundo, gerou nela agora o Salvador do mundo, e preparou para Ele um corpo como lhe fora prometido, quando Ele disse: “Corpo me preparaste” (Hebreus 10.5). Desse modo, é dito que Ele nasceu de uma mulher (Gálatas 4.4), e, além disso, que Ele é o segundo Adão, que é o Senhor do céu (1 Coríntios 15.47). Ele é o Filho de Deus, e mesmo assim compartilha a essência de sua mãe ao ser chamado de fruto do ventre (Lucas 1.42). Era necessário que a sua concepção fosse diferente da normal, para que as sim Ele compartilhasse da natureza humana, e mesmo assim pudesse escapar da corrupção, e da contaminação desta, e não ser concebido e formado na iniquidade. Histórias nos contam sobre algumas mulheres que em vão fingiram ter concebido por um poder divino, como a mãe de Alexandre; mas nenhuma realmente o fez, exceto a mãe de nosso Senhor. Seu nome, por isso, como em outras situações, é Maravilhoso. Nós não lemos que a própria virgem Maria tenha proclamado a honra que recebeu; mas ela ocultou isso em seu coração, e por isso Deus enviou um anjo para testificar. Aqueles que não procuram a sua própria glória terão a honra que vem de Deus; ela é reservada para os humildes.
- Que ela daria à luz ao Salvador do mundo (v. 21).
Ela daria à luz um filho; e que ele seria foi declarado:
[l] Pelo nome que deveria ser dado ao seu Filho: “lhe porás o nome de Jesus”, o Salvador. O nome é o mesmo que Josué, apenas com a terminação sendo mudada para adequar-se ao grego. Na Septuaginta, Josué é chamado de Jesus (Atos 7.45; Hebreus 4.8). Havia dois homens com esse nome no Antigo Testamento, e eram ambos reconhecidos tipos de Cristo. Josué, o comandante de Israel em seu primeiro assentamento em Canaã, e Josué, o sumo sacerdote em seu segundo assentamento após o cativeiro (Zacarias 6.11,12). Cristo é o nosso Josué; tanto o Comandante da nossa salvação, como o Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé. E, em ambos os casos, Ele é o nosso Salvador, um Josué que vem no lugar de Moisés, e faz por nós aquilo que a lei não pode fazer, naquilo em que ela era fraca. Josué havia sido chamado de Oséias, mas Moisés prefixou a primeira sílaba do nome Jeová, e assim tornou-o Josué ( Números 13.16), para indicar que o Messias, que teria esse nome, deveria ser Jeová; Ele é, portanto, o maior salvador, e em nenhum outro há salvação.
[2]Na razão desse nome: “Por que ele salvar á o seu povo dos seus pecados”; não apenas a nação dos judeus (Ele veio para eles e eles não o receberam), mas todos que foram dados a Ele pela escolha do Pai, e todos que se deram a Ele por si mesmos. Ele é um rei que protege seus súditos, e, corno os antigos juízes de Israel, lhes traz a salvação. Note que aqueles que Cristo salva, Ele os salva dos pecados que praticaram; da culpa do pecado, em virtude da sua morte, e do domínio do pecado, pelo Espírito da sua graça. Ao salvá-los do pecado, Ele os salva da ira e da maldição, e de todo sofrimento aqui e na vida futura. Cristo veio para salvar o seu povo, não em seus pecados, mas dos seus pecados; para comprar para ele não a liberdade para pecar, mas a libertação do pecado, para redimi-lo de toda iniquidade (Tito 2.14); e assim redimi-lo de entre os homens (Apocalipse 14.4) para si mesmo, pois está separado dos pecadores. Para que aqueles que deixarem os seus pecados, e se entregarem a Cristo como seu povo, estejam envolvidos com o Salvador, e na grande salvação que Ele planejou (Romanos 11.26).
