MISSÃO HOLÍSTICA
“Holístico” (de “holismo”, o conceito filosófico de que “o todo — grego, hólos — é maior do que a soma de suas partes”) talvez não seja um epíteto muito satisfatório para se aplicar à missão cristã. Mas ele pretende enfatizar que a verdadeira missão é uma atividade abrangente, que íntegra evangelização e ação social, recusando-se a divorciá-las uma da outra.
Pelo menos durante os últimos trinta anos, a começar na comunidade ecuménica, porém mais recentemente também no mundo evangelical, tem havido uma considerável divergência no que concerne a estas duas responsabilidades. Essa divergência tem sido expressa de diferentes maneiras: como a tensão “entre a ação de Deus na igreja e através desta e tudo o que Deus vem fazendo no mundo aparentemente independentemente da comunidade cristã”; “entre a interpretação vertical do evangelho — como essencialmente preocupado com a ação salvadora de Deus na vida dos indivíduos — e a sua interpretação horizontal — como estando interessado principalmente nas relações humanas no mundo”; entre a busca de Deus pela justificação dos pecadores e a busca de Deus pela justiça nas nações e entre estas; entre redenção e providência, a salvação da alma e o aperfeiçoamento da sociedade.
Às vezes a diferença entre estes pontos de vista se evidencia não apenas em tensão, mas até numa polarização estéril, geralmente ao longo das linhas divisórias entre evangelicais e liberais, cada um deles manifestando uma reação exagerada em relação à posição do outro. Os primeiros tendem a concentrar-se exclusivamente na evangelização, negligenciando a necessidade social, seja ela comida para os famintos ou libertação e justiça para os oprimidos. Os últimos vão para o extremo oposto, tendendo a negligenciar a evangelização ou tentando reinterpretá-la em termos de ação sociopolítica, tais como a humanização de comunidades ou a libertação dos oprimidos. Assim, o estereótipo evangelical tem sido espiritualizar o evangelho, negando suas implicações sociais, enquanto que o estereótipo ecumênico tem sido politizá-lo, negando sua oferta de salvação para os pecadores. Esta polarização tem sido um desastre.
A maioria dos cristãos (embora nem todos eles) está de acordo quanto a ser a nossa responsabilidade tanto evangelística como social. Por exemplo, em sua palavra de abertura no Congresso Mundial de Evangelização em Berlim, em 1966, o Dr. Cari Henry enfatizou que os cristãos evangélicos têm uma mensagem duplamente relevante para a presente crise social… pois eles conhecem o Deus da justiça e da justificação… Sempre que o Cristianismo é forte na vida de uma nação, ela demonstra interesse tanto na lei como no evangelho, tanto no estado como na igreja, na jurisprudência assim como na evangelização.
Ou, usando uma imagem mais forte, o Dr. Raymond Bakke escreve que “nós, cristãos, somos o único povo da terra que tem uma visão de mundo que integra matéria e espírito, a qual nos capacita a lidar com o desenvolvimento de sistemas de esgoto e com a salvação de almas com o mesmo prazer.” Nós podemos até concordar com afirmações como estas, do tipo “tanto isto como aquilo”; mas a verdade é que temos dificuldade em definir, primeiro, qual é a relação entre evangelização e responsabilidade social, e, segundo, qual o vocabulário que deveríamos usar para expressar essa relação.
A relação entre evangelização e responsabilidade social
O Pacto de Lausanne (1974), com suas francas declarações sobre “A Natureza da Evangelização” e “A Responsabilidade Social Cristã”, foi muito bem aceito. Esta última inclui a afirmação de que “a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parcelas do nosso dever cristão”. Uma vez mais, porém, trata-se apenas de uma declaração do tipo “tanto… quanto”. Os parágrafos sobre evangelização e responsabilidade social encontram-se lado a lado, sem qualquer tentativa de relacionar um com o outro. Ou, para ser mais preciso, a única menção de uma relação entre os dois é a declaração, no parágrafo VI, de que “o serviço de evangelização abnegada figura como a tarefa mais urgente na missão da igreja”.
O Movimento de Lausanne tem permanecido fiel a sua afirmação sobre a prioridade da evangelização, e sua “Consulta sobre a Relação entre a Evangelização e a Responsabilidade Social”, realizada em Grand Rapids, em 1982, endossou e explicou de duas formas essa primaria. Primeiro, a evangelização tem uma certa prioridade lógica: “O próprio fato da responsabilidade social cristã pressupõe a ideia de cristãos socialmente responsáveis, e isto só acontecerá através da evangelização e do discipulado.” Em segundo lugar,
A evangelização tem relação com o destino eterno das pessoas; e, trazendo-lhes boas novas de salvação, os cristãos estão fazendo uma obra que ninguém mais pode fazer. Raras serão as ocasiões, se é que elas ocorrerão, em que nós teremos que optar entre… curar o corpo ou salvar a alma… No entanto, se tivermos que fazer esta opção, é bom lembrarmos que a necessidade suprema e máxima de todo ser humano é a graça salvadora de Jesus Cristo. Portanto, a salvação espiritual e eterna de uma pessoa é de maior importância do que o seu bem-estar temporal e material.
