PSICOLOGIA ANALÍTICA

O amor é cego - midia

“O AMOR É CEGO”

A frase escrita por William Shakespeare, no século 16, foi repetida incontáveis vezes – e, de fato, muita gente acreditou nela. A novidade é que pesquisadores parecem ter encontrado comprovação científica das palavras do escritor inglês.

 A paixão distorce a percepção. Qualquer um que já tenha passado pela experiência do enamoramento sabe disso – nem são necessários muitos estudos sofisticados para chegar a essa conclusão. Ainda assim, o conhecimento empírico ganhou respaldo com a constatação de que, de fato, quando estamos apaixonados tendemos a olhar menos para pessoas atraentes do sexo oposto. Pelo menos foi isso que revelou o psicólogo Jon Maner, pesquisador da Universidade Estadual da Flórida, em Tallahassee, nos Estados Unidos. Ele e seus colegas pediram a 57 universitários que mantinham relacionamentos heterossexuais que escrevessem sobre ocasiões nas quais sentiram amor intenso por seu parceiro. Outros 56 estudantes que também participavam do experimento redigiram textos sobre sentimento de extrema felicidade.

Na etapa seguinte do experimento, os voluntários olharam uma série de fotos, mas durante um período tão curto – 500 microssegundos – que eles sequer se davam conta conscientemente das imagens que estavam à sua frente. Na sequência, foram apresentados aos participantes dois grupos de imagens: um deles de homens (às garotas) e mulheres (aos rapazes) extremamente atraentes; outro, com pessoas com aparência normal.

Quando as fotografias desapareciam, um quadrado ou um círculo surgia na tela em outro lugar do monitor. Os participantes foram instruídos, então, a identificar a forma geométrica o mais rapidamente possível. A proposta dos cientistas ao usar essa estratégia era cronometrar quanto tempo levava a identificação das figuras e, assim, estabelecer uma medida de atenção visual no nível subconsciente. Resultado: estudantes “vacinados” pelas lembranças da paixão levaram muito menos tempo para identificar as formas depois de ver um rosto atraente do sexo oposto, em comparação com aqueles que tinham escrito ensaios sobre a felicidade. Ou seja: pareciam não ficar tão interessados em modelos atraentes.

“Descobrimos que quando as pessoas eram instigadas a pensar em seu parceiro atual, a atenção voltada a um exemplar atraente do sexo oposto diminuía sensivelmente, como se estivessem ‘imunes’ ao interesse por outras pessoas”, afirma Maner. Segundo ele, a descoberta pode ajudar a explicar por que os enamorados não procuram outros companheiros, mesmo que tenham atributos aparentemente interessantes – como se realmente o estado de apaixonamento tornasse nossa visão seletiva. Segundo Maner, “a repulsa”, como ele chama, acontece nas fases iniciais do processamento visual, muitas vezes antes mesmo que os voluntários tenham consciência clara do conteúdo da foto. Estudos anteriores haviam sugerido que pessoas comprometidas, em relações estáveis e felizes, conferem menos valor a potenciais parceiros alternativos. O que psicólogos não sabem, pelo menos até agora, é se é isso o que as pessoas realmente pensam, ou se desenvolvemos, em algum nível, uma espécie de defesa para não nos angustiarmos, tentando convencer a nós mesmos que fizemos a escolha certa. Esse mecanismo, porém, não seria determinado pela vontade consciente. No estudo desenvolvido na Universidade Estadual da Flórida, o efeito repulsivo era tão rápido que – ainda que se empenhassem – os estudantes não teriam sido capazes de exercer controle consciente sobre sua vontade.

Curiosamente, o efeito de “desvio de atenção” apareceu de forma bem mais pronunciada quando as pessoas das fotos eram mais bonitas que as mais comuns, sem atributos visuais especialmente atraentes. “Deixando de lado aprofundamentos em questões psíquicas, podemos pensar que estudos desse tipo sugerem que o amor romântico tenha importantes funções, como a de atenuar o ímpeto de continuamente nos mantermos atentos, buscando o melhor companheiro disponível”, afirma o psicólogo social Joseph Forgas, professor da Universidade de New South Wales, em Sydney. Segundo ele, do ponto de vista evolutivo a falta de interesse (ou mesmo repulsa subconsciente) por membros atraentes do sexo oposto pode ter surgido a serviço da preservação da espécie, já que os relacionamentos podem fornecer uma vantagem reprodutiva, melhorando as chances de que os descendentes sobrevivessem.