V – O cumprimento das Escrituras em tudo isso. Este evangelista, escrevendo entre os judeus, observa mais frequentemente isto do que qualquer outro evangelista. Aqui as profecias do Antigo Testamento tiveram a sua consumação em nosso Senhor Jesus, através do qual fica claro que este era aquele que deveria vir, e que nós não devemos procurar por nenhum outro; porque este é aquele sobre o qual todos os profetas deram testemunho. Agora a Escritura que foi cumprida no nascimento de Cristo foi a da promessa de um sinal que Deus fez para o rei Acaz (Isaias 7.14): “Eis que um a virgem conceberá”. Aqui o profeta, encorajando o povo de Deus a esperar pela prometida libertação da invasão de Senaqueríbe, o instrui a aguardar ansiosamente pelo Messias, que viria do povo dos judeus e da casa de Davi. Daí era fácil inferir que – embora aquele povo e aquela casa estivessem angustiados – nem um nem o outro poderiam ser abandonados à ruína, enquanto Deus tivesse tal honra e tal bênção reservadas para eles. Os livramentos que Deus concedeu à igreja do Antigo Testamento eram símbolos e figuras da grande salvação através de Cristo; e, se Deus consegue fazer aquilo que é maior, Ele não falhará em fazer aquilo que é menor.
A profecia aqui citada é devidamente introduzida com as palavras: “em sonho, lhe apareceu”, que indicam tanto atenção como admiração; pois aqui temos o mistério da graça, que é, sem controvérsia, notável, de que Deus se manifestou em carne.
- O sinal dado era que o Messias de veria nascer de uma virgem. “Uma virgem conceberá”, e, por ela, Ele será manifestado na carne. A palavra Almah significa uma virgem no sentido mais exato, tal corno Maria declara ser (Lucas 1.34): “Não conheço varão”. Este não seria um sinal tão maravilhoso como se pretendia que fosse, se tivesse sido de outra forma. Foi anunciado desde o princípio que o Messias deveria nascer de uma virgem, quando foi dito que Ele deveria vir da semente da mulher. Podemos entender que a expressão “semente da mulher” não poderia ser o mesmo que “a semente de qualquer homem”. Cristo nasceu de uma virgem não apenas porque seu nascimento tinha que ser sobrenatural e completamente extraordinário, mas porque deveria ser imaculado, e puro, e sem qualquer mancha de pecado. Cristo nasceria, não de urna imperatriz ou rainha, porque Ele não veio em pompa ou esplendor externos, mas de uma virgem, para nos ensinar a pureza espiritual, a morte para todos os deleites dos sentidos, e assim nos mantermos sem a mácula do mundo e da carne, para que possamos ser apresentados a Cristo como virgens castas.
- A verdade demonstrada por esses sinais é que Ele é o Filho de Deus, e o Mediador entre Deus e os homens: porque eles o chamarão “pelo nome de Emanuel”; isto é, Ele será o Emanuel; e a expressão “Ele será chamado” significa que Ele será o Senhor, Justiça Nossa. Emanuel significa Deus conosco; um nome misterioso, mas muito precioso; Deus encarnado entre nós, e assim Deus reconciliado conosco, em paz conosco, nos conduzindo ao pacto e à comunhão consigo. Os judeus tiveram Deus consigo, em símbolos e sombras, morando entre os querubins; mas nunca do modo como quando a Palavra se tornou carne – que era o bendito Shekinah. Que passo feliz é dado no sentido de estabelecer a paz e a harmonia entre Deus e o homem, reunindo as duas naturezas na pessoa do Mediador! Por isso Ele se tornou um árbitro irrepreensível, com plenas condições de colocar as suas mãos sobre ambos, uma vez que ele compartilha a natureza de ambos. Veja, nisto, o mistério mais profundo, e a misericórdia mais rica que jamais existiu. Pela luz da natureza, vemos Deus como um Deus acima de nós; pela luz da lei, o veem os como um Deus contra nós; mas pela luz do Evangelho, nós o vemos como Emanuel, Deus conosco, em nossa própria natureza – e (o que é ainda melhor) a nosso favor. Aqui o Redentor glorificou o seu amor. Com o nome de Cristo, Emanuel, nós podemos comparar o nome dado à igreja do Novo Testamento (Ezequiel 48.35). Jeová-Shamá – O Senhor está ali; o Senhor dos exércitos está conosco.