O Manifesto de Manila (1989) tem uma declaração similar: “A evangelização é primordial porque o que mais nos preocupa é o evangelho, que todas as pessoas possam ter a oportunidade de aceitar Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador.”
Só que reafirmar a prioridade da evangelização não resolve o problema. A relação entre evangelização e responsabilidade social continua indefinida.
Foi para perseguir essas relações que se convocou a Consulta de Grand Rapids em 1982. Seus membros esclareceram três delas. Primeiro, afirmaram que “a ação social é uma consequência da evangelização”, pois a evangelização conduz as pessoas à fé, “a fé atua pelo amor” e o amor se manifesta em serviço. Na verdade, “mais do que uma simples consequência da evangelização, a responsabilidade social é um dos seus principais objetivos”, uma vez que nós somos salvos “para boas obras”. Em segundo lugar, “a atividade social pode ser uma ponte para a evangelização”. Apesar do perigo de produzir os assim chamados “cristãos de arroz”, que se dizem convertidos apenas por causa dos benefícios materiais que lhes são oferecidos, ainda assim é verdade que o amor em ação “pode destruir preconceitos e desconfianças, abrir portas fechadas e ganhar a atenção das pessoas para o evangelho”. Em terceiro lugar, “a ação social não apenas vem em seguida à evangelização, como seu objetivo e consequência, e a precede, servindo-lhe de ponte, mas também a acompanha, como sua parceira. A ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro”, tal como sucedeu no ministério público de Jesus. “Trata-se de um verdadeiro casamento.”
Essa parceria aplica-se tanto ao cristão, individualmente, como à igreja local. Obviamente, cada cristão recebe um dom e um chamado diferente (ver o capítulo 8), que o habilitam a concentrar-se em ministérios específicos, assim como os Doze foram chamados para um ministério pastoral e os Sete para um ministério social. E igualmente óbvio que diferentes cristãos encontram-se em diferentes situações de necessidade, e que cada uma requer uma resposta específica. Nós não estamos acusando, nem o “bom samaritano”, por atar as feridas do viajante sem indagar sobre o seu estado espiritual, nem Filipe, por compartilhar o evangelho com o etíope sem inquirir as suas necessidades sociais. Estes foram, no entanto, chamados específicos e situações específicas. Falando em termos gerais, todos os seguidores de Jesus Cristo têm a responsabilidade de testemunhar e de servir, de acordo com as oportunidades que lhes forem dadas.
O mesmo se dá com cada igreja local. As necessidades de cada comunidade são muitas e variadas. Mas todo mundo não pode fazer tudo. Consequentemente, qualquer que seja o tamanho da igreja, seus membros deveriam ser encorajados a se organizarem em “grupos de estudo e ação”, conforme os seus dons, vocações e interesses, assumindo cada um deles uma necessidade evangelística, pastoral ou social específica da vizinhança. Desta forma se poderá atender a uma porção de diferentes desafios. Não obstante, é importante que a igreja local reconheça a especialidade de cada grupo e apoie a cada um com palavras de encorajamento, conselhos, oração e finanças, conforme necessário, dando-lhes, de vez em quando, a oportunidade de apresentar relatórios sobre o andamento do seu trabalho.
Ao desenvolver junto a cada grupo este senso de pertença, a igreja conseguirá, através deles, atingir a comunidade o ministrá-la compassivamente em muitas e variadas necessidades.
Até aqui nós vimos as relações existentes entre a evangelização e a responsabilidade social. O segundo problema que enfrentamos tem a ver com o vocabulário que deveríamos usar para expressar a parceria entre os dois. Conforme o relatório do Primeiro Congresso Anglicano Evangélico Nacional, realizado na Universidade de Keele, em 1967, “evangelização e serviço abnegado andam juntos na missão de Deus”. Eu mesmo tentei, posteriormente, elaborar esta ideia ao escrever: “‘Missão’ descreve… tudo que a igreja é enviada a fazer no mundo”, a saber, “serviço cristão no mundo, compreendendo tanto evangelização como ação social.”