EFEITO ANALGÉSICO

Sob a óptica de cientistas e especialistas em comportamento, o amor – tão idealizado e incensado – pode ser bem menos mágico que para escritores e poetas. Para os evolucionistas, o ato de apaixonar-se pode ter se instituído porque ao concentrar a atenção em um único parceiro tendemos a poupar tempo e energia, melhorando, portanto, as próprias chances de sobrevivência e reprodução. Infelizmente, isso também significa que estamos predispostos a sofrer quando nos sentimos desprezados por nossos amados.

Propositadamente deixando de lado neste momento o universo psicanalítico – que nos remete a considerar marcas psíquicas primitivas, carências arcaicas, instâncias inconscientes, conotações simbólicas, desejo e pulsão -, recorremos à biologia dos afetos.

Já é sabido que sentimentos amorosos ativam sistemas primitivos no organismo, o que causa impacto direto na forma como sentimos dor, atenuando a sensação de desconforto. Isso equivale a dizer que o amor também nos torna cegos a alguns sofrimentos físicos. A constatação é do cientista americano Sean Makey, da Universidade Stanford, na Califórnia.

Para investigar esse efeito “analgésico” do afeto – em especial da paixão – o pesquisador acompanhou 15 universitários que declararam estar “loucamente apaixonados”. Cada estudante deveria levar uma foto da pessoa pela qual estava enamorado e outra imagem de alguém que achasse atraente, mas com quem não tivesse nenhuma ligação romântica. Durante os testes, os participantes deveriam segurar um objeto que poderia ficar muito quente ou muito frio – de acordo com regulagem feita pelos cientistas-, o que algumas vezes causava dor. Enquanto isso, os jovens deveriam olhar para a fotografia do amado e, em seguida, definir o grau de dor sentida.

Os resultados mostraram que a imagem da pessoa amada realmente diminui a sensação de dor, o que não aconteceu quando os voluntários olhavam para alguém considerado atraente. Os pesquisadores associam o fato à liberação de ocitocina, um hormônio que regula a reprodução em mamíferos, incluindo os processos de lactação e parto. Além disso, a ocitocina influencia em comportamentos sociais como o estabelecimento de vínculo entre parceiros e entre mãe e filho.

Por outro lado, o enamoramento pode ser fonte de outros tipos de sofrimento. Ficar longe da pessoa amada, por exemplo, pode trazer grande desconforto, comparado à privação de drogas para um dependente químico. A angústia causada pela distância do objeto de amor e desejo pode levar ao aumento da ansiedade, desencadear perturbações do sono e, em casos mais graves, deflagrar a de­ pressão. Essas reações intrigaram cientistas que estão desenvolvendo pesquisas para identificar os mecanismos neuroquímicos por trás desses efeitos psicológicos. Um estudo recente trabalhou com arganazes-do-campo, roedores corpulentos de cauda curta, que foram separados da parceira por quatro dias. Durante esse período, os animais exibiram comportamento semelhante à depressão e aumento da corticosterona, o equivalente, nesses animais, ao cortisol, o hormônio do estresse em humanos.  Machos que foram separados de seus irmãos não mostraram quaisquer desses sintomas, sugerindo que a resposta era relacionada, especificamente, à separação dos parceiros sexuais –  e não a situações de isolamento social. Quando receberam uma droga que bloqueou a liberação da corticosterona, os roedores pararam de exibir o comportamento depressivo pós-separação, confirmando que os hormônios estavam na raiz do problema.