Nem é impróprio dizer que a profecia que expressou que Ele deveria ser chama do Emanuel foi cumprida, com o desígnio e a intenção que possuía, quando Ele foi chamado de Jesus; pois se Ele não tivesse sido Emanuel, Deus conosco, Ele não poderia ter sido Jesus, o Salvador. E nisso consiste a salvação que Ele preparou, ao reunir Deus e o homem em um só corpo; isso foi o que Ele planejou, trazer Deus para estar conosco, que é a nossa grande felicidade, e trazer-nos para estar com Deus, que é o nosso grande dever.
VI – A obediência de José ao divino preceito (v. 24).
Tendo despertado pela impressão que o sono deixou em si, José fez como o anjo do Senhor ordenou, muito embora isso fosse contrário aos seus sentimentos e intenções anteriores; ele tomou par a si a sua esposa; ele fez isso rapidamente, sem demora, e alegremente, sem discutir; ele não foi desobediente à visão divina. No presente, não esperamos por um a orientação extraordinária como essa; mas Deus ainda tem meios de tornar a sua vontade conhecida em casos ambíguos através de indícios da providência, de debates de consciência, e de conselhos de amigos confiáveis. Em cada um desses meios, aplicando as regras gerais da Palavra escrita, nós devemos, portanto, em todos os passos de nossa vida, particularmente nas grandes mudanças, como esta de José, receber a orientação de Deus, e perceber quão seguro e confortável é agir como Ele nos ordena.
VII – A consumação da promessa divina (v.25). Ela deu à luz a seu primogênito. As circunstâncias disso são mais amplamente relatadas em Lucas
2.l ss. Note que aquilo que é concebido pelo Espírito Santo nunca fracassa, mas certamente será trazido à luz em seu devido tempo. O que é da vontade da carne e da vontade do homem, frequentemente fracassa; mas, se Cristo estiver consolidado na alma, o próprio Deus inicia a boa obra que Ele realizará; o que é concebido na graça, sem dúvida nascerá em glória.
Observa -se aqui, além disso:
- Que José, embora tivesse celebrado o contrato de casamento com Maria, a quem desposara, manteve-se afastado dela enquanto ela estava grávida, tendo em seu ventre o ser sagrado; ele não a conheceu até que ela tivesse dado à luz. Muito tem sido dito no tocante à virgindade perpétua da mãe de nosso Senhor; Jerônimo ficou muito irritado com Helvídio por negá-la. É certo que isso não pode ser provado a partir das Escrituras. O Dr. Whitby inclina-se a pensar que quando se diz que José não a conheceu até que ela deu à luz seu primogênito está implícito que, depois disso, cessado o motivo, ele viveu com ela de acordo com a lei (Êxodo 21.10).
- Que Cristo era o primogênito; e assim Ele deveria ser chamado – mesmo que a sua mãe nunca mais tivesse outro filho depois dele – de acordo com a linguagem das Escrituras. Também não é sem mistério que Cristo é chamado de seu primogênito, pois Ele é o primogênito de toda criatura, ou seja, o Herdeiro de todas as coisas; e Ele é o primogênito entre muitos irmãos, para que em todas as coisas possa ter a preeminência.
- Que José deu-lhe o nome de Jesus, conforme a orientação que lhe foi dada. Tendo-o Deus designado para ser o Salvador – o que está implícito ao lhe dar o nome de Jesus – devemos aceitar que Ele seja o nosso Salvador, e, em concordância com essa designação, devemos chamá-lo de Jesus, nosso Salvador.
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