Certos líderes evangélicos criticam esta definição de “missão”. Eles a consideram potencialmente prejudicial à missão cristã, pois desvia os missionários de suas tarefas prioritárias de evangelizar, discipular e plantar igrejas. Por esta razão, mesmo admitindo que todos os cristãos têm também responsabilidades sociais e políticas, eles acham que, ao referir-nos a estas atividades evangelísticas, deveríamos continuar usando o conceito tradicional de “missão” e “missionário”. Sem dúvida alguma, a última coisa da qual eu gostaria que me culpassem é de estar atrapalhando a missão da igreja! E igualmente verdade que o próprio termo “missão” não é uma palavra bíblica, assim como não o são as palavras “Trindade” e “sacramento”. No entanto, ela é uma peça útil e prática para um conceito bíblico, por demonstrar aquilo que Cristo envia o seu povo a fazer no mundo. Continuo insistindo que isto não pode limitar-se à proclamação do evangelho, embora eu já tenha mencionado que esta é tarefa prioritária na igreja. A questão não é meramente de semântica (o que significa a palavra “missão”?), mas de substância (por que somos enviados ao mundo?). Mesmo que tivéssemos de admitir que a palavra “missão” não pode suportar o peso que venho colocando sobre ela, isto não faria diferença alguma para o argumento de que nós somos enviados ao mundo tanto para testemunhar como para servir. De igual maneira, eu não me sinto capaz de abrir mão da convicção de que nossa missão tem em Cristo o modelo a ser seguido. Assim como o seu amor por nós é comparável ao amor do Pai por ele, assim também ele nos envia ao mundo de forma similar ao envio que ele recebeu do Pai. Se em seu ministério as palavras e as obras andavam juntas, da mesma forma elas deveriam andar juntas em nosso ministério.
Parece que o maior temor daqueles que me criticam é o de que os missionários sejam deixados de lado. A melhor maneira de evitar isso, a meu ver, é não negando que “missão” é algo mais abrangente do que evangelização, insistindo, porém, em que cada “missionário” deve ser fiel ao seu chamado específico. Eu já disse que na igreja local, embora alguns membros sejam chamados, uns para este ministério, outros para aquele, mesmo assim a própria igreja fica desequilibrada caso não abranja uma variedade de ministérios. Da mesma forma, embora alguns missionários sejam chamados para evangelizar ou para o discipulado, plantação de igrejas ou tradução da Bíblia, e outros para ministérios específicos e especializados, como médicos, educadores e especialistas em áreas de desenvolvimento, mesmo assim a igreja nacional (bem como as agências missionárias que com ela cooperam) ficariam capengas se não abraçassem também essa ampla variedade de ministérios. Com efeito, poderíamos citar muitos exemplos de equipes missionárias multinacionais e multifuncionais, compostas tanto de nacionais como de estrangeiros, de homens e mulheres, evangelistas e assistentes sociais, especialistas em plantação de igrejas e em áreas de desenvolvimento, pastores e professores.
A base bíblica para a parceria
Ser cristão evangélico sem ser cristão bíblico é igual a nada. Pelo menos nosso maior desejo (quer consigamos realizá-lo ou não) é viver “sob” e “de acordo com” a Escritura. Haveria, portanto, uma boa base bíblica para manter juntos a evangelização e a ação social? Existe, sim. Ela tem sido afirmada de diversas formas, mas vou me contentar com três argumentos fundamentais.
Primeiro, o caráter de Deus. O Deus da revelação bíblica, que é tanto Criador como Redentor, é um Deus que se preocupa com o total bem-estar (espiritual e material) de todos os seres humanos que ele criou. Tendo criado cada um à sua própria imagem, ele deseja que eles descubram a sua verdadeira humanidade ao se relacionarem com Deus e uns com os outros. Por um lado, Deus busca ansiosamente suas criaturas perdidas. Ele não tem prazer algum na morte do ímpio, e não quer que ninguém pereça. Por isso, roga-lhes que ouçam a sua Palavra, que voltem para ele em penitência e que aceitem o seu perdão. Por outro lado, Deus se importa com os pobres e os famintos, os estrangeiros, as viúvas e os órfãos. Ele denuncia a opressão e a tirania e clama por justiça. Ele espera que o seu povo seja a voz daqueles que não têm voz e o defensor dos impotentes, expressando assim o seu amor por estes. Não é, pois, por acaso, e nem é de se estranhar, que os dois grandes mandamentos de Deus sejam que o amemos com todo o nosso ser e que amemos o nosso próximo como a nós mesmos.
A lei deixa bem claras as implicações destes mandamentos. Por exemplo: o povo de Deus devia “temer”, “amar” e “servir” a ele. Como? Em parte, “andando em seus caminhos” e “guardando os seus mandamentos”, pois ele é “o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores”, o qual, por isso mesmo, merece ser adorado; e, em parte, seguindo o seu exemplo, como aquele que “faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes”. Assim, adoração e obediência, por um lado, e filantropia e justiça, por outro, andam de mãos dadas, constituindo-se no duplo dever do povo de Deus.
E aí vieram os profetas, que viviam relembrando o povo quanto à lei e advertindo cada um deles a obedecê-la. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?”. Mais uma vez, justiça e misericórdia para com o próximo e humildade diante de Deus estão juntos.
Junto com esse testemunho profético com relação à lei de Deus ocorriam ousadas denúncias contra aqueles que a desprezavam. Elias foi um bom exemplo disso. Vivendo num tempo de apostasia nacional, seu ministério teve o seu ápice em dois grandes confrontos, primeiro no Monte Carmelo, quando ele desafiou o povo a escolher entre Javé e Baal, e depois em Jezreel, quando ele acusou o rei Acabe de haver matado Nabote e confiscado sua propriedade, e o advertiu quanto ao juízo de Deus. É impressionante ver como os mesmos profetas defendiam, tanto a lealdade religiosa como a justiça social.