É nesse sentido que os efeitos do afastamento dos parceiros lembram, em alguns aspectos, a abstinência de drogas. “Mesmo em um curto prazo, a separação deflagra um estado aversivo ao meio, que faz com que os arganazes-do­campo procurem a parceira para não perder o vínculo”, diz o neurocientista comportamental Larry Young, do Centro de Pesquisas Nacionais em Primatas da Universidade de Emory e co­autor do estudo. Outras pesquisas mostram que animais monogâmicos, que coabitam e se reproduzem, têm níveis aumentados de ocitocina, vasopressina e dopamina – hormônios que estimulam as ligações emocionais – em áreas do cérebro associadas à recompensa.

Em um experimento com separação de casais humanos por um período de 4 a 7 dias, a psicóloga social Lisa Diamond, da Universidade de Utah, observou sintomas leves de abstinência, como irritabilidade e perturbações do sono, e aumento no nível de cortisol. Os voluntários que relataram maior ansiedade apresentaram picos nos níveis de cortisol. Mesmo os que mostraram baixos índices de estresse tiveram, em algum grau, níveis mais altos de cortisol e desconforto físico no período de afastamento, em comparação a quando estavam com seu par. Esses resultados, assim como os encontrados nos estudos de Young, indicam uma ligação específica entre separação e aumento do cortisol. Para pesquisadores, isso significa que, no futuro, podem ser desenvolvidas drogas que bloqueiem esse hormônio e ajudem as pessoas a se desligar de um parceiro.

Estudos mostram que o laço entre pares evolui com base na ligação entre pais e filhos e a separação nos remete a sentimentos antigos de rejeição, vividos nos primórdios da infância. Embora a maioria dos adultos não se recorde, quando as figuras parentais (que eram nosso universo) se afastavam e surgia a possibilidade de perdê-las, sobrevinha uma angústia extrema, só aplacada com o reencontro – o que pode explicar por que sentimos as conexões atuais de forma tão intensa. As mesmas substâncias neuroquímicas – ocitocina, vasopressina e dopamina – têm sido associadas a ambos os relacionamentos. “As relações românticas adultas e os relacionamentos entre pais e filhos são fundamentalmente diferentes, mas ambas apresentam a mesma proposta funcional: criar um direcionamento psicológico para o outro, querer cuidar de alguém e resistir à separação”, explica Lisa.

UM JEITO ESPECIAL DE FALAR

Casais apaixonados ou que mantêm um relacionamento íntimo de longo prazo não raro se atribuem apelidos carinhosos ou mudam o tom de voz quando falam um com o outro. Segundo pesquisadores da Universidade do Texas, em Austin, a identidade afetiva por meio das palavras não para por aí. Um estudo conduzido pelo psicólogo James Pennebaker mostra que pares “bem-sucedidos” ou com mais chances de sê-lo costumam usar o mesmo tipo de palavras funcionais – preposições, pronomes, artigos e conjunções – e com frequência equivalente. Empregados em vários contextos, esses termos são, em geral, processados de forma rápida e inconsciente.

Para chegar a essa conclusão, o psicólogo reuniu 80 homens e mulheres e solicitou que cada um conversasse com alguém do sexo oposto por alguns minutos. Em seguida, questionou-os sobre a possibilidade de saírem juntos. Curiosamente, os pares que usaram tipos similares de palavras funcionais se mostraram mais inclinados a marcar outro encontro – mesmo aqueles que declararam não ter muitos pontos em comum.

Em outro estudo, Pennebaker analisou o conteúdo de mensagens de celular enviadas por 86 casais e perguntou aos voluntários quão felizes eles se sentiam com o compromisso assumido. Três meses depois, o pesquisador verificou se os pares ainda estavam juntos. Ele observou que os pares estáveis eram os que trocavam torpedos com mais palavras funcionais em comum. O curioso é que isso se aplicou também a quem declarou estar insatisfeito com o companheiro, na primeira fase da pesquisa.

Agora os pesquisadores querem entender se o vocabulário em comum provoca atração ou se na verdade as pessoas adaptam sua forma de falar, ficando parecidas com o outro. Os dois processos são possíveis, mas Pennebaker acredita que o último seja mais provável: “A linguagem prediz o sucesso dos relacionamentos porque reflete a forma como os casais escutam um ao outro e se entendem”, acredita o psicólogo.

Cérebro apaixonado

SELMA CORRÊA é jornalista.

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Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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