Então, cento e cinquenta anos mais tarde, nós encontramos dois grandes profetas do exílio, Jeremias e Ezequiel, dando continuidade à mesma tradição de protesto. Por que a desgraça haveria de cair sobre Jerusalém? De acordo com Jeremias, porque o povo havia “deixado” Javé em favor de “outros deuses, que não conheceram”, e enchido Jerusalém com o “sangue de inocentes”. Conforme Ezequiel, a cidade tinha trazido juízo sobre si mesma ao derramar sangue no seu meio e ao fazer ídolos. Em ambos os casos, o cúmulo do pecado de Israel fora a combinação de “ídolos” com “sangue”, sendo a idolatria o pior pecado contra Deus e o assassinato o pior dos pecados contra o próximo.
Assim, a lei e os profetas refletem o caráter de Deus. Aquilo que ele é, também o seu povo deveria ser, compartilhando e refletindo aquilo que interessa a ele. Não há dualismo no pensamento de Deus.
Nossa tendência é contrapor totalmente as ideias de corpo e alma, indivíduo e sociedade, redenção e criação, graça e condição natural, céu e terra, justificação e justiça, fé e obras. A Bíblia certamente faz distinção entre essas ideias, mas faz também uma relação entre elas, ínstruindo-nos a manter cada um desses pares em equilíbrio dinâmico e criativo.
A segunda base para que evangelização e preocupação social andem juntas é o ministério e o ensinamento de Jesus. Não há como duvidar de que palavra e ação estavam juntas no ministério público de Jesus. Ele foi um pregador, isso é verdade. Ele anunciou a vinda do reino de Deus. Mas também demonstrou a vinda deste através de suas obras de compaixão e de poder. Assim, nós lemos que ele “percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar” e também que ele “andou por toda parte, fazendo o bem e curando”. Qual é a similaridade existente entre estas duas afirmações? É o fato de que “ele andava”; ele desenvolveu um ministério itinerante e percorreu o território palestino de ponta a ponta. A dissimilaridade tem a ver com “para que” ele andava por aí. Segundo Marcos, era para “ensinar”; conforme Lucas, era “fazendo o bem e curando”. Havia em seu ministério um elo indissolúvel entre evangelizar e servir. Ele demonstrava em ação o amor de Deus que estava proclamando. “Sua preocupação”, escreveu Chuck Colson, “não era apenas salvar pessoas do inferno no mundo vindouro, mas também livrá-las da infernidade deste mundo presente.”
Dessa forma, suas palavras explicavam suas obras e suas obras eram uma manifestação concreta de suas palavras.
Ouvir e ver, voz e visão, estavam ligados. Uma coisa sustentava a outra. Afinal, as palavras só deixam de ser abstratas quando se concretizam em atos de amor; e as obras, de igual maneira, continuam sendo ambíguas, até que sejam interpretadas pela proclamação do evangelho. Palavras sem ação não têm credibilidade; ações sem palavras carecem de esclarecimento. Assim, as ações de Jesus tornavam visíveis suas palavras; e suas palavras tornavam suas ações inteligíveis.
O que Jesus demonstrou em sua vida e ministério ele também incluiu em seus ensinos. Deixem-me compartilhar com vocês uma reflexão sobre duas das suas parábolas mais conhecidas e apreciadas: a do filho pródigo (que se concentra na conversão) e a do bom samaritano (que enfatiza a ação social). Existem entre elas similaridades óbvias. Ambas, por exemplo, só são registradas pelo Dr. Lucas, que se preocupava em retratar Jesus (e, portanto, Deus) como o amante dos estrangeiros e dos injustiçados — no primeiro caso, o jovem obstinado e, no outro, a vítima dos espancadores. Semelhantemente, ambas refletem situações trágicas que, pelo que está implícito, desagradam a Deus. Deus não quer que seres humanos criados à sua imagem sejam desmoralizados e fiquem perdidos em uma terra distante, nem que sejam assaltados e abandonados na sarjeta. Seu desejo é que tanto o perdido como o espancado sejam trazidos de volta para casa.
Entretanto, o que mais importa para o meu propósito agora são as dissimilaridades entre as duas parábolas. Se nós as conservamos juntas, elas servirão de reforço para a ligação necessária entre evangelização e ação social. Primeiro, tanto numa como na outra, existe uma vítima, um homem que se encontra em uma situação de desespero. Na parábola do filho pródigo, ele é vítima de seu próprio pecado; na parábola do bom samaritano, é vítima do pecado de outros, ou seja, alguém pecou contra ele. Além disso, na primeira parábola, o que se descreve é um pecado pessoal; na segunda, é um pecado social, ou seja, o mal da desordem publica. Ambos deveriam despertar nossa compaixão. Nós nos preocupamos tanto com aquele que pecou como com aquele contra quem alguém pecou.
Em segundo lugar, nas duas parábolas existe um resgate – da alienação em uma terra distante e de um violento assalto na estrada. Na primeira parábola o pecador se arrepende, volta para casa e é perdoado (é a salvação pela fé). Na segunda, a vítima não pode fazer nada: deve o seu resgate à caridade do samaritano (é um resgate pelas boas obras). Terceiro, em ambas há uma demonstração de amor. Na parábola do filho pródigo nós vemos o amor de Deus, como o pai que recebe o filho de volta; na parábola do bom samaritano, vemos o amor do próximo pelo seu próximo, quando o samaritano ata as feridas da vítima. Além do mais, em ambos os casos o amor triunfa sobre o preconceito. O pródigo é perdoado, apesar de não merecer tal tratamento; o samaritano se apiada da vítima dos ladrões, apesar de ser este um judeu desconhecido que nada tem a ver com ele.
Em quarto lugar, em ambas as parábolas há um sub-enredo, que representa a alternativa para aquilo que se está recomendando. Na parábola do filho pródigo, seu irmão mais velho recusa-se a regozijar-se com o seu arrependimento e retorno. Na parábola do samaritano, o sacerdote e o levita recusam-se a envolver-se com a situação do homem espancado. Até se poderia dizer que quem resiste ao chamado para evangelizar, abandonando as pessoas sozinhas em seus pecados, assemelha-se ao irmão mais velho, ao passo que aqueles que resistem ao chamado para a ação social e deixam as pessoas sozinhas em seus sofrimentos, lembram o sacerdote e o levita que “passaram de largo”.
Assim, cada uma das parábolas enfatiza um aspecto vital do discipulado cristão — seu início, quando, como o filho pródigo, nós voltamos para casa em busca de salvação, e sua continuação, quando, à semelhança do bom samaritano, nós partimos em missão. Cada um de nós lembra o filho pródigo; cada um de nós deveria lembrar o samaritano.
Primeiro nós encaramos os nossos próprios pecados e depois passamos a encarar os sofrimentos do mundo. Primeiro nós entramos em casa e recebemos misericórdia, e só depois saímos e mostramos misericórdia. Misericórdia não se pode mostrar enquanto não for recebida; mas, uma vez recebida, ela deve ser demonstrada aos outros. Não vamos divorciar aquilo que Cristo uniu. Todos nós já fomos pródigos um dia; Deus deseja que também sejamos samaritanos.
Além do exemplo e ensinamento de Jesus Cristo, eu gostaria de mencionar suas emoções. Nós vimos no capítulo 7 como, face a face com o “último inimigo”, a morte, que ele viera destruir, Jesus não só “resfolegou” de raiva contra esse mal, mas também “chorou” de compaixão por suas vítimas. Eu fui ainda mais longe, ao afirmar que essas mesmas emoções deveriam nos motivar, sempre que nos virmos confrontando o mal — seja o mal da perda humana ou os males sociais de nossos dias.
Eu li, recentemente, o livro In Darkest England and the Way Out (A Inglaterra em Trevas e o Caminho de Saída) do General William Booth. Publicado em 1890, seu título foi deliberadamente paralelo ao de H. M. Stanley, In Darkest Africa, que havia aparecido mais cedo naquele mesmo ano. A primeira parte chama-se “A Escuridão” e a segunda, “Libertação”. Booth escreve com profundo sentimento sobre as misérias causadas pela pobreza, o desemprego, o desamparo, a fome, a exploração da mão-de-obra, a bebedeira, a doença, as favelas, a escravidão branca e a prostituição. “Meu sangue ferve de raiva impotente”, confessa ele, “diante dessas monstruosidades cruelmente infligidas, e sofridas em silêncio por essas miseráveis vítimas.” Obviamente, ele ansiava pela conversão dessa gente e insistia em colocar sempre a salvação em primeiro lugar. Indagava, porém: “De que adianta pregar o evangelho a pessoas cuja atenção está totalmente concentrada em uma luta louca e desesperada para se manterem vivas?” “Ao proporcionar alívio temporário para essa miséria”, acrescenta ele, “eu acho que só estou facilitando onde agora é difícil e possibilitando onde agora é completamente impossível, para que homens v. mulheres encontrem o seu caminho para a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.” Na tentativa de perseguir esta política, a segunda parte de seu livro contém uma surpreendente relação de propostas: uma colônia-fazenda, uma colônia além-mar, um hospital itinerante, a “brigada da porta da prisão”, lares de resgate para prostitutas e “lares de prevenção para meninas em perigo”, “um posto de investigação para pessoas perdidas”, “refúgios para meninos de rua”, “escolas profissionalizantes”, “vilas-modelo nos subúrbios”, um “banco do homem pobre”, um esquema de auxílio legal para os pobres, etc. E, à medida que esta impressionante combinação de interesses sociais e espirituais foi se tornando conhecida, “inevitavelmente o Exército da Salvação foi sendo identificado pelo slogan de que nunca mais se livraria: ‘Sopa, sabão e salvação’!” A terceira base bíblica para a parceria entre evangelização e ação social tem a ver com a comunicação do evangelho. Como é que se pode fazê-lo conhecido? Para começar, ele tem que ser verbalizado. Uma vez que o próprio Deus decidiu falar, isto é, comunicar-se com os seres humanos através de palavras, os cristãos não deveriam desprezá-las nem compartilhar desse desencanto que existe hoje em dia com referência à fala como meio de comunicação. Há, na comunicação verbal, quer sejam as palavras faladas ou escritas, uma precisão que inexiste nos outros meios de comunicação. Ao mesmo tempo, a Palavra pessoal de Deus “se fez carne” e, como resultado, “nós vimos a sua glória”. Se a Palavra de Deus se tornou visível, nossas palavras também deveriam tornar-se visíveis. Nós não podemos anunciar o amor de Deus com credibilidade, a não ser que possamos demonstrá-la em ação. Não podemos manter distância daqueles a quem anunciamos o evangelho, ou ignorar sua situação e seu contexto. Nós precisamos nos integrar a sua realidade social e participar dos seus sofrimentos e de suas lutas. E aqui, diz J. H. Bavinck, que nossos atos “se transformam em pregação”.
Isto nos leva de volta ao ministério de Jesus.
Nós, hoje, somos chamados (diz o Manifesto de Manila) a uma integração similar entre palavras e ações. Em um espírito de humildade, devemos pregar e ensinar, ministrar os enfermos, alimentar os famintos, cuidar dos prisioneiros, ajudar os necessitados e os deficientes e libertar os oprimidos. Embora reconheçamos a diversidade dos dons, chamados e contextos espirituais, afirmamos também que boas novas e boas obras são inseparáveis.
Embora a base bíblica para a parceria entre evangelização e responsabilidade social pareça estar bem estabelecida, levantam-se contra ela diversas objeções.
Em primeiro lugar, não seria melhor os cristãos se conservarem longe da politica Esta objeção geralmente é seguida do comentário de que, embora todos os cristãos concordem com o serviço social (por exemplo, a filantropia), nós não estamos tão seguros assim quando se trata de ação social (envolvimento político, por exemplo).
Nossa resposta a esta primeira objeção depende em grande parte da conotação que dermos à palavra “política”. Se a tomarmos em sua definição mais restrita (no sentido de políticas e programas em favor de mudanças legislativas, desenvolvidos por partidos políticos), então os cristãos não deveriam se envolver, a menos que estejam preparados para desempenhar esse papel. Política é coisa para políticos que já têm a experiência necessária. Não existe coisa mais embaraçosa do que ver um cristão dando palpites sobre questões políticas sem ter conhecimento do assunto.
A definição mais ampla de “política”, porém, refere-se a vida da polis, a cidade, e à arte de viver juntos em comunidade. Neste sentido, todos nós estamos envolvidos em política, uma vez que Jesus nos chama a viver no mundo secular.
Aí temos de admitir que só serviço social não basta. Batalhar (e mesmo promover agitações) em favor de mudanças legislativas é uma expressão essencial de amor ao próximo. Por exemplo: ao invés de nos limitarmos a curar indivíduos, precisamos ir mais além, construindo hospitais em que se concentrem diferentes especialidades médicas; não somente alimentar os famintos, mas lutar pelo estabelecimento de uma nova ordem econômica, em que a fome seja abolida; não só atar as feridas das pessoas, como o bom samaritano, mas livrar dos bandidos a estrada de Jericó; não só tratar os escravos com justiça, mas lutar pela abolição da própria instituição da escravatura. É possível que não haja na Bíblia nenhuma exortação explícita quanto a estas coisas, assim como é certo que Jesus nunca militou pela emancipação dos escravos. Mas não é verdade também que nós somos profundamente gratos pelo fato de que os seus seguidores o fizeram, séculos mais tarde? A atuação política (que bem poderia ser definida como amor em busca de justiça para os oprimidos) é uma extrapolação legítima da ênfase bíblica sobre as prioridades práticas do amor.
Segundo: isto não seria voltarão velho “evangelho social”? Não, não é. Nós precisamos estabelecer uma distinção entre o evangelho social do liberalismo teológico desenvolvido por Walter Rauschenbusch e seus amigos no começo deste século e as implicações sociais do evangelho bíblico.
O “evangelho social” tentava identificar o reino de Deus com a sociedade socializada, e então falava de ação sociopolítica em termos de “construir o reino de Deus na terra”. Era uma visão orgulhosa, autoconfiante e utopista. Mas as implicações sociais do evangelho bíblico são diferentes. Uma vez que passamos a ser novas criaturas em Cristo, tornando-nos membros de sua nova sociedade, recebemos dele a responsabilidade de impregnar a velha sociedade, funcionando para esta como sal e luz.
Terceiro: essa preocupação social não é o mesmo que “teologia da libertação”! Não, mais uma vez, não é. Nossa principal crítica à teologia da libertação, como evangélicos, é que ela pretende igualar a libertação social, política e econômica dos seres humanos com a “salvação” que Cristo veio conquistar com sua morte e ressurreição. Além disso, ela tende a endossar as teorias marxistas (especialmente a sua análise social) e desposar a violência. Tendo dito isto, a completa libertação do ser humano de tudo aquilo que o oprime, diminui ou desumaniza é certamente agradável a Deus, o seu Criador. Oxalá os cristãos evangélicos tivessem chegado primeiro, com uma teologia da libertação verdadeiramente bíblica}. Mas colocar “libertação” material e “salvação” no mesmo nível de igualdade é distorcer e deturpar a Escritura.
Em quarto lugar, não seria impossível esperar uma mudança social sem que as pessoas se convertam? Mais uma vez, a resposta é não. Evidentemente, nós queremos que as pessoas se convertam. Mas Jesus Cristo, através de seu povo, tem tido uma influência enorme sobre a sociedade como um todo. Pense-se, por exemplo, na elevação dos padrões de saúde e higiene, na disponibilidade mais ampla da educação, no respeito cada vez maior pelas mulheres e crianças, na preocupação com os direitos humanos e as liberdades civis, nas melhores condições de trabalho nas fábricas, minas e prisões e na abolição da escravidão e do tráfico de escravos.
A legislação pode garantir melhorias na sociedade, embora ela não converta as pessoas ou as torne boas. Até os seres humanos caídos guardam suficientes vestígios da imagem divina, a ponto de preferirem a justiça à injustiça, a liberdade à opressão e a paz à violência. Martin Luther King estava certo ao dizer:
A moralidade não pode ser legislada, mas o comportamento pode ser regulado. Os decretos judiciais podem não mudar o coração, mas podem impor limites a quem não tem coração… A lei não pode fazer um empregador me amar, mas pode impedi-lo de recusar-se a empregar-me por causa da cor da minha pele.
Quinto: será que o comprometimento com a ação social não irá nos desviar da evangelização? Sim, pode até ser; mas não é preciso. Nós certamente precisamos nos precaver quanto a esta possibilidade. Aliás, deveríamos agradecer pelos “cães de guarda” evangélicos que latem muito e bem alto ao perceberem em nós qualquer sinal de diminuição do compromisso com a evangelização. Mas se nós vivermos a luz da morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo, os motivos que nos movem a evangelizar serão continuamente renovados nessa fonte perene. E principalmente o fato de Cristo ter sido elevado ao supremo lugar de honra nos haverá de inspirar, fazendo-nos ansiar que lhe seja dada a glória devida ao seu nome. E então a ação social, longe de desviar-nos da evangelização, irá torná-la mais efetiva, conferindo ao evangelho mais visibilidade e mais credibilidade.
“A ação social em missão”, escreveu o missiologista americano Dr. R. Pierce Beaver, “pode ser encontrada desde o tempo dos apóstolos.” Além disso, “a preocupação nunca se limitou a assistência”; ela abrangia aquilo que hoje chamamos de “desenvolvimento” e que tem capacitado comunidades inteiras a se tornarem auto-confiantes, seja ao introduzir plantas beneficiadas e a criação de animais, seja eliminando doenças, cavando poços mais profundos para obtenção de água pura e corrente, seja estabelecendo escolas profissionalizantes. Além disso, os missionários lutaram pela justiça social.
Eles sempre foram os protetores dos povos nativos contra a exploração e injustiça por parte do governo e de companhias comerciais… Eles desempenharam um papel muito importante na abolição do trabalho forçado no Congo. Resistiram ao comércio de escravos no Sul do Pacífico. Na China, lutaram bravamente pelos direitos humanos, combatendo o ópio, a atadura dos pés das mulheres e o abandono das meninas recém-nascidas. Declararam guerra contra a queima das viúvas, o infanticídio e a prostituição nos templos da Índia, e acima de tudo romperam com a escravidão social e económica do sistema de castas para as pessoas de classe baixa e os marginalizados…
A principal diferença entre aqueles dias e os de hoje é que agora, em muitos lugares, a responsabilidade pelo testemunho social passou dos missionários para as igrejas nacionais. Os estrangeiros só devem envolver-se em atividades desse tipo quando convidados pelos líderes da igreja.
De uma certa forma, esse tipo de preocupação e envolvimento era inevitável. Para os missionários pioneiros, teria sido literalmente impossível proclamar a mensagem do amor de Deus em Cristo para a salvação dos pecadores e ao mesmo tempo ignorar as condições sociais dessas pessoas. Pela natureza do próprio evangelho do qual eram mensageiros, eles se viam obrigados a se opor a qualquer coisa que fosse incompatível com ele, fosse a escravidão na Africa, o sistema de castas e outros males na Índia, ou a exploração dos povos tribais e a degradante pobreza das massas na América Latina. Da mesma forma, no Ocidente, é impossível evangelizar e simplesmente fechar os olhos à situação dos desempregados e desabrigados, da juventude alienada e das famílias sem pai ou sem mãe, nas áreas despojadas e empobrecidas das periferias urbanas. Será que o evangelho nada tem a dizer acerca dessas coisas? Será que a única preocupação do nosso Deus é levar pessoas para o céu, e não melhorar as circunstâncias em que elas vivem aqui na terra? De jeito nenhum. Ignorar os males que desumanizam a sociedade e ao mesmo tempo pregar a influência humanizadora da salvação é fazer-se culpado de uma íntima contradição que deturpa a imagem de Deus e distorce o evangelho. Demonstrar compaixão pelas necessidades visíveis dos outros é parte inseparável da missão encarnadora e é uma exigência do evangelho de Cristo. O Dr. David Howard, que foi Secretário Geral da Comunidade Evangélica Mundial de 1982 a 1992, escreveu algo sobre o ministério de seu amigo Gregório Landero. Após descrevê-lo como “um dos mais talentosos evangelistas que jamais conheci”, ele continua:
Ao viajar, levando o evangelho a muitas localidades do norte da Colômbia, ele foi sentindo um peso cada vez maior, pois o povo cujas almas ele estava ministrando sofria de subnutrição. Ele agonizava ao ter de pregar um evangelho da salvação quando eles estavam morren-\ do de fome e sofrendo de enfermidades que poderiam ser evitadas com um auxílio mais adequado. Começou a estudar as possibilidades de um ministério que os alcançasse de uma forma mais abrangente. O resultado, após vários anos de trabalho duro, foi a criação da Ação Unida, um programa que visava a atingir as necessidades globais do povo. Gregório é o líder da Ação Unida e tem dado visão e ímpeto a todo o desenvolvimento do programa. Hoje, juntamente com a pregação do evangelho, ele e seus colegas estão ajudando as pessoas a melhorarem os métodos de agricultura, desenvolvendo projetos de criação de aves que possibilitem mais proteínas em suas dietas, ensinando higiene doméstica, provendo assistência odontológica, trabalhos de alfabetização e outras coisas que concorram para o desenvolvimento da vida familiar e comunitária do povo. Existem também tentativas de ajudar a conservar os recursos naturais que fazem parte da criação total.
Festo Kivengere, da Uganda, tinha uma visão holística e um compromisso bem similares. Ele foi, antes e acima de tudo, um evangelista. E, depois que se tornou bispo da diocese de Kigezi, ele continuou seu tremendo e efetivo ministério evangelístico pelo mundo afora, ganhando muitas pessoas para Cristo. Mas ele se preocupava também com o progresso de seu povo, e especialmente em melhorar a educação, saúde e agricultura. O enfoque de sua mensagem era o amor e a reconciliação através de Cristo, mas ele também lutava por justiça. Embora não fosse um bispo político, no sentido de que não tomava parte alguma no trabalho das funções legislativa, judicial ou executiva do Estado, ele, no entanto, jogou um papel fundamental na derrubada de Idi Amin. Diversas vezes arriscou sua vida ao confrontar Amin em particular e ao protestar contra o seu reinado de terror. “Festo era muito corajoso”, lembram os seus colegas. “A medida que as prisões iam acontecendo, ele sempre voltava até Amin para confrontá-lo com a enormidade daquilo que este estava fazendo.”
Festo não via nenhuma incoerência entre estes diferentes aspectos de seu ministério. Ao dirigir um seminário em uma convenção em Amsterdã, em 1987, ele falou da “trágica divisão entre aquilo que, de acordo com o Antigo Testamento e o Novo Testamento, se constitui nos dois lados da mesma moeda — a salvação das almas perdidas dos homens… e a preocupação com suas necessidades sociais”. E Shannon Mallory, da Califórnia, que presidiu a Consulta “Parceiros em Missão” na Uganda, em 1985, disse sobre ele:
Nosso querido Festo foi um profeta impetuoso no meio daquele debate (sc. sobre as violações dos direitos humanos que estavam sendo perpetradas na época), apelando veementemente, por um lado, para a renovação e a reconciliação espiritual da Igreja da Uganda, e, ao mesmo tempo, erguendo-se ousadamente (e, ao que parecia, quase sozinho) para denunciar e condenar a tirania política e militar que ainda continuava no país.
Assim, testemunho evangelístico e protesto político, longe de serem incompatíveis, foram e continuam sendo gêmeos naturais. Mesmo que sejam poucos os cristãos chamados para envolver-se nos dois simultaneamente (uma vez que diferentes pessoas são chamadas para diferentes ministérios), não obstante, a igreja, como um todo, deve engajar-se em ambos, já que ambos fazem parte da missão que Deus nos deu neste mundo.